Série 2 | Curso 1

Propriedade Intelectual aplicada
à Ciência Aberta

Unidade 2. Propriedade Industrial

Aula 1

Os desafios da inovação

Montagem de uma mulher vestida com um blazer segurando um cartaz escrito: inovação. Há diversos desenhos de gráficos e de balões de ideia no cartaz

Assunto muito em voga nos dias atuais, o uso do termo inovação é bastante corriqueiro, apesar de não raro sua utilização demonstrar falta de precisão semântica. Popularmente, inovar é fazer algo novo, diferente, ousado, que muda paradigmas. Entretanto, a inovação pode ser simples desde que aporte algo novo.

Então inovação pressupõe novos produtos, certo? Não necessariamente! Podemos inovar em produtos, processos, serviços dentre outras formas.

Obviamente, uma “máquina do tempo” seria inegavelmente uma inovação, mas, por enquanto, ainda é um sonho a ser conquistado pela humanidade.

Vamos pensar em uma inovação de grande impacto, em que não há “produto inovador”. Seria isso possível?

Exemplo:

No Brasil temos o Programa Nacional de Imunizações (PNI), um marco na saúde pública nacional.

Imagem com 3 crianças, um idoso e uma grávida, juntos, com o personagem Zé Gotinha. Na imagem lê-se: 'Programa Nacional de Imunizações' e 'Vacinar é Preciso'.

Figura 1 - O Programa Nacional de Imunizações

Fonte: Ministério da Saúde

Até 1973, as ações de imunizações se caracterizavam pela descontinuidade, pelo caráter episódico e pela reduzida área de cobertura. Foi então criado o PNI no Ministério da Saúde, com o objetivo de implementar e coordenar as ações de vacinação. Criou-se, por exemplo, o dia nacional da vacinação contra a pólio, junto com o famoso “Zé Gotinha”, garoto propaganda do PNI. A coordenação entre essa e outras ações a exemplo da comprovação de vacinação das crianças na ocasião da matrícula escolar bem como no acesso a programas assistenciais resultaram numa inovação do processo de vacinação, mesmo sem ter um novo produto (uma nova vacina, já que a vacina da pólio foi desenvolvida em 1962). Em 1990 o Brasil declarou a pólio erradicada.

Ideias Inovadoras

A inovação depende do seu impacto, ou seja, não existe inovação que fique na gaveta, que não cause uma mudança, em menor ou maior escala, na sociedade. Algumas inovações têm caráter destrutivo, e isso pode ser ótimo!

O processo de “destruição criativa” foi cunhado pelo célebre economista Joseph Schumpeter em 1942. Mas o que é destruição criativa?

Em resumo: é o processo inovativo que muda (e destrói) um paradigma vigente na sociedade, tornando-se o novo padrão.

Exemplo:

Um exemplo clássico de destruição criativa foi o que ocorreu com o mercado de câmeras fotográficas.

Imagem comparando uma câmera analógica com uma digital. Ambas são da marca Canon.

Figura 2 - Montagem ilustrando uma câmera analógica (à esquerda) e uma câmera digital (à direita).

Até o final da década de 1980, a fotografia era “analógica” e dependia de um processo químico de revelação, conhecido e pouco modificado em séculos. Aparece então as máquinas de emulsão secas, as conhecidas “Polaroids” em que o operador poderia ter sua foto revelada na hora. Mas tal inovação não acabou com a fotografia convencional da época, pois a Polaroid era cara, pouco acessível e, convenhamos, a foto não era lá essas coisas!

Imagem da caixinha amarela da Kodak e rolo de filme.

Figura 3 - Filme fotográfico da Kodak.

Fonte: WikiCommons

Em 1990 a Kodak lançou a primeira câmera digital, porém mais uma vez, era cara e inacessível, assim a possível de um produto inovador teve impacto limitado. Com a diminuição progressiva dos custos ao longo dos anos, tornava-se possível cada vez mais a aquisição de câmeras digitais, até que no início dos anos 2000 aconteceu o que Schumpeter chamou de destruição criativa, a fotografia digital tornou-se o padrão do mercado, substituindo a fotografia analógica para o consumidor comum.

Está aí a destruição criativa, efeito comum nas grandes inovações que mudam paradigmas.

Seleção natural de ideias

Parece fácil, mas inovar é um processo que funciona como um grande funil, como podemos ver abaixo:

Imagem comparando uma câmera analógica com uma digital. Ambas são da marca Canon. Imagem comparando uma câmera analógica com uma digital. Ambas são da marca Canon.

Figura 3 - Montagem ilustrando o funil de inovação (à esquerda) e a curva de sucesso (à direita).

Fonte: Adaptado de Stevens & Burley (1997) e Research Gate

Um estudo publicado por Stevens em 1997 demonstrou como funciona o funil da inovação. A partir de observações empíricas, foi mostrado que de cada 3000 ideias iniciais, somente 300 são escritas e deixam o campo da mera imaginação. Destas 300, somente 125 são modeladas para aplicação em pequenos projetos. Após iniciados, destes 125 projetos, em média só 9 chegam a fase de desenvolvimento mais robusto. Dos 9 projetos mais significativos, só 4 tem realmente potencial de gerar grande impacto. Dos 4, em média 1,7 chega ao mercado. E somente 1 destes realmente tem sucesso, ou seja, realmente inova!

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