Módulo 3 | Aula 1

Enfrentamento da COVID-19
No contexto dos povos indígenas

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Módulo 3 - Aula 1

Organização do trabalho da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena

Nesta aula vamos falar sobre a organização do trabalho das Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) no contexto da pandemia.

Ao final, você vai ser capaz de:

  • Identificar o conjunto de atribuições dos profissionais da EMSI, destacando o papel do Agente Indígena de Saúde (AIS).
  • Conhecer as recomendações de uso de EPIs para profissionais de saúde no contexto indígena.
  • Conhecer as recomendações para reorganização dos espaços e rotinas no posto, recepção e triagem.
  • Descrever os equipamentos mínimos das EMSI.
  • Conhecer as recomendações e rotinas de higienização do ambiente e insumos.

Organização da equipe: papéis e atribuições dos diferentes membros

Apesar da pandemia por COVID-19 ser um evento para o qual não dispomos de todos os conhecimentos científicos e não haver vacina ou tratamento eficaz, já se encontraram respostas eficazes para minimizar seus impactos nas populações.

Segundo Ballard et al, 2020, em todo o mundo a estruturação da resposta à doença tem se baseado em alguns pilares:

  • Proteção dos trabalhadores da saúde
  • Manutenção do atendimento à saúde da população
  • Interrupção da cadeia de transmissão do vírus com as medidas preventivas e isolamento social
  • Proteção das populações mais vulneráveis.

Como os profissionais de saúde são um grupo com maior risco de infecção pelo SARS-CoV-2, para sua proteção e dos usuários, deve-se reorganizar as rotinas e espaços dos serviços de saúde, estruturar protocolos, prover Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e insumos para desinfecção e higienização, além de qualificar os trabalhadores.

Foram registrados 786.417 casos de síndrome gripal em profissionais de saúde, 22,1% foram confirmados para COVID-19 (SVS/MS, 2020) e com 138 óbitos de SRAG causadas pela COVID-19.

Fonte: O Boletim Epidemiológico Especial nº 21 relativo à semana Epidemiológica 27 (28/06 a 04/07)

Organização Internacional do Trabalho também destaca a necessidade de ampliação do contingente de trabalhadores para garantir a manutenção dos serviços, particularmente diante dos afastamentos por motivos de saúde e da sobrecarga de demandas de saúde. 

O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no âmbito do Sistema Único de Saúde (SASI-SUS), responsável pela provisão de atenção primária em territórios indígenas, representa a linha de frente do enfrentamento da COVID-19, devendo ser fortalecido para garantir a sua eficiência e eficácia. 

A execução das ações de atenção primária e coordenação no acesso a outros serviços, será feita pelas Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) garantindo a integralidade da atenção. 

Assim, a pandemia do novo coronavírus exige que as EMSI estejam completas, mas também que haja o ajuste das rotinas e atribuições para garantir a manutenção de atividades de rotina e as ações específicas da COVID-19.

Considerando as características da COVID-19, podemos dividir as atribuições da EMSI no enfrentamento da COVID-19, em quatro eixos:

    • Identificar famílias em situação de insegurança alimentar e apoiar ações de distribuição de alimentos e de fortalecimento da produção local, visando promover a segurança alimentar dos povos indígenas.
    • Identificar famílias e comunidades sem acesso à água potável e apoiar ações de estruturação do saneamento básico.
    • Orientar as famílias no acesso às medidas de auxílio emergencial, visando a garantia dos seus direitos sociais e medidas preventivas da COVID-19.
    • Realizar orientação para a comunidade sobre as medidas preventivas da COVID-19, adequando as informações para o contexto local, buscando uma postura de diálogo, com tradução sempre que possível.
    • Qualificar os Agentes Indígenas de Saúde e Agentes Indígenas de Saneamento para desenvolver ações de educação e comunicação em saúde sobre a COVID-19.
    • Incentivar o uso de máscara e de medidas de higiene para prevenir a transmissão, identificando as dificuldades e especificidades culturais.
    • Elaborar, em parceria com a comunidade, estratégias para isolamento e distanciamento físico.
    Manejo da COVID-19 - Curso
    • Monitorar o cenário epidemiológico nas comunidades e cercanias para estruturar estratégia de vigilância adequada ao contexto.
    • Manter-se atualizado nas definições de casos (Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave e de COVID-19), critérios e fluxos de vigilância, a partir dos informes técnicos da SESAI e MS.
    • Realizar a busca ativa de casos e contatos, utilizando os critérios clínicos e orientações dos protocolos do MS.
    • Apoiar as estratégias de vigilância comunitária e de implementação de barreiras sanitárias.
    • Conhecer e implementar as estratégias de diagnóstico (clínico, clínico-epidemiológico, laboratorial e radiológico) e testagem da COVID-19.
    • Realizar a notificação de casos de Síndrome Gripal, Síndrome Respiratória Aguda Grave, COVID-19 e óbitos.
    • Realizar o monitoramento e disseminação da informação sobre a situação epidemiológica da sua área de atuação.
    • Organizar as rotinas e espaços de atendimento, com as medidas adequadas para evitar a transmissão da COVID-19.
    • Estratificar o risco dos pacientes sintomáticos de maneira individualizada.
    • Conhecer e implementar as estratégias de diagnóstico (clínico, clínico-epidemiológico, laboratorial e radiológico) e testagem da COVID-19.
    • Manejar e monitorar de maneira resolutiva na comunidade os casos leves e de baixo risco.
    • Identificar os casos graves, para suporte e encaminhamento rápido às unidades de atenção primária de saúde indígena (UAPI) no território ou nas unidades de referência do SUS.
    • Realizar a integração dos cuidados prestados no âmbito da Atenção Primária com os diversos níveis de atenção, procurando manter as famílias informadas sobre os pacientes removidos.
    • Realizar a remoção de pacientes graves de forma oportuna e segura.
    • Garantir a manutenção da oferta de atendimentos para grupos prioritários e programas estratégicos (como vacinação, pré-natal, HAS, DM, Tuberculose, Malária, dengue ou outros problemas relevantes no perfil epidemiológico local).
    • Utilizar as medidas de proteção adequadas (máscaras e outros EPIs sempre que necessário) e de desinfecção e higienização de ambientes e objetos.
    • Saber manejar situações de negociação e comunicação intercultural, tais como mediação de conflitos, auxílio na realização de ritos funerários, comunicação comunitária de casos suspeitos ou confirmados, entre outros.
    • Garantir o cuidado e acolhimento adequado da população indígena quando esta estiver nas CASAI.
    • Implementar protocolos de retorno seguro para as aldeias/terras indígenas/comunidades.
    • Orientar e apoiar a construção de medidas para garantir o direito dos povos indígenas a seus rituais funerários, respeitando as medidas preventivas e sanitárias recomendadas.

A divisão das atribuições de cada membro da equipe dependerá do contexto local, mas é de fundamental importância que todos os eixos e ações sejam realizados. Em muitas situações as EMSI podem atuar de maneira desmembrada.

Por essa razão é importante que cada profissional conheça qual o seu papel, e como deve atuar nas diferentes composições da equipe.

Também é papel da EMSI, principalmente dos enfermeiros e médicos, integrar e qualificar a atuação dos AIS nas ações da equipe, reconhecendo suas potencialidades e desenvolvendo suas competências.

Atribuições específicas dos AIS

  1. Facilitar e intermediar a comunicação da EMSI com a comunidade.
  2. Realizar busca ativa de suspeitos de SG.
  3. Comunicar a EMSI quando identificar os casos suspeitos o mais breve possível.
  4. Auxiliar a triagem de casos suspeitos durante os atendimentos.
  5. Identificar pacientes em situação de agravamento do seu quadro clínico e que necessitem de avaliação ou remoção.
  6. Monitorar a chegada de pessoas na aldeia, para identificar sintomáticos e promover as orientações adequadas.
  7. Identificar as circunstâncias em que não é possível manter o distanciamento entre as pessoas.
  1. Promover, junto com os membros da EMSI, ações educativas para evitar a transmissão da doença, que sejam adequadas para a realidade local.
  2. Apoiar, junto com a EMSI, o monitoramento dos casos suspeitos ou confirmados leves, que se encontram em resguardo em suas moradias.
  3. Manter as ações de promoção, prevenção de agravos e oferta de cuidado dentro de sua competência.
  4. Priorizar visitas às pessoas que apresentam maior vulnerabilidade clínica social e nutricional.
  5. Identificar famílias ou comunidades em situação de insegurança alimentar ou com precariedade no acesso ao saneamento básico.
Para escutar

Ouça um depoimento do Médico Henrique Schlossmacher Passos sobre o envolvimento do AIS no enfrentamento da COVID-19.

Material Complementar

Veja a nota técnica SESAI para entender porque os profissionais de saúde devem entrar nas aldeias apenas para ações indispensáveis.

Para as medidas de prevenção da contaminação terem sucesso, todos os membros da equipe devem atuar de maneira integrada e atentando para seu papel individual e coletivo.

Diante do crescente registro de casos de coronavírus em muitas comunidades indígenas nos últimos meses, as EMSI devem realizar abordagem sindrômica e o manejo das SG e SRAG.

Isso deve ocorrer independentemente da confirmação do agente etiológico, uma vez que já é conhecida a vulnerabilidade dos povos indígenas às epidemias de doenças respiratórias em geral e a configuração de transmissão comunitária em todo território nacional.

No contexto da pandemia, a SESAI criou duas estratégias para ampliar a força das equipes e estruturar o enfrentamento da COVID-19 em contextos indígenas:

Equipe de Resposta Rápida (ERR)

(Portaria 55 de 13 de abril de 2020)

Unidades de Atenção Primária Indígena (UAPI) da COVID-19

(Ofício Circular 37 de 27 de Maio de 2020)

Equipe de Resposta Rápida

Em resposta a necessidade de aumentar o número de profissionais de saúde devido a chegada do coronavírus nas comunidades indígenas, foi desenvolvida a estratégia da criação das Equipes de Resposta Rápida (ERR) mediante a contratação temporária de um médico, dois enfermeiros e 4 técnicos de enfermagem.

 

As ERR deverão prioritariamente realizar ações relacionadas ao enfrentamento do coronavírus, podendo realizar ações de cuidado relacionadas às demais demandas no âmbito da saúde indígena.

 

PORTARIA Nº 55, DE 13 DE ABRIL DE 2020

Para escutar

Ouça um depoimento do Médico Henrique Schlossmacher Passos sobre a Equipe de Resposta Rápida (ERR) como auxílio na efetivação do trabalho da EMSI e, também, como instrumento de observação e análise do trabalho da EMSI.

Segurança do Trabalhador e do Usuário

A Organização Internacional do Trabalho estabeleceu como recomendações para manter os profissionais de saúde seguros, a contínua disponibilização de informações atualizadas sobre a doença e os procedimentos e rotinas de prevenção; a disponibilização regular e adequada de EPIs; a testagem ampla dos trabalhadores; e garantir os investimentos para ampliar e manter profissionais de saúde em quantidade adequada e qualificados para atuar no contexto da pandemia (BARROSO et al, 2020, p. 8-9).

No Brasil, a Nota Técnica de nº 04/2020 da ANVISA também reforça a necessidade de disseminar informações sobre normas e rotinas dos procedimentos relativos ao combate à COVID-19; a capacitação dos profissionais sobre medidas de prevenção da doença no âmbito assistencial e a necessidade de treinamento para o uso correto e seguro, acondicionamento e descarte dos EPIs e demais equipamentos de proteção.

Essa nota destaca:

“estas são orientações mínimas que devem ser seguidas por todos os serviços de saúde, no entanto, os profissionais de saúde e os serviços de saúde brasileiros podem determinar ações de prevenção e controle mais rigorosas que as definidas por este documento, baseando-se em uma avaliação caso a caso e de acordo com os recursos disponíveis”.

É prioritária a definição clara e rigorosa de rotinas e protocolos no trânsito dos profissionais de saúde e trabalhadores em territórios indígena. Sugerimos que antes do ingresso em território indígena, e com certa periodicidade de cada um dos trabalhadores, deve-se realizar o exame de RT-PCR, visando detectar portadores assintomáticos do SARS-CoV-2. Os DSEI deveriam realizar rotineiramente triagem de sintomas gripais e testagem dos trabalhadores com realização de inquéritos sorológicos amplos. Ao detectar casos confirmados de Covid-19 em trabalhadores, deve-se realizar a busca ativa de contatos nos serviços de saúde e usuários.

Consideramos que no contexto do subsistema é necessário adotar medidas preventivas mais rígidas nos serviços e na atuação com populações indígenas, particularmente nas regiões com povos isolados e de recém contato interétnico. 

Para os casos de trabalhadores assintomáticos com RT-PCR positivo, o retorno ao trabalho deve ser após um período de 14 dias e com testagem negativa. Trabalhadores da saúde que apresentem sinais e sintomas que atendam a definição de SG e SRAG devem entrar em contato com a Divisão de Atenção à Saúde Indígena para providenciar sua remoção do território indígena. (Nota Técnica nº 7)

Os trabalhadores sintomáticos ou com teste molecular ou sorológico (IGM) positivos devem ser impedidos de realizar atividades presenciais ou entrada em área indígena, conforme recomendação do Informe Técnico nº 07 da SESAI.

Sugerimos que, na ocorrência da positividade de RT-PCR ou IGM, os profissionais devem ser afastados e somente retornar ao serviços após 14 dias de isolamento, e estando sem sintomas por ao menos 3 dias, e preferencialmente com nova testagem.

Uso de EPIs pelos profissionais de saúde - Medidas de higienização: procedimentos e rotinas no trabalho

Como você já viu nesta aula, o risco biológico está presente na rotina dos trabalhadores de saúde. O SARS-CoV 2 é um vírus emergente e o impacto quanto ao risco biológico, seu padrão de transmissibilidade e infecciosidade ainda está sendo compreendido.

Os profissionais que não realizam assistência, como motoristas, cozinheiros, práticos e auxiliares de limpeza devem ser orientados e seguir as recomendações para usos de EPIs, higienização e desinfecção de ambientes e objetos, e de medidas de distanciamento social.

Os profissionais de saúde devem avaliar os riscos aos quais estão expostos para escolher o Equipamento de Proteção Individual (EPI) adequado para evitar a contaminação e realizar as medidas de adequação de fluxo para o atendimento de casos suspeitos ou confirmados de COVID-19.

É fundamental que antes e depois de cada atendimento, o profissional lave as mãos com água e sabão ou álcool gel e realize a desinfecção da superfície e materiais utilizados a cada atendimento/contato com paciente.

Como lavar corretamente as mãos

Vídeo 1 - Orientações Sobre Lavagem das Mãos

Fonte: Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Saiba mais

Leia no Portal da Anvisa sobre as orientações para serviços de saúde: medidas de prevenção e controle que devem ser adotadas durante a assistência aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).

A escolha dos EPIs corretos e seu dimensionamento adequado é fundamental para a proteção das equipes e pacientes. A quantidade necessária dependerá do número de profissionais que estão atendendo, o tamanho da população assistida, sua carga horária de trabalho e quais procedimentos realizam.

Associação Expedicionários da Saúde (EDS)

É uma organização brasileira, não política, não religiosa, sem fins lucrativos e que não recebe verbas públicas de nenhuma espécie, que foi criada em 2003 por um grupo de médicos voluntários da cidade de Campinas (SP) e que tem como objetivo levar medicina especializada, principalmente atendimento cirúrgico, às populações que vivem isoladas na Amazônia brasileira.

 

Em abril de 2020 a EDS deu início em abril à Missão S.O.S. Povos da Floresta, com a criação de 157 Enfermarias de Campanha (EC), denominadas UAPIs pela SESAI, em localidades estratégicas que naturalmente já servem como polos de concentração para comunidades indígenas locais, garantindo assim uma maior taxa de sobrevivência a pacientes com complicações leves e moderadas de COVID-19.

Veja um exemplo de dimensionamento de EPIs utilizado pelos Expedicionários da Saúde, considerando uma equipe de 2 pessoas atendendo casos sintomáticos e confirmados por um mês.

Aventais de proteção 50
Máscara PFF2/N95 20
Máscara PFF1 100
Máscara SMS/TNT 20
Envelope papel Pardo 25
Touca 100
Face-Shield 5
Óculos de Proteção 5
Luva nitrílica CX com 100 2
Álcool Gel 500ML 4
Capa de chuva estádio 10

Além do dimensionamento, é importante que toda a equipe tenha treinamento para o uso adequado destes equipamentos.

EPI para paciente com produção de aerossol

Vídeo 2 -Guia de procedimentos: EPI para paciente COM produção de aerossol

Fonte: EDS.

EPI para paciente sem produção de aerossol

Vídeo 3 - Guia de procedimentos: EPI para paciente SEM produção de aerossol

Fonte: EDS.

Realizar a desparamentação da forma correta é fundamental.

Desparamentação

Vídeo 4 - Guia de procedimentos: desparamentação

Fonte: EDS.

Sintomáticos X Assintomáticos

Conheça agora os EPIs necessários para atendimento de pacientes sintomáticos e assintomáticos

Contato próximo (menos de 1m) com sintomáticos respiratórios e casos suspeitos/ realização de procedimentos que geram aerossóis (exame de garganta, oxigenoterapia, etc.)
  • Máscara N95/FF2 ou EPR
  • Luvas
  • Avental descartável
  • Gorro
  • Óculos ou protetor facial

Atendimento a pacientes assintomáticos, sem contato com caso confirmado, sem a realização de procedimentos/exame físico
  • Máscara Cirúrgica
  • Luvas
Protegendo os profissionais de saúde
Orientações sobre como guardar sua máscara N95 com segurança

A diretora da Comissão de Assistência da SOBECC, Simone Garcia Lopes, compartilha uma dica super legal e prática de como guardar a sua máscara com segurança.

Dê play e confira!

Vídeo 5 - Orientações sobre como guardar sua máscara N95 com segurança

Fonte: SOBECC

Ambiência

Diante das características da  transmissão do SARS-CoV-2, outro conjunto importante de medidas a serem tomadas nos serviços de saúde indígena se referem a adequação dos espaços, circulação, rotinas de trabalho e rodízios das equipes de saúde. Essas medidas devem ser aplicadas para evitar aglomerações e minimizar riscos de transmissão do SARS-CoV-2 no atendimento das demandas gerais de saúde da população e para a assistência adequada e integral dos casos suspeitos e confirmados da COVID-19. 

Ressaltamos que o subsistema de saúde indígena possui diferentes espaços que precisam ser considerados (Pnaspi, 2002) no planejamento e execução das medidas:

a) Comunitário ou aldeia;

b) Polo Base;

c) Sede;

d) CASAI.

Atenção

Medidas simples podem auxiliar na prevenção do contágio:

  • Realizar triagem de pacientes em local aberto, bem ventilado, identificando e separando pacientes sintomáticos ou suspeitos (contato de casos suspeitos ou confirmados).
  • Utilização de espaços e equipes distintas para o atendimento de casos sintomáticos ou suspeitos de COVID-19.
  • Uso correto dos EPIs por toda equipe.
  • Higienização do ambiente e insumos.

Para enfrentamento da COVID-19, a SESAI criou as Unidades de Atenção Primária Indígena (UAPI). Um dos pontos fundamentais é a organização do local onde será realizado o atendimento.

Recepção e triagem dos pacientes

A EMSI deve atuar de forma integrada, com o apoio de todos os profissionais e das lideranças locais, buscando facilitar o fluxo de pessoas, das informações e decisões.

A triagem pode ser realizada pelo AIS ou técnico de enfermagem e consiste em fazer algumas perguntas, de preferência na língua falada pela pessoa.

PERGUNTAS

Perguntas

  • Está com tosse?
  • Dor no corpo?
  • Dor de cabeça?
  • Dor de garganta?
  • Falta de ar? Ou cansaço?
  • Ou febre?
  • Tem alteração no olfato ou paladar?
  • Acha que está com gripe?

Caso a pessoa responda sim para uma pergunta ela é suspeita de síndrome gripal e deve ser atendida em um local separado dos outros pacientes, e usar máscara cirúrgica. Além disso, pacientes que são contato de casos suspeitos ou confirmados também devem ser separados dos demais pacientes no momento do atendimento, e usar máscara cirúrgica.

Equipamentos mínimo

EQUIPAMENTOS BÁSICOS PARA ATUAÇÃO DAS EMSIs

Equipamentos básicos para atuação das EMSI

  • estetoscópio
  • esfigmomanômetro (para obesos, adultos e pediátricos)
  • termômetro
  • lanterna
  • otoscópio
  • oxímetro de pulso (adultos e pediátrico)
  • máscaras para oxigenoterapia
  • equipos para medicação endovenosa e intramuscular
  • álcool 70 para limpeza de equipamentos e superfície
  • álcool gel 70 para higienização das mãos nos locais onde não é possível o acesso rápido à água
  • sabonete líquido

Unidades de Atenção Primária Indígena

Como você já viu anteriormente, a SESAI está implementando uma nova estratégia para fortalecimento da atenção primária no contexto da pandemia.

UNIDADES DE ATENÇÃO PRIMÁRIA INDÍGENA

Em resposta ao crescente número de casos a SESAI desenvolveu uma estratégia temporária de assistência denominada Unidades de Atenção Primária Indígena (UAPI). O objetivo é oferecer atendimento resolutivo com suporte respiratório (oxigênio) para os casos leves, evitando encaminhamentos desnecessários para rede hospitalar, respeitando a especificidade cultural de cada etnia e otimizando os recursos disponíveis. A equipe deve ser formada por membros da EMSI e/ ou das Equipes de Resposta Rápida (ver abaixo) contando com no mínimo um médico, um enfermeiro e um técnico de enfermagem.

OFÍCIO CIRCULAR No 37/2020/DASI/SESAI/ de 27 de maio de 2020.

As Unidades de Atenção Primária Indígena (UAPI) devem conter minimamente:

  • Concentradores de oxigênio com geradores caso não haja energia elétrica no Polo/Posto/Aldeia.
  • Cateteres nasais de adulto e criança.
  • Cilindro reserva de oxigênio e cilindro para transporte de pacientes.
  • Oxímetros adulto e de criança.
  • Termômetro infravermelho.
  • EPIs em qualidade e quantidade suficiente para profissionais e pacientes.
  • Medicamentos e insumos para monitoramento de pacientes internados (sintomáticos, corticoides, soro, equipo, etc.).
  • Redário ou macas para pacientes e acompanhantes, garantindo a distância mínima entre os leitos.
  • Local para lavagem de mãos ou dispenser com álcool.
  • Banheiros ou locais para despejo de fezes/urina.
  • Pontos de iluminação adequados.
  • Expurgo e depósito para material de limpeza.
  • Sistema de comunicação com a rede de referência (internet, telefone, rádio).
  • Transporte para casos graves.

É de fundamental importância que as UAPIs sejam instaladas em local com ventilação adequada, local para lavagem de mãos ou dispenser com álcool e que seja garantido o distanciamento mínimo entre os pacientes.

De acordo com a NOTA TÉCNICA Nº 69/2020/SEI/GRECS/GGTES/DIRE1/ANVISA, Anexo 1 Unidades Alternativas de Assistência à Saúde – Recomendações, deve ser mantida uma distância de 1,0 m entre leitos, 1,0 m entre laterais do leito e parede, 1,5 m ao pé do leito para circulação de pelo menos 1,5 m.

Banheiros ou locais utilizados pelos pacientes para urinar e defecar devem ter uma atenção especial, é necessário que eles sejam isolados, uma vez que é sabida a transmissão da COVID-19 pelas fezes e urina. Um local específico deve ser designado para a dispensação adequada de resíduos sólidos e armazenamento de materiais de limpeza.

Deve-se garantir um local para a permanência de acompanhantes. Todas as pessoas que estiverem nas UAPIs, sejam pacientes, acompanhantes ou membros da equipe de saúde, devem utilizar máscaras permanentemente e higienizar as mãos regularmente.

Outro ponto a ser destacado é a implementação de medidas que garantam a segurança do paciente nas UAPIs, que podem ser baseadas na NOTA TÉCNICA GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 08/2020 ORIENTAÇÕES GERAIS PARA IMPLANTAÇÃO DAS PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE EM HOSPITAIS DE CAMPANHA E NAS DEMAIS ESTRUTURAS PROVISÓRIAS PARA ATENDIMENTO AOS PACIENTES DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19.

Atenção

Considerando as características da Saúde Indígena, destacam-se as seguintes medidas:

  • Identificação correta do paciente.
  • Prevenção de Queda do Paciente.
  • Prevenção de Lesão por Pressão.
  • Práticas seguras para prevenção de erros na administração de medicamentos.
  • Medidas de prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde.

AS UAPIs também devem estar conectadas à rede de referência, sendo necessário para isso a garantia de sistema de comunicação (internet, telefone, rádio, etc.) e transporte de pacientes.

Em muitos locais, não será possível garantir a estruturação de uma UAPI nos equipamentos de saúde, sendo necessária a utilização de estrutura de escolas, casas comunitárias, postos da Funai, entre outros.

Os equipamentos que compõem as UAPIs também devem ser dimensionados de acordo com o número de pessoas da região a ser atendida e distância de unidades de referência. Os EDS têm utilizado como referência 1 concentrador de O2 para 500 pessoas em regiões isoladas e 1 para 750 pessoas em regiões mais próximas de centros de referência.

UAPI polo Base Aramirã, TIW UAPI polo Base Aramirã, TIW

UAPI polo Base Aramirã, TIW

Veja como utilizar o Concentrador de O2 corretamente.

Concentrador de O2

Vídeo 6 - Guia de procedimentos: Concentrador de O2

Fonte: EDS.

Organização das CASAI

Cada CASAI deve se organizar conforme a realidade local e o espaço disponível, sempre buscando medidas para evitar a transmissão do vírus, para isso é necessário:

A adequação dos espaços deve ser feita a partir das características da realidade local e em diálogo com os indígenas, para que as medidas que restringem a circulação de pessoas e acompanhantes não sejam interpretadas de maneira equivocada.

Além disso, as medidas de higiene podem parecer inadequadas e gerar estranhamento diante de hábitos culturais distintos. Nesse contexto, ressaltamos a importância da presença de intérpretes e profissionais de ambos os sexos para facilitar a comunicação.

Quando houver pacientes de grupos de recente contato hospedados na CASAI, a Equipe da CASAI deve fazer um acolhimento diferenciado e adequado. E, no contexto da pandemia, implementar rigorosamente as medidas sanitárias e preventivas no acompanhamento desses grupos.

A estruturação das ações de enfrentamento da COVID-19 no contexto e em territórios com povos indígenas isolados e de recente contato tem regulamentações e medidas específicas. Essas medidas estão em discussão no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceitos Fundamentais 709, que determinou a implementação de barreiras sanitárias e uma sala de situação para monitoramento da situação dos povos isolados e de recente contato.

Combate à COVID-19 nos povos indígenas isolados

Garantia da integralidade da atenção à COVID-19

O reconhecimento das especificidades dos povos indígenas pelo Estado brasileiro permitiu a criação do SASI-SUS. Entretanto, diferentemente do restante da rede SUS em que se priorizou a execução das ações de atenção primária pelos municípios, a gestão dos DSE é federal. Por isso a Lei 9.836/99 preconiza que:

§ 2º O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, devendo, para isso, ocorrer adaptações na estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as populações indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento necessário em todos os níveis, sem discriminações.

§ 3º As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local, regional e de centros especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo a atenção primária, secundária e terciária à saúde”.

Assim, a garantia da integralidade das ações de saúde exige medidas adicionais de interação e pactuação entre os níveis federal (representado pela SESAI), estadual e municipal de gestão em saúde. Pois, o conjunto de ações necessárias para atendimento ao combate efetivo ao novo coronavírus e suas implicações na saúde humana, em particular para os casos graves e sequelas, exigem atendimento pré-hospitalar, acesso a exames ou terapias especializadas como internação em UTI e uso de respiradores, recursos não disponíveis rotineiramente nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas. Tal necessidade de articulação e pactuação é anterior à irrupção da epidemia, porém a ocorrência dela ressaltou as fragilidades crônicas do subsistema de saúde indígena, que desde sua criação interage de modo insuficiente com outras instâncias do SUS.

Para escutar

Ouça um podcast sobre a Articulação do Subsistema de Saúde Indígena com Estados e Municípios no Enfrentamento ao coronavírus.

Como as EMSI devem se organizar em relação à manutenção da assistência durante a pandemia do coronavírus

 

As EMSI devem manter as demais ações de atenção primária, estando atenta para os demais agravos dos indivíduos.

  • Continuidade do cuidado de pré-natal e saúde da criança, além do cuidado programático de outras condições de saúde, como hipertensão, diabetes, tuberculose, etc.

  • Os atendimentos odontológicos devem ser suspensos, exceto os atendimentos das urgências odontológicas, conforme a Nota Técnica No 9/ 2020-CGSB/DESF/SAPS/MS de 20/03/2020.

  • As ações referentes à imunização das comunidades indígenas devem ser mantidas, principalmente a vacinação para influenza vírus, considerando o impacto desta doença nas populações indígenas. As EMSI devem buscar medidas que diminuam os riscos de contaminação durante a vacinação, como por exemplo:

    • buscar lugares arejados, de preferência ao ar livre;
    • evitar aglomeração;
    • as equipes de vacinação devem utilizar EPIs adequados e redobrar a higienização das mãos e superfícies;
    • fazer a triagem de possíveis sintomáticos para SG que devem ser afastados das demais pessoas e avaliados pela equipe.

Chegamos ao final da aula

Chegamos ao final da aula. 

Nela, você viu: o conjunto de atribuições dos profissionais da EMSI, destacando o papel do Agente Indígena de Saúde (AIS); as recomendações de uso de EPIs para profissionais de saúde no contexto indígena e as recomendações para reorganização dos espaços e rotinas no posto, recepção e triagem; quais são os equipamentos mínimos das EMSI e as recomendações e rotinas de higienização do ambiente e insumos.

Na próxima aula, você vai ver sobre a Educação e comunicação em saúde na prevenção para COVID-19 no contexto indígena.

Siga em frente!