Módulo 3 | Aula 3

Enfrentamento da COVID-19
No contexto dos povos indígenas

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Módulo 3 - Aula 3

Manejo clínico da COVID-19

Nesta aula vamos falar sobre manejo clínico de casos no contexto da Saúde Indígena.

Ao final dela você deverá ser capaz de:

  • Realizar o manejo clínico da Síndrome Gripal e conhecer os critérios diagnósticos da COVID-19.
  • Realizar a estratificação de gravidade da Síndrome Gripal (SG) e identificar os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
  • Aplicar as orientações para manejo de casos leves e moderados da Síndrome Gripal.
  • Avaliar a necessidade de isolamento e distanciamento social no contexto de aldeia.
  • Implementar as estratégias para manejo e encaminhamento dos casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), no contexto indígena.
  • Conhecer os aspectos legais e culturais dos ritos funerários, os riscos implícitos e as possibilidades para reduzi-los.
  • Refletir sobre a atenção diferenciada no Manejo clínico da COVID-19.

Manejo clínico da COVID-19

Em 20 de março de 2020, o Ministério da Saúde declarou no Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária à Saúde, que havia transmissão comunitária do Sars-CoV-2 em todo território nacional. Com isso, a recomendação para a organização da Atenção Primária à Saúde no SUS se voltou para a abordagem clínica da Síndrome Gripal (SG) e da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), independente do agente etiológico. O cenário epidemiológico local é relevante, mas ressalta-se que, no momento, podemos afirmar que todos os Distritos Sanitários Especiais Indígenas estão em municípios com alto risco de transmissão da COVID-19, ou seja, com transmissão comunitária.

O quadro clínico da COVID-19 varia, em cerca de 80% dos casos tem uma apresentação assintomática ou leve. Entretanto, cerca de 5% a 10% dos casos desenvolvem sintomas graves, com insuficiência respiratória. Sua letalidade está associada com a faixa etária e condições clínicas associadas. No caso dos povos indígenas, devido a suas iniquidades prévias de saúde e condições de vida, características demográficas e dificuldades no acesso a serviços hospitalares, ainda não está evidente como é o comportamento da doença. Assim, devido a essas múltiplas vulnerabilidades dos povos indígenas, pode-se recomendar que as medidas sejam mais rigorosas e precavidas.

Destacamos que no manejo clínico da Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), no contexto da pandemia COVID-19, as EMSI representam o primeiro contato dos usuários nos territórios indígenas, sendo também responsáveis pela coordenação e longitudinalidade do cuidado. As EMSI, incluído os AIS, deverão fazer a identificação precoce dos casos graves e seu encaminhamento para serviços especializados.

Identificação de suspeitos e definição de caso

As EMSI, inclusive os Agentes Indígenas de Saúde (AIS), devem procurar realizar a busca ativa de casos suspeitos de síndrome gripal nas comunidades em que atuam, perguntando nas moradias ou para as lideranças e/ou informantes estratégicos a respeito da presença de pessoas que tenham sintomas. Também é importante monitorar a circulação de pessoas de fora da aldeia e se tiveram contato com pessoas suspeitas ou confirmadas da COVID-19. Importante que a equipe adote as medidas preventivas, de ambiência e de uso de EPIs, para evitar transmissão, conforme detalhado neste módulo na aula 2.

De acordo com o Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária à Saúde (versão 9), os sinais e sintomas da COVID-19 são típicos da Síndrome Gripal e da COVID-19.

  • Febre (>=37,8ºC);
  • Tosse;
  • Dispneia;
  • Mialgia e fadiga;
  • Sintomas respiratórios superiores; e
  • Sintomas gastrointestinais, como diarreia (mais raros).
  • Perda de olfato (típico da COVID-19)
  • Alteração do paladar (típico da COVID-19)
Material complementar

Leia o protocolo elaborado pela Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) - Brasília - DF Maio de 2020.

O Informe técnico nº 07 da SESAI, detalha que a confirmação da COVID-19 pode ser por diversos critérios, ampliando a identificação de casos:

  1. LABORATORIAL: caso suspeito com resultado detectável em RT-qPCR em tempo real, pelo protocolo Charité/Berlim, OU positivo para teste rápido.
  2. CLÍNICO: Caso de SG ou SRAG associado a anosmia (disfunção olfativo) OU ageusia (disfunção gustatória) aguda sem outra causa pregressa.
  3. CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO: caso suspeito com histórico de contato próximo ou domiciliar com caso confirmado laboratorialmente para COVID-19, nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais e sintomas, que apresente SG ou SRAG, e para o qual não foi possível realizar a investigação laboratorial específica.
  4. CLÍNICO-IMAGEM: caso de SG ou SRAG que não foi possível confirmar por critério laboratorial E que apresente pelo menos uma (1) das seguintes alterações tomográficas:
    • OPACIDADE EM VIDRO FOSCO periférico, bilateral, com ou sem consolidação ou linhas intralobulares visíveis (“pavimentação”), OU
    • OPACIDADE EM VIDRO FOSCO multifocal de morfologia arredondada com ou sem consolidação ou linhas intralobulares visíveis (“pavimentação”), OU
    • SINAL DO HALO REVERSO ou outros achados de pneumonia em organização (observados posteriormente na doença).

Todos os casos suspeitos e confirmados devem ser notificados.

Estratificação de risco: identificação de pacientes com potencial de agravamento

Na atuação das EMSI, é de fundamental importância reconhecer as pessoas com maior risco de agravamento e a partir do monitoramento diário delas, identificar aqueles que necessitam de uma intervenção mais precoce, monitoramento mais intensivo ou transferência para a UAPIs ou Polo Base.

Os quadros graves podem evoluir para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), portanto precisarão ser encaminhados para a rede de referência hospitalar do SUS.

A vulnerabilidade dos povos indígenas ao coronavírus já foi tratada nesse curso no Módulo 2 Aula 1. Mas, também entre as pessoas indígenas existem aquelas que apresentam condições para complicações e SRAG.

A partir do que se sabe a respeito da evolução da COVID-19 na população em geral e da vulnerabilidade de povos indígenas, é indicado que se tenha maior atenção e rigorosidade nas medidas preventivas e do monitoramento clínico de:

  • anciãs e anciãos, ou mais velhos (maiores de 60 anos);
  • mulheres grávidas, ou puérperas até duas semanas após o parto, ou após aborto ou óbito fetal;
  • crianças menores de 5 anos;
  • pacientes com doenças crônicas tais como doença cardíaca, hipertensão, diabetes, doença pulmonar como asma, doenças renais, doenças hepáticas, obesidade, doenças neurológicas (como AVC, Paralisia cerebral), doenças no sangue (como anemia), doenças imunológicas (como HIV/SIDA).
  • Se a EMSI não conhecer a situação prévia de saúde do paciente é importante que seja avaliado pelo médico através de anamnese direcionada e exame físico específico.

  • Ao identificar indígenas de maior risco a EMSI deve avaliar:

    • sua capacidade de suporte (oferta de oxigênio, leitos com isolamento adequado, medicamentos, profissionais médicos e de enfermagem);
    • o desejo do indígena, sua família e comunidade em transferir o paciente;
    • critérios de gravidade.

Acompanhamento de casos leves

Podem ser considerados casos leves aqueles que não se enquadrem nos critérios para SRAG e que não sejam pacientes com potencial para agravamento, conforme indicação anterior.

Nestes casos o acompanhamento do paciente deve ser feito a cada 48 horas, sendo avaliado diretamente pelos Agentes Indígenas de Saúde, e se possível pelo médico, enfermeiro ou técnico de enfermagem, preferencialmente em seu local de isolamento, utilizando os EPIs necessários. As pessoas que têm condições de agravamento devem ser monitoradas diariamente.

Recomenda-se para confirmação laboratorial da COVID-19 o teste molecular de RT-PCR, a ser realizado até o oitavo dia de início dos sintomas. Caso não disponível, pode-se realizar testes rápidos, sendo que preferencialmente o de antígeno, entre o quinto e o sétimo dia contado do início dos sintomas. O teste rápido de tipo sorológico só deve ser realizado a partir do décimo dia e pode ser feito para detecção de IgG e IgM. Ressaltamos que a realização da testagem NÃO é necessária para o diagnóstico e condutas, sendo relevante para monitoramento da circulação viral.

Saiba mais

No caso de febre, cefaleia (dor de cabeça), mialgias (dores no corpo) utilizar analgésicos e antitérmicos apenas quando necessário. Não é recomendado o uso de analgésico, como a dipirona, “de horário” para não mascarar a febre. Também deve ser evitado o uso de nebulizadores pois eles podem funcionar como meios de propagação da infecção.

Não está indicado o uso de corticosteróides (prednisona, prednisolona), antialérgicos (loratadina), anti inflamatórios ou outros medicamentos, especialmente “de horário”, pois podem mascarar sinais de alerta. A dexametasona deve ser usada somente em pacientes que necessitam usar oxigênio suplementar, conforme orientações.

De acordo com o Protocolo de Manejo de Influenza (MS, 2017) Está indicado o uso de fosfato de oseltamivir (Tamiflu®) para todos os casos de SG que tenham condições e fatores de risco para complicações, independentemente da situação vacinal, mesmo em atendimento ambulatorial, no qual estão incluídos povos indígenas que vivem em aldeias ou em regiões de difícil acesso. Os maiores benefícios ocorrem quando o fosfato de oseltamivir é iniciado até 48 horas depois do começo dos sintomas.

Material complementar

Leia o Protocolo de Tratamento de Influenza 2017.

Os profissionais da EMSI que acompanham o caso devem ficar atentos para o aparecimento de novos sintomas ou piora dos sintomas já presentes.

É fundamental garantir as condições para o isolamento dos casos suspeitos ou confirmados de Síndrome Gripal. Caso o paciente permaneça sem complicações ou sinais de alerta, a EMSI deve manter o acompanhamento até o fim do período de isolamento.

Se no momento do diagnóstico ou durante o isolamento o paciente apresentar outras doenças que aumentem o risco de complicações ou sinais de gravidade, ele deve ser encaminhado para UAPI ou para referência municipal/estadual, de acordo com o fluxo estabelecido pelo DSEI.

Acompanhamento de casos moderados/graves

Definição de SRAG:
  • Sinais de desconforto respiratório ou aumento de frequência respiratória avaliada de acordo com a idade ou quadro de insuficiência respiratória aguda.
  • Piora nas condições clínicas de doenças de base.
  • Hipotensão.
  • Saturação de SpO2 < 95% em ar ambiente.

Em adultos, a taquipnéia é caracterizada por frequência respiratória maior que 30 mpm, e a hipotensão por pressão sistólica abaixo de 90mmHg e/ou diastólica abaixo de 60mmHg.

O acompanhamento de casos moderados ou graves pelas EMSI necessita da estrutura e equipamentos adequados (Oxigênio, EPIs), além de fluxos e transporte para a remoção do paciente.

Manejo da COVID-19 - Curso

Para saber mais sobre a COVID-19, veja o curso do Campus Virtual Fiocruz:

Veja agora algumas recomendações para o manejo de casos graves nas UAPIs ou Polo de referência:

  • Estabilização da temperatura, que pode reduzir dor e desconforto.
  • Garantia de oferta de líquidos.
  • Oferta de oxigênio de fluxo livre ou não-invasiva sob pressão, que pode aliviar o sofrimento respiratório (este é considerado um procedimento gerador de aerossol e requer isolamento e medidas específicas). Iniciar com 3L/min e avaliar o paciente.
  • Monitoramento de saturação e sinais vitais 4 vezes ao dia.
  • Dexametasona comprimidos: 6mg/dia.
  • Enoxaparina 40 mg SC 1x/dia.

Isolamento, distanciamento ou resguardo

As estratégias para reduzir a transmissão do coronavírus entre as comunidades indígenas devem ser particularizadas. A identificação e isolamento de casos de Síndrome Gripal é uma das medidas mais eficazes na prevenção do espalhamento da COVID-19. Contudo, no contexto indígena, as medidas de quarentena e isolamento intradomiciliar precisam ser ajustadas de acordo com as características de cada etnia, grupo indígena, aldeia e família.

Apesar dos procedimentos indicarem que os casos de síndrome gripal devem ser identificados e mantidos separados dos demais membros da família por 14 dias, a dinâmica social numa aldeia é bem diferente.

Orientações
Material educativo sugerido

A COVID-19 avança sobre as Terras Indígenas.

No Xingu, comunidades se organizam para fazer o isolamento social e evitar que o vírus circule nas aldeias!

Veja as medidas de prevenção na animação Isolamento é cuidado e deixe os riscos de transmissão longe da sua casa! Não vamos deixar a história se repetir! Vamos proteger as nossas comunidades da COVID-19.

Vídeo: Isolamento é Cuidado!
Fonte: Instituto Socioambiental

A pandemia do coronavírus não é a primeira ameaça por doença infecciosa que os povos indígenas sofreram, como vimos no Módulo 2 Aula 1. A memória desses períodos e as estratégias utilizadas pelos ancestrais ainda estão no conhecimento dos mais antigos. Evitar o contato com pessoas de fora da comunidade, evitar o contato e o consumo de objetos e alimentos de fora e a fuga para o interior da floresta foram estratégias usadas que garantiram a sobrevivência de muitos grupos.

Os Yanomami têm que ir para dentro da floresta, onde o xawara (doença provocada por vírus) não pode infectar as pessoas. Isso é importante para cuidarmos das nossas lideranças mais velhas. Eles têm que ir para o mato e se esconder até passar essa fumaça de epidemia xawara. Essa prática não é só de hoje, essa é a nossa cultura, nossos ancestrais falavam isso.

Dário Kopenawa, líder Yanomami

Fonte: Susana Prizendt - A estratégia indígena para enfrentar o vírus

Algumas aldeias estão construindo ou adaptando locais específicos para isolamento dos casos suspeitos de COVID-19 para diminuir a transmissão do vírus nas comunidades.

Na aldeia Ipatsé, do povo Kuikuro no alto Xingu foi construída uma casa específica para quarentena. Na aldeia Xavante Pimentel Barbosa, no Mato Grosso, a escola da aldeia foi adaptada para receber pacientes com suspeita de COVID-19.

Enfrentamento da COVID-19 no contexto dos povos indígenas

Para saber mais sobre Vigilância da COVID-19 em comunidades indígenas

Critérios para encaminhamento para serviços de referência - Caso mantenha SpO2 < 95% mesmo com suporte de oxigênio suplementar:

  • Caso mantenha SpO2 < 95% mesmo com suporte de oxigênio suplementar
  • Tenha piora do nível de consciência, diminuição do fluxo urinário, piora da fadiga.
  • Não apresenta melhora clínica considerável após 5 dias de acompanhamento pela EMSI.
  • Concordância do paciente e/ou da família.

Transporte de pacientes

A decisão de transferência de pacientes das comunidades para a UAPI, Polo Base ou serviço de referência, deve ser tomada pela equipe considerando o contexto local (logística, recursos e equipe de saúde disponíveis, gravidade do caso, entre outros fatores) e com diálogo e consentimento da comunidade e/ou família.

Quando há critérios para remoção de um paciente a EMSI deve compartilhar, de preferência com tradução na língua própria, para as famílias e comunidade:

  • Quais foram os critérios de gravidade identificados naquele caso e quais as preocupações da equipe e suas limitações.
  • Quais os procedimentos a serem realizados no hospital ou na unidade de referência.
  • Como será feito o repasse das informações sobre a situação do paciente transferido para a família e comunidade.
  • Como será negociado os procedimentos em caso de óbito.

Caso seja necessário o transporte, é importante notar algumas regras básicas:

  • Pacientes com saturação menor que 95% em ar ambiente só devem ser transportados com suporte adicional de oxigênio por todo o percurso.
  • Casos graves/moderados devem ser acompanhados por um médico ou enfermeiro.
  • É importante que a rede de referência já esteja articulada para que o paciente grave não tenha que ficar esperando.

Segurança no transporte de pacientes

Alguns cuidados específicos devem ser adotados:

  • Os profissionais que farão o acompanhamento do paciente devem usar EPIs, incluindo motoristas, pilotos e proeiros.
  • Na voadeira o paciente com síndrome gripal deve ficar longe dos outros, e usar máscara. Evitar dar carona ou transportar outras pessoas na voadeira, junto com paciente com síndrome gripal.
  • No transporte terrestre, os vidros devem estar abertos para garantir a circulação de ar.
  • Antes e após o transporte do paciente, deve-se higienizar o veículo, barco ou avião.

Atenção diferenciada no Manejo da COVID-19

Conforme abordamos no Módulo 1 aula 2, uma das diretrizes do Subsistema de Saúde Indígena se refere a considerar as especificidades socioculturais, linguísticas e territoriais dos povos indígenas.

“O princípio que permeia todas as diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas é o respeito às concepções, valores e práticas relativos ao processo saúde-doença próprios a cada sociedade indígena e a seus diversos especialistas. A articulação com esses saberes e práticas deve ser estimulada para a obtenção da melhoria do estado de saúde dos povos indígenas”

(PNASPI, 2002: 18)

Para escutar

Ouça o depoimento de Daphne Lourenço (Médica de Família e Comunidade atuando no DSEI Xingu) sobre o atendimento de Tahugaki Kalapalo, mais conhecido como Amarildo, indígena, 41 anos, sem outras doenças, trabalhador da cidade de Canarana diagnosticado com COVID-19.

Tem se observado em muitos territórios indígenas, a retomada da valorização das medicinas indígenas como recurso para manejo clínico dos pacientes, em maneira complementar à medicina científica.

Essas iniciativas devem ser respeitadas pois, segundo o artigo 24 da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas:

“Os povos indígenas têm direito a seus medicamentos tradicionais e a manter suas práticas de saúde, incluindo a conservação de suas plantas, animais e minerais de interesse vital do ponto de vista médico. As pessoas indígenas têm também direito ao acesso, sem qualquer discriminação, a todos os serviços sociais e de saúde”

(PNASPI, 2002: 13)

Pluralismo médico

Para saber mais sobre Pluralismo médico e a Organização do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena.

Para escutar

Ouça o depoimento de Daphne Lourenço (Médica de Família e Comunidade atuando no DSEI Xingu) sobre o atendimento de Walama Kalapalo, 48 anos, indígena, cacique na aldeia Tanguro diagnosticado com COVID-19.

Ritos funerários e cuidados com os corpos

No âmbito do cuidado da saúde, estão envolvidos o acompanhamento dos ritos funerários e os cuidados com os corpos das pessoas falecidas, situação que pode ser complexa a depender do contexto e do grupo indígena.

As EMSI precisam ter sensibilidade, no contexto da pandemia, em conversar com as comunidades indígenas para garantir as medidas sanitárias, mas também respeitar o direito dos povos indígenas aos seus ritos funerários.

O paciente/família/comunidade pode decidir pela não remoção do corpo em casos específicos. No caso de recusa, a EMSI deve elaborar um novo pacto de cuidado, respeitando a decisão do paciente e levando em consideração os itinerários terapêuticos indígenas locais, atentando para cuidados com o local do isolamento e ritos funerários.

A situação de transmissão de COVID-19 também interfere nas discussões com à família/comunidade. Em locais onde existe transmissão comunitária, recomenda-se que poucas pessoas acompanhem os ritos funerários, preferencialmente até 10 pessoas.

Apesar de não haver indicação clara na literatura de quais medidas sanitárias são absolutamente seguras para a realização dos ritos funerários, de modo a respeitar as tradições culturais de cada povo, para minimizar a chance de contágio durante a manipulação dos corpos, existem algumas recomendações:

É importante destacar que estas orientações foram elaboradas a partir da experiência das autoras e do diálogo com profissionais que atuam em saúde indígena e antropólogos. Não foi encontrado bibliografia que respalde tais orientações.

Na cultura Xavante, por exemplo, cessando o luto, que dura entre 7 a 15 dias, tudo referente à pessoa que morreu é queimado e outros objetos são levados pelos representantes do clã, responsáveis pelo enterro.

O contato direto com os ambientes e objetos não higienizados deve ser feito após 3 dias, para diminuir a possibilidade de transmissão da COVID-19.

Copiô, Parente – O Direito de enterrar seus mortos

Nesse Copiô ouça a entrevista com o Adriano Lana, procurador do Ministério Público Federal que construiu um diálogo entre o Estado e lideranças de uma comunidade que permitiu que os Xiktrin do Cateté fizessem os velórios de dois mortos por COVID-19 de acordo com seus costumes. Os corpos seguiram em caixões lacrados e um servidor do Ministério da Saúde acompanhou o translado para orientar que as pessoas usassem álcool gel na chegada do caixão.

Para escutar

Ouça o depoimento de Daphne Lourenço (Médica de Família e Comunidade atuando no DSEI Xingu) sobre o primeiro óbito que ela presenciou por COVID-19 e como foram realizados os ritos funerários.

Chegamos ao final da aula

Chegamos ao final da aula. 

Nela, você viu como: realizar o manejo clínico da Síndrome Gripal, a estratificação de gravidade da Síndrome Gripal (SG), identificar os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), avaliar a necessidade de isolamento e distanciamento social e implementar as estratégias para manejo e encaminhamento dos casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), no contexto indígena, além de conhecer alguns exemplos e diretrizes para o acompanhamento de ritos funerários e manejo de corpos.

Na próxima aula, você vai ver sobre Vigilância da COVID-19 em comunidades indígenas.

Siga em frente!