Módulo 3 | Aula 2

Enfrentamento da COVID-19
No contexto dos povos indígenas

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Módulo 3 - Aula 2

Educação e comunicação em saúde na prevenção para COVID-19 no contexto indígena

Nesta aula, vamos falar sobre educação e comunicação em saúde para a prevenção da COVID-19 no contexto indígena. Como estamos diante de uma doença nova, que ainda não tem vacina ou tratamento específico, é prioritário organizarmos as medidas que evitem ou minimizem a transmissão da COVID-19 em territórios indígenas. Para isso é necessário conhecermos as formas de transmissão dessa doença e discutirmos as estratégias de prevenção adequadas para o contexto indígena.

Ao final, você vai ser capaz de:

  • Entender o papel da equipe multidisciplinar de saúde indígena (EMSI), e particularmente do Agente Indígena de Saúde (AIS) e sua importância na organização das ações de educação e comunicação em saúde nos territórios indígenas;
  • Conhecer as medidas de prevenção e de proteção à COVID-19 e como implementá-las em comunidades indígenas, de acordo com suas especificidades socioculturais e linguísticas;
  • Identificar as estratégias desenvolvidas pelas próprias organizações e comunidades indígenas para promover a educação e prevenção da COVID-19 nas aldeias.

Educação em saúde e comunicadores indígenas

As estratégias de comunicação e educação sobre a prevenção e manejo da COVID-19 são fundamentais para evitar a transmissão do vírus nas comunidades indígenas, mas devem ser construídas considerando suas especificidades linguísticas e socioculturais. Todo material informativo sobre a doença deve, de preferência, ser produzido na língua nativa para facilitar a compreensão, utilizando os meios de comunicação de maior difusão e de mais fácil acesso em cada comunidade, como por exemplo, radiofonia, internet, “boca de ferro”, rádio comunitária, etc.

Relembramos que é atribuição das Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena o desenvolvimento de atividades educativas e de prevenção, sendo que os Agentes Indígenas de Saúde são os melhores interlocutores nessa “tradução” e diálogo entre os conhecimentos científicos e os locais. Ressaltamos que as ações de educação e comunicação em saúde devem ter como princípio a ampla participação indígena em todo o processo, no planejamento, execução e avaliação.

Apesar da COVID-19 ser uma doença nova, os povos indígenas têm muitos conhecimentos sobre o cuidado com o corpo, da saúde e para evitar doenças, e os profissionais de saúde, ao promover ações educativas, devem considerar isso. Por exemplo, a prática de reclusão, que significa um isolamento de um indivíduo do convívio na aldeia, é um costume em alguns povos, e pode ser acionado como experiência similar para o isolamento social.

Por outro lado, para alguns grupos a noção de vírus ainda é pouco familiar, precisando adequar as orientações sobre Sars-Cov-2. O importante é considerar que conhecimentos indígenas e científicos precisam dialogar para a construção de estratégias de enfrentamento.

Os profissionais também precisam considerar que as formas de transmissão de conhecimento são diferentes entre indígenas e na área de saúde. Nas comunidades existe muito ensino-aprendizagem na convivência cotidiana, entre gerações e pela oralidade. Entretanto, os profissionais de saúde costumam preferir fazer ‘palestras’ e distribuir material escrito. A partir das experiências de educação popular em saúde, sabemos que são muito potentes as estratégias que partem do diálogo, no qual se considera os conhecimentos e dúvidas que as pessoas da comunidade têm, a partir dos quais os profissionais de saúde esclarecem questões e agregam novas informações. Isso, em geral, envolve mais o coletivo e gera soluções mais adequadas à realidade local.

No contexto da COVID-19, lembramos que não é recomendado organizar atividades coletivas, portanto, as equipes precisam planejar e dialogar com os AIS, professores indígenas e lideranças, sobre as melhores formas de produzir materiais e disseminar informações. O formato, linguagem e conteúdos devem ser pensados para melhor adequar-se ao contexto local.

Antes de iniciar uma ação de educação em saúde, reflita:

  • Para quem vai ser essa atividade? Onde ela será realizada?
  • Qual o objetivo da atividade? O que você quer discutir e refletir?
  • Qual a melhor forma de realizar a atividade?(e como isso deve ser feito no contexto da pandemia, com as medidas preventivas)
  • Quais materiais e recursos são os mais apropriados? (Como usar os meios de comunicação a distância? Quais estão disponíveis?)
  • Quem pode colaborar com a atividade? (quais materiais já foram feitos? Quem conhece a língua e realidade local?)
Exemplo de material educativo adaptado

Um bom exemplo de material adaptado é a cartilha educativa Coronavírus (COVID-19) - Tome cuidado, parente!. Ela foi elaborada pela equipe Instituto Socioambiental (ISA) baseada em São Gabriel da Cachoeira (AM). Além da versão em português, a cartilha foi traduzida também para as línguas Baniwa, Dâw, Nheengatu e Tukano.

As cartilhas serão levadas para Terras Indígenas pelos profissionais de saúde do DSEI-ARN (Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro). Você pode acessar esse material no site do Instituto Sócio Ambiental.

Estratégias de comunicação desenvolvidas pelas organizações indígenas, como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) - ou pelas redes de comunicadores - com a Mídia Índia - na forma de podcasts, vídeos, áudios - têm sido uma poderosa estratégia para passar informações e divulgar medidas de prevenção e proteção para a COVID-19 nos territórios indígenas.

Procure fazer parcerias com organizações indígenas e indigenistas. Eles têm ampla experiência na produção de materiais e atividades educativas com povos indígenas.

Podcasts preparados para população indígena

Ouça abaixo o audio selecionado:

Copiô, Parente - Podcast

Boletim de áudio do Instituto Socioambiental, com notícias de Brasília que interessam aos povos indígenas e povos da floresta. A periodicidade é semanal e há vários episódios sobre os impactos da COVID-19 no território indígena.

Minuto Coiab

O Minuto Coiab traz informações sobre a pandemia da #Covid19 e a situação emergencial dos povos indígenas na Amazônia brasileira.

Diante da grande diversidade sociocultural e linguística dos povos indígenas brasileiros e os diferentes cenários epidemiológicos possíveis, é fundamental que cada grupo, comunidade e aldeia indígena crie suas próprias estratégias de comunicação e enfrentamento da pandemia. Outro exemplo é o rap indígena trilingue, sobre a pandemia, com letra e voz de Kaê Guajajara e Kandú Puri.

Para ouvir

Nós indígenas sabemos muito bem o que é enfrentar doenças de quem vem de longe, sem cura mesmo de nossas medicinas tradicionais. Todos nós que vivemos hoje somos os sobreviventes de inúmeras epidemias que exterminaram povos inteiros e desestruturaram outros tantos. Somos a resistência hoje a tudo isso que nos atingiu e atinge, frutos da nossa força em nos reerguer após cada caída. Somos os que insistiram em se manter de pé e em assumir quem é e não vamos arredar nunca. Que Ñawêra nos dê o caminho e nos proteja nessa nova tempestade. Força guerreiras e guerreiros!

  • Zeeg'ete do povo Guajajara do tronco tupi Guarani
  • Kwaytikindo do povo Puri do tronco macro jê

Fonte: YouTube RcaRede

A equipe de saúde, além de atuar na organização e planejamento da atenção básica, tem um importante papel no enfrentamento da pandemia que é informar a comunidade como se proteger da COVID-19 e discutir as estratégias de implementação dessas medidas preventivas. Os agentes indígenas de saúde são fundamentais nas ações de educação em saúde, pois como moradores das comunidades conhecem o seu cotidiano, línguas e costumes, e podem melhor traduzir e adaptar as orientações acerca da COVID-19.

No Plano de enfrentamento da pandemia da APIB já há um destaque para a importância da difusão de informações. Neste sentido, os Agentes Indígenas de Saúde (AIS) podem articular com a juventude estudantes indígenas, sobretudo comunicadores, na implementação e formação de redes, pela internet, para transmissão e difusão de informações importantes.

Há, também, iniciativas individuais, como o vídeo dos médicos Douglas Rodrigues e Sofia Mendonça, que trabalham com povos indígenas no Projeto Xingu há mais de 3 décadas. O vídeo foi veiculado pelo Instagram da Mídia Ninja.

Médicos informam sobre a Covid nas redes sociais

Os médicos Douglas Rodrigues e Sofia Mendonça compartilham vídeo com informações importantes sobre o coronavírus. As dicas e recomendações dadas levam em conta a realidade das aldeias no Brasil e o modo de vida dos povos. Eles orientam o isolamento nas aldeias e recomendam reforço no cuidado com a higiene e alimentação. Também aconselham que pessoas que apresentarem sintomas e anciãos sejam mantidos em resguardo por um tempo.

Douglas Rodrigues e Sofia Mendonça trabalham com povos indígenas no Projeto Xingu há mais de 3 décadas.

Medidas de prevenção nas comunidades indígenas

A transmissão do coronavírus se dá de pessoa para pessoa: pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas (gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro). O ciclo de transmissão pode se iniciar com contato pessoal próximo (toque ou aperto de mão) ou contato com objetos ou superfícies contaminadas (fômites), seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Manejo da COVID-19 - Curso

Portanto, todos os procedimentos de prevenção têm como objetivo quebrar este ciclo de transmissão, seja por meio do distanciamento entre as pessoas, seja pela imposição de barreiras físicas que impedem a dispersão de gotículas com o vírus para o ambiente ou por meio de medidas de higiene que irão descontaminar mãos, objetos e superfícies que possam estar contaminados.

Nesse sentido, muitas práticas e hábitos - que fazem parte da rotina das aldeias e das pessoas - deverão ser repensadas e outras - que não fazem parte do dia a dia - deverão ser discutidas com as comunidades para serem introduzidas e adotadas neste momento. Além do mais, precisa ser pensado na disponibilidade e acesso de insumos necessários para as medidas tais como higienização ou uso de máscaras.

Circulação aldeia-cidade, rotinas possíveis, barreiras sanitárias

O Brasil apresenta uma situação de transmissão comunitária e o novo coronavírus já circula por quase todos os municípios do país. Se ainda não há transmissão local em determinada aldeia, a restrição da circulação de pessoas é ainda uma importante estratégia para evitar a entrada do vírus na comunidade.

O que é transmissão comunitária (ou sustentada)

São casos nos quais não é possível identificar as fontes de transmissão da doença. Esse tipo de transmissão sugere circulação ativa do vírus na comunidade.

Lembramos que a transmissão também pode ocorrer por objetos, então, medidas para a desinfecção de materiais, equipamentos e meios de transporte que transitam nos territórios deve ser feita. Consideramos que a criação de barreiras sanitárias para adotar medidas que evitem a entrada e circulação do vírus nos territórios indígenas é uma medida de prevenção muito importante. Particularmente, nos territórios com povos isolados e de recém contato, essas medidas devem ser bastante rigorosas. As barreiras sanitárias, porém, devem ser organizadas, com treinamento das pessoas e fornecimento de insumos adequados, pois envolve a adoção de procedimentos e protocolos.

O que é barreira sanitária

É quando se impede ou restringe a circulação de pessoas, animais e plantas com o objetivo de prevenir riscos de contaminação e disseminação de pragas e doenças ou evitar que elas ocorram.

A movimentação de pessoas dentro da aldeia e para fora dela aumenta a possibilidade de transmissão do vírus. Entretanto, a restrição da circulação das pessoas, depende do envolvimento das lideranças indígenas e de todas as pessoas da comunidade. Por um lado envolve adiar e evitar algumas atividades sociais, religiosas e políticas nos territórios, como reuniões, festas, rituais coletivos, refeições comunitárias, jogos e assembleias. Por isso, a implantação de medidas de restrição de circulação devem ser acompanhadas de uma ampla discussão com a comunidade.

Por outro lado, é fundamental conseguir garantir as condições necessárias, como alimentos e outros insumos cheguem para as famílias, para que as pessoas não precisem ir a outras comunidades ou centros urbanos fazer compras ou buscar produtos fundamentais para sua qualidade de vida.

Também podem ser adotados alguns procedimentos, quando necessário o deslocamento, como:

  • quando fora da aldeia: usar máscara caseira ou cirúrgica, trocando frequentemente ou a cada 4 horas;fazer higienização das mãos constante; evitar aglomerações e fazer compras em horários de menor movimentação; lavar com água e sabão ou usar álcool 70% em todos produtos que comprar; não ter contato com pessoas com sintomas gripais;
  • o retorno à comunidade: se tiver sintomas gripais, não retornar, procurar fazer teste de RT-PCR e ficar em isolamento por 14 dias; se não tiver sintomas, mesmo assim, preferencialmente procurar realizar teste RT-PCR, se não for possível fazer quarentena por 14 dias ; ao chegar na aldeia tomar banho, lavar todas as roupas e sapatos; lavar ou passar álcool 70% em todos os objetos que trouxer; higienizar
Teste para detecção da COVID-19

O distanciamento social só será efetivo no contexto indígena se houver o envolvimento e discussão coletivos e for ajustado à realidade local. Da mesma forma, as barreiras sanitárias só serão efetivas se estiverem garantidas as condições necessárias para as pessoas permanecerem isoladas sem saírem das aldeias. Isso requer a garantia da sustentabilidade alimentar das comunidades , o acesso a produtos de higiene, assistência à saúde, ferramentas necessárias para a sobrevivência dos povos indígenas.

É preciso conscientizar e envolver a comunidade nas tomadas de decisão.

Barreiras sanitárias em território indígena

O vídeo mostra os exemplos de barreiras sanitárias contra COVID-19, implantadas pelos territórios Pataxó (BA), Tabajara (PA), Pankararu (PE), Tingui-Botó (AL), Tipinikim (ES), Tpinambá (BA), Xokó (SE), Xukuru Kariri (AL), Potiguara (PA) e Kambiwá (PE), até o final de junho/2020.

Fonte: YouTube

Prevenção e proteção individual

As recomendações gerais para prevenção ao coronavírus incluem seis ações principais. As medidas de higiene em geral, e especificamente das mãos, são fundamentais na prevenção da transmissão do coronavírus.

No contexto indígena, as medidas de higiene como lavagem das mãos, higiene dos objetos e utensílios de uso comum devem ser estimulados e orientados a serem feitos da forma correta.

Vários materiais educativos podem ser usados para explicar para as pessoas porque essas medidas de higiene são importantes e a maneira correta de realizá-las, mas principalmente essas orientações têm que ser adaptadas aos contextos locais dentro das possibilidades e condições de cada comunidade indígena. Sabe-se que existirão desafios para tais medidas, mas deve-se tentar implementá-las.

Particularmente, o envolvimento das crianças nessas medidas pode ser difícil e, por isso, deve-se atentar para medidas de isolamento das pessoas idosas e de maior risco.

Recomendações para prevenção da COVID-19

Lave as mão com frequência - use água e sabão ou álcool gel. Siga a sequência de lavagem, que deve durar pelo menos 20 segundos.

Evite tocar mucosas de olhos, nariz e boca. Cubra o nariz e a boca quando espirrar ou tossir - mas use o cotovelo.

Utilize lenço descartável para limpar o nariz - use uma vez e coloque no lixo.

Não compartilhe objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas.

Mantenha os ambientes bem ventilados.

Evite aglomerações.

Acesso à água e sabão

O acesso regular à água vai garantir que medidas básicas de prevenção da transmissão do coronavírus sejam colocadas em prática pela comunidade.

Lavagem das mãos e higienização de objetos e utensílios como redes, pratos, talheres, cuias, esteiras que são de uso comum dependem da disponibilidade de água e sabão, que em muitas aldeias pode não estar acessível de forma adequada. Por isso, está se pautando o acesso universal à água potável como uma medida necessária para o enfrentamento da COVID-19, como no plano de enfrentamento à COVID-19 em povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais aprovada na Lei 14.021.

Medidas de prevenção à COVID-19 - Recomendações APIB e entidades acadêmicas

Em muitas regiões e aldeias do país, o acesso à água é restrito e precisa ser estruturado neste momento. Garantir acesso à água e ao sabão é uma medida básica de prevenção da COVID-19. Neste sentido, iniciativas comunitárias que possam ampliar a captação, reserva e distribuição de água nas aldeias devem ser consideradas, tais como a construção de tanques, cacimbas, poços rasos ou cisternas.

Uso de máscara

O uso de máscara faz parte de um conjunto de medidas de proteção e controle que ajudam a dificultar a propagação de infecções respiratórias, incluindo a COVID-19. As máscaras ajudam a proteger as pessoas sadias quando entram em contato com pessoas infectadas. E, quando utilizada por uma pessoa infectada, dificulta a transmissão do vírus por meio de uma barreira física que impede a dispersão de gotículas com o vírus.

Vale destacar que o uso de máscara deve estar associado a uma série de medidas individuais e coletivas para prevenir a transmissão do coronavírus.

A OMS divulgou em junho de 2020 as recomendações sobre o uso de máscaras no contexto da COVID-19 para as diferentes situações de trabalho dos profissionais de saúde, assim como para a população em geral (WHO, 2020). Ela aconselha às autoridades, quando promoverem o uso de máscaras pelo público em geral, respeitar uma abordagem de risco centrada em alguns critérios.

Máscaras produzidas pela Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé - Instagram: @amism_sateremawe - Foto: @Karibuxi

  • Finalidade
  • Risco de exposição da COVID-19
  • Vulnerabilidade do indivíduo ou grupo de pessoas
  • Entorno em que vive a população
  • Possibilidade real de uso, custo, acesso à água limpa para lavar as máscaras
  • Tipo de máscara
Costureiras da etnia Tuxá, Bahia

Costureiras da etnia Tuxá, Bahia - Foto: divulgação FUNAI

Onde há transmissão comunitária, a OMS recomenda o uso de máscaras médicas tanto para os profissionais de saúde - incluindo agentes indígenas de saúde (AIS) - e, se possível, para os pacientes diagnosticados ou sintomáticos que estão em isolamento domiciliar e seus respectivos cuidadores. Isso porque há maior risco de transmissão nessas situações. Entretanto, na indisponibilidade de máscaras cirúrgicas o uso de máscaras de tecido ou o distanciamento físico entre as pessoas (dois metros) podem diminuir muito o risco de contaminação.

Pacientes diagnosticados - sintomáticos ou não - e seus cuidadores devem usar máscara. O uso da máscara também deve ser incentivado, principalmente, durante as viagens para fora da aldeia e durante o tempo de permanência das pessoas nas cidades.

O uso de máscara deve ser incentivado pelas autoridades de saúde em situações em que não se pode ter um distanciamento físico adequado, como em lugares densamente povoados; onde há dificuldade de realizar vigilância epidemiológica, pouca capacidade de realizar testes e meios escassos de isolamento e quarentena.

No caso das comunidades indígenas, a dificuldade de distanciamento físico, o adensamento de pessoas nos domicílios, a dificuldade de isolamento social, falta de testes, etc., fazem do uso da máscara pela população uma estratégia que pode ser bastante útil na prevenção da transmissão do coronavírus nas comunidades indígenas. Mas deve-se atentar às recomendações sobre troca de máscaras e sua limpeza, para que as mesmas não se transformem em foco de transmissão da doença.

Regras de uso de máscaras

O uso de máscaras exige cuidados especiais para não haver risco de contaminação pela própria máscara. Com o objetivo de evitar esse problema, algumas orientações precisam ser compartilhadas.

Atenção!

Ao usar máscara caseira:

  • A máscara é individual. Não pode ser dividida com ninguém, nem com mãe, filho, irmão, marido, esposa, nem ninguém. Então se a sua família é grande, saiba que cada um tem que ter a sua máscara, ou máscaras.
  • A máscara pode ser usada até ficar úmida. Depois desse tempo, é preciso trocar. Então, o ideal é que cada pessoa tenha pelo menos duas máscaras de pano.
  • Mas atenção: a máscara serve de barreira física ao vírus. Por isso, é preciso que ela tenha pelo menos duas camadas de pano.
  • Também é importante ter elásticos ou tiras para amarrar acima das orelhas e abaixo da nuca. Desse jeito, o pano estará sempre protegendo a boca e o nariz.
  • Use a máscara sempre que precisar sair de casa, ou dentro de casa se for entrar em contato com algum caso diagnosticado ou com suspeita de COVID-19. Saia sempre com pelo menos uma reserva e leve uma sacola para guardar a máscara suja, quando precisar trocar.
  • Evite colocar a mão na parte central da máscara para retirá-la ou ajustá-la para não correr o risco de contaminar os dedos. Utilize os elásticos ou tiras laterais para fazer os ajustes.
  • Lave as máscaras usadas com água e sabão. Deixe de molho por cerca de 30 minutos.

Adaptado de: Ministério da Saúde - Máscaras caseiras podem ajudar na prevenção contra o Coronavírus

Para orientar, é preciso saber!

Quais das imagens abaixo representa o uso correto da máscara?

Não se deve tocar na frente da máscara. Para ajustar ao rosto ou para colocar e tirar, use as tiras laterais. Tente outro cartão!

A máscara só é efetiva quando cobrir o nariz e a boca. Ao deixar a máscara pendurada na orelha, corre o risco de ela cair no chão ou você tocar na parte exterior dela, mesmo que por acidente.

A máscara só é efetiva quando cobrir o nariz e a boca. Ao deixar a máscara no pescoço, você aumenta o risco de tocar na área exterior dela, mesmo que por acidente.

Exato!

Essa figura representa o uso correto da máscara!

Riscos e inconvenientes no uso das máscaras

A utilização incorreta das máscaras oferece alguns riscos e inconvenientes que devem ser levados em consideração tanto quando utilizadas pelos profissionais de saúde como pela população em geral, tais como:

  • Possível aumento da contaminação da máscara pelo usuário devido à manipulação da máscara, seguida do toque nos olhos com as mãos contaminadas;
  • a possibilidade de contaminação que pode ocorrer se o usuário não trocar uma máscara que ficou molhada ou suja. Isso pode criar condições favoráveis ​​para a multiplicação de microorganismos;
  • a possibilidade de dor de cabeça ou dificuldade respiratória, dependendo do tipo de máscara usada;
  • o possível aparecimento de lesões de pele da face, dermatite irritativa ou agravamento da acne quando as máscaras são usadas por muitas horas;
  • dificuldades na comunicação clara;
  • possível desconforto;
  • uma falsa sensação de segurança que pode levar a uma observância menos rigorosa de outras medidas preventivas essenciais, como distanciamento físico e higiene das mãos;
  • descumprimento das regras de uso adequado da máscara,
  • aumento do lixo na aldeia e dos riscos ambientais;
  • dificuldades de comunicação para surdos que dependem da leitura labial;
  • dificuldades em usar a máscara, especialmente para crianças, pessoas com distúrbios do desenvolvimento, pessoas com transtornos mentais, idosos com comprometimento cognitivo, pessoas com asma ou problemas respiratórios crônicos, pessoas que sofreram trauma facial ou recentemente submetido a operações orais ou maxilofaciais e àqueles que vivem em climas quentes e úmidos.
POLICAST - Prevenção e uso da máscara não cirúrgica

Nesse Policast, a professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Ana Claudia Vasconcellos, ressalta que uso das máscaras não cirúrgicas só protegem parcialmente se forem usadas de maneira correta. Por isso, os agentes devem orientar as pessoas da comunidade sobre o uso correto das máscaras não cirúrgicas.

Iniciativa indígena na produção de máscaras caseiras

O Ministério da Saúde ensina fazer uma máscara caseira simples, sem costura, a partir de uma camiseta de algodão. Mas a Associação das Mulheres Indígenas Sateré Mawé (Manaus, AM) passou a produzir máscaras com grafismos indígenas feitos por Jaime Diakara (Tukano, do alto do Rio Negro). Essa foi uma das formas para marcar sua cultura nas ações de prevenção à COVID-19 - como explicou Inara do Nascimento Tavares, professora do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Roraima (UFRR), em fala no painel da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) Cultura e sociedade no enfrentamento à pandemia de COVID-19, no dia 26 de junho de 2020:

"Nós povos indígenas, nos nossos modos de vida coletivos, onde os nossos corpos estão tempo todo interagindo uns com os outros, onde a ideia de distanciamento isolamento social é uma ideia difícil quando a gente pensa só questão de somente nas comunidades a gente entendeu que o uso de máscaras é necessário. E o que significam essas máscaras? os povos indígenas que vivem contexto urbano, principalmente os que vivem em contexto urbano, eles estão sofrendo com as subnotificações. Temos perdido nossos parentes na cidade porque quando eles morrem eles não são registrados como pessoas indígenas. O sistema de saúde omite, invisibiliza e nos violenta novamente dizendo que não somos pessoas indígenas porque não estamos nos territórios. Estamos na cidade, somos atendidos na cidade. Aí, quando a gente põe uma máscara com os nossos grafismos, a gente está fazendo o quê? A gente está afirmando nossa identidade étnica no território da cidade. E a gente tá afirmando a nossa presença indígena frente ao cenário de subnotificação. Então, enquanto os dados epidemiológicos subnotificam as nossas mortes, nós marcamos o nosso corpo, nas nossas máscaras, que somos pessoas indígenas, que vamos sobreviver que vamos enfrentar fazendo as medidas necessárias."

Mulheres Sateré Mawé produzem suas máscaras

A associação de mulheres indígenas Sateré Mawé é uma organização sem fins lucrativos que vive da confecção e venda de artesanato. Com o isolamento social e fechamento dos estabelecimentos, as artesãs e comunitários, encontraram na confecção de máscaras uma alternativa de proteção, ajuda e subsídio.

Esse filme foi feito por @danieldaraujo

No Instagram da associação

Toque na imagem para ver no Instagram da associação - @amism_sateremawe

A resposta indígena para o enfrentamento da pandemia

Como os povos indígenas têm enfrentado a epidemia?

Inara do Nascimento Tavares, indígena do povo Sateré Mawé, descreve muito bem em um Painel virtual promovido pela Abrasco sobre cultura e sociedade na pandemia, como os povos indígenas vêm se mobilizando para o enfrentamento deste problema. Já destacamos anteriormente a produção de materiais educativos sobre a COVID-19 por várias entidades indígenas e redes de comunicadores indígenas.

Inara destaca que o movimento indígena tem adotado iniciativas autônomas em um processo coletivo de enfrentamento. ”A saída é coletiva” afirma Inara e baseado em 3 pontos principais:

  • Fortalecimento de iniciativas comunitárias que vão desde a criação de barreiras sanitárias, a produção de materiais educativos, produção e uso de medicamentos tradicionais
  • Iniciativas de arrecadação de alimentos, de material de higiene pessoal, Equipamentos de Proteção Individual e recursos financeiros por meio de vaquinhas virtuais e articulação de doações da sociedade civil
  • Atuação política no âmbito do Congresso Nacional por meio da elaboração de um Projeto de Lei que foi aprovado, na Câmara e no Senado - o PL 1142/2020 - que instituiu o Plano emergencial de enfrentamento da Pandemia para os Povos indígenas, quilombolas e outra comunidades tradicionais - Lei nº 14.021, de 7 de julho de 2020. O PL foi sancionado com diversos vetos e, agora (ago/2020), está em debate a revisão desses vetos.
Cultura e sociedade no enfrentamento à pandemia de COVID-19

Em sua participação no Painel Abrasco - Cultura e sociedade no enfrentamento à pandemia de COVID-19, Inara Tavares coloca três pontos para reflexão:

  • As ações indígenas para o fortalecimento das estruturas comunitárias.
  • As iniciativas de arrecadação de recursos (financeiros e materiais), principalmente para os povos em contexto urbano - por exemplo, a iniciativa Apoie | Emergência Indígena.
  • Atuação comunitária e política para aprovação de políticas públicas.

Fonte: YouTube RcaRede

Uma outra iniciativa importante do movimento indígena brasileiro foi a criação pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) do Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena. O Comitê é resultado da Assembleia Nacional de Resistência Indígena, realizada nos dias 8 e 9 de maio, que reuniu lideranças e especialistas de diversas áreas para articular estratégias de contenção dos danos causados pela COVID-19 sobre os povos indígenas.

Uma das principais atividades do Comitê é reunir dados e informações sobre casos confirmados e óbitos de indígenas pela COVID-19, agregando as informações provenientes da Secretaria Especial de Saúde Indígena, das organizações de base da APIB, Ministério Público Federal e Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, para dar visibilidade ao impacto no conjunto da população indígena no país.

É fato que as medidas de controle e prevenção da COVID-19 devem seguir os protocolos já definidos. Mas é fundamental que eles sejam adaptados para os contextos culturais e especificidades locais. O processo de enfrentamento da pandemia é construído de modo coletivo, abarcando os serviços de saúde nos diferentes níveis, as lideranças comunitárias, e a própria comunidade.

Materiais informativos adaptados

Na página da Emergência Indígena, você também encontra vários materiais informativos sobre a COVID-19, adaptados ao contexto indígena. Consulte e utilize esse material, nas suas ações.

"É necessário pensar que essas alianças acontecem nos vários espaços - de cultura, de arte, de afetos. Porque a gente se mobiliza pelos afetos. E são os afetos que nos mobilizam a ocupar espaços também - e [os espaços] eles precisam ser mobilizados, construídos e mexidos nesse momento. Estamos todos muito afetados pelo cenário e que esse afeto, esse luto virem luta, e que a gente elabore nossos lutos e lutas coletivamente”

Inara Tavares

Live - Iniciativas de combate à pandemia no Mato Grosso

No debate, Tsitsina Xavante, pesquisadora e defensora dos povos indígenas, juventude e mulheres, apresentou iniciativas da própria comunidade e organizações indígenas para sensibilização e conscientização sobre a pandemia da COVID-19 - como o material produzido para Xavantes que não falam português. Ela ressalta, também, outros problemas, como a subnotificação - que não considera nas estatísticas os indígenas que estão no contexto urbano. Para Tsitsina, ao desconsiderar esse grupo, há o reforço do racismo em relação aos indígenas.

Chegamos ao final da aula

Nela, você viu a importância da equipe multidisciplinar de saúde indígena (EMSI), e particularmente do Agente Indígena de Saúde (AIS) e sua importância na organização das ações de educação e comunicação em saúde nos territórios indígenas; conheceu as medidas de prevenção e de proteção à COVID-19 e como implementá-las em comunidades indígenas, de acordo com suas especificidades socioculturais e linguísticas e saber identificar as estratégias desenvolvidas pelas próprias organizações e comunidades indígenas para promover a educação e prevenção da COVID-19 nas aldeias.

Na próxima aula, você vai ver o Manejo Clínico da COVID-19, no contexto indígena.

Siga em frente!