Tarja do Curso

MÓDULO 2

A implementação da abordagem Uma Só Saúde para melhores resultados em saúde pública

Aula 5
Desafios para a implantação de programas e projetos em Uma Só Saúde

Objetivos de aprendizagem da aula:

  • Conhecer os principais desafios para a operacionalização da abordagem de Uma Só Saúde.

Principais desafios

O Ministério da Saúde do Brasil vem trabalhando com essa abordagem reforçando a importância de entender que a saúde humana está relacionada com a saúde animal, vegetal e ambiental. Assim, a abordagem de Uma Só Saúde transcende fronteiras disciplinares, setoriais e geográficas, buscando soluções sustentáveis e integradas para promover a saúde dos seres humanos, animais domésticos e silvestres, vegetais e o ambiente mais amplo (incluindo ecossistemas).

A implementação dessa abordagem favorece a cooperação, desde o nível local até o nível global, para enfrentar desafios emergentes e reemergentes, como pandemias, resistência antimicrobiana, mudanças climáticas e outras ameaças à saúde.

Foto oficial do evento
Créditos: Walterson Rosa/MS

Foto oficial da solenidade de lançamento do Comitê Intersetorial de Uma Só Saúde em 25 de abril de 2024

O Governo do Brasil criou um Comitê Intersetorial de Uma Só Saúde. Esse grupo coordenado pelo Ministério da Saúde é composto por 20 entidades que atuam para criar soluções sustentáveis, multissetoriais e integradas para avançar nessa abordagem.

Estratégias para enfrentar os desafios

Conheça algumas estratégias para enfrentar os desafios de Uma Só Saúde.

Para enfrentar os desafios de Uma Só Saúde, é necessário compartilhar informações entre diferentes setores e instituições. Isso ajuda a entender melhor o processo saúde-doença, identificando tendências e fatores de risco. Assim, é possível responder rapidamente a surtos de doenças com medidas preventivas ou de contenção eficientes. Além disso, o acesso a dados compartilhados auxilia na realização de estudos mais abrangentes e relevantes, e facilita o monitoramento e avaliação das ações implementadas.

Outra estratégia importante para lidar com os desafios de Uma Só Saúde é a comunicação de riscos. Isso envolve transmitir informações claras e baseadas em evidências sobre ameaças à saúde. Esse tipo de comunicação aumenta a conscientização sobre medidas preventivas e engaja a comunidade. Ela também ajuda a reduzir o pânico e a disseminação de informações erradas. A comunicação de riscos permite que profissionais de saúde e tomadores de decisão defendam políticas e programas baseados em evidências, o que facilita a mobilização de recursos e a implementação de ações.

Estabelecer equipes transdisciplinares também é fundamental para lidar com a complexidade do tema. Equipes com profissionais de diferentes áreas permitem uma compreensão mais ampla dos fatores que afetam a saúde de uma população. As equipes também garantem que as informações relevantes sejam consideradas no planejamento e execução de ações em Uma Só Saúde. Além disso, elas têm maior potencial de alcançar diferentes segmentos da população devido à variedade de habilidades e experiência representadas. Isso é importante ao implementar ações em Uma Só Saúde, que muitas vezes abrangem várias áreas de intervenção. Assim, elas são capazes de implementar novas estratégias, melhores práticas e abordagens eficazes e evitar lacunas de conhecimento.

O planejamento de ações intersetoriais é essencial para implementar ações em Uma Só Saúde. Porque levam em consideração múltiplos fatores determinantes da saúde no planejamento e implementação das intervenções. Isso tem um impacto mais amplo e sustentável na previsão, prevenção e controle de doenças. Além disso, o compartilhamento de recursos e conhecimento otimiza o uso de recursos financeiros, humanos e materiais e evita redundâncias e duplicações de esforços. Soma-se o fato de a colaboração intersetorial poder angariar mais apoio político e institucional.

O uso de tecnologias também é importante para enfrentar os desafios de Uma Só Saúde. Por exemplo, as tecnologias auxiliam e facilitam a coleta, o compartilhamento e a análise de dados; permitem o monitoramento e rastreamento de doenças; ajudam a identificar surtos precoces e padrões de disseminação. Os sistemas de informação geográfica (SIG) mapeiam áreas afetadas e identificam áreas de risco. A genômica sequencia o material genético de agentes patogênicos, e ajuda a identificar origem, propagação e evolução de doenças. Dispositivos de monitoramento remoto em animais detectam alterações que indicam a presença de doenças zoonóticas, permitindo uma resposta rápida e minimizando o impacto na saúde pública. Sensores remotos e dispositivos de monitoramento ambiental rastreiam fatores como poluição, mudanças climáticas e migração de animais. Modelos matemáticos e de simulação ajudam a prever a propagação de doenças e avaliar intervenções, facilitando o planejamento de respostas eficazes. Além disso, as plataformas online, aplicativos móveis e redes sociais são úteis para a comunicação de riscos.

O planejamento estratégico situacional é um ponto igualmente importante para enfrentar os desafios de Uma Só Saúde. Ao analisar a situação, envolver partes interessadas e desenvolver estratégias integradas, o planejamento estratégico situacional possibilita ações mais eficazes em todos os domínios relacionados. Esse tipo de planejamento inclui uma análise detalhada dos fatores determinantes da saúde, identificando pontos críticos de intervenção, mapeando fluxos de contato e transmissão de patógenos, e identificando capacidades e recursos disponíveis. Ele também permite desenvolver intervenções integradas e definir indicadores e planos de monitoramento. Além disso, busca soluções sustentáveis e incentiva o engajamento de todas as partes interessadas.

Sensibilizar os responsáveis pela tomada de decisão sobre os fatores que envolvem a saúde também colabora para enfrentar os desafios de Uma Só Saúde, pois os torna mais dispostos a colaborar com outros setores. Isso ajuda na adoção de políticas integradas e na alocação de recursos em programas de prevenção, controle e monitoramento de doenças na interface humano-animal-ambiente. Por outro lado, a sensibilização dos profissionais de várias áreas sobre o conceito de Uma Só Saúde aumenta o entendimento da complexidade dessas questões e a importância da colaboração transdisciplinar para sua implementação.

Normatizar a Uma Só Saúde em políticas públicas e converter ações isoladas em políticas fortalece as iniciativas. Isso é feito por meio de diretrizes, regulamentações e estruturas institucionais. Isso garante que setores diferentes colaborem definindo responsabilidades e alocando recursos, coordenando ação entre agências governamentais e promovendo o intercâmbio de informações. A normatização também regula a implementação de medidas preventivas e padroniza os sistemas de vigilância em saúde.

Reduzir a burocracia colabora no enfrentamento aos desafios de Uma Só Saúde pois é crucial para uma tomada de decisão mais ágil. Isso acelera o compartilhamento de informações e diminui barreiras entre setores e facilita a comunicação e ações conjuntas. Menos burocracia permite intervenções mais rápidas, mobiliza recursos financeiros e humanos com eficiência e resulta em respostas mais eficazes em situações de emergências.

A produção de evidências científicas para embasar ações governamentais é uma ferramenta fundamental para enfrentar os desafios de Uma Só Saúde. Essas evidências incentivam a formulação de políticas públicas, a implementação de estratégias de intervenção e a formulação de diretrizes e protocolos para a vigilância, diagnóstico e tratamento de doenças dentro da abordagem pela Uma Só Saúde.

Desenvolver métodos de predição, prevenção e detecção precoce de patógenos potencialmente epidêmicos permite uma abordagem proativa na identificação de ameaças à saúde e ajuda a implementar medidas preventivas e responder rapidamente a situações de emergência. Modelos epidemiológicos, análise de dados e inteligência artificial podem prever padrões de disseminação de doenças antes de surtos completos. Métodos de detecção precoce em áreas de alto risco ajudam a identificar patógenos rapidamente, evitando sua disseminação.

Além disso, tecnologias de monitoramento ambiental, como sensores de qualidade do ar e da água, podem detectar mudanças que indicam a presença de patógenos e riscos à saúde. Esses métodos também identificam reservatórios naturais de patógenos em animais e ambientes, ajudando a prever potenciais fontes de infecção em humanos.

Abordagens para enfrentar os desafios

Existem diferentes abordagens com enfoque em Uma Só Saúde, tanto para a predição de novas doenças como para sua prevenção e detecção precoces, que são usadas para diminuir as probabilidades de ocorrência de novos eventos na interface animal-humano-ambiente.

Conheça algumas, com enfoque em Uma Só Saúde:

  • Visão integrada e multissetorial do processo saúde-doença: as pessoas e os outros animais compartilham um mesmo ambiente, por isso, a visão transdisciplinar e as ações multissetoriais são necessárias para a previsão, prevenção e detecção de novos eventos na interface humano-animal-ambiente.
  • Solidariedade: estamos todos conectados neste mundo e o que ocorre em um lugar pode afetar não somente aquela comunidade ou país, mas o mundo inteiro, como ocorreu com a COVID-19, portanto, precisamos ser solidários e nos apoiar mutuamente.
  • Preservação de habitats naturais e evitando o transbordamento zoonótico: os animais selvagens, principalmente morcegos, roedores e primatas não humanos, são reservatórios de muitos vírus e outros patógenos. Desta forma, quando seus ambientes naturais são perturbados a chance de eles serem acometidos por doenças aumentam e, desta forma, aumentam as chances de esses patógenos serem transmitidos para outros animais, incluindo os humanos.
  • Abolição do comércio e o consumo de animais selvagens: a caça, a comercialização e o consumo de animais selvagens e seus produtos aumenta o risco relacionado à circulação de patógenos do ecossistema natural para grandes áreas urbanas.
  • Ações de biossegurança e biosseguridade na produção, comercialização e consumo de alimentos, principalmente os de origem animal. Vale lembrar que a biossegurança está relacionada com as medidas para evitar a exposição involuntária ou a liberação acidental de agentes patogênicos e toxinas no ambiente. Já a biosseguridade está relacionada com as medidas para evitar a perda, o roubo, o uso indevido, o desvio ou a liberação intencional de patógenos no ambiente.
  • Definição de zoonoses prioritárias: a Organização Mundial de Saúde sugere, para o cumprimento do Regulamento Sanitário Internacional, que os setores da saúde e da agricultura definam uma lista de zoonoses prioritárias e compartilhem informações entre eles.
  • Capacitações: a capacitação profissional nos diferentes níveis, interdisciplinares e multisetoriais, é essencial para a investigação conjunta de surtos.
  • Pesquisas transdisciplinares para o desenvolvimento tecnológico e a inovação na produção de vacinas e diagnóstico rápido.
  • Redução das desigualdades sociais: melhores condições de vida e acesso aos serviços de saúde e alimentação contribuem para a saúde das populações.
  • Vontade política de alto nível e compromisso e engajamento de todos os setores interessados.
  • Recursos humanos e financeiros suficientes e equitativamente distribuídos, de fontes domésticas.
  • Ações contextualizadas, com o estabelecimento das atividades dentro da infraestrutura nacional existente e considerando as circunstâncias nacionais.
  • Estratégias estruturadas: ter estratégicas e atividades baseadas em necessidades e benefícios compartilhados, objetivos comuns e prioridades de saúde.
  • Governança nacional forte: ter estrutura de governança nacional forte, com alinhamento entre o setor jurídico e político e em conformidade com as normas regionais e internacionais existentes.
  • Coodenação eficaz e de rotina entre todos os setores relevantes para o planejamento e a implementação das ações.
  • Comunicação eficaz e rotineira entre todas as partes interessadas e em todos os níveis.
  • Sistemas de saúde fortes e eficazes.
  • Evidências documentadas de melhores resultados.

Mais recentemente, em setembro de 2024, o 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) sediou a oficina Desafios para a implementação da Saúde Única/Uma Só Saúde.

O Congresso teve como tema "Medicina Tropical sob o olhar da Saúde Única irá sediar a Oficina: Desafios para a implementação da Saúde Única/Uma Só Saúde em um cenário de mudanças" e abordou os desafios da implementação desta abordagem em um cenário de mudanças climáticas. Confira um pouco mais sobre este tema em: 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).

A implementação da abordagem Uma Só Saúde está diretamente relacionada ao fortalecimento da governança e cooperação intersetorial e multidisciplinar. O sucesso da abordagem depende de um compromisso contínuo em alinhar políticas, recursos e práticas entre todos os setores envolvidos.

Você chegou ao final da aula!

Esta foi a última aula do curso. Você conheceu os principais desafios para a operacionalização da abordagem de Uma Só Saúde. Para superar esses desafios, é essencial estabelecer mecanismos de pesquisa e fomento adequados, bem como garantir o planejamento e execução de ações transdisciplinares.

Parabéns por seu percurso de aprendizagem até aqui! Siga com seus estudos!