Aula 2
Exemplos de estudos da interface animal-humano-ecossistema em eventos de potencial
epidêmico
Objetivos de aprendizagem da aula:
- Conhecer o caso da influenza aviária como exemplo da interface animal-humano-ecossistema de potencial epidêmico.
- Conhecer o caso da leptospirose como exemplo da interface animal-humano-ecossistema de potencial epidêmico.
- Conhecer o caso da peste como exemplo da interface animal-humano-ecossistema de potencial epidêmico.
- Conhecer o caso da hantavirose como exemplo da interface animal-humano-ecossistema de potencial epidêmico.
Conceitos de base
Antes de mostrar exemplos de doenças que podem vir a ser uma epidemia na abordagem Uma Só Saúde, vamos revisar brevemente como os patógenos (vírus, bactérias, fungos, vermes ou outros agentes infecciosos) podem ser transmitidos.
Transbordamento zoonótico
Primeiro, vamos relembrar que zoonose é uma infecção ou doença infecciosa transmissível, em condições naturais, de outros animais vertebrados para seres humanos. São casos de doenças zoonóticas a raiva e a peste, por exemplo.
Mas o que é transbordamento zoonótico (spillover, em inglês)?
É o processo pelo qual um patógeno é transmitido de uma espécie animal, geralmente um vertebrado, para seres humanos, tornando-se uma doença zoonótica. Esse fenômeno ocorre quando condições específicas facilitam a “quebra da barreira entre espécies”, permitindo que o patógeno, como vírus, bactérias ou parasitas, infectem humanos.
Para isso, vários fatores estão envolvidos na disseminação da doença:
-
Mudanças ambientais:
Desmatamento e urbanização aproximam animais silvestres e humanos. -
Agricultura intensiva:
Criação de grandes populações de animais facilita a disseminação de patógenos. -
Comércio de animais silvestres:
Aumenta o contato com espécies portadoras de vírus desconhecidos. -
Mudanças climáticas:
Alteram os habitats e comportamentos dos vetores, como mosquitos e morcegos.
Além dos determinantes ecológicos, epidemiológicos relacionados à exposição a patógenos, existem fatores que afetam a suscetibilidade à infecção entre humanos: características biológicas, comportamentais e socioambientais que podem aumentar ou diminuir o risco de uma pessoa contrair uma doença infecciosa:
Idade: Crianças e idosos têm sistemas imunológicos menos eficientes.
Comorbidades: Doenças crônicas (como diabetes, hipertensão e câncer) comprometem a
imunidade.
Estado nutricional: A desnutrição enfraquece o sistema imunológico,
enquanto a obesidade pode aumentar a inflamação.
Imunidade adquirida: Vacinação
e exposições anteriores a patógenos podem conferir imunidade.
Hábitos de higiene: A falta de higiene pessoal aumenta a exposição a patógenos.
Uso de substâncias: Fumar, consumir álcool em excesso e usar drogas podem
enfraquecer o sistema imunológico.
Atividade sexual: Práticas sexuais
desprotegidas aumentam o risco de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Adesão a cuidados de saúde: O uso inadequado de medicamentos, como antibióticos,
pode aumentar a vulnerabilidade a infecções resistentes.
Condições de moradia: Ambientes insalubres e superlotados facilitam a transmissão de
doenças.
Condições socioeconômicas: A pobreza e o acesso limitado a cuidados de saúde reduzem
a capacidade de prevenção e tratamento de infecções.
Ocupação: Profissionais de
saúde ou trabalhadores expostos a ambientes contaminados têm maior risco de
infecção.
Acesso à informação: A falta de conhecimento sobre prevenção pode
aumentar a exposição a situações de risco.
Estresse: O estresse crônico afeta negativamente o sistema imunológico.
Saúde
mental: Depressão e ansiedade estão associadas a uma resposta imunológica mais
fraca.
Esses fatores influenciam a capacidade do sistema imunológico de responder a patógenos e a exposição a ambientes ou situações que facilitam a infecção.
O transbordamento zoonótico pode desencadear epidemias e pandemias, como foi o caso da COVID-19, tornando-se um desafio para a saúde global. A vigilância de patógenos emergentes e a prevenção desse fenômeno são cruciais para evitar novas crises sanitárias.
Compreender esses mecanismos e como interagem no espaço e no tempo amplia a nossa capacidade de prever e prevenir eventos de transbordamento zoonótico.
Influenza aviária
A influenza aviária é um exemplo de transbordamento, pois faz parte de um grupo de vírus que tem causado ameaças importantes à saúde pública e perdas econômicas enormes, como durante o surto de 2005 do vírus A (H5N1).
A influenza representa uma ameaça constante à saúde pública global devido à sua capacidade de sofrer mudanças genéticas significativas, conhecidas como shift e drift. Essas alterações permitem que o vírus se adapte e circule de novas formas, dificultando o controle e aumentando o risco de epidemias ou pandemias.
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Shift antigênico:
Refere-se à introdução de novas cepas virais em humanos, resultado da combinação entre diferentes tipos de vírus influenza. Isso pode ocorrer quando um ser humano é infectado simultaneamente por vírus de animais (como aves ou porcos) e por um vírus humano. Essa recombinação genética pode gerar uma nova cepa contra a qual a população não tem imunidade, favorecendo surtos em larga escala. -
Drift antigênico:
Diz respeito às pequenas mutações genéticas que o vírus sofre de forma gradual ao longo do tempo, especialmente em reservatórios animais como suínos e aves. Essas mutações permitem que o vírus escape da imunidade já adquirida pelas pessoas, seja por infecções anteriores ou pela vacinação.
Essas mudanças genéticas aumentam a probabilidade de transmissão entre pessoas, pois o sistema imunológico pode não reconhecer completamente as novas variantes do vírus, diminuindo sua capacidade de proteção. Como resultado, a influenza continua sendo uma preocupação global, exigindo vigilância constante, desenvolvimento de vacinas atualizadas e preparação para possíveis pandemias.
Ou seja: quando uma nova combinação passa a ser transmitida de pessoa a pessoa e elas ainda não têm imunidade ou não foram vacinadas, uma nova pandemia pode começar. Daí, a importância de monitorar o vírus influenza, o que vem sendo feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e seus parceiros em todo o mundo.
Na História mais recente (especialmente dos séculos 20 e início do século 21), as grandes pandemias não foram causadas pelo vírus H5N1 (influenza aviária), que vem preocupando as autoridades sanitárias atualmente. Esse vírus não é tão fácil de ser transmitido de pessoa a pessoa, como o H1N1 (causador da última pandemia de influenza em 2010). Mas esse exemplo é importante para entender a complexidade das ações intersetoriais. O trabalho conjunto das áreas da saúde e da agricultura no monitoramento, na prevenção, na investigação de surtos, e na resposta é fundamental.
Veja os componentes da influenza aviária, que se interconectam na natureza. Clique nos cartões para abrir e saiba mais.
HUMANO
Pessoas podem adoecer e vão necessitar de cuidados do sistema de saúde. É necessário adotar medidas de prevenção e orientar as pessoas. É fundamental a vigilância em saúde, devido à alta taxa de letalidade.
ANIMAL
Aves selvagens migratórias podem levar o vírus para aves domésticas e animais, como suínos e outros. É necessária a vigilância de vírus circulantes para identificar o risco zoonótico e epidêmico.
AMBIENTAL
É preciso vigilância de áreas de aves migratórias, além do monitoramento delas em contato com aves criadas em “fundo de quintal”. Atenção a mercados com alta densidade de animais e baixa biossegurança, assim como à produção extensiva de aves ou produtos de origem animal derivados com baixo nível de biossegurança.
Podemos dar vários exemplos de estudos realizados nessa interface (animal-humano-ambiente), a fim de entender um pouco mais os fatores que facilitam a ocorrência de doenças infecciosas em determinados lugares.
Leptospirose
A leptospirose é outro exemplo da aplicação da abordagem Uma Só Saúde. Normalmente, as pessoas contraem leptospirose quando são expostas à urina de animais infectados através da lama ou da água, muitas vezes em situações como enchentes ou processos produtivos.
A leptospirose pode ser considerada uma doença de tendência epidêmica, com surtos ocorrendo principalmente após chuvas fortes. É também uma doença endêmica para algumas categorias ocupacionais, seja em áreas rurais ou urbanas, como veremos a seguir nos componentes interconectados da leptospirose, na perspectiva de Uma Só Saúde.
HUMANO
Muitas vezes as pessoas são expostas à água ou lama contaminada com urina de animais infectados. Há risco ocupacional (trabalhadores de saneamento e esgoto, limpadores de fossas sépticas, mineiros, soldados, trabalhadores de campos de arroz, entre outros).
ANIMAL
Uma variedade de animais silvestres e domésticos servem como reservatórios para as leptospiras, podendo transmitir a infecção ao eliminar a bactéria pela urina. A bactéria pode ser encontrada nos roedores, bastante conhecidos como transmissores da leptospirose, mas também em outros animais (bovinos, suínos, cavalos, cães e animais silvestres).
AMBIENTAL
A leptospirose está mais presente em áreas de clima tropical e subtropical. Alguns tipos de eco regiões e áreas alagáveis, com maior precipitação (chuvas) e pós inundações.
A cada ano, ocorrem cerca de 1 milhão de casos humanos de leptospirose no mundo (Costa, 2015). No Brasil, cerca de 4 mil casos são notificados ao Sinan, anualmente (Ministério da Saúde, 2023). A doença pode ser fatal se não for tratada — de 5% a 15% dos casos (OMS, 2017).
Alguns estudos foram desenvolvidos para entender possíveis fatores que causam leptospirose (Schneider, 2012), a partir de análises espaciais e estatísticas. Vamos apresentar alguns desses estudos no vídeo:
Fatores condutores para que a leptospirose ocorra
Os autores do estudo sugeriram um plano intersetorial para enfrentar esse problema de saúde pública na interface animal-homem-ecossistema, recomendando medidas como: o envolvimento do setor agropecuário na conscientização sobre o risco da doença; o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), como botas nas áreas de plantações de arroz; trabalho conjunto com a Defesa Civil nas áreas de inundações frequentes ; e a capacitação dos médicos e equipes de saúde para detectar e tratar possíveis casos de leptospirose precocemente.
Veja mais um vídeo de um estudo sobre leptospirose, no Rio Grande do Sul, que junta informações de diagnóstico laboratorial da leptospirose humana e animal, através do teste de microaglutinação (teste MAT), padrão recomendado pela OMS.
Diagnóstico da Leptospirose
Vimos nos componentes da leptospirose, que a doença ocorre com mais frequência em ocupações urbanas, devido a uma maior exposição ao ambiente contaminado, ou mesmo, diretamente, a animais infectados.
Pessoas que trabalham diretamente em contato com animais têm mais chances de serem infectadas. É o caso de fazendeiros, veterinários, trabalhadores de matadouros e outras ocupações.
Além disso, o contato indireto com água e solo contaminados com urina de animais infectados tornam mais suscetíveis à infecção os trabalhadores que atuam com saneamento e esgoto, mineiros, soldados, limpadores de fossas sépticas, trabalhadores de campos de arroz, entre outros (Galan, 2022).
Grande parte dos casos em seres humanos está relacionada a ambientes rurais, devido a fatores ambientais e socioeconômicos, como o uso da terra por agricultores no Sul do Brasil.
Um estudo feito no Brasil mostra quais são as ocupações de maior risco. De acordo com a pesquisa, os agricultores são o grupo em que foi registrado o maior número de casos da doença. Já os catadores de lixo reciclável são os trabalhadores mais expostos a riscos de contaminação. (Galan, 2023).
A leptospirose também pode ser uma doença causada por riscos recreativos. Um exemplo disso é o aumento do interesse de pessoas por esportes aquáticos e sua associação a um maior número de casos da doença. Surtos de leptospirose têm sido ligados a práticas como: canoagem, caiaque, espeleologia, rafting, triatlo e corridas multiesportivas, em lugares distintos (Costa Rica, EUA, Filipinas, Malásia, Martinica, e Tailândia). Pelo menos 68 casos de leptospirose foram associadas ao evento multiesportivo Eco-Challenge, em Bornéu (arquipélago no Sudeste da Ásia). Em análise univariada, fatores de risco estatisticamente significativos para a doença incluíram foram associados a prática de caiaque, espeleologia, natação no rio Segama e também à ingestão de água neste rio.
Um estudo de revisão sistemática sobre os surtos de leptospiroses foi realizado por Munoz Zanzi e colaboradores, demostrando que a maioria dos surtos (55%) estava localizada em ecorregiões tropicais e subtropicais.
Atualmente, a vacina humana contra a leptospirose não está disponível na maioria dos países. Sem o imunizante, a doença pode avançar. A prevenção e o controle da leptospirose dependem de mais investimentos em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovações.
Em 2015, foi realizada uma reunião internacional sobre o tema, na Fiocruz, junto com reunião anual da iniciativa Global Leptospirosis Environmental Action Network (GLEAN). O evento teve como foco as necessidades dos países e as recomendações, a fim de orientar a tomada de decisões por formuladores de políticas, órgãos financiadores e profissionais de saúde. Os conceitos de Uma Só Saúde e pesquisa translacional fundamentaram as discussões. As recomendações resultantes do encontro foram publicadas no formato de próximos passos para ação (roadmap, em inglês).
Confira a seguir as principais sugestões para aplicar a abordagem Uma Só Saúde para prevenir e controlar a leptospirose.
- Adotar a visão integrada na previsão de áreas de risco.
- Promover a colaboração entre os setores de saúde e agricultura no monitoramento de casos humanos e animais (incluindo sorovares circulantes).
- Colaborar com o setor ambiental ou a Defesa Civil para identificar áreas propensas a inundações e os períodos de maior precipitação.
- Elaborar um plano de ação intersetorial, coordenando as atividades de controle de roedores antes dos períodos chuvosos, para conscientizar os profissionais de saúde e a população sobre os riscos de surtos e outros temas importantes sobre a leptospirose.
- Preparar materiais educativos e informativos, além de treinamentos conjuntos para diferentes setores e níveis de ação em áreas de risco.
- Aplicar a abordagem Uma Só Saúde na pesquisa de possíveis fatores de risco e ações coordenadas, a fim de prevenir ou responder a surtos e de capacitar profissionais.
- Investir em desenvolvimento tecnológico e inovações, voltadas à prevenção e ao controle da leptospirose.
Saiba Mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a leptospirose, acesse o curso do Campus Virtual Fiocruz.
Peste
Outro exemplo de doença com potencial pandêmico é a peste, causada pela bactéria Yersinia pestis. Sua transmissão envolve principalmente roedores selvagens (reservatório) e suas pulgas (vetores). A peste é disseminada pelos vetores para outros animais e humanos, particularmente os que vivem perto de focos naturais de doenças.
Na Idade Média, a peste causou uma grande mortalidade na Europa. No Brasil, chegou em 1899. Muitas pessoas acham que a doença não existe mais, , porém, ainda hoje, é possível haver surtos — não mais como na Idade Média, já que temos antibióticos capazes de tratá-la. Mesmo assim, é importante manter a vigilância para evitar sua propagação. Para isso, profissionais de saúde e a população devem reconhecer as situações de risco. Com o diagnóstico correto da infecção, é possível tomar as medidas necessárias, evitando o contágio de um maior número de pessoas e emergências em saúde pública.
Esses são os componentes da peste que se interconectam. Clique nos cartões para abrir e saiba mais.
HUMANO
Casos e óbitos em pessoas que necessitem de atenção no Sistema de Saúde podem ocasionar problemas de saúde pública. A taxa de mortalidade entre pessoas com infecções pulmonares causadas pela peste é alta. A doença pode levar a óbito rapidamente.
ANIMAL
Roedores, principalmente silvestres; e outros animais, como a pulga, que transmite a peste.
AMBIENTAL
Persistência da bactéria em ambientes naturais, com impacto em ciclos silvestres, nos quais a peste pode emergir ou reemergir em casos humanos por mais de 30 anos. Áreas com condições ambientais propícias para a transmissão da doença nos animais.
Alguns fatores ambientais estão associados à persistência da peste:
- Tipos de bioma
- Altitude
- Temperatura
- Precipitação
A primeira pandemia conhecida, na História, foi a de peste, durante o império Justiniano (542–602 d.C.). . Com origem no Egito, a peste se disseminou nos navios e portos, passando pelo Oriente Médio, até chegar à Constantinopla, capital do Império Bizantino. Por isso, a doença também ficou conhecida como Praga de Justiniano.
A segunda, a Peste Negra, foi registrada entre os séculos 14 e 16, afetando a Ásia Central, a África e a Europa.
Já a terceira e mais recente pandemia de peste teve origem na China, no século 19. Foi nesse último episódio que a peste ocorreu pela primeira vez, na África e na Região das Américas.
A peste começou nas cidades portuárias onde provavelmente foi introduzida pelo tráfego marítimo ou fluvial. Em seguida, ocorreram grandes surtos da doença, em centros urbanos densamente povoados.
A infecção se propagou de forma gradual para o interior, seguindo rotas de transporte. Como ratos domésticos se misturavam com animais silvestres em áreas rurais, a infecção foi transmitida a esses hospedeiros silvestres, que se mantiveram como foco natural do agente infeccioso. Hoje, os ratos são o principal reservatório em áreas onde a peste continua sendo um problema de saúde pública.
Na América Latina, a doença foi identificada em 1899, pela primeira vez no Paraguai. No mesmo ano, surgiu no Brasil e na Argentina. Na primeira metade do século 20, a peste foi encontrada em 14 dos 25 países e territórios da América Latina, com focos persistindo (por um ou mais anos) em 6 deles: Argentina, Venezuela, Bolívia, Brasil, Equador e Peru.
No Brasil, alguns médicos, considerados visionários, abriram caminhos na saúde pública e na pesquisa, no início do século 20. Nomes como Adolfo Lutz e Oswaldo Cruz defendiam a visão integrada, considerando a interface entre animais, pessoas e o ambiente (Moraes, 2020). Esses pesquisadores são tidos como precursores da Uma Só Saúde em nosso país, demonstrando as relações entre animais e vetores na transmissão e no controle das doenças epidêmicas.
Breve história sobre Oswaldo Cruz e a peste bubônica
O médico e cientista brasileiro Oswaldo Cruz, ao voltar do Instituto Pasteur de Paris, encontrou o Porto de Santos assolado pela peste, e logo começou a trabalhar no combate a doença. Em 1900, foi fundado o Instituto Soroterápico Federal, na antiga Fazenda de Manguinhos, no Rio de Janeiro. O Barão de Pedro Affonso assumiu a direção geral e o jovem Oswaldo Cruz, a direção técnica.
Em 1902, Oswaldo Cruz passou a dirigir todo o Instituto, ampliando suas atividades com a pesquisa básica e aplicada e a formação de recursos humanos. Ao ser nomeado diretor geral de Saúde Pública, em 1903, Cruz fez do Instituto Soroterápico Federal a base de campanhas de saneamento. Combatendo os ratos, em pouco tempo, conseguiu vencer a peste bubônica.
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a peste é endêmica em quatro países da América Latina, sendo o Brasil um deles. Apesar de não apresentar casos desde 2005, existem focos naturais identificados por aqui.
Hantavirose
A hantavirose é uma doença de potencial epidêmico, transmitida pela urina ou pelas fezes de roedores (reservatórios naturais). A incidência anual estimada é de 150 mil casos no mundo. No Brasil, são notificados em torno de 100 casos, a cada ano, com uma taxa de letalidade de 47%.
Estudos apontam várias causas de infecção por hantavírus, como o desmatamento (ou fragmentação florestal) e as mudanças provocadas pelo homem (antropogênicas) no uso da terra. Esses fatores aumentam a probabilidade de contato entre as espécies do reservatório e os humanos.
Ambientes onde é possível encontrar ninhos de roedores
A: Proximidade de domicílio com as áreas de plantio.
B: Galpões com armazenamento de
grãos.
C: Domicílios em situações precárias.
D: Galpões com armazenamento de
maquinários de plantio e sementes.
Para examinar o efeito do transbordamento dessa zoonose (spillover, em inglês), pesquisadores usaram dados de vigilância do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) de 2007 a 2017. Eles investigaram a relação entre a riqueza de espécies de predadores e o surgimento de hantavírus nos municípios do Brasil.
Nesse estudo, foram levantadas as espécies de roedores silvestres que são considerados reservatório de hantavírus no Brasil. Utilizando bases de acesso aberto, os pesquisadores mapearam a presença desses roedores. Também foram estudadas as circunstâncias em que os surtos ocorriam, a partir do levantamento de dados em publicações, dos relatórios de surtos do Ministério da Saúde e outras fontes. Essas informações foram transformadas em variáveis, como: uso da terra, condições demográficas e socioeconômicas, e condições ambientais.
Dessa forma, o conceito de Uma Só Saúde traz a tona a complexidade das relações parasita-hospedeiros e, como a relação com ecossistema, afeta a capacidade de transmissão e surtos de doenças.
Você chegou ao final da aula!
Nesta aula, você conheceu exemplos de estudos da interface animal-humano-ecossistema em eventos de potencial epidêmico. Foram aplicados os casos de influenza aviária, leptospirose, peste e hantavirose, importantes para compreender como doenças zoonóticas emergem e se espalham, permitindo a identificação precoce de fatores de risco para epidemias. Siga em frente com seus estudos e continue em sua trilha de aprendizagem!