Aula 3
A importância da abordagem Uma Só Saúde no mundo atual
Objetivos de aprendizagem da aula:
- Reconhecer e compreender a importância da abordagem Uma Só Saúde no mundo atual
Abordagem Uma só Saúde no mundo atual
Importância da abordagem Uma Só Saúde
Vários grupos vêm atuando na perspectiva de Uma Só Saúde, como o Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (International Livestock Research Institute – ILRI), cuja missão envolve melhorar a vida de pessoas em países de baixa e média renda, por meio da ciência, para gerar mais equidade nos sistemas pecuários e transformar sistemas alimentares de forma sustentável.
Muitos dos desafios globais mais urgentes hoje envolvem a pecuária, tais como: alimentação, pandemias causadas por zoonoses, degradação ambiental e efeitos decorrentes das mudanças climáticas.
Nesse contexto, o ILRI considera oito fatores principais para o surgimento de zoonoses pandêmicas:
- Crescente demanda por proteína animal
- Intensificação agrícola insustentável
- Maior exploração da vida selvagem
- Utilização insustentável de recursos naturais acelerada pela urbanização
- Mudança no uso da terra, principalmente por indústrias extrativas
- Danos causados por mais viagens e uso de diversos meios de transporte
- Mudanças nas cadeias de abastecimento de alimentos
- Mudanças climáticas
Como vimos nas aulas anteriores, o Painel de Especialistas de Alto Nível da One Health (OHHLEP) é composto por quatro das principais agências internacionais: a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH).
Os membros da iniciativa reconhecem que a interface da saúde humana, animal e ecossistêmica traz problemas complexos e multidisciplinares, que demandam maior coordenação e colaboração entre diferentes setores e agências, tanto a nível nacional quanto internacional. O grupo de especialistas estuda temas relevantes para avançar no conhecimento da abordagem Uma Só Saúde.
O conceito de Uma Só Saúde: uma abordagem holística, transdisciplinar e multissetorial da saúde
O Painel de Especialistas de Alto Nível da One Health (OHHLEP) afirma que é necessário alcançar juntos o que nenhum setor pode alcançar sozinho para enfrentar os desafios atuais.
Assista ao vídeo de Janice Zanella, que é pesquisadora da Embrapa e integrante do One Health High Level Expert Panel (OHHLEP) - Painel de Especialistas de Alto Nível em Uma Só Saúde da OMS, FAO, OMSA (PNUMA) entre 2021 a 2024.
Painel de Especialista por Doutora Janice Zanella
As recentes emergências internacionais de saúde apontam para a formulação de estratégias para fortalecer sistemas de saúde, que atuem de forma integrada e global.
Basta lembrar que a comunidade internacional precisou se mobilizar nos últimos anos para conter surtos de Ebola, a pandemia de Covid-19, a circulação do vírus Monkeypox, entre outras ameaças. E que são muitos os desafios para prever, prevenir, agir e manter o controle de doenças zoonóticas ou provenientes de segurança alimentar, assim como a resistência antimicrobiana (RAM), a degradação de ecossistemas e as mudanças climáticas.
Existem várias iniciativas internacionais para apoiar os países na implementação da abordagem Uma Só Saúde, que são materializadas em planos e documentos de referência. Um deles é o Plano de Ação Conjunto de Uma Só Saúde, lançado em 2022 pela aliança quadripartite.
Desenvolvido por meio de um processo participativo, o plano fornece um conjunto de atividades para fortalecer a colaboração, a comunicação, a capacitação e a coordenação de forma igualitária em todos os setores que abordam questões de saúde na interface animal-humano-planta-ambiente.
O Plano Quinquenal (2022-2026) concentra-se em apoiar e expandir as capacidades em seis áreas:
- Capacidades de Uma Só Saúde para sistemas de saúde
- Epidemias zoonóticas emergentes e reemergentes
- Zoonoses endêmicas
- Doenças tropicais negligenciadas e transmitidas por vetores
- Riscos à segurança alimentar
- Resistência antimicrobiana e meio ambiente
O objetivo deste primeiro plano conjunto é criar uma estrutura que integre sistemas e capacidades, para prever, prevenir, detectar e responder melhor às ameaças à saúde, agindo coletivamente, contribuindo para o desenvolvimento sustentável.
Doutor Paulo Buss sobre a criação dos comitês de Uma só Saúde
Desse modo, a abordagem Uma Só Saúde não é aplicada somente para doenças emergentes e reemergentes, mas em vários temas onde a interface entre saúde animal-humana-ambiental é muito relevante. Contudo, muitas vezes apenas as epidemias ficam para a História.
Breve história das pandemias
As doenças infecciosas, endemias, epidemias e pandemias fazem parte da História desde a revolução neolítica, há cerca de 12 mil anos. As múmias do Egito, por exemplo, já tinham vestígios de tuberculose e outras doenças, há 3 mil anos. Os gregos antigos tinham uma deusa para proteger contra a raiva, que também foi uma doença comum na Idade Média.
Uma das primeiras epidemias descritas na História é a Peste de Atenas, em 430 a.C. Estima-se que a peste tenha provocado cerca de 100 mil mortes num período de guerras e invasões do Império Persa. Quase um quarto dos habitantes de Atenas foram atingidos, sugerem alguns autores. No entanto, a etiologia dessa doença não foi conclusiva por muitos anos, e as hipóteses incluem: carbúnculo, tifo e outras doenças infecciosas. Uma pesquisa recente de DNA em esqueletos daquele período encontrou Salmonella typhi, a bactéria agente da febre tifoide.
Este exemplo de mais de 2 mil anos mostra a relação dos ambientes com as doenças infecciosas. Podemos sugerir os principais impulsionadores da epidemia: a guerra travada por décadas, ocasionando insegurança alimentar e fome, debilitando o sistema imunológico; cidades e arredores lotados com diversos imigrantes fugindo das guerras; falta de saneamento; comércio constante com outras cidades, aumentando os riscos de disseminação de patógenos.
Na Idade Média, a peste foi a doença mais temida em várias partes do mundo em diferentes momentos. Estima-se que a pandemia de Peste Negra, em 1348, tenha dizimado quase a metade da população da Europa. Hoje, sabe-se que a doença é causada por uma bactéria transmitida principalmente pela pulga dos ratos, que eram animais abundantes nas cidades medievais.
Já na Idade Moderna, a cólera foi um grande desafio. Em 1854, John Snow demonstrou que o cólera era causado pelo consumo de águas contaminadas com materiais fecais.
A introdução da varíola em populações nativas e totalmente suscetíveis na África e nas Américas foi a grande pandemia do século 16. Outros poxvírus estão presentes em várias espécies animais, sendo uma ameaça à saúde pública, como pode-se observar pelos casos atuais de Monkeypox.
Nos últimos 150 anos, houve importantes epidemias na interface animal-humano.A febre amarela, por exemplo, tem raízes históricas no comércio e na colonização. A doença assolou o Novo Mundo até que o ciclo de transmissão fosse descrito. A partir da compreensão das interações entre primatas não humanos e mosquitos, foi possível desenvolver a vacina, na década de 1930. A expansão mundial do vírus da febre amarela tem raízes históricas no comércio e na colonização, sendo umas das primeiras doenças para a qual foram estabelecidos acordos formais de quarentena.
Saiba Mais
A história das epidemias, sob o enfoque de Uma Só Saúde é tema de Uma Só Saúde e a pandemia de Covid-19
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A grande ameaça do século XX foi a influenza, em 1918. Considerada a pandemia mais grave da história recente, aconteceu durante a Primeira Guerra Mundial e ficou conhecida como gripe espanhola. Estima-se que 50 milhões de pessoas no mundo tenham morrido e que, quase um terço da população mundial daquele momento, tenha sido afetada pela gripe espanhola.
Já neste século, a pandemia de covid-19 causou a morte de quase 15 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS).
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Teremos outras epidemias e pandemias? Possivelmente sim! É uma questão de quando e onde. Por isso, a abordagem Uma Só Saúde é fundamental para prever, prevenir e detectar potenciais ameaças. Assim, será possível dar respostas mais adequadas a estes e novos desafios – sejam locais, regionais ou mundiais.