Saúde é Desenvolvimento: A perspectiva do Complexo Econômico-Industrial da Saúde
Uma sociedade equânime e com qualidade de vida, comprometida com os direitos sociais e o meio
ambiente, não pode prescindir de uma base produtiva, tecnológica e de inovação em saúde que lhe dê
sustentação em função da relação intrínseca que existe entre a dimensão social e econômica do
desenvolvimento.
Há 20 anos, foi desenvolvido na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) o conceito e o programa de pesquisa
do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) que une o campo da saúde coletiva com a economia
política. Ao longo desse tempo, o programa tornou-se translacional, com a aplicação prática da
investigação científica por meio da implementação de políticas públicas que objetivam a garantia do
acesso universal à saúde com a promoção da produção de bens, insumos e serviços de saúde no Brasil.
Desenvolvimento é Saúde
Para o economista político Joseph Alois Schumpeter, desenvolvimento não é fazer mais do mesmo e sim
um processo qualitativo relacionado à transformação. No Brasil, temos como exemplo de
desenvolvimento na saúde a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), uma inovação que transformou
radicalmente a organização do sistema de saúde no Brasil e ampliou o acesso à saúde no país.
Marx observou as consequências do processo de desenvolvimento sobre a dimensão social. Segundo Marx,
o desenvolvimento das relações capitalistas gerou um aumento extraordinário da riqueza material da
sociedade, através da revolução incessante dos meios de produção, das comunicações e dos
transportes. Entretanto, esse mesmo desenvolvimento gerou, simultaneamente, enormes assimetrias
entre classes, regiões e nações.
A razão fundamental é que o desenvolvimento das forças produtivas tem como objetivo principal a
reprodução e ampliação do capital, e não, necessariamente, a satisfação das necessidades da
população. Denominamos esse processo inerentemente contraditório do desenvolvimento no capitalismo
como a dialética do desenvolvimento capitalista.
Exemplo da dialética do desenvolvimento na saúde
A atuação da indústria farmacêutica pode ser usada como um exemplo da dialética do
desenvolvimento na área da saúde. A indústria farmacêutica tem papel importante no
desenvolvimento de produtos para garantir a saúde humana, mas nem sempre seus interesses
estão alinhados com o da sociedade em geral. Nesse sentido, o Estado sempre terá um papel
primordial para estimular os esforços privados a convergirem com o interesse público.
O desenvolvimento das vacinas para COVID-19 em tempo recorde é um exemplo claro dessa
dialética do desenvolvimento na saúde. Sem o acúmulo de conhecimento gerado na academia,
financiado principalmente com recursos públicos, e sem subsídios públicos que assumiram o
risco financeiro dos projetos, não seria possível acelerar em tempo recorde o
desenvolvimento das vacinas. A expertise da iniciativa privada para o escalonamento,
aprovação e distribuição também foram fundamentais para que as vacinas chegassem ao mercado.
Nesse sentido, foi a parceria virtuosa entre Estado e iniciativa privada que permitiu o
desenvolvimento das vacinas para o novo coronavírus.
Contudo, a distribuição das vacinas não seguiu uma lógica de saúde pública global. Os países
de maior renda ou com capacidade de produção e inovação de vacinas, adquiriram
antecipadamente a maior parte da produção global. Adicionalmente, apesar dos subsídios
públicos que receberam, diversas empresas anunciaram aumento nos preços das doses em meio à
pandemia, mesmo registrando aumento de lucros no período.
A dinâmica captada por Marx e Schumpeter para caracterizar o capitalismo como um sistema em
permanente transformação é apreendida no âmbito da saúde na perspectiva do CEIS. A adoção dessa
perspectiva dialética permite demonstrar como o desenvolvimento produtivo e tecnológico pode gerar a
expansão do investimento, da renda e do emprego, ao mesmo tempo em que gera exclusão, desigualdade e
instabilidade.
O sistema se desenvolve na medida em que se transforma, destruindo incessantemente velhas estruturas
para a criação de novas. Esse processo constante de transformação da base produtiva e social,
observado tanto na percepção marxista da “dialética do desenvolvimento” quanto no processo
schumpeteriano de “destruição criadora”, pode ser captado pelo conceito de inovação. O conceito de
inovação é adotado na abordagem do CEIS, incorporando a transformação social, política, econômica e
institucional associada à mudança da base produtiva e tecnológica.
A análise histórica permite evidenciar como as forças sociais e políticas lidaram com a dinâmica
contraditória entre expansão e acumulação de capital e a tendência imanente ao sistema capitalista
de gerar assimetrias, exclusão, desigualdade, perda de legitimidade social e insustentabilidade.
Através da análise histórica, torna-se evidente que não existem modelos gerais e abstratos de
organização da sociedade e do mercado que levem à expansão da economia e à convergência dos
interesses de todas as pessoas.
Keynes, por sua vez, demonstrou teoricamente as contradições entre as decisões individuais de
investimento e o benefício obtido pela sociedade. Sob a influência do espírito de sua época,
forneceu a base conceitual para a formação de um pacto entre mercado e sociedade, revelando que a
ação da sociedade e do Estado são decisivos para promover a transformação das condições prévias e
impedir que o sistema produtivo e social fique trancado no passado (lock in effect).
Celso Furtado também associou o desenvolvimento a um processo de transformação tecnológica, de
diferenciação do sistema produtivo. Entretanto, Furtado nos lembra que o desenvolvimento é um
processo de mudança social com o objetivo de atender às necessidades humanas. Furtado, em seu livro
Dialética do desenvolvimento, de 1964, afirma que o desenvolvimento econômico pode ser definido como
”um processo de mudança social pelo qual o crescente número de necessidades
humanas, preexistentes ou criadas pela própria mudança, são satisfeitas através da diferenciação
no sistema produtivo, decorrente da introdução de inovações tecnológicas”.
Ao realizar essa distinção, Furtado conseguiu recolocar a discussão do desenvolvimento em um campo
que permite articular endogenamente a dimensão econômica e a social. Portanto, podemos depreender
que desenvolver é transformar, mas transformar para atender às necessidades humanas mediante um
processo de transformação social.
Ao longo das últimas décadas, foi se tornando cada vez mais evidente que o processo de
desenvolvimento, além de atender às necessidades humanas atuais, também deve ser sustentável. A
noção de desenvolvimento adotada pelo CEIS considera o ambiente como parte indissociável das
dimensões econômica e social, e, portanto, deve ser articulada com a visão de desenvolvimento
sustentável.
Um dos marcos da discussão mundial sobre sustentabilidade foi apresentado no relatório da Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, denominado “Relatório Brundtland - Nosso futuro
comum”, de 1987.
Esse relatório consolidou o uso do termo “desenvolvimento sustentável”. Dentre os principais trechos
do texto está o que define o termo:
O desenvolvimento sustentável é um desenvolvimento que
atende às
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as
próprias necessidades.
As contribuições de Marx, Schumpeter, Keynes, Celso Furtado e do relatório Brundtland para pensar o
desenvolvimento nos permitem entender de forma mais precisa a relação entre saúde e desenvolvimento.
A partir da visão apresentada, podemos afirmar que saúde é desenvolvimento por aliar as seguintes
dimensões:
Perspectiva Social
A saúde como expressão concreta das necessidades sociais que são objetivos do
processo de desenvolvimento (direitos sociais, cidadania). O SUS é o
promotor do
acesso universal à assistência, à tecnologia, à vigilância sanitária e às
políticas sociais que garantem a saúde da maior parte da população
brasileira.
Perspectiva Econômica
A saúde como conhecimento, inovação e soberania produtiva para geração de
renda,
emprego e inovação. a capacitação tecnológica para produzir e fornecer os
bens e
serviços essenciais para que a atenção à saúde seja realizada. Exemplos:
tecnologias para monitorar necessidades de saúde emergentes nos territórios,
equipamentos de diagnóstico e tratamento, instrumentos e materiais
hospitalares,
medicamentos, dentre outros, é fundamental para garantir acesso universal,
equânime e integral à saúde.
Perspectiva Ambiental
A saúde como desenvolvimento sustentável. Não existe desenvolvimento
sustentável
sem bem-estar (qualidade de vida), assim como não existe saúde se o ambiente
não
for sustentável. Um sistema produtivo e tecnológico soberano, que gere
empregos
qualificados e utilize o potencial de nossos biomas e ecossistemas para a
geração de novas tecnologias que atendam às necessidades de nossa sociedade.
VÍDEO: Desenvolvimento, saúde e inovação
Para entender melhor a relação entre desenvolvimento, saúde e inovação, assista a vídeoaula
do professor Carlos Gadelha: Saúde e ciência em tempos de pandemia
Transcrição do vídeo: Saúde e ciência em tempos de pandemia.
[00:00:01]
[Narradora]
Saber comum, uma iniciativa conjunta de Educação a Distância e divulgação Científica de instituições públicas de ensino
superior e pesquisa do Rio de Janeiro. A saúde é um direito universal e investir em seu desenvolvimento e inovação, é
investir na melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo. É necessária a convergência de um conjunto amplo de
políticas que olhe a saúde a partir de uma perspectiva combinada, como direito e bem-estar social por um lado, mas
também como produção do conhecimento, soberania científica e desenvolvimento econômico. Na aula de hoje, o professor
Carlos Gadelha da Fundação Oswaldo Cruz vai mostrar e exemplificar a importância da saúde como uma ferramenta de
transformação social, política, institucional e ambiental. Saúde e ciência em tempos de pandemia, na aula de hoje,
desenvolvimento, saúde e inovação.
[00:01:10]
[Carlos Gadelha]
Hoje nós estamos inaugurando o módulo complexo econômico-industrial de inovação e saúde, que faz parte da disciplina
saúde ciência em tempo de pandemia. Meu nome é Carlos Grabois Gadelha, sou da Fundação Oswaldo Cruz, coordeno a área de
prospecção e sou professor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Na aula de hoje, eu vou procurar avançar
com vocês no tema desenvolvimento, saúde e inovação. Na verdade, o que eu vou propor aqui é uma mudança de óculos,
normalmente se vê a saúde como um fardo, como um problema, como algo que se contrapõem ao desenvolvimento e nós vamos
caminhar nessa disciplina para mostrar que saúde é desenvolvimento, saúde é inovação, e saúde é uma grande oportunidade
para o nosso país. Esse módulo que eu tenho o prazer de coordenar, ele procura articular essa visão geral da saúde, o
impacto que tá tendo a quarta Revolução Tecnológica, o papel do território, como é que a globalização acaba com o
território, a gente vai mostrar que não, a dimensão local e nacional continua sendo importante.
Vamos entrar no mundo também da gestão da inovação, como é que as instituições se preparam para transferir e absorver
tecnologia, para fazer patente e dialogar isto com o interesse público. E depois, a gente finaliza este módulo
conversando sobre a inovação como um processo sistêmico e eu volto a estar com vocês para discutir e afirmar que a saúde
é uma porta de saída da crise. Ao contrário que a gente fica vendo aí no senso comum, que contrapõe saúde e
desenvolvimento, nós vamos fazer uma aventura neste módulo dessa disciplina para inverter e a gente trocar de óculos, a
gente começar a olhar a saúde como desenvolvimento. Então vamos aqui desenvolver e abrir essa grande perspectiva e esse
percurso nosso que nós vamos desenvolver. Eu trouxe aqui para vocês, a visão de alguns grandes autores, o Schumpeter,
que é o autor da da inovação, quem fala em inovação tem tem saber quem é Schumpeter, então é um grande teórico da
inovação, a visão do nosso Celso Furtado, o maior economista brasileiro, muito mais que economista, trabalhou com
cultura, sociedade, o maior pensador brasileiro do desenvolvimento. E depois dialogar também com a agenda do
desenvolvimento sustentável, o que eu queria passar aqui, peço que todos leiam essas citações, mas primeiro que o
processo de desenvolvimento como tá aqui em Schumpeter, é um processo que envolve transformação, desenvolvimento não é
fazer mais do mesmo, desenvolvimento é se transformar.
Se a gente puder pensar que na saúde, qual foi a grande transformação recente? A própria criação do Sistema Único de
Saúde, foi uma grande inovação que transformou a realidade da saúde e ainda bem que a gente tem o nosso SUS, neste
contexto tão ameaçador e tão desafiador como o da pandemia. Então, primeira ideia, desenvolvimento é transformação, não
é fazer mais do mesmo. A segunda dimensão que eu queria apontar arrancando aqui do Celso Furtado, Celso Furtado
realmente era brilhante, recomendo, a gente tem que valorizar os nossos, nenhum complexo de vira-lata aqui. O Celso
Furtado ele coloca, vocês veem lá no final dessa frase, também o desenvolvimento como um processo de inovação
tecnológica, de diferenciação do sistema produtivo, mas ele lembra a gente uma questão, o desenvolvimento é um processo
de mudança social, ou seja, a sociedade tem que mudar para se desenvolver, para atender necessidades humanas, então o
Celso Furtado ele coloca a bola no terreno certo, no jogo certo, ele fala, desenvolvimento é transformar, mas
transformar para que? Para atender as necessidades humanas mediante um processo de transformação social.
E por fim, eu trago aqui o relatório, a citação do relatório que lançou a ideia do desenvolvimento sustentável, que não
basta a gente pensar nas atuais gerações quando a gente está pensando no desenvolvimento, a gente tem que pensar no
ambiente, no planeta, e nas futuras gerações, ou seja, as necessidades humanas do presente, como o Celso Furtado apontou
de modo tão brilhante, tem que ser pensados também a luz das futuras gerações e da própria vida no nosso planeta. Então,
desenvolvimento é inovação, desenvolvimento é transformação, desenvolvimento é atender as necessidades humanas e
ambientais e de nosso planeta. Nesse sentido, a gente ao trabalhar no campo que relaciona desenvolvimento e saúde, a
gente tem que pensar saúde a partir de uma tripla dimensão que dialoga com aquelas definições. Em primeiro lugar, a
saúde antes de tudo é um direito, o direito de cidadania, um direito social, é algo que a gente tem que dizer, não pode
depender da capacidade de pagamento de uma pessoa ter acesso à saúde, é inaceitável do ponto de vista ético que uma
pessoa pelo seu nível de renda, pelo o seu local de nascimento, tenha uma expectativa de vida diferente ou tenha uma
qualidade de vida diferente, saúde é qualidade de vida.
Então primeira questão ética política, é que a saúde ela é desenvolvimento, porque eu não posso ter um desenvolvimento
com pessoas e com uma sociedade que não seja saudável, saúde como qualidade de vida envolve então a questão dos sistemas
universais, que garante o acesso universal, equânime e integral para todos. Imagine uma sociedade em que tivesse como
premissa, que uns têm mais direito à vida que os outros, é eticamente inaceitável. Então, é importante, e aí eu até
trago minha tradição, sou economista, mas eu acho que a economia cada vez mais tem que se aproximar das humanidades como
uma ciência moral, a economia é uma ciência social, então primeiro ponto de vista que eu acho que permite até a gente
atravessar e superar esse debate atual, é a saúde como qualidade de vida, como um direito de cidadania como está na
Constituição Brasileira. E para isso, nosso Sistema Único de Saúde é um patrimônio de todas as brasileiras e todos os
brasileiros, uma segunda perspectiva que começa a ampliar o nosso foco é que saúde também é conhecimento, é inovação e
soberania.
A pandemia atual do Novo Coronavírus, a pandemia que a gente está enfrentando mostrou que a dimensão econômica
tecnológica do conhecimento, ela dialoga o tempo todo com a dimensão social. Se nós não conseguimos pagar ventiladores,
se nós não conseguimos entrar na modernidade das novas vacinas, dos medicamentos, da atenção especializada e de uma
atenção básica inteligente, que preditiva, capaz de utilizar as grandes bases de dados e inteligência artificial, se a
gente não associar o conhecimento e a inovação, a gente não vai conseguir garantir a saúde como direito social. Então
tem algo que a gente tem que falar e bater no peito, saúde também gera renda, gera emprego, gera inovação e gera futuro,
então a saúde é um direito de cidadania, mas é uma fonte de desenvolvimento econômico e social. No contexto da quarta
Revolução Tecnológica, se a gente for pensar o que é essa quarta Revolução Tecnológica? Big data, Inteligência
Artificial, impressão 3D, internet das coisas, hiperdigitalização, todas essas áreas são lideradas pelo campo da saúde.
Então saúde ela tem protagonismo numa sociedade do conhecimento, sociedade da inovação, e a terceira dimensão que eu
mencionei naquelas definições, a saúde ela é desenvolvimento sustentável, não tem desenvolvimento sustentável sem
qualidade de vida, que é a definição correta da saúde, e por outro lado, não tem saúde se o ambiente não é um ambiente
sustentável e que gera qualidade de vida, um ambiente que gera poluição, que desmata, que gera uma vida pouco saudável
na relação do homem e do ser humano com a natureza, não é um ambiente promotor da saúde.
Então a saúde ela envolve essas três dimensões, a dimensão social, econômica e ambiental, e isto é novo, eu estou
fazendo aqui a visão de que eu tenho sistema produtivo tecnológico de inovação, que a saúde se torna desenvolvimento
porque ela lia as três dimensões centrais do desenvolvimento, que estão naquelas definições. Como eu mencionei, se a
gente não tem capacidade tecnológica para fazer vacina, ventilador, nós não temos saúde, por outro lado, se nós não
temos um Sistema Único de Saúde, nós até podemos ter ventilador e vacina, mas as pessoas não vão ter acesso. Então há
uma interdependência, a pandemia da Covid 19 mostrou para todos nós que eu não posso olhar para um lado só da saúde, ao
mesmo tempo eu tenho que ter a capacidade tecnológica, capacidade de inovação e compromisso com o acesso universal por
parte da nossa sociedade. Para todas as instituições que os alunos aqui pertencem, é importante dizer isso, para as
alunas e para os alunos, que nós não vamos ter que optar por uma das duas dimensões, a gente ao mesmo tempo vai ter que
ter uma estratégia, pode ser a nossa instituição, sou da Fundação Oswaldo Cruz. Qual é a vida da Fundação Oswaldo Cruz?
A Fiocruz esteve na liderança da formulação do nosso Sistema Único de Saúde e ao mesmo tempo é Instituição Líder
Nacional na produção de vacinas, produtos para câncer, teste para diagnóstico, ela ao mesmo tempo é uma organização de
desenvolvimento econômico e de inovação, é uma Instituição comprometida até seu último nível com a saúde da população.
A gente costuma ter uma brincadeira que a gente faz muito na Fiocruz que você pode não saber, mas você tem a Fiocruz
dentro de você, na medida em que você tem uma vacina, um teste diagnóstico é feito na Fundação Oswaldo Cruz , você pode
não saber, mas ao mesmo tempo você tem um SUS e tem a ciência e a tecnologia dentro de você. Então, quando a gente toma
uma nova vacina, a gente tem ao mesmo tempo o SUS e ao mesmo tempo nós temos ciência, tecnologia e inovação. A gente
formulou na Fundação Oswaldo Cruz há mais de 20 anos, uma concepção inovadora que traz o campo econômico, tecnológico e
da inovação para ser pensado junto com o campo do direito social. A ideia é que a gente não vai ter direito social,
acesso universal se a gente não tiver uma base produtiva, tecnológica e econômica digna. Um país que só produz soja e
minério e compra tudo que precisa para a saúde, não será um país desenvolvido e a gente não vai garantir o acesso
universal.
Então nós temos um complexo econômico-industrial da saúde, que agrega os setores industriais e os setores de serviços.
Dentro da indústria existe aquelas indústrias base química e biotecnológica, como a indústria farmacêutica, a indústria
de vacinas, a indústria de reagentes para diagnóstico biológicos, a indústria de hemoderivados, vocês tem uma série de
setores, como o caso mais emblemático da área de medicamentos e vacinas, que tem essa base química e biotecnológica
dentro do sistema produtivo de inovação em saúde. Um segundo grupo, um segundo subsistema que é de base mecânica e
eletrônica de materiais, são os equipamentos, é onde a tecnologia digital se faz muito presente, os equipamentos de
radioterapia, tomografia, de diagnóstico, de tratamento de câncer, os equipamentos também para o diagnóstico, que o
diagnóstico envolve tanto o componente biológico quanto o componente de dispositivos, as órteses e próteses para os
transplantes, então existe um conjunto de indústrias de base mecânica e eletrônica. Por fim, toda essa produção
industrial em saúde, conflui para área de serviços, para o subsistema de serviços, se uma vacina não chega na atenção
primária, ela não serviu para nada, se uma órtese e prótese não é implantado no hospital, ele não serviu para nada,
quando a gente fala translação do conhecimento, se dá por esta confluência e convergência entre indústria e serviços, e
a área de serviços em si é uma área econômica.
Muitas vezes uma pequena cidade, o programa de saúde da família é o que mais mobiliza a economia daquela pequena cidade,
emprega agentes comunitários de saúde, médicos, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos. Então a saúde olhada
com esse novo óculos, ela não é só problema, ela é solução, inclusive porque ela paga maiores salários, emprega pessoas
de modo mais decente, formal, e é um sistema produtivo que articula indústrias e serviços, dos serviços a gente tem
desde a atenção básica, até aquela atenção mais especializada, como por exemplo nas unidades de tratamento intensivo,
que conflui em um serviço de saúde que é como os produtos, os serviços e o conhecimento chegam à população. O Brasil
hoje, esse sistema produtivo, ele representa 9 por cento do PIB, é dos sistemas produtivos mais dinâmicos do país, é
quase o que toda a indústria brasileira representa do PIB e a gente não sabe que saúde é riqueza. Olha como a gente está
colocando algo novo aqui nesta disciplina, sete milhões de trabalhadores trabalham no campo da saúde, se eu pegar o
trabalho direto e indireto, são 14 milhões de pessoas, o desemprego do país hoje, por coincidência, de 14 milhões de
pessoas, se a gente injeta recursos na saúde, a gente tira a pessoa do desemprego e a gente muda a vida do país, então
só emprego a saúde emprega.
Em termos diretos e indiretos a mesma quantidade do desemprego, que dramaticamente assola o Brasil no momento atual, a
saúde também, ela é pesquisa, trinta por cento da pesquisa brasileira está no campo da saúde, ela lidera as novas
tecnologias do futuro e ela é decisiva para se o Brasil vai entrar com a cabeça erguida, sabendo fazer vacina,
medicamento, ventilador, dar serviço de assistência, ter uma classe de profissionais em saúde, governo médico,
enfermeiro, fisioterapêutico, que estão na sociedade do conhecimento ou se nós vamos ser apenas um mercadinho que
consome produtos que são feitos lá fora e que a gente não tem nenhum domínio sobre a nossa capacidade tecnológica de
fazer e desenvolver os produtos para nossa população. O Brasil tem o maior Sistema Universal do Mundo, tem uma base de
Ciência e Tecnologia e tem tudo para entrar nesta divisão internacional do trabalho com a cabeça erguida, sabendo fazer
tecnologia em saúde. Esse dado, esse quadro aqui que eu tô mostrando pra vocês mostra que o sistema produtivo da saúde
ele está sendo completamente revolucionado pela quarta Revolução Tecnológica.
Hoje em dia com a digitalização, o serviço está na indústria, a indústria está no serviço, hoje quando se produz vacina
você tem equipamentos de monitoramento das vacinas, elas dialogam o tempo todo como é que está a atenção básica, a
informação que tem, olha as regiões estão com tal temperatura, eu tenho que ter uma rede de frios para que aquela vacina
chegue com a temperatura, que ela não estrague na ponta, ou seja, há uma confluência entre indústrias e serviços, onde o
diálogo entre todas as áreas e as pessoas que trabalham nesses campos, cada vez é maior. Outro dia eu entrei num
laboratório pra Zika, na Paraíba, e as pessoas que estavam dentro do laboratório, para minha surpresa não eram médicos e
biólogos, eram técnicos de computação, engenheiros, matemáticos, ou seja, o mundo está muito mais integrado e a
Revolução Tecnológica está invadindo e sendo transformada no campo da saúde, e a gente tem que entrar na Revolução
Tecnológica para não descolar a saúde do seu objetivo social. E aqui vem um dado, que eu mostro para vocês, um dado que
me preocupa, essa curva de cima mostra as importações do Brasil na medida em que o Sistema Único de Saúde avança e que o
acesso universal avança, as importações brasileiras aumentam de 4 bilhões de dólares para 15 bilhões de dólares, isso
mostra a curva de cima, a segunda curva são as exportações baixinhas, que a gente ainda não tem capacidade tecnológica e
a de baixo do gráfico, mostra a diferença entre as importações e as exportações.
Mas vamos olhar a curva de cima, a gente hoje importa 15 bilhões de dólares em produtos em saúde, isto aumentou em quase
quatro vezes nos últimos 20 anos, ampliou o acesso mas não ampliou a capacidade tecnológica do país, se eu for contar o
que a gente paga por tecnologias e insumos que não estão dentro da saúde, mas que são essenciais para os produtos de
saúde, da petroquímica, insumos que, por exemplo, software que a gente compra e não aparece como saúde, mas é utilizado
nos serviços de saúde, nos hospitais, na atenção primária, todos usam software. E se a gente somar isso tudo, o Brasil
importa 20 bilhões de dólares em saúde, gente observem isso, não é dado de economista, nós importamos o equivalente a um
orçamento inteiro do Ministério da Saúde, um orçamento inteiro do Ministério da Saúde gera riqueza, gera conhecimento,
gera inovação fora do Brasil. E nós ficamos de joelho quando a pandemia como essa ocorre, implorando para ter
equipamentos de proteção individual, implorando para ter ventiladores, sendo chantageados por países ricos que roubam,
literalmente sequestram os produtos, roubam não seria a palavra mais elegante, sequestram os produtos que estão dentro
dos aviões vindo para o Brasil e são retirados. Os preços triplicam, aquele preço nacional que parecia caro, virou
barato, só que a gente não tem produto.
Olha no campo dos ventiladores o, Brasil aumentou em cinco vezes a importação de ventiladores, era 10 milhões de
dólares, aumentou para cinquenta milhões de dólares antes da pandemia, na pandemia não aumentou, acabou, nós não
tínhamos aonde comprar, porque a nossa capacidade tecnológica e eu quero registrar aqui a proficiência da COPPE, da USP,
diversas da universidades, mas não havia musculatura econômica produtiva para transformar aquele conhecimento em riqueza
para nossa sociedade, mas as respostas foram importantes, mas a nossa dependência está aí, nós nos tornamos muito
vulneráveis do ponto de vista tecnológico, e quem não tem ciência e tecnologia, não tem sistema universal. A nossa
disciplina, o nosso módulo, e essa aula fala, eu não posso falar de acesso universal sem conhecimento, sem ciências, sem
tecnologia e sem inovação e no mundo que o jogo tá pesado, mais de 100 países estão bloqueando exportar produtos para
gente, países ricos e países mais desenvolvidos do mundo proibiram exportar produtos. Então o que antes parecia uma
ideia da Fiocruz, uma ideia muito heterodoxa mostrando, é, não é ideologia gente, é necessidade.
O Brasil tem que ter ciência, tem que ter tecnologia, tem que ter inovação. Senão, essa inovação, esse gráfico que
mostra a nossa falta de inovação, é a boca do Jacaré, ela tem limite. E a próxima pandemia? E o tratamento do câncer?
Porque Coronavírus não é o
único problema que a gente tem. O câncer é a segunda causa de morte, doenças do coração é a primeira causa de morte.
Professor Medronho aqui, conversou com vocês mostrando isso, então é o sistema que a gente trabalha e nós somos
dependentes em várias partes desse sistema, temos alguns casos que a gente foi muito bem, conseguiu se desenvolver bem,
como no caso das vacinas, dos medicamentos para AIDS e dos testes para diagnósticos. Quero mostrar aqui esta figura que
muito me impressiona na sociedade do futuro, é a sociedade da quarta revolução, o mundo todo robotizado, e o robô dando
esmola para uma pessoa marginalizada da sociedade. É essa sociedade que a gente quer? Como que nós vamos colocar a
ciência, tecnologia e inovação a serviço das mulheres e dos homens? Esse é o tema central que a gente tem que articular,
ciência, tecnologia, inovação e produção nacional, mas isso para atender as necessidades humanas como falava o grande
Celso Furtado, não tem desenvolvimento para criar robô inteligente e para as pessoas serem aleijadas de modo de modo vil
sobre os frutos do desenvolvimento.
Essa imagem fala mais do que mil palavras. Esse também muito interessante, é um algoritmo feito pelo pessoal do
Facebook, pedindo para o algoritmo ler essas duas imagens, um sabonete de população de baixa renda, de países menos
desenvolvido em barra, e o sabonete típico de população mais rica de países envolvidos, o algoritmo adivinhou que na
parte direita aqui da fotografia, o sabonete em frasco era um sabonete, na parte esquerda aqui da imagem, o sabonete em
barra, o algoritmo falou que era um alimento, era um hambúrguer, era um queijo. Então, o quê que mostra? O algoritmo
depende de quem desenvolveu ele, se a gente não faz tecnologia, o nosso algoritmo não vai olhar para as nossas
necessidades, vai transpor as necessidades deles para uma realidade completamente diversa, a Maré tem uma letalidade de
muitos. Chegou em algum momento a estar até dez vezes superior a um bairro rico da zona sul do Rio de Janeiro, o
algoritmo desenvolvido lá fora não iria olhar para a Maré, iria olhar apenas para aqueles que têm um nível de renda
semelhante ao lugar onde este algoritmo foi desenvolvido. Isso mostra que a Revolução Tecnológica que a gente tem que
entrar, não prescinde do conhecimento gerado nas universidades brasileiras, nas instituições brasileiras, como a
Fiocruz, e isto é o nosso patrimônio para garantir a saúde universal.
Essa aqui, ele então mostra também uma perspectiva que a gente tem que trabalhar de modo muito forte, de pensar para
fora da nossa caixa, de pensar para fora da nossa caixa que divide a sociedade em você produz em indústria ou você
produz serviços. Você faz ciência ou você trabalha para o SUS? Você trabalha na área biomédica ou você trabalha na área
social? Na verdade, o que a gente aponta aqui de modo muito, muito, muito importante, é que a saúde requer uma visão
ampliada, ela requer uma visão em que integre essas diversas áreas. A gente não pode pensar em saúde sem pensar no
desenvolvimento industrial, como é que esse desenvolvimento industrial se articula com um vigoroso programa de atenção
básica. Só para dar uma ideia, hoje a nossa atenção básica ela está presente em 90, mais de noventa e cinco por cento
dos municípios brasileiros, ela atende mais de sessenta por cento da população e a atenção básica do futuro não é mais
apenas a atenção básica que fornece soro caseiro, muitas vezes tem que fornecer o soro caseiro, o simples é bom, o
simples às vezes resolve, mas você não ter as novas tecnologias para uma atenção básica e inteligente, é dramático.
Por exemplo, nos dias atuais a gente tem que ter capacidade de previsão, por exemplo, se o clima do planeta aumentar em
1°, infelizmente está aumentando, se o desmatamento ocorre por motivos naturais ou por motivos ligados à ação humana e o
clima aumenta, a gente com inteligência artificial e Big data, grandes bases de dados, utilizados na atenção básica, a
gente consegue saber onde vai surgir dengue, Zika e Chikungunya. Se muda a relação do homem com a natureza, a gente
consegue prever inclusive a emergência de novas pandemias. Eu vou falar algo para as alunas e para os alunos, para os
colegas e para as colegas que é algo diferenciado aqui para a gente poder pensar. Não era tão imprevisível essa
pandemia, a gente teve outros Coronavírus, teve o Mers, teve o Sars 1, esse é o Sars 2, na verdade a nossa ciência e
tecnologia tem que ser reforçada, ela é um pilar essencial, inclusive para atenção básica, então gente tem que sair
dessa caixa que separa o econômico do social, do ambiental, que separa a indústria dos serviços, que a gente comece a
olhar para frente e dizer, saúde é desenvolvimento, saúde é qualidade de vida, saúde é inovação tecnológica. A gente tem
ao mesmo tempo, que reforçar o financiamento e o apoio ao SUS, e reforçar a ciência e tecnologia, todos os países do
mundo desenvolvidos estão investindo em duas coisas, acesso universal, saúde e ciência e tecnologia.
Se a gente não seguir essa trilha, nós vamos ficar de joelhos sempre que a gente enfrentar uma pandemia e o problema de
saúde pública, então nós temos que pensar que sociedade nós queremos, era a última frase daquela figura, que sociedade
nós queremos. E aqui eu trouxe para todos aqui uma citação do Paulo Freire, não é a gente ficar adivinhando o futuro,
cruzar os braços e esperar, ele é o patrono da educação brasileira, essa primeira aula deste módulo eu queria trazer o
Paulo Freire para vocês, ele move, "Movo-me na esperança enquanto luto. E se luto com esperança, eu espero, então eu
tenho que lutar com esperança, e o futuro não nos faz, nós é que nos refazemos na luta para fazê-lo, o desenvolvimento,
a saúde, ciência e tecnologia é uma obrigação nossa, é uma decisão nossa. Não é ficar esperando que ele não vem de
graça, ele vem com esforço, com luta e com união. E os sonhos são projetos pelo qual se luta." Ou seja, sonho não é algo
fora da realidade, essa aula objetiva trazer para o nosso diálogo esse sonho, mas um sonho que é colado na possibilidade
concreta do Brasil. O Brasil se desenvolveu em vacinas, o Brasil se desenvolveu em medicamentos para AIDS, o Brasil
implementou um dos maiores programas do mundo de atenção básica e o nosso maior sistema universal do mundo. Nós temos
todas as condições para que esse sonho se torne realidade, saúde é desenvolvimento. Muito Obrigado!
[00:29:22]
[Narradora]
Como você viu, é preciso que se estabeleça uma perspectiva atualizada do desenvolvimento econômico e social gerado pelas
inovações em saúde. A saúde é um bem comum que além de salvar e trazer qualidade de vida, proporciona desenvolvimento
para toda a sociedade.
[Música]
Para saber mais sobre a dimensão ambiental, leia o artigo Estagnação
predatória ou
desenvolvimento sustentável?, do livro Saúde é Desenvolvimento: O
Complexo
Econômico-Industrial da Saúde como opção estratégica nacional.
Foi a partir da característica indissociável entre as dimensões econômicas, sociais e ambientais da
saúde que se conformou o conceito do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), uma concepção
inovadora que associa o campo econômico, tecnológico e da inovação para ser pensado junto com o
direito à saúde. A tese central é que não é possível garantir o direito ao acesso universal à saúde
sem uma base produtiva, tecnológica e econômica robusta e soberana.
O desafio da dinâmica econômica, produtiva e da ciência, tecnologia e inovação (CTI) se reproduz por
dentro dos sistemas de bem-estar social: gerar transformações políticas, sociais e ambientais e,
simultaneamente, investigar como as transformações políticas sociais e ambientais condicionam a
dinâmica econômica, produtiva e de ciência, tecnologia e inovação.
O processo de desenvolvimento: dimensões endógenas
Em outras palavras, a perspectiva do Complexo Econômico-Industrial da Saúde aponta que o Estado de
Bem-Estar possui uma base material concreta que está intrinsecamente vinculada à dinâmica do capital
e a todas suas contradições.
• O que é o Complexo Econômico-Industrial da Saúde
O Complexo Econômico-Industrial da Saúde representa o espaço sistêmico no qual a produção e inovação
em bens e serviços de saúde se realiza. Podemos observar claramente que existe um conjunto de
atividades e setores econômicos diversos que estão inseridos em um contexto produtivo e de serviços
característico da área da saúde. Essas atividades podem ser realizadas por organizações e
instituições públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos. Exemplos: Hospitais públicos e
privados, Instituições de Ciência e Tecnologia, Indústria Farmacêutica, Indústria de equipamentos
médicos, laboratórios de diagnóstico, etc.
Por adotar a dinâmica captada por Marx e Schumpeter, que caracterizam o capitalismo como um sistema
em permanente transformação, a abordagem do Complexo Econômico-Industrial da Saúde está centrada no
processo de inovação, produção e realização da base material da saúde. Essa perspectiva envolve,
necessária e simultaneamente, uma forte articulação entre a geração e difusão de tecnologias, a
dinâmica institucional e social, a estruturação do Estado e as relações público-privadas na saúde.
Assim, podemos concluir que a decisão econômica e dos investimentos em saúde embute um modelo de
sociedade, ao mesmo tempo em que um modelo de sociedade inclusivo e equânime exige determinada
estrutura produtiva e de ciência, tecnologia e inovação em saúde.
O Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS)
Na conformação do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, os subsistemas interagem sistemicamente em
um espaço de desenvolvimento produtivo e tecnológico para garantir o acesso universal.
São subsistemas do Complexo Econômico-Industrial da Saúde:
Subsistema da indústria - de base química e
biotecnológica: atividades e setores econômicos envolvidos no desenvolvimento
e produção de medicamentos de síntese química e biológica, insumos farmacêuticos ativos,
vacinas, hemoderivados e reagentes para diagnóstico.
Subsistema da indústria - de base mecânica, eletrônica
e de materiais: atividades e setores envolvidos no desenvolvimento e produção
de equipamentos médico-hospitalares, insumos, próteses e órteses, dispositivos de
diagnóstico, equipamentos de proteção individual.
Subsistema de informação e conectividade:
atividades e setores envolvidos no desenvolvimento e produção de serviços para gerar,
processar e transformar em conhecimento dados na área da saúde; e permitir a conexão
entre produtos dos diferentes subsistemas.
Subsistema de serviços: atividades e setores
envolvidos na produção de serviços de atendimento à saúde, abrangendo a produção
hospitalar, ambulatorial, os serviços de diagnóstico e tratamento e os serviços de
varejo e distribuição de bens em saúde.
Apesar da variedade de instituições, organizações e agentes vinculados à saúde, de bases tecnológicas
distintas, a produção de bens e serviços de informação e conectividade em saúde conflui para
mercados fortemente articulados que caracterizam a prestação de serviços de assistência à saúde.
A articulação entre os distintos subsistemas do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, entretanto,
vai muito além dos fluxos comerciais e de utilização de serviços durante a realização do atendimento
à saúde. O desenvolvimento de inovações e da própria produção de bens e serviços em saúde é marcado
por uma forte interação entre os subsistemas do complexo.
VÍDEO: A crise da COVID-19 e a
necessidade de um enfoque sistêmico para a inovação
Transcrição do vídeo: A crise do COVID-19 e a necessidade de um enfoque sistêmico para a inovação
[00:00:01]
[Narradora]
Saber comum, uma iniciativa conjunta de Educação a Distância e divulgação científica de
instituições públicas de ensino
superior e pesquisa do Rio de Janeiro. No atual contexto de pandemia, as diversas interfaces do
sistema de saúde
precisam acionar métodos que se adequam diretamente à eficácia exigida no enfrentamento dessa
complexa conjuntura. Na
aula de hoje, o professor Felipe Kamia da Universidade Federal Fluminense, vai abordar o
conceito de inovação, dando
ênfase à área da saúde e vai estabelecer quais são as suas características em um cenário
excepcional como o que vivemos.
Saúde e ciência em tempos de pandemia, na aula de hoje, A crise da COVID 19 e a necessidade de
um enfoque sistêmico para
a inovação em saúde.
[00:01:00]
[Homem 1: Felipe Kamia]
Meu nome é Felipe Kamia, sou pesquisador da Fiocruz e professor da UFF, na aula de hoje a gente
vai discutir sobre a
necessidade de um enfoque sistêmico para pensar a inovação para a saúde. Para fazer isso, a
gente vai precisar responder
quatro perguntas, primeiro a gente vai responder o que é inovação, depois a gente vai entender
quais são as
características do processo da inovação, e depois vamos entender se existem especificidades no
processo de inovação em
saúde, e por fim, vamos buscar entender como estimular a produção de inovações, seguras,
efetivas e que garantam o
acesso universal à saúde no Brasil e eu já adianto a resposta para vocês, a resposta será adotar
um enfoque sistêmico
para pensarmos a inovação em saúde no Brasil. Então a gente vai começar a aula de hoje,
entendendo o que é o conceito de
inovação, a inovação é aplicação do conhecimento em um contexto inédito, para a solução de
problemas e que acaba gerando
valor econômico ou social.
Para entender o que é isso, é melhor a gente usar alguns exemplos, então a gente pode pensar a
inovação aqui como a
introdução de novos produtos, como novos medicamentos, novas vacinas, novos kits de diagnóstico
para a saúde, a gente
pode entender a inovação como em novos processos, quando uma empresa, por exemplo, passa a
dominar novas formas de
sintetizar medicamentos, sejam eles pela rota biológica ou da química fina, mesmo que eles já
sejam dominados por outras
empresas em outros países. A gente também pode pensar em inovação no contexto do setor público,
por exemplo, a gente
pode pensar em inovação para solucionar que tipo de problema? Como garantir a oferta de saúde
universal, de forma
equânime e integral para a população e foi através de uma inovação, que a sociedade brasileira
passou a buscar
solucionar esse problema desenvolvendo o Sistema Único de Saúde, o SUS. A gente pode pensar
inovações de muitas outras
formas, por exemplo, a gente pode ver uma inovação quando a gente está pensando em programas
como Estratégia de Saúde da
Família, que mudou a forma como a gente atuava na atenção básica de saúde no Brasil, ou mesmo
com o Programa Nacional de
Imunizações, por fim, a gente também pode entender inovação através de algumas estratégias, como
por exemplo, como
solucionar o problema de ofertar medicamentos para o Sistema Universal de Saúde.
Como a gente desenvolve uma inovação, portanto, foi o desenvolvimento de parcerias
público-privadas para internalização
de tecnologias, para que houvesse capacidade produtiva para a produção de medicamentos, para
ofertar no sistema público
de saúde brasileiro. Agora que a gente já entendeu o que é o conceito de inovação, a gente pode
avançar um pouquinho
mais e buscar compreender quais são as características do processo de inovação. Basicamente, a
gente pode pensar que o
processo de inovação tem três características fundamentais. Em primeiro lugar, o processo de
inovação é incerto. Em
segundo lugar, ele é cumulativo. Em terceiro lugar, o processo de inovação ele também é
coletivo. Quando a gente pensa
nessas 3 características, a gente consegue concluir que o processo de inovação, portanto, é um
processo social e é um
processo sistêmico. Então, o que a gente está querendo dizer quando a gente está falando que o
processo de inovação é um
processo incerto? Primeiro vamos entender o conceito de incerteza, um evento é incerto quando a
chance dele ocorrer é
impossível de ser quantificada em termos de probabilidade. Como que a gente pode entender esse
conceito de incerteza?
Novamente usando um exemplo e a gente pode usar o exemplo da pandemia de COVID 19, era possível
imaginar que ia existir
uma pandemia no mundo, a gente consegue visualizar que os relatórios da OMS, muitos estudos,
países se preparavam para a
emergência de uma pandemia. A gente também verifica isso nos filmes, na literatura, a gente
podia imaginar que poderia
emergir uma pandemia. Entretanto, a gente conseguiria imaginar, conseguiria calcular a
probabilidade de que uma pandemia
fosse emergir na China no final do ano passado? Não, é muito difícil, isso significa a
incerteza. Por mais que a gente
soubesse que aquilo era possível, não tinha como a gente calcular em termos de probabilidade
quais eram as chances de
uma pandemia acontecer. Como que a gente usa esse conceito para entender a questão da inovação,
o processo de inovação?
O processo de inovação, essa incerteza aparece de múltiplas formas, em primeiro lugar, a gente
não tem como calcular a
priori, que vão ser as chances de que um projeto de inovação realmente dê certo, aí a gente pode
usar o exemplo da
vacina para COVID 19. A gente tem inúmeros projetos de vacina em andamento, alguns deles menos
avançados, outros mais
avançados, mesmo quando a gente pega os projetos mais avançados de vacina contra a COVID 19 , os
projetos que já estão
na última fase de testes, na terceira fase de testes, mesmo quando a gente pega uma vacina que
já avançou na fase de
teste, está na última fase de testes clínicos.
A gente sabe que com essa vacina, ela tem maior chance de chegar ao mercado, por quê? Porque ela
já passou por várias
etapas, mas mesmo assim a gente não tem como calcular qual que é a probabilidade, qual que é a
chance dessa vacina
realmente dar certo. Pode ser que lá no finalzinho aconteça algum problema e o projeto tenha que
ser interrompido ou
tenha que voltar várias etapas atrás, e nesse ponto que a gente chega na segunda característica
da incerteza na
inovação, que a gente não tem como calcular a priori quais serão os custos envolvidos nesse
projeto. Porque muitas vezes
quando a gente está no projeto de inovação, e aí quem já tentou aplicar o conhecimento de uma
forma inédita para
solucionar um problema, já passou por isso. A gente tenta e avança para buscar uma solução do
problema, quando a gente
acha que está chegando a solução, a gente descobre um problema e tem que voltar lá atrás. O quê
que isso causa? Isso
causa um aumento nos custos, então a gente não tem como estabelecer a priori quanto que isso vai
custar.
Finalmente, num projeto de inovação a gente também tem muita dificuldade em entender quais vão
ser os resultados desse
processo? Quais serão os benefícios reais que a gente vai atingir no final, que esse produto vai
trazer, que essa
inovação vai trazer para gente? E a gente pode usar como exemplo a internet. A internet nasceu
como um projeto militar
que buscava o quê, qual era o problema que ela tentava solucionar? Ela buscava desenvolver um
sistema de comunicações
que fosse mais descentralizado e que ele fosse menos vulnerável a ataques externos e os
militares, eles foram efetivos
com isso, eles conseguiram desenvolver esse tipo de sistema de comunicação. Porém, os militares
não tinham como prever,
quando eles estavam desenvolvendo esse projeto lá atrás, qual seria o impacto da internet para a
sociedade como um todo.
Eles não tinham como prever que a internet iria ter esse impacto perversivo na sociedade que
transformou toda a
sociabilidade.
Então, é nesse ponto que a gente diz que a gente não consegue prever quais serão os benefícios
que a inovação vai trazer
para a gente. A inovação, ela também é um processo cumulativo e o desenvolvimento de uma
inovação ele depende de um
conjunto de conhecimentos, de saberes, de técnicas que ele é desenvolvido ao longo do tempo e
ele é utilizado para
atingir as novas soluções, para chegar nas novas soluções, por isso, é muito difícil a gente
identificar um ponto
específico, dizer que esse é o ponto que é mais importante da inovação. Porque inovação
geralmente é o aprimoramento de
uma solução que já existia anteriormente, mas também geralmente o que vai acontecer, vão surgir
novas soluções que vão
aprimorar a solução trazida por essa inovação no presente. E isso está muito relacionado com
algumas dessas
características incertas no processo de inovação, em primeiro lugar, alguns riscos e custos que
serão trazidos, serão
consequências desse projeto de inovação, eles só vão aparecer no longo prazo, depois de muito
tempo, isso é até comum na
prática médica, depois de muito tempo, por exemplo, de um tratamento, ou de uso de um
medicamento que a gente consegue
observar alguns efeitos colaterais daquele medicamento ou daquele tratamento.
Da mesma forma, muitas inovações são realizadas com o fim, são estabelecidas com fins
específicos, como eu disse com o
exemplo da internet, porém, muitos dos usos que vão surgir dessas inovações, vão ser descobertos
ao longo do tempo. E
nesse ponto é muito importante a interação entre os desenvolvedores e usuários, aí a gente pode
pensar na prática
médica, na prática médica, muitas vezes o contato entre os desenvolvedores e os equipamentos e
os médicos que estão
atuando na ponta, permitem o aprimoramento dos equipamentos. Bem também, permitem que a gente
utilize esses equipamentos
para novos usos e isso também acontece na ponta entre o médico e o usuário, a interação entre
médico e usuário pode
trazer novos problemas, novas soluções que podem ser resolvidas com as inovações que já
existiam, com os produtos que já
existiam e isso se constitui também numa inovação. A produção de inovações, além de depender de
um conjunto de
conhecimentos, saberes e técnicas que foram acumulados ao longo do tempo, também dependem do
conjunto de conhecimentos e
saberes que estão espalhados por diversos agentes, por diversas pessoas e instituições.
E isso dá característica coletiva do processo de inovação, o que eu quero dizer com o coletivo?
Que geralmente quando a
gente está pensando em inovação, ela não se restringe a um campo do conhecimento científico
único, ela envolve vários
campos científicos diferentes. Nessa imagem que a gente tá vendo, o quê que a gente tem? A gente
tem um exemplo das
diversas bases de conhecimento, diversos campos dos saberes de tecnologias envolvidos no
desenvolvimento de um
equipamento para a área médica, na inovação de um aparelho médico. Conforme a gente está vendo
aqui, envolve diversos
campos do conhecimento, física, química, biologia, ou seja, a inovação ela transcende as
fronteiras entre as áreas do
conhecimento como a gente trabalha no campo científico, mas esse processo coletivo também tem um
outro aspecto. Muitos
dos conhecimentos, dos saberes, das técnicas utilizadas no processo de inovação e que foram
desenvolvidas ao longo do
tempo, não foram desenvolvidas por aquela gente, por aquela empresa que estava desenvolvendo
aquele projeto de inovação.
Muitas vezes, esses conhecimentos foram desenvolvidos onde? Foram desenvolvidos nas
universidades, nos institutos de
pesquisa, que foram financiados pelo setor público ou pelo setor privado, também podem ter sido
desenvolvidos por outras
empresas concorrentes, ou seja, podem ser desenvolvidos por diversos atores, e agentes
diferentes.
E por último, a inovação também depende do contexto regulatório onde ela está inserida, conforme
a gente viu em outras
aulas, a inovação é influenciada pela legislação e pela regulação existentes. Então, ou seja, os
marcos regulatórios que
estabelecem as formas como a gente pode interagir em setor público e privado, isso influencia o
processo de inovação,
como também o processo de regulação em si também influencia o processo de inovação.
Principalmente quando a gente está
trabalhando na área da saúde e aqui, a gente pode utilizar um exemplo de como esse processo
coletivo e cumulativo, se dá
no processo de inovação e aqui eu tô falando de um projeto que se chama CPAP, que basicamente é
um aparelho de pressão
positiva contínua nas vias aéreas, que foi desenvolvido numa Universidade do Reino Unido para
ser introduzido no Sistema
Nacional de Saúde da Inglaterra. Para desenvolver esse aparelho, os pesquisadores de saúde
pública e os médicos do
sistema de saúde em inglês, começaram a discutir com médicos da China e Itália, quais são as
melhores formas de
tratamento para pacientes de COVID 19, nessas conversas eles chegaram à conclusão de que era
importante a existência de
uma quantidade suficiente de ventiladores, porém, eles perceberam que era muito importante
também, desenvolver um
aparelho que reduzisse a necessidade do uso de ventiladores e evitar que os pacientes tivessem
que utilizar esses
ventiladores.
A partir da definição desse problema, ou seja, da necessidade de desenvolver aparelhos que
evitassem que os pacientes
tivessem que usar os ventiladores, eles começaram a trabalhar em parceria com os pesquisadores
de engenharia biomédica
na universidade e chegaram à conclusão de que a melhor forma de fazer isso era através de fazer
engenharia reversa de um
aparelho CPAP que já tinha patente esperada. Era um aparelho médico de complexidade menor do que
os ventiladores,
portanto mais fácil de desenvolver e ele poderia trazer ganhos significativos para o sistema de
saúde. E como eles
continuaram avançando? A partir daí, os pesquisadores entraram com uma parceria com uma divisão
da Mercedes que produzia
motores de Fórmula 1, ou seja, uma divisão de alta complexidade produtiva da Mercedes, para
ajudarem no design produtivo
do aparelho e no escalonamento da produção. É importante salientar, que essa equipe de pesquisa
da Universidade já tinha
estabelecido parcerias anteriores com os pesquisadores da Mercedes, ou seja, eles já tinham
trabalhado anteriormente com
eles e com isso eles conseguiram trabalhar de forma conjunta muito mais fácil e conseguiram
chegar no design do produto
e conseguiram estabelecer um produto que fosse efetivo e chegasse no Sistema Nacional de Saúde
Inglês.
E o que essa iniciativa pode mostrar para a gente? Que os pesquisadores de diversas áreas do
conhecimento, eles
estabeleceram um problema concreto a partir da interação, da prática médica e das necessidades
do sistema público de
saúde Inglês, ao mesmo tempo eles articularam diversas formas de conhecimento, de campos
científicos diferentes, e ao
mesmo tempo, eles aproveitaram a existência de capacidade produtiva e tecnológica de empresas
privadas para acelerar o
processo de inovação. Dessa forma, a gente consegue compreender que o processo de inovação é um
processo coletivo e
cumulativo, mas mais ainda, a gente também pode entender o processo de inovação como um processo
social, como a gente
definiu lá no começo, a inovação é aplicação de conhecimento, de uma forma inédita para aquele
contexto para solução de
um problema e para a geração de um valor, seja ele econômico ou social.
Quando a gente pensa no problema, a gente tem que pensar que o problema sempre vai partir de uma
perspectiva. E quando a
gente adota uma perspectiva, quando a gente está mirando um problema, a gente tá
consequentemente deixando de lado
algumas outras questões, alguns outros problemas. Isso em última instância significa o que,
significa dizer que o modelo
de sociedade em que a gente vive, determina as perguntas, determinam os problemas que a gente
vai buscar através dos
processos de inovação. Portanto, o modelo de sociedade é fundamental para a gente orientar a
direção do progresso
tecnológico e a fomentar os projetos de inovação do futuro. E aí gente tem que avançar para
entender uma outra questão,
a inovação e saúde ela é diferente? Por quê? E quais são as diferenças? Em primeiro lugar, a
gente tem que pensar que a
inovação em saúde, ela envolve um aspecto que é substantivo e não contornável. E qual é esse
aspecto? Que a inovação em
saúde afeta a condição de saúde das pessoas, em última instância, a inovação em saúde ela pode
provocar até mesmo a
morte, caso ela não seja uma solução efetiva. Portanto, as inovações em saúde, elas podem ter um
impacto significativo,
irreversível e irremediável, afetando a sociedade como um todo. O que significa isso? Qual o
desdobramento dessa
percepção? O desdobramento dessa percepção é que a regulação em saúde e a regulação do processo
de inovações em saúde,
ele não deve ser entendido como uma barreira que impede a existência de projetos de inovação em
saúde. Ela é na verdade
um processo imprescindível no processo de inovação em saúde.
Porque uma inovação em saúde, ela precisa ser segura e ela precisa ser efetiva, que que eu estou
querendo dizer quando a
inovação em saúde ela precisa ser segura? O que eu quero dizer com segurança, é que a
intervenção provocada por aquela
inovação em saúde ela não pode piorar a condição de saúde do paciente, ela não pode trazer danos
à saúde do paciente e o
que que eu quero dizer quando a inovação é efetiva? Eu tô querendo dizer que a inovação tem a
capacidade de produzir o
efeito desejado no uso prático daquela inovação, daquele produto, daquela intervenção. No
Brasil, quem é responsável por
certificar se as inovações em saúde são seguras e são efetivas, é a Anvisa. Mas além disso, no
Brasil a gente tem o SUS,
Sistema Único de Saúde, e como que a gente vai pensar como entrou, como a inovação, como esses
novos produtos, novos
processos, novos tratamentos devem ou não ser incorporados pelo sistema de saúde brasileiro?
Quem faz essa avaliação é
um órgão chamado Conitec, a Conitec vai realizar análise de custo-efetividade para verificar a
pertinência da inclusão
desses novos produtos, desses novos tratamentos no Sistema Único de Saúde brasileiro. E aí o que
ela vai fazer?
Ela vai verificar se essa solução é melhor do que as soluções que já existiam anteriormente. Até
agora a gente viu que o
processo de inovação em saúde é específico porque envolve um aspecto substancial que envolve a
condição de saúde das
pessoas e até mesmo a vida. A inovação em saúde, ela só se realiza para a sociedade, ela só gera
valor para a sociedade,
no momento em que ela chega na atenção básica e no momento que ela chega ao paciente, ou seja,
para a inovação em saúde
ser efetiva, para ela se realizar como o valor para a sociedade. Ela precisa passar pelo sistema
de saúde, portanto,
isso eleva a característica sistêmica do processo de inovação em saúde ao máximo e uma forma da
gente verificar isso é
utilizando exemplos, um exemplo clássico para gente ver essa característica sistêmica da
inovação em saúde, foi a
campanha de erradicação da varíola. A campanha de erradicação da varíola foi um exemplo
importante de inovação sistêmica
na área da saúde e para que essa campanha fosse efetiva e fosse um sucesso, foram necessários
combinar inovações de
produto, que foram atividades de pesquisa que geraram vacinas eficazes e de baixo custo que
pudessem ser aplicados na
população, foi preciso desenvolver inovações de método, foi preciso desenvolver uma agulha
bifurcada para inoculação de
uma quantidade constante de vacina.
E que a aplicação de vacina, portanto, pudesse ser efetiva, ao mesmo tempo foi necessário
inovações de processo, que foi
necessário modificar o processo como era realizada as campanhas de vacinação envolvendo
instâncias locais na aplicação
de vacinas e reduzindo os custos associados a essa aplicação. Por fim, a gente teve também
inovação de estratégia, a
adoção da vacinação em círculos, ao invés de vacinação em massa, garantiu a sustentabilidade do
processo de erradicação
da vacina. E essa característica sistêmica, a gente também pode trazer pro caso da COVID 19, a
gente pode verificar essa
característica sistêmica no caso dos testes de diagnóstico, por exemplo, a Fiocruz ela conseguiu
expandir rapidamente,
de forma considerável, a capacidade de produção de kits de teste diagnóstico para a COVID 19 no
Brasil. Porém, quando a
Fiocruz conseguiu ampliar sua capacidade de produção desses testes, começou a perceber que
existia um gargalo
significativo, onde? Existia um gargalo significativo no setor de serviços que não conseguia,
não tinha a capacidade de
processamento de todos esses testes ao mesmo tempo.
Então, ou seja, o produto não chegava na ponta por causa de uma ausência de serviços e a
inovação não conseguia se
transformar, não conseguia gerar valor para a sociedade. Então o quê que foi preciso? O que foi
necessário? Foi
necessário estimular a capacidade, a criação de capacidade de processamento de testes em outras
regiões brasileiras. A
gente pode verificar essa característica sistêmica também no caso da vacina para COVID 19. Em
primeiro lugar, os países
tiveram que subsidiar de forma significativa o processo de desenvolvimento das vacinas no setor
privado, garantindo a
compra de vacinas mesmo antes que elas fossem aprovadas em todas as etapas regulatórias. E por
que isso aconteceu? Por
causa daquela grande incerteza que existe na produção de vacinas, na aprovação das vacinas,
mesmo as vacinas na fase 3,
não tem garantia de que realmente elas vão conseguir se transformar em produtos e vão conseguir
ter aprovação
regulatória. Portanto, as empresas evitam ao máximo começar uma produção em larga escala das
vacinas antes de ter a sua
aprovação. Nesse caso da pandemia, o que a gente precisa?
A gente precisa acelerar ao máximo esse processo de produção de vacinas, o que os países fizeram
foi, ao garantir a
compra das vacinas mesmo antes delas estarem aprovadas, elas passaram a compartilhar boa parte
dessa incerteza, boa
parte desse risco do projeto de inovação com o setor privado. Então, como o setor público
garantiu a compra de vacinas,
o setor privado pôde começar a escalonar a produção de vacinas, desde muito antes do que seria
normalmente num caso
normal. Porém, como a gente mencionou, para a sociedade não basta ter uma vacina aprovada,
efetiva e segura. Para a
sociedade, a vacina só vai se transformar em valor quando ela efetivamente chegar na população e
garantir uma cobertura
vacinal para essa população, garantir a imunização dessa população e isso envolve uma série de
outras atividades que
também precisam ser pensadas nesse projeto de inovação. Por exemplo, o governo, o sistema
público precisa pensar desde o
início como vai ser a forma de distribuição e de armazenamento dessas vacinas, se a vacina
desenvolvida por segura,
eficaz, for aprovada ,mas ela tiver uma característica de armazenamento muito complicada, muito
complexa, por exemplo,
utilização de redes de frio muito complexas, pode ser que a gente não consegue levar essas
vacinas para as áreas mais
remotas do Brasil e a gente não consiga vacinar a população nessas áreas.
Ao mesmo tempo, a gente precisa verificar se todos os insumos que são necessários para que essa
vacina chegue à
população estão disponíveis, como o caso das seringas, a gente precisa se certificar de qual vai
ser o nível de
treinamento necessário para os agentes de saúde aplicarem essa vacina, se a gente precisar de um
treinamento muito
complexo para aplicação dessa vacina, pode ser que ela também não chegue nos lugares mais
remotos, pode ser que ela
também não chegue em toda a população, e por fim, a gente também precisa se certificar que a
gente vai ter acesso a uma
quantidade suficiente de vacinas para vacinar a população. A produção mundial de vacinas é
limitada e é comandada por um
pequeno grupo de empresas e adicionalmente o Brasil é um país de renda média, portanto, a gente
não está na primeira
fila, a gente não é um dos primeiros da fila para receber a vacina. Portanto, para a gente
garantir o acesso à vacina de
COVID no Brasil, nós vamos depender da nossa capacidade de conseguir produzi-la internamente.
E aí entra outra característica importante para a gente pensar o processo de inovação e saúde no
Brasil, a necessidade
da existência de capacitações produtivas e tecnológicas para a produção da vacina no território
brasileiro. O Brasil só
será capaz de produzir as vacinas para a COVID 19 que se mostrem seguras e efetivas, e só vamos
conseguir produzir
vacinas em escalas suficientes para garantir o acesso de todos e todas. Porque continuamente
temos estimulado a
capacidade científica produtiva e tecnológica nos laboratórios públicos nacionais. Atualmente,
toda a produção nacional
de vacinas é realizada por produtores públicos que incentivados pelo programa nacional de
autossuficiência em
imunobiológicos utilizaram estratégias de transferência tecnológica para ampliação dos seus
portfólios de vacina e para
obter capacitação produtiva de vacinas demandadas pelo Programa Nacional de Imunização
Brasileiro. Em especial, aquelas
vacinas na fronteira tecnológica, como vai ser agora o caso da vacina de COVID 19, nesta imagem
nós vemos quais são as
instituições, quais são os laboratórios públicos nacionais que estão realizando esse processo de
transferência e
incorporação tecnológica de vacinas na fronteira tecnológica.
São justamente os laboratórios públicos nacionais que estão envolvidos na produção e na testagem
de vacinas para COVID
19 no Brasil, como a Fiocruz e o Instituto Butantan. Portanto, o que nós vimos na aula de hoje?
Que o processo de
inovação se constitui na aplicação de um conhecimento novo para aquele contexto, para a solução
de problemas concretos e
que gerem valor econômico-social. A gente viu que as principais características do processo de
inovação é que é um
processo incerto, cumulativo e coletivo e essas características levam o processo de inovação a
se tornar um processo
sistêmico e um processo social que reflete o modelo de sociedade em que a gente vive. A gente
viu também, que o processo
de inovação em saúde, ele é diferente porque ele envolve a condição de saúde, ele envolve a vida
das pessoas, portanto a
regulação em saúde é imprescindível, ela não deve ser entendida como uma barreira, mas ela deve
ser entendida como uma
necessidade para que a gente tenha produtos mais seguros e efetivos, ou seja, quando a gente diz
isso, a gente tá
dizendo que a gente não pode trabalhar com produtos menos viáveis em projeto de inovação em
saúde.
A gente precisa se certificar que aquele produto é efetivo e ele não vai trazer mal para saúde
humana. Mas também, uma
outra especificidade da inovação em saúde é que ela só se realiza para a sociedade quando ela
chega na atenção em saúde,
ou seja, o processo de inovação em saúde envolve necessariamente o sistema de saúde. E por fim,
a gente tem aquela
pergunta inicial, como a gente pode estimular a produção de inovações seguras e efetivas e que
ampliem o acesso
universal à saúde no Brasil? Em primeiro lugar, entender as características específicas do
processo de inovação em
saúde, é fundamental para incentivar a sua direção e para garantir que os projetos de inovação
em saúde sejam efetivos e
cheguem à sociedade. Em segundo lugar, nós precisamos estimular o desenvolvimento da capacidade
científica, produtiva e
tecnológica no sistema de inovação brasileiro. Para que a gente possa identificar os problemas
específicos da sociedade
brasileira, quais são os problemas relevantes para a sociedade brasileira, que a gente possa
buscar as soluções para
esses problemas e que a gente seja capaz de desenvolver as soluções desses problemas
internamente, utilizando as nossas
capacidades.
[00:27:40]
[Narradora]
A inovação tem sido o principal tema abordado em nosso módulo, é um processo com aplicação do
conhecimento de forma
inédita na resolução de um problema efetivo e se apresenta como uma ferramenta importantíssima
na atualidade. Na próxima
aula, encerraremos o módulo com uma exposição sobre a necessidade da valorização da saúde como
um vetor de
desenvolvimento. Até lá!
Veja exemplos de interações entre os diferentes subsistemas
• Atenção Primária
A atenção primária apresenta um elevado grau de conexão entre os diferentes subsistemas do
CEIS. É preciso capacidade de conhecimento, tecnologia e inovação para baratear as ações de
saúde, introduzir inovações e gerar conhecimentos que sejam mais acessíveis e muitas vezes
até mais simples. É necessário conectar os agentes de saúde que atendem a população com
sistemas de saúde via aplicativos destinados à área da saúde. Por outro lado, o uso de Big
Data e Inteligência Artificial pode permitir, por exemplo, que decisões importantes sejam
tomadas com base em dados coletados e que a ação pública do SUS ocorra antes de emergências
sanitárias.
• Revolução 4.0
As novas tecnologias digitais de informação e comunicação (conhecidas como Revolução 4.0), em
convergência com as ciências da vida, atingem de forma transversal a saúde. As tecnologias
de comunicação e conectividade passam a fazer parte do processo de desenvolvimento de
vacinas e medicamentos, dos equipamentos e da atenção primária, da vigilância assentada em
inteligência artificial e grandes bases de dados. O SUS não terá sustentabilidade se não
lidar com o contexto nacional e global de transformações científicas e tecnológicas.
• Inovação nos hospitais
Os hospitais são agentes fundamentais para o desenvolvimento de inovações em saúde. Grande
parte dos ensaios clínicos realizados no desenvolvimento de novos medicamentos e
intervenções em saúde são realizados em hospitais. Adicionalmente, a prática clínica é
fundamental tanto para evidenciar efeitos colaterais não observados nos testes clínicos como
para encontrar novos usos para soluções desenvolvidas.
• Plano de expansão da radioterapia no SUS
O plano de expansão da radioterapia no SUS, por meio da centralização das compras dos
equipamentos pelo governo federal, permitiu a instalação de uma fábrica de aceleradores
lineares no território nacional e qualificação de recursos humanos no setor, gerando emprego
de qualidade, renda e desenvolvimento, ao mesmo tempo em que ampliou o acesso.
Do ponto de vista institucional, as múltiplas atividades produtivas do Complexo Econômico-Industrial
da Saúde se organizam por meio de diversas políticas, programas, protocolos e ações cujas decisões,
implícita ou explicitamente, condicionam práticas, serviços e produtos.
• Perspectiva Sistêmica
O conceito de sistema pode ser definido como um “conjunto ou arranjo de componentes relacionados ou
conectados de forma produzir um conjunto orgânico ou uma unidade” (Carlson et al.,2003). As palavras
totalidade e estrutura também são utilizadas para se referir a sistemas. Uma característica
essencial do sistema é que não pode ser reduzido à soma total de seus componentes, dado que é
constituído também pela forma como os componentes são arranjados ou estão relacionados.
A perspectiva do Complexo Econômico-Industrial da Saúde é sistêmica porque considera que
transformações na dinâmica de uma atividade ou subsistema provocam alterações na dinâmica de outras
atividades ou subsistemas do complexo.
A perspectiva sistêmica da saúde deveria ser uma decorrência natural da visão da saúde coletiva, já
que o sistema de saúde não pode ser pensado simplesmente como uma soma dos níveis de atenção à
saúde.
Se o SUS é pensado como sistema, sua base material, de produção de bens, serviços e conhecimentos,
também deve ser analisada de modo sistêmico para captar as interdependências e interações com o
sistema de saúde. Restringir o tema da base produtiva aos “insumos em saúde” significa,
inadvertidamente, assumir uma inaceitável relação em que o “produto” industrial é o “insumo” e a
saúde - ou mesmo os serviços - o seu resultado natural.
Dessa forma, também é necessário um enfoque sistêmico para tratar a base material de produção e
inovação em saúde, levando em conta o papel da política, das instituições, da sociedade e o papel do
Estado para organizar os sistemas de saúde. Restringir o tema da base produtiva apenas à geração de
novos produtos e serviços oriundos do processo de geração de conhecimento em instituições
científicas e tecnológicas significa, implicitamente, entender que a translação do conhecimento
científico e tecnológico para novos produtos e serviços em saúde é neutro e isento de interesses.
A lógica do Complexo Econômico-Industrial da Saúde permite captar a interface entre os sistemas
nacionais de saúde e os sistemas nacionais de inovação. Assim, o Complexo Econômico-Industrial da
Saúde constitui a arena central na qual a tensão entre os interesses do capital e os sociais se
concretizam na saúde.
Ao integrar a base produtiva e de inovação em saúde com a organização dos sistemas de saúde de forma
sistêmica, o Complexo Econômico-Industrial da Saúde torna-se o espaço translacional concreto onde a
geração de conhecimento, o desenvolvimento de inovações em saúde e o processo de incorporação
tecnológica se conectam aos sistemas de saúde, podendo gerar, uma maior concentração e segmentação
do acesso, ou mais desenvolvimento e universalização do acesso.
Espaço translacional do Complexo Econômico-Industrial da
Saúde
Evidências apontam que um Complexo Econômico-Industrial da Saúde fortalecido e soberano é condição
essencial para garantir a sustentabilidade do SUS. A análise da balança comercial do Complexo
Econômico-Industrial da Saúde é uma destas evidências que demonstra que uma base produtiva
enfraquecida cria obstáculos para a sustentabilidade do SUS.
Em 2020, Balança Comercial do Complexo Econômico-Industrial da Saúde mostra que, de 2000 a 2021, o
déficit quadruplicou, saltando de US$ 5 bilhões para US$ 20 bilhões. No mesmo período, o déficit do
subsistema de base química e biotecnológica, da qual fazem parte o setor de fármacos, medicamentos,
vacinas e outros, saltou de US$ 4,6 bilhões para US$ 17,6 bilhões, representando mais de 90% do
déficit de 2021.
Balança Comercial do Complexo Econômico-Industrial da
Saúde
A análise desses dados mostra que a ampliação do acesso à saúde no país ao longo das últimas décadas
se deu de forma crescentemente dependente das importações, sem gerar uma ampliação da capacidade
produtiva e de inovação dentro do país. Em outras palavras, nos tornamos vulneráveis do ponto de
vista da tecnologia em saúde, que é fortemente baseada em conhecimento científico e tecnológico.
Outra evidência da dependência tecnológica pode ser visualizada por meio da análise dos depósitos de
patente no mundo. Os indicadores de patentes refletem o perfil produtivo tecnológico do futuro. Se
as patentes estão concentradas no atual contexto, significa que a concentração e as assimetrias
produtivas e tecnológicas para enfrentar desafios futuros aumentarão, restringindo nossa capacidade
de enfrentar os desafios da saúde no futuro (novos tratamentos para doenças crônicas, novas vacinas
para doenças infecciosas emergentes, novas tecnologias de vigilância sanitária, etc.).
Dados de patentes na área da saúde mostram que apenas dez países concentram 88% das patentes em
saúde, evidenciando a tendência de aumento das assimetrias no âmbito do Complexo
Econômico-Industrial da Saúde e uma fragilidade ainda maior para o futuro.
Para saber mais sobre as assimetrias tecnológicas globais, leia o artigo
Transformações e
assimetrias tecnológicas globais: estratégia de desenvolvimento e desafios
estruturais
para o Sistema Único de Saúde.
Pandemia de COVID-19: os efeitos da dependência nacional de insumos e serviços em
saúde
A pandemia de COVID-19 configura-se, até o momento, como o maior desafio enfrentado pela humanidade
no século XXI. A frase do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, é emblemática para
entendermos como a COVID-19 mostrou vulnerabilidades estruturais que dificultaram o combate à
pandemia no Brasil e no mundo.
“A COVID-19 é como uma radiografia que revelou fraturas no
frágil esqueleto das sociedades que construímos e que por toda parte está trazendo as falácias e
falsidades à luz. A mentira de que o livre mercado pode proporcionar assistência sanitária para
todos;A ficção de que o trabalho de cuidados não remunerado não é trabalho;O engano de que
vivemos em um mundo pós-racista;O mito de que estamos todos no mesmo barco” - António Guterres, Secretário Geral da ONU
O enfrentamento da COVID-19 demonstra como a realização da atenção em saúde depende de
uma base
material que envolve um conjunto de setores:
Os dados coletados nos
diferentes estabelecimentos de
atenção à saúde (incluindo o trabalho dos agentes comunitários de saúde na atenção
básica) são fontes de dados primordiais para que os serviços de vigilância
epidemiológica possam identificar novos focos de emergenciais da doença, envolvendo uma
articulação entre atividades do subsistema de serviços de atenção à saúde e serviços de
informação e conectividade.
Para conter a
transmissão do vírus, foi necessário
ampliar de forma considerável a oferta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e
material de higiene e limpeza.
A confirmação de casos de
COVID-19, por sua vez, depende
da execução de testes por profissionais de saúde (subsistema de serviços), com uso de
testes de diagnóstico (subsistema de base química e tecnológica), processados em
equipamentos laboratoriais (subsistema de base mecânica, eletrônica e de materiais).
Em casos de agravamento
do quadro clínico, os
pacientes infectados com COVID-19 precisaram ser internados em Unidades de Tratamento
Intensivo (subsistema de serviços de atenção à saúde). O tratamento envolve a utilização
de equipamentos de ventilação, medicamentos, insumos hospitalares e muitos outros
produtos desenvolvidos nos demais subsistemas.
Todo esse conjunto de medidas demandam uma elevada capacidade de coordenação do setor público para
articular as diversas necessidades do sistema de saúde, especialmente com o bloqueio das exportações
de bens e produtos essenciais por diversos países, inclusive os mais desenvolvidos, para o combate à
pandemia.
Para PENSAR
A ausência de equipamentos de proteção individual, testes de diagnóstico, ventiladores,
leitos,
kits de intubação, vacinas e outros itens necessários durante a pandemia é um problema
econômico
ou social? Ou os dois?
A dependência produtiva e tecnológica em saúde é uma expressão econômica da vulnerabilidade
estrutural do SUS. A falta/escassez de produtos e tecnologias de saúde no país implica em restrições
à capacidade de garantir o acesso a saúde no país. O mapa abaixo traz mais um exemplo dessa lógica.
O mapa apresenta os países que restringiram a exportação de produtos essenciais para o combate a
pandemia. Como a demanda global por alguns produtos era maior que a oferta global, diversos países
implementaram políticas para direcionar a produção local para o abastecimento interno de sua
população. O outro lado dessa decisão, no entanto, é que os países sem capacidade de produção local
ficaram sem acesso aos mesmos produtos no mercado internacional, criando graves vulnerabilidades em
seus sistemas de saúde. Este é um exemplo do prejuízo causado pela dependência externa de produtos e
serviços em saúde.
Mapa do bloqueio das exportações de bens e produtos essenciais
para o combate à pandemia
A pandemia mostrou que a sustentabilidade e resiliência dos sistemas de saúde estavam intrinsecamente
relacionadas à capacidade de coordenar e mobilizar esforços, especialmente da base produtiva,
tecnológica e de inovação em saúde, demonstrando que:
A fragilidade e a dependência externa do Complexo Econômico-Industrial da
Saúde (CEIS) se impôs como um grande problema de saúde pública para o Brasil, deixando
clara a interdependência entre as dimensões econômica e social do desenvolvimento.
A capacidade de mobilizar a base material da saúde, que possui alta
complexidade e envolve de forma sistêmica diversas indústrias e serviços, é fundamental
para a garantia do direito à vida no país.
É preciso que as políticas de saúde articulem a
capacidade tecnológica, de inovação e produção com o compromisso com o acesso universal,
sem deixar ninguém para trás.
A Fiocruz e o Complexo Econômico-Industrial da Saúde na
pandemia
O enfrentamento a pandemia de COVID-19 no Brasil contou com a atuação decisiva de
instituições públicas de ciência e tecnologia, em particular a Fiocruz, o Instituto Butantan
e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi feito um processo de Encomenda
Tecnológica (ETEC) inovador e de grande relevância para os países em desenvolvimento. O
processo foi considerado a mais rápida transferência de tecnologia de todo ciclo produtivo,
do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) à vacina com produção 100% nacional. Neste sentido,
o Brasil avançou, de modo importante em sua soberania nesta área, incluindo a capacidade
para o desenvolvimento de novas vacinas em uma plataforma de terceira geração.
Em apenas 50 dias, a Fiocruz construiu e colocou em operação a segunda maior UTI do país
dedicada à COVID-19, com 195 leitos, uma estrutura que permanecerá como um legado para o
Sistema Único de Saúde (SUS) na atenção às doenças infecciosas. O primeiro teste molecular
RT-PCR entregue pela Fiocruz ao Ministério da Saúde ocorreu em março de 2020, com um
intervalo de apenas 8 dias após o primeiro caso de coronavírus detectado no País. A Fiocruz
produziu mais de 21 milhões de kits e realizou mais de 9,7 milhões de diagnósticos RT-PCR, o
que corresponde a 33% de todos os testes PCR realizados pela rede pública de laboratórios em
território nacional.
A pandemia também evidenciou o acerto de uma trajetória de políticas públicas inovadoras, amparadas
por um marco regulatório que permitiu o fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde no
passado recente.
O Brasil só foi capaz de produzir as vacinas para COVID-19, em território nacional, porque promoveu
políticas públicas no passado que articularam a capacitação de produção de vacinas em instituições
de ICTs públicas como a Fiocruz e o Butantan, com a gestão ao acesso às vacinas no maior programa de
vacinação pública do mundo, o Programa Nacional de Imunização (PNI) do SUS. Ao mesmo tempo, promoveu
avanços no marco legal da ciência, tecnologia e inovação que sustentavam a realização de políticas
desse tipo.
O Complexo Econômico-Industrial da Saúde e as políticas para o fortalecimento do
SUS
O conceito do Complexo Econômico-Industrial da Saúde possibilita perceber a existência de um ambiente
econômico, político e institucional em saúde que permite caracterizar mercados fortemente
interligados e interdependentes. Portanto, os mercados e atividades que fazem parte do Complexo
Econômico-Industrial da Saúde podem ser coordenados para induzir a geração de inovações em saúde que
satisfaçam as necessidades humanas e gerem desenvolvimento social, econômico e ambiental.
Com base no desenvolvimento desse marco teórico, foi possível desenvolver, ao longo dos anos 2000, um
conjunto de ações que possibilitaram a construção de uma política industrial e de inovação para o
Complexo Econômico-Industrial da Saúde verdadeiramente sistêmica, orientada a atender os interesses
da sociedade.
Entre 2003 e 2015, foi possível construir uma institucionalidade importante para conceber e
implementar políticas de apoio aos setores do Complexo Econômico-Industrial da Saúde.
PARA SABER MAIS
Para saber mais sobre as Políticas de apoio aos setores do Complexo Econômico-
industrial da Saúde, leia o artigo Soberania em saúde para
garantia do acesso
universal: o CEIS na política pública para a sociedade, do livro Saúde é
Desenvolvimento: O Complexo Econômico-Industrial da Saúde como opção estratégica
nacional.
Um dos elementos mais inovadores dessas políticas industriais foi a subordinação da política
industrial e de inovação pelo Ministério da Saúde, permitindo que a política de desenvolvimento
econômico fosse direcionada às necessidades do SUS.
Abordagem Sistêmica para a Política Industrial e de Inovação do
Complexo Econômico-Industrial da Saúde
Através desse desenho inovador, foi possível articular as políticas comerciais de compras públicas,
de financiamento, propriedade intelectual, suporte tecnológico, regulação sanitária e outras para
induzir inovações orientadas ao Acesso Universal no âmbito do SUS.
Um dos exemplos de política pública inovadora no período citado é o das Parcerias para o
Desenvolvimento Produtivo (PDP). As PDPs são parcerias entre instituições públicas e empresas
privadas destinadas a atender a demanda por produtos considerados estratégicos para o SUS. A
centralização de compra pelo poder federal para viabilizar estas parcerias confere ao Estado
brasileiro grande poder de barganha para mitigar a dependência tecnológica de produtos estrangeiros.
A imensa demanda do SUS se converte em um incentivo para a cooperação tecnológica entre a instituição
pública e a empresa privada e adicionalmente, permite uma redução nos preços praticados no mercado.
Entre 2011 e 2016, as PDPs permitiram uma economia de R$ 4,5 bilhões para o Ministério da Saúde.
De acordo com a PDP, o Ministério da Saúde garante uma demanda estável de fornecimento do produto
estratégico aos parceiros da PDP, que pode variar de 25% a 100%. Em contrapartida, o parceiro deve
transferir integralmente a tecnologia para a instituição pública durante o período da PDP.
A transferência de tecnologias para produtores nacionais, por sua vez, permite internalizar
plataformas tecnológicas estratégicas e aumenta as capacitações locais, permitindo a redução da
dependência externa do SUS. Segundo a definição de inovação adotada nos principais manuais
internacionais (Manual de OSLO, Manual de Bogotá), as PDPs podem ser caracterizadas como encomendas
tecnológicas e geram inovações para o contexto nacional.
Modelo de articulação produtiva e tecnológica pautado pelas
necessidades sociais: PDP e Etec
Veja exemplos de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo
• Exemplo 1 - Medicamento Tacrolimo
O Tracolimo é um medicamento imunossupressor de uso contínuo que evita a rejeição
de
órgãos transplantados (fígado ou rim). No Brasil, mais de 30 mil pacientes fazem
uso
do
medicamento. A PDP realizada com o laboratório LIBBS permitiu que o Instituto de
Tecnologia em Fármacos da Fiocruz (Farmanguinhos/Fiocruz) internalizasse a
produção
do
produto. Em 2019, Farmanguinhos garantiu a produção de 90 milhões de doses para
suprir a
falta momentânea do produto no Sistema Único de Saúde (SUS). Adicionalmente, a
PDP
permitiu uma economia de quase R$ 1 bilhão em cinco anos para o setor público.
• Exemplo 2 - Vacina COVISHIELD
O Brasil foi capaz de produzir vacinas para a COVID-19 porque a Fiocruz e o Butantan
desenvolveram ao longo de sua história a capacidade tecnológica para absorver
tecnologia
e para construir processos de gestão que possibilitaram parcerias com o setor
privado.
Destaca-se também o ambiente de segurança jurídica conquistada a partir da
promulgação
do marco legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, que viabilizou a aplicação de
instrumentos capazes de garantir a compra pública de risco tecnológico como o
realizado
na encomenda tecnológica (ETEC) da vacina Oxford - Astrazeneca, posteriormente
registrada como produto nacional pela Fiocruz, como consequência do processo de
transferência de tecnologia.
VÍDEO: Gestão da inovação em saúde no
contexto do novo marco regulatório de CT&I
Para compreender os avanços no marco regulatório de ciência, tecnologia e inovação que deram
suporte às políticas públicas discutidas, assista à videoaula da professora Karla
Montenegro.
Transcrição do vídeo: Gestão da inovação em saúde no contexto do novo marco regulatório de CT&I.
[00:00:01]
[Narradora]
Saber comum, uma iniciativa conjunta de Educação a Distância e divulgação Científica de instituições públicas de ensino
superior e pesquisa do Rio de Janeiro. O novo marco regulatório de ciência, tecnologia e inovação, trouxe inovação para
a ordem do dia e estabeleceu a necessidade de um Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação articulado e
cooperativo. Esse marco foi fundamental para o fortalecimento da articulação entre Estado e instituições de pesquisas
públicas e privadas.
Na aula de hoje, a professora Karla Montenegro da Fundação Oswaldo Cruz, vai trazer a trajetória das transformações e a
gradual criação de dispositivos constitucionais para mudanças que contemplem a Inovação em Ciência e Saúde.
[00:01:00]
Saúde e Ciência em tempos de pandemia.
Na aula de hoje: gestão da inovação em saúde no contexto do novo marco regulatório de ciência, tecnologia e inovação.
[00:01:14]
[Mulher 1: Karla Montenegro]
Inovação é a introdução de novidade ou de um aperfeiçoamento no ambiente produtivo e social que resulte em novos
produtos, novos serviços ou novos processos para a sociedade.
A experiência de países líderes, tanto no ranking de inovação, quanto nos rankings de qualidade de vida e de bem-estar
de suas populações, mostra que as interações entre as universidades, os institutos de pesquisa, as empresas e os
governos, são fundamentais para o desenvolvimento de tecnologias voltadas para suprir a necessidade da sociedade e a
sustentabilidade do meio ambiente.
No Brasil, são muitos os gargalos a serem enfrentados para dar um salto de qualidade nos indicadores econômicos e
sociais, um deles é a incipiente interação entre os entes públicos e privados, o número de doutores que trabalham em
institutos públicos de pesquisa e em universidades, é superior ao número de doutores que trabalham em empresas.
Dessa forma, grande parte do conhecimento novo gerado através de pesquisas científicas e dos desenvolvimentos
tecnológicos, ficam acumulados no que chamamos de academia, tais conhecimentos podem ter ou não uma associação direta
com as necessidades da sociedade. Mas para se transformarem efetivamente em inovação, eles precisam ser testados com um
olhar de mercado através das empresas, a fim de garantir que serão incorporados no dia a dia e que para se transformem
em inovação.
Ao mesmo tempo, as empresas precisam ter acesso não só ao "know-how" dos cientistas, mas também a infraestrutura
instalada na academia, já que nunca terão todos os especialistas dentro da empresa e nunca contarão com todos os
equipamentos que precisam para realizar as inovações.
No setor saúde, esta lógica de interação público-privada, é particularmente muito importante devido à natureza complexa
dos seus desenvolvimentos, os produtos e serviços da área da saúde eles são fortemente baseados em ciência, eles demoram
muito para serem desenvolvidos, há muito risco tecnológico envolvido e o financiamento é alto.
Apesar dos muitos esforços na modernização do estado para melhorar esse cenário, e apesar também, da promulgação da Lei
de Inovação de 2004 e de seu Decreto de 2005, na prática, sérios problemas ainda persistiram, entraves de interpretação
da Lei por parte das procuradorias e dos órgãos de controle, incompatibilidades com outras leis vigentes e a falta de
clareza sobre o papel do pesquisador público na inovação.
Tudo isso gerava um ambiente de segurança que inviabilizava as parcerias. Diante desse cenário, cerca de 60 instituições
públicas e privadas, a partir da forte indução nos encaminhamentos da 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia,
iniciaram uma longa jornada de debates, consultas, revisões bibliográficas e normativas, e um trabalho coletivo que
envolveu tanto pesquisadores, quanto gestores do setor público, do setor privado, das esferas municipais, estaduais e
Federais, juristas e os parlamentares, e o resultado final foi uma inovação organizacional que alterou, não só a
Constituição Brasileira, como também outras nove leis.
Instituições como a Academia Brasileira de Ciências ,o Fórum Nacional dos Gestores, de Inovação e de Transferência de
Tecnologia, a Fundação Oswaldo Cruz, a Embrapa, diversas Universidades, Associações de Empresas, Instituições de Ensino
Superior, o comando da Marinha, do Exército, da Aeronáutica, Federações da Indústria, Ministérios, principalmente o
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e as Fundações de Apoio, participaram ativamente da formulação dessa
inovação que já está com seu impacto visto.
Porque nós podemos perceber, que agora com COVID 19, um instrumento que foi selecionado para atuar, para trazer para o
Brasil a vacina contra a COVID 19, foi a Encomenda Tecnológica , a ETEC, o impacto do redesenho do arcabouço
jurídico-normativo para a promoção da inovação, já pode ser sentido pela sociedade. Afinal, a encomenda tecnológica,
ETEC, só foi possível em função do amadurecimento legal e da clareza da regulamentação, trazida a partir do novo Marco
da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Falando especificamente deste novo ambiente de segurança jurídica para a promoção da inovação no Brasil, o novo Marco da
Ciência, Tecnologia e Inovação, é composto pela Emenda Constitucional 85 de 2015, pela Lei 13243/2016 e pelo Decreto
9283/2018. A emenda 85/2015 inseriu na Constituição Brasileira, pela primeira vez, a palavra inovação, no capítulo que
trata da ciência e tecnologia e, também, no capítulo que trata do Sistema Único de Saúde. A emenda alterou vários
dispositivos constitucionais, para deixar claro a pertinência da articulação entre o Estado e as instituições e empresas
de pesquisa públicas e privadas. Além disso, ampliou também o leque das entidades que podem receber recursos do setor
público, para pesquisas com vistas à inovação.
A Emenda 85 não deixou dúvidas que o Estado é o promotor e incentivador do desenvolvimento científico-tecnológico da
pesquisa, da capacitação científica e da inovação no país, assim como ratificou que o mercado interno é parte integrante
no nosso patrimônio nacional e deve ser incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o
bem-estar da população, e a autonomia tecnológica do país.
Atenção, a importância da interação entre os entes públicos e privados e o estímulo a ambientes promotores de inovação
está amparado na nossa Constituição Federal. Já a Lei 13243/2016 promoveu a alteração em 9 outras leis, a lei de
inovação, o estatuto do estrangeiro, a lei de licitações, a lei do regime diferenciado de contratações públicas, a lei
da contratação temporária de excepcional interesse público, a lei das fundações de apoio, a lei de importação de bens e
insumos para pesquisa, a lei de isenção ou redução do imposto de importação e adicional de frete para a renovação da
marinha mercante, a lei do plano de carreira do magistério superior.
Juntamente ao decreto 9283/2018, um novo marco da ciência, tecnologia e inovação configurou-se como um orientador
nacional das ações de gestão da inovação no país, com vistas a formar as bases de um Sistema Nacional de Ciência
Tecnologia e Inovação, que seja realmente articulado e cooperativo.
Vamos falar agora dos principais avanços que o novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação trouxe para as ICTS e para
as empresas. O primeiro grande avanço foi a clareza sobre a instância responsável pela gestão da política de inovação
nas ICTS, é o Núcleo de Inovação Tecnológica, o NIT. Duas competências são, zelar pela política de inovação, já que para
usufruir das oportunidades advindas do novo Marco da Ciência e Tecnologia, é necessário que a instituição pública ou
particular, ela tenha a política de inovação institucional publicada e regulamentada. Segunda competência é avaliar e
classificar os resultados das atividades e dos projetos de pesquisa, de forma monitorar constantemente projetos com
potencial inovador. A terceira competência é avaliar a solicitação de inventor independente, muitas vezes um inventor
independente ele chega até a instituição oferece uma inovação.
É importante avaliar com cuidado esse tipo de oferecimento, porque muitas vezes pode provocar uma sinergia entre
projetos e uma boa oportunidade de gerar inovação. A quarta competência é opinar pela conveniência da proteção das
criações desenvolvidas na instituição e aqui eu faço alguns destaques. O primeiro é a importância da utilização
estratégica do sistema de propriedade industrial, o NIT deve ficar atento para fazer um balanceamento entre a proteção
das criações intelectuais e, também, pensando no acesso às tecnologias.
Na área da saúde é muito importante observar que as tecnologias desenvolvidas são fáceis de serem copiadas, daí a
importância da proteção intelectual. É importante frisar também que a inovação aberta, quando tem várias partes
colaborando para que saia um produto ou um serviço, ou um processo, ela não prescinde a proteção intelectual, ou seja,
cada parte deve ter a sua proteção da sua tecnologia e quando ele desenvolve em conjunto, é possível também gerar
proteções em co-desenvolvimento.
O NIT precisa ficar atento para todas essas oportunidades. É importante destacar que os pesquisadores inovadores,
ganhadores de prêmio Nobel, antes de disponibilizar as suas invenções para o mundo, eles depositam família de patentes
para somente depois divulgar para a humanidade. Tornar-se titular de uma patente faz ter direito de utilizar o
conhecimento da forma mais adequada, inclusive cedendo gratuitamente, se essa for a política da instituição, o que não é
possível, é deixar o conhecimento para terceiros se apropriarem e darem o uso indevido ou pior, que você perca uma boa
oportunidade de interação para inovação.
Outra competência é o desenvolvimento de estudos de prospecção tecnológica e de inteligência competitiva, tanto para
aferir a patenteabilidade de uma invenção, quanto para estudar as tendências de futuro para tomada de decisão
estratégica, transformar a informação tecnológica em conhecimento para a estratégia de decisões de pesquisa inovadora
faz parte das ações do NIT.
Outra competência é a divulgação das criações desenvolvidas na instituição, é papel do NIT organizar e manter atualizada
às vitrines tecnológicas, os portfólios de inovação e tomar bastante cuidado com o tipo de escrita e a linguagem
adequada para promover a oferta de tecnologia da maneira mais adequada. Desenvolver estudos e estratégias para
transferência da inovação e acompanhar os contratos de parceria, muitas vezes é grande parte das ICTS, elas desenvolvem
tecnologias com grau de amadurecimento ainda muito baixo, e não encontram um caminho dentro da própria instituição para
que a inovação se desenvolva.
Dessa forma, é importante transferir essa tecnologia para uma empresa ou para outra instituição, isso é o que nós
chamamos de transferência de tecnologia, mas também pode ocorrer o contrário, a transferência de tecnologia ser obtida
através da instituição. Como já aconteceu com as parcerias para o desenvolvimento produtivo, no qual, muitos produtos
foram incorporados ao Sistema Único de Saúde através da transferência de tecnologia de outras empresas diretamente para
a instituição. Lembre-se, o NIT, ele é um facilitador, ele deve ser acessível, ingerir de forma descomplicada as
oportunidades advindas do novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação. É uma área meio, que dá suporte especializado ao
inovador, nunca deve ser uma área burocrática e sem proatividade, deve levar o espírito da lei para os processos da
instituição, propondo soluções ágeis, descomplicando a vida do pesquisador e promovendo parcerias virtuosas.
Saindo agora da área de gestão e indo mais para a área de pesquisa, vamos saber quais são as flexibilidades para
execução de projetos que o novo marco nos proporcionou, a primeira grande conquista foi a dispensa de licitação para
contratação ou compra de produto ou insumo em pesquisa e desenvolvimento. A Lei substituiu a lógica do melhor preço,
pela lógica da melhor qualidade, a segunda é a possibilidade de dar exclusividade para parceiros de pesquisa na
exploração da propriedade intelectual gerada, sem as amarras do edital de licitação que era a lógica da Lei anterior.
Com o advento do extrato tecnológico, a transparência foi garantida e o parceiro desenvolvedor não é desestimulado a
continuar inovando. A terceira é o compartilhamento e a permissão do uso de Laboratórios da ICT com ou sem contrapartida
financeira que estimula a troca de saberes e gera muitos conhecimentos. A quarta é a garantia do remanejamento ou a
transferência de recursos de categoria de uma programação para outra, em projetos de P&D, para que o recurso seja
utilizado de forma racional e que beneficie o resultado do projeto, antes não era possível remanejar entre as
rubricas, hoje em dia isso é possível.
A quinta é a simplificação na forma de prestar contas dos projetos de ciência, tecnologia e inovação. O pesquisador hoje
em dia pode ter foco nos resultados, ele não precisa ficar pensando simplesmente em atividades meio. A sexta é a nova
possibilidade de a ICT participar minoritariamente do capital social de empresa, o que é um grande estímulo à criação
das spin-offs acadêmicas, geradas com um conhecimento advindo da instituição.
O pesquisador também pode obter licença e ser sócio da empresa criada. Mas o que são as spin-offs? São empresas criadas
para explorar comercialmente patentes ou outra forma de apropriação do conhecimento gerado pela ICT. Geralmente a
spin-off é formada por pesquisadores e os seus alunos. As spin-offs popularizaram-se com surgimento do Vale do Silício e
da Rota 128, nos entornos de universidades de prestígio como Stanford e o MIT.
E as startups? As startups são empresas jovens que se iniciam a partir de uma proposta inovadora, não possuem um vínculo
necessariamente com a ICT, mas elas podem estar abrigadas em algum ambiente a promotor de inovação dentro das ICTS,
apesar de muito abrangente, um novo marco da CTI ainda não definiu e detalhou a atuação dessas empresas, por isso será
lançado em breve o marco legal das startups, uma normativa específica para estimular este formato de empresa inovadora.
O novo marco apresentou também mecanismos de contratação tecnológica, que foram detalhadamente regulamentados, inclusive
com as formas de remuneração. São mais de dez instrumentos apresentados na lei, mas agora hoje vamos destacar um, que é
a ferramenta de contratação e encomenda tecnológica, que consiste na contratação de atividades de pesquisa e
desenvolvimento em inovação, que envolva o risco tecnológico.
Para a solução de um problema técnico ou obtenção de um produto, um serviço, ou um processo que ainda não exista no
mercado, por esse dispositivo aceita-se a possibilidade de insucesso no desenvolvimento da tecnologia. Com base no
interesse público, contrata-se o esforço de pesquisa e de desenvolvimento, não contrata se o resultado em si. Assume-se
o risco tecnológico, empresarial para gerar um ganho em inovação, nos contratos do tipo Etec.
É sempre desejável que a transferência de tecnologia venha com uma fase final de todo o processo para gerar a completa
apropriação, não só do novo produto, mas do saber fazer para a autossuficiência. Esse foi o formato assinado para a
obtenção da tecnologia da vacina contra a COVID 19, com a Universidade de Oxford, a empresa Astrazeneca e a Fundação
Oswaldo Cruz, a Fiocruz.
Agora vamos falar dos ambientes favoráveis de inovação. Os ambientes para a inovação não são restritos ao território
nacional, a ICT está autorizada a exercer suas atividades relacionadas com ciência, tecnologia e inovação também no
exterior. No Brasil, o novo Marco da CTI incentiva a criação de parques, polos, empresas, incubadoras, aceleradoras que
podem usar a Fundação de Apoio para gerir administrativamente e financeiramente os seus projetos de ciência, tecnologia
e inovação. Mas o que são essas instâncias?
O marco legal ele traz essas definições, os ecossistemas de inovação são espaços que potencializam o desenvolvimento da
sociedade do conhecimento e compreendem entre outros parques científicos tecnológicos, cidades inteligentes, distritos
de inovação e polos tecnológicos. Os mecanismos de geração de empreendimentos eles compreendem incubadoras e
aceleradoras de negócios, espaços abertos de trabalho, cooperativo coworking e laboratório de prototipagem.
As incubadoras são as estruturas que prestam apoio logístico, gerencial e tecnológico ao empreendedorismo inovador
intensivo em conhecimento, com o objetivo de facilitar a criação e o desenvolvimento de empresas que tenham como
diferencial a realização de atividades voltadas para inovação, que são as spin-offs e as startups.
As aceleradores são estruturas focadas em mentoria, que pensam as empresas inovadoras que tem mais potencial de
crescimento. Os parques tecnológicos são os complexos de desenvolvimento empresarial, promotores da cultura da inovação,
da competitividade industrial, da capacitação empresarial e da promoção de sinergias em atividades de pesquisa
científica e de desenvolvimento tecnológico. Já os polos tecnológicos são ambientes industriais, caracterizados pela
presença dominante de micro e pequenas empresas em áreas correlatas à atuação em determinado espaço geográfico, com
vínculos
operacionais com a ICT.
As ICTS na área da saúde geram resultados em inovação de variadas naturezas aplicáveis ao Sistema Único de Saúde, veja
alguns exemplos. No hospital, inovações para a gestão e para toda a jornada do paciente, desde que ele entra no hospital
até o pós-hospitalar. Na gestão dos serviços de saúde, inovações com a utilização de inteligência de dados, utilizando o
Big Data, Inteligência Artificial, aprendizado de máquina incorporado a novos aplicativos e sistemas de saúde, e os
novos processos e protocolos capazes de otimizar e agilizar os atendimentos. Na integralidade da saúde, novos programas
que estimulem o bem-estar físico e emocional dos pacientes. Na pesquisa para geração de novos conhecimentos, novas
plataformas tecnológicas para diversos produtos e serviços, prestação de serviços tecnológicos especializados.
Desenvolvimento de novos materiais em saúde, tanto tecnológicos, como socioeducacionais, como, por exemplo, jogos e
aplicativos educativos. O desenvolvimento de novas vacinas, novos biofármacos, novos fármacos e novos equipamentos para
a saúde.
Lembre-se, a inovação ela não precisa ser disruptiva e radical, a inovação pode ser simples, ela não precisa ser também
nova para todo mundo, ela precisa alterar a nossa realidade, ela precisa ser útil para a sociedade, para todas essas
possibilidades, a figura do empreendedor científico é fundamental.
O economista austríaco Joseph Schumpeter, no seu clássico livro "Capitalismo, Socialismo e Democracia", de 1942, já
deixou bem clara a relação entre o desenvolvimento econômico e a inovação, e destacou a figura do empreendedor como
fundamental, para fazer acontecer a destruição criativa da inovação, que move o desenvolvimento do mundo. E você
gostaria de inovar para o Sistema Único de Saúde? Seja um empreendedor naquilo que você faz.
[00:22:44]
Narradora:
Na próxima aula, daremos continuidade ao nosso módulo sobre o complexo econômico e industrial e inovação em saúde,
trazendo uma aula sobre a necessidade de um enfoque sistêmico em inovação de saúde durante a atual crise do COVID 19.
Até lá!
O Complexo Econômico-Industrial da Saúde e a sustentabilidade do SUS diante da 4ª
Revolução Tecnológica
O Brasil está inserido em um contexto nacional e global de profundas transformações sociais,
tecnológicas e econômicas que terão impacto decisivo para os sistemas de bem-estar social e, em
particular, para a área da saúde e para o SUS.
O Brasil deve vivenciar nos próximos anos profundas mudanças demográficas e epidemiológicas. O
predomínio de doenças crônicas deve se manter, mas as doenças transmissíveis devem continuar a ter
uma presença central nas condições de saúde, especialmente frente ao quadro das transformações
ambientais. Adicionalmente, mantidas as tendências atuais, a violência e outras causas externas
continuarão relevantes, pressionando nosso sistema de saúde. Portanto, o cenário da saúde no século
XXI deve se caracterizar por uma crescente complexidade epidemiológica.
Ao mesmo tempo, podemos observar uma escalada vertiginosa da interconectividade com a quarta
revolução tecnológica. O avanço da 4ª revolução tecnológica e de suas tecnologias pervasivas tem na
saúde um espaço privilegiado de desenvolvimento e de interação, trazendo enormes ameaças e
potencialidades para o cuidado e o acesso universal.
Mantendo a perspectiva do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, de visualizar a inovação como um
processo de transformação política, econômica e social, será essencial compreender como as
transformações tecnológicas em curso impactam a produção, inovação e o consumo em saúde,
condicionando o cuidado e o acesso universal.
O progresso tecnológico tem potencial para aprimorar de forma expressiva a qualidade de vida. É
possível construirmos uma vigilância epidemiológica mais inteligente, desenvolver tecnologias
digitais para ampliar as ferramentas dos profissionais de saúde da atenção primária, aprimorar a
atenção de alta complexidade com uso da genômica, entre outras possibilidades. Entretanto, a 4ª
revolução tecnológica carrega o risco da hipertecnificação e de ampliar a segmentação do cuidado à
saúde, reduzindo o espaço para uma visão coletiva da saúde baseada na solidariedade.
A ciência, a tecnologia e a inovação não são neutras. Segundo a perspectiva do Complexo
Econômico-Industrial da Saúde, a direção da inovação é dada pelo padrão de desenvolvimento adotado
pela sociedade. Portanto, o progresso tecnológico pode gerar benefícios, mas também aumentar a
fragmentação, a exclusão e a desigualdade, dependendo da forma como as tecnologias forem
incorporadas.
Impactos da 4ª revolução tecnológica sobre o Complexo
Econômico-Industrial da Saúde
Outros exemplos da quarta revolução tecnológica em saúde são:
Inteligência Artificial (IA) - para auxiliar o diagnóstico precoce de
doenças
Robotização - para maior precisão em cirurgias mediadas por robô
Telecirurgia (Robotização + Telemedicina) - para procedimentos realizados
por meio de robôs e com participação de profissionais fisicamente distantes
Adesivos e aplicativos aderentes ou acoplados ao corpo (“tecnologia
vestível”) - para várias medições e monitoramentos em saúde
PARA SABER MAIS: Veja um exemplo de
tecnologia vestível
Os aparelhos de medição de glicose, geralmente, são desenvolvidos por empresas
farmacêuticas, combinando conhecimentos de base química e biotecnológica com os de
base
mecânica, eletrônica e de materiais.
As últimas versões têm incorporado sensores para leitura não invasiva, monitoramento
constante e transmissão dos dados remotamente para equipes de saúde.
A 4ª revolução tecnológica torna as fronteiras entre os campos do conhecimento, entre o mundo
biológico e o material, e entre os setores relacionados à produção de bens e serviços para a saúde
cada vez menos visíveis, provocando uma radicalização do caráter sistêmico da saúde. Adicionalmente,
o desenvolvimento de inovações se torna cada vez mais complexo e acelerado, levando ao aumento da
distância tecnológica e da base de conhecimento entre os países.
As transformações em andamento possuem o potencial de transformar radicalmente a saúde, tanto em sua
base social como produtiva, revelando novos desafios para a discussão da relação entre
desenvolvimento e saúde no contexto capitalista. A compreensão desses fenômenos é vital para
pensarmos uma nova geração de políticas públicas que sejam sistêmicas, estruturantes, eficazes e
eficientes que aproveitem as possibilidades dos novos paradigmas para promover a sustentabilidade do
SUS. Nesse esforço, é vital a aproximação dos distintos campos dos saberes.
“Relegar a direção das transformações [da 4ª Revolução Tecnológica] apenas a
uma lógica mercantil
fragmentada, significa, de um lado, perder efetividade nas políticas de desenvolvimento
econômico e
tecnológico em saúde e, de outro lado, perpetuar apenas um padrão compensatório - quando
possível -
de políticas públicas em saúde, que reforça a segmentação da sociedade”
PARA SABER MAIS: Sistemas de
reconhecimento de imagens e a reprodução de assimetrias entre países
Estudo do laboratório de inovação do Facebook revelou que os algoritmos de reconhecimento de
imagens têm mais dificuldade em interpretar itens de consumo comuns dos países de baixa
renda. O percentual de erro aumenta conforme a renda das famílias diminui. O estudo aponta
que a maioria dos desenvolvedores desses algoritmos são brancos, com elevado nível
educacional e oriundos de países de renda alta e que, portanto, os algoritmos apresentam
restrições geográficas e dificuldade para reconhecer diferenças culturais.
O resultado para o reconhecimento de imagens para sabão em barra, mais comuns nos países em
desenvolvimento, e de sabão líquido, comum em países de renda alta é um exemplo. Enquanto a
maior parte dos algoritmos foi capaz de reconhecer com sucesso o sabão líquido, nenhum foi
capaz de reconhecer o sabão em barra.
O exemplo simples mostra o risco da adoção indiscriminada de tecnologias desenvolvidas fora
do contexto de sua aplicação e aponta para necessidade de construção de base sólida de
conhecimento em tecnologias 4.0 no país para utilização de tecnologias voltadas para
realidade e necessidade da população.
O que é de fato: sabão / UK (renda per capita 1890 $/mês)
Sistemas de reconhecimento de imagem e o que eles
identificaram
Tencent: comida, prato, matéria, fast food,
nutrição
Fortalecer o SUS e o Complexo Econômico-Industrial da Saúde como saída para a
crise sanitária, social, econômica e ambiental
“O Futuro não nos faz. Nós é que nos refazemos na luta
para fazê-lo”
Paulo Freire
VÍDEO: Saúde como vetor para sair da
crise
Para compreender o complexo Econômico-Industrial da Saúde como ser um vetor importante para
enfrentamento da crise social, econômica e ambiental, veja vídeoaula Saúde como vetor para
sair da crise.
Compreender a saúde como desenvolvimento nos permite visualizar que o Complexo Econômico-Industrial
da Saúde é um sistema econômico, produtivo e tecnológico, com elevado dinamismo e alto impacto
social. A saúde representa 9% do produto interno bruto (PIB); 9% dos empregos formais; 1/3 do
esforço de pesquisa do País; e é uma das principais áreas de inovação tecnológica.
Através do estudo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde foi possível compreender que uma base de
ciência, tecnologia, inovação e produção em saúde sólida, capaz de identificar e responder às
demandas da sociedade brasileira é fundamental para garantir a sustentabilidade do direito ao acesso
universal, equânime e integral à saúde pelo SUS.
De forma inversa, podemos pensar um padrão de desenvolvimento com objetivo de garantir a
concretização do acesso universal, equânime e integral à saúde pelo SUS, por meio de políticas que
promovam o fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde.
Adotar um projeto de desenvolvimento que vincule as políticas públicas na área da saúde com o
fortalecimento da base de geração de conhecimento, produção e inovação em saúde, base do Complexo
Econômico-Industrial da Saúde, se mostra uma saída concreta para gerarmos renda e empregos de boa
qualidade com a promoção de mais saúde e qualidade de vida para a população.
A construção de um Estado de Bem-estar no Brasil pode se constituir em uma alavanca para promovermos
um modelo de desenvolvimento que gere saúde, emprego e proteja o meio ambiente. É necessário
desenvolver políticas que relacionem de forma estratégica as questões estruturais do crescimento
econômico para enfrentar as enormes desigualdades e carências do País. Como afirma Gadelha, os
"direitos sociais não
apenas cabem no PIB, mas, ao convertê-los em grandes desafios nacionais, são fontes estruturais de
demanda para o setor produtivo e polo de modernização tecnológica do País".
Você chegou ao final da aula
Nesta aula você viu os seguintes tópicos:
Desenvolvimento é saúde
Complexo Econômico-Industrial da Saúde
Pandemia COVID-19: os efeitos da dependência nacional de insumos e serviços
em saúde
O Complexo Econômico-Industrial da Saúde e as políticas para o
fortalecimento do SUS
Fortalecer o SUS e o Complexo Econômico-Industrial da Saúde como saída para a crise
sanitária,
social, econômica e ambiental
GADELHA, C. A. G.; TEMPORÃO, J. G. Desenvolvimento, Inovação e
Saúde: a perspectiva teórica e política do Complexo
Econômico-Industrial da Saúde. Ciência & Saúde
Coletiva, v. 23, n. 6, p. 1891-902, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/vBqrtdjpbqDjh9ZBTycxyrj/?format=pdf&lang=pt
GADELHA, C. A. G. Completo Econômico Industrial da Saúde: uma oportunidade
estratégica para o desenvolvimento econômico e social do BR. In:
COSTA, G.; POCHMANN, M. (org.). O Estado como parte da
solução: uma análise dos desafios do desenvolvimento
brasileiro. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2020. p. 321-332.
Disponível em: https://fpabramo.org.)br/publicacoes/wp-content/uploads/sites/5/2020/06/Estado-Solu%C3%A7%C3%A3o-web1.pdf