Doença Exacerbada Associada à Vacinação (DEAV)
Uma das preocupações de segurança que deverá ser monitorada após o registro das vacinas Covid‑19 é o risco de que uma infecção pelo SARS-CoV-2 subsequente à vacinação seja agravada através mecanismos imunológicos que amplifiquem a infecção ou desencadeiem uma resposta imune nociva. A preocupação é teórica, por ter sido observada em outras infecções respiratórias e em modelos animais de infecção por coronavírus altamente patogênicos.
A resposta imunológica exacerbada é desencadeada pela falha no controle da infecção e a DEAV se apresenta com sintomas relacionados ao órgão alvo do patógeno. As definições de caso têm o objetivo de identificar casos suspeitos de DEAV.
Até o momento, nenhuma das vacinas Covid‑19 em desenvolvimento mostrou evidências de causar doença exacerbada.
Tipos de síndromes associadas à DEAV
Existem duas síndromes diferentes previamente associadas à DEAV. Uma delas é a exacerbação dependente de anticorpos (ADE - do inglês antibody-dependent enhancement) e a outra é a doença respiratória exacerbada associada à vacina (DREAV).
ADE (antibody-dependent enhancement)
O mecanismo da ADE envolve o aumento da eficiência da entrada do vírus nas células. Isso é mais provável de acontecer quando os anticorpos induzidos pela vacina falham em neutralizar o vírus, devido à baixa concentração, afinidade ou especificidade. A não neutralização do vírus pode causar doença por meio do aumento da replicação viral ou da formação de complexos imunes, que se depositam no tecido e ativam as vias do sistema complemento associadas à inflamação. Respostas predominantemente de células T helper 2 (Th2) também foram associadas a vacinas ineficazes e que levam a exacerbação da doença em caso de infecção subsequente à vacinação.
DREAV (doença respiratória exacerbada associada à vacina)
A DREAV é uma síndrome clínica distinta que já foi descrita em crianças na década de 1960, quando as vacinas de vírus inativados para sarampo e VSR foram testadas. Dois tipos principais de fenômenos imunológicos se correlacionam com DREAV. O primeiro é uma maior proporção de anticorpos de ligação em relação aos anticorpos neutralizantes. Ter uma grande quantidade de anticorpos que se ligam, mas não neutralizam o vírus, em presença de uma carga viral elevada pode resultar na deposição de imunocomplexos e ativação do sistema complementar. Isso foi demonstrado nas vias aéreas de bebês durante o ensaio de uma vacina contra o VSR inativado por formalina em 1966 e contribuiu para a inflamação e obstrução das vias aéreas. Um fenômeno semelhante foi descrito após a infecção pelo vírus do sarampo em macacos Rhesus previamente imunizados com uma vacina de vírus inativado por formol. O outro fenômeno resulta de respostas que acentuam a produção das citocinas interleucina-4 (IL-4), IL-5 e IL-13 com aumento da produção de muco, recrutamento de eosinófilos, hiper-responsividade das vias aéreas e atividade atenuada de células T citolíticas - este tipo de resposta é conhecida como Th2. Esses eventos potencializam a disfunção das vias aéreas e retardam a depuração viral. Portanto, evitar respostas imunes com desvios para Th2 pode ser importante, especialmente em bebês, cujas vias aéreas podem ser facilmente obstruídas.
Detalhes sobre a investigação clínica e laboratorial dos casos suspeitos de DEAV poderão ser consultados no Protocolo de Vigilância Epidemiológica e Sanitária de Eventos Adversos Pós-Vacinação do Ministério da Saúde, quando disponível.
Eventos Adversos de Interesse Especial (EAIE)
A Brighton Collaboration, uma rede internacional de pesquisa em segurança de vacinas, utilizou os seguintes critérios para considerar um evento adverso como sendo de interesse especial para vacinas Covid‑19:
De acordo com esses critérios, a DEAV deve ser considerada como Eventos Adversos de Interesses Especial (EAIE) para vacinas Covid‑19.
Veja a lista de EAIE recomendados para vigilância ativa e vacinas Covid‑19 e respectivos tempos de acompanhamento:
Estes EAIE devem ser monitorados considerando as definições de caso, de acordo as diretrizes do Plano de Monitoramento de Eventos Adversos de Medicamentos e Vacinas Pós-Autorização de Uso Emergencial.
Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação
Para saber mais sobre vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação, consulte o Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação.