Lei 4
Estipula pena para os escravos que cometem crimes. A prisão em troncos era umas das punições aplicadas aos escravos que tentavam fugir.
Módulo 2 | Aula 1
O Brasil foi o último país da América Latina a abolir a escravidão, em 13 de maio de 1888. Mas é importante compreender que, longe de ser um ato de piedade da Princesa Isabel, a Lei Áurea marcou o desdobramento das lutas antiescravocratas, principalmente aquelas travadas pelos próprios escravizados por meio da fuga, da constituição de quilombos, das agitações da senzala, da compra de alforria, o que deu força política para os movimentos abolicionistas, da mobilização na justiça pelo direito à liberdade nos espaços institucionais. Acompanhe na imagem abaixo como esse processo ocorreu nas Américas.
Antes da Lei Áurea houve uma série de leis abolicionistas que visavam uma transição gradual para a abolição da escravatura, atendendo aos interesses das elites brasileiras e uma suposta gradual emancipação das pessoas escravizadas. Porém, um exame mais cuidadoso dessas leis, aponta uma série de contradições e revela que estiveram muito longe de ser uma alternativa à inserção digna da população negra na sociedade.
Navegue pela linha do tempo abaixo e note como as leis abolicionistas foram determinantes para a percepção social de negras e negros como cidadãos de segunda categoria, gerando seu imobilismo social e inserção precária no mercado de trabalho brasileiro.
Declara livre todos os escravos vindos de fora do império.
Estipula pena para os escravos que cometem crimes. A prisão em troncos era umas das punições aplicadas aos escravos que tentavam fugir.
Proíbe o tráfico negreiro. A imagem ao lado mostra africanos em porão de navio negreiro transportados da África para o Brasil.
Define punição para quem fazia tráfico de escravos.
Considera escravos como objeto de hipoteca e penhor.
Lei do Ventre Livre.
A imagem ao lado mostra uma cena da família brasileira no século 19 acompanhada dos escravos e de seus filhos.
Lei dos sexagenários
Lei Áurea
A imagem ao lado mostra uma multidão em frente ao Paço Imperial (Rio de Janeiro) após abolição da escravatura.
Ao longo das décadas seguintes à abolição, as elites identificadas como brancas, se serviram da ideologia do racismo retratando e congelando a imagem da população negra como inferior através dos meios de comunicação controlados por elas (jornais, telejornais, novelas, propagandas, livros didáticos etc.) e a das pessoas brancas como patrões, ricos, estudados, viajados, “gente de cultura, refinada e bom gosto”.
Assim, estabelecendo no imaginário população brasileira, mais uma vez, as péssimas condições de vida e a discriminação sofrida pelos negros e mulheres negras como uma herança natural “daqueles que descenderam de escravos” (escravo entendido por eles como condição inata), “que um dia quem sabe, isso pudesse se resolver lentamente com o esforço do negro em mostrar sua capacidade e seu valor”.
O documentário “A negação do Brasil” (2000), dirigido por Joel Zito Araújo, retrata muito bem como a telenovela brasileira, durante décadas, reforçou o imaginário racial estereotipado em que negros serviam e brancos ocupavam lugar de prestígio de poder social. Leia a resenha de Flávio Gonçalves dos Santos sobre esse documentário e conheça um pouco mais sobre essa realidade:
Essa ideia foi propagada como se não existissem barreiras acumulativas, alimentadas por essas mesmas “elites”, inclusive na tentativa de convencer os próprios negros a se conformarem com o desemprego, o trabalho informal, as moradias em morros, favelas e em áreas rurais longínquas, a vigilância permanente dos aparelhos de Estado sobre seus corpos, seja por meio da segurança pública e até mesmo pelas instituições de saúde pública.
Foram erguidas verdadeiras muralhas que impediam os negros de acessarem em pé de igualdade e com dignidade o trabalho livre, melhorando as condições de vida. Antes, os negros eram a principal força de trabalho que movia a economia, agora eram escanteados no mundo do trabalho, desempenhando na maioria das vezes trabalhos que passavam longe do processo de industrialização.
Ou seja, na passagem do trabalho escravo para o trabalho livre, o Estado brasileiro não reparou monetariamente os séculos de trabalhos gratuitos forçados ofertados ao país e nem mesmo elevou a situação da população negra e seus descendentes ao nível da expectativa dos direitos sociais.
Como consequência disso, índices sociodemográficos negativos, principalmente quando comparados aos de brancos, vieram se reproduzindo geração após geração, modelando o perfil de saúde-adoecimento dessa população, uma vez que saúde, em seu conceito ampliado, está imbricada com todos os setores da vida social, como educação, lazer, emprego, moradia e cultura, sendo atravessados pelas formas de vivenciar gênero, raça e classe.
Então, para que possamos nos aprofundar um pouco mais nas consequências da desigualdade racial no Brasil, a seguir vamos refletir sobre o imbricamento indissociável das categorias, gênero, raça e classe.