A tensão sobre as questões raciais tem estado cada vez mais presente nas diversas situações e relações sociais em que estamos inseridos. Partindo do entendimento de que o racismo pode e deve ser enfrentado e desconstruído, emerge o conceito de “letramento racial”. Mas qual seria a utilidade disso para a prática de trabalhadores da saúde?

O letramento racial vai além da compreensão teórica do racismo, pois aborda posicionamentos e ações firmes que permitem a identificação, a desnaturalização e o enfrentamento de suas manifestações em contextos assistenciais e de gestão da saúde. O trabalhador da saúde que desenvolve letramento racial poderá reconhecer pensamentos e práticas racistas naturalizadas, analisar criticamente as políticas de saúde e contribuir com o desenvolvimento de estratégias para promover a equidade racial.

O letramento racial, portanto, não diz respeito a acumular informações sobre raça e racismo e, a partir disso, obter um certificado de sujeito antirracista que nos blinda de qualquer questionamento. Há uma dimensão política em se letrar racialmente. Alguns conhecimentos só fazem sentido e só podem ser assimilados se aqueles que os aprendem estiverem comprometidos com uma autotransformação ético-política. Além disso, não há neutralidade nas práticas de ensino. Ao escolhermos o que ensinar no letramento, estamos fazendo também uma escolha de que mundo queremos. Com isso, podemos caminhar para a legitimação ou transformação da realidade. Aqui neste material escolhemos o caminho do letramento racial como um jeito de ler o mundo de forma crítica e antirracista.