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Módulo 1 | Aula 2

letramento racial para trabalhadores do sus

Tópico 3

Racismo: estrutura e funcionamento no Brasil - parte II

Racismo à brasileira: “o país é racista, mas eu não”

No ano de 1995, o Datafolha realizou uma ampla pesquisa sobre preconceito racial no Brasil. Foi um trabalho extenso, destacamos aqui dois resultados encontrados:

DataFolha: 1995

89% dos brasileiros afirmaram que há racismo no Brasil;

DataFolha: 1995

10% dos brasileiros admitiram que têm práticas ou comportamentos racistas.

No ano de 2020, o DataPoder360 realizou nova pesquisa e repetiu essas duas perguntas realizadas pelo Datafolha. Vinte e cinco anos depois, os resultados foram os seguintes:

DataPoder 360: 2020

76% dos brasileiros afirmaram que há racismo no Brasil;

DataPoder 360: 2020

28% dos brasileiros admitiram que têm práticas ou comportamentos racistas.

REFLETINDO

O que você consegue perceber, analisando esses resultados de pesquisas? O que pode explicar esse paradoxo nos dados?

Florestan Fernandes, analisando o racismo e a sociedade brasileira, disse que o “preconceito de não ter preconceito esconde realidade múltiplas, e possui uma teia de efeitos encadeados tão complexa que não há como ventilar esse assunto globalmente” (Fernandes, 1982, p. 128).

Florestan nos provoca a pensar em algumas das contradições postas pela particularidade brasileira, por exemplo, um país escravista e violento, mas também um país situado como cristão, pregando a igualdade. Convivem cotidianamente os preceitos morais do catolicismo e a violência brutal da escravidão. Vamos explorar essas contradições e refletir sobre elas nos cards a seguir.

1

Se o cristianismo pregava a igualdade (todos são iguais perante Deus), como compreender a figura do negro escravizado nesse contexto? Ora, colocando-o no lugar de não humano, de mercadoria.

2

A população negra não era vista como digna de humanidade, logo não apta para a totalidade da “igualdade” cristã, mesmo que o cristão se convertesse.

3

Uma ideia comumente difundida é de que o brasileiro é um povo pacífico e cordial. O brasileiro é um povo mestiço que recebe bem quem chega aqui.

4

Florestan Fernandes olha para esse contexto histórico e nos diz que na sua origem essa negação do preconceito é uma espécie de autodefesa coletiva, um código moral e um sistema de valores desenvolvido pelos estratos econômicos, sociais e raciais privilegiados (os estratos dominantes).

5

Daí a origem de uma espécie de “tradição mistificadora" de um passado colonial que teria sido superado, pois teria havido uma “quase” harmônica convivência entre as raças que teria conduzido o Brasil para o tempo presente como um país que tem na miscigenação uma força.

Para saber mais

Leia a reportagem “81% veem racismo no Brasil, mas só 34% admitem preconceito contra negros”, do site Poder360, e reflita: é possível que um país seja racista sem que seus habitantes sejam?