Módulo 1 | Aula 2
letramento racial para trabalhadores do sus
Racismo: estrutura e funcionamento no Brasil - parte I
Você já parou para se perguntar o que torna possível as práticas racistas de indivíduos e instituições? Quais condições tornam possível que exista racismo na sociedade? Essas questões são fundamentais para compreendermos como o racismo está enraizado na nossa estrutura social e como ele se manifesta de maneiras sutis e muitas vezes imperceptíveis.
As microagressões raciais, embora muitas vezes subestimadas, infligem danos profundos à saúde mental e emocional de suas vítimas, perpetuando ambientes hostis e excludentes. Dessa forma, identificar, compreender e combater esses atos é o primeiro passo para construirmos uma sociedade mais justa e acolhedora.
Racismo: estrutura e funcionamento no Brasil
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“Quando falamos de racismo e opressão, não é uma questão de ser uma boa ou má pessoa, ou um indivíduo simpático. Há gente aparentemente muito boa que comete ato violento, tem vocabulário agressivo e não tem consciência disso” (Costa, 2019).
Um tipo de prática racista frequente são as microagressões raciais, que são “os insultos, as indignidades e as mensagens humilhantes passadas às pessoas não brancas”, por não serem identificadas como brancas, as quais podem ocorrer de modo intencional ou não. As microagressões podem ser divididas em três categorias (Sue, 2007):
Os microataques são explícitos e geralmente intencionais, podendo ser verbais ou não verbais. Como exemplo de situação, temos: se esquivar de uma pessoa negra que se aproxima; fazer uma “piada” racista.
Tendem a ser implícitos e não intencionais, logo, menos óbvios. Pessoas bem-intencionadas e de boa-fé costumam realizá-los. Exemplo de microinsultos: comportamento insensível depreciativo da identidade racial ou história do grupo racial, por exemplo, ao perceber uma pessoa negra em um emprego de prestígio social, questionar como ela conseguiu o emprego; “confundir” pessoas negras com atendentes e/ou garçonetes, entre outras funções de baixo reconhecimento social; pedir para tocar o cabelo ou fazê-lo sem permissão; esperar que pessoas negras sejam porta-vozes de todo o grupo racial. Exemplo de microinvalidações: minimizar ou negar o racismo, dizendo, por exemplo, que “não enxerga cores, nem raça, somente pessoas”; “não sou racista, tenho amigos negros”.
Essas microagressões podem se desdobrar ainda em outras, relacionadas à suposição de criminalidade, objetificação sexual do homem negro, suposições sobre inteligência, exotização por conta de traços fenotípicos, estereótipo da mulher negra raivosa etc. Fato é que as microagressões têm efeitos na saúde mental da população negra, podendo se traduzir em mais estresse, sintomas depressivos e piores níveis de autoestima, entre outros desfechos negativos, (Martins et al, 2020). Estando fortemente presentes na dimensão interpessoal do racismo, as microagressões costumam ser o que é possível observar a “olho nu” no nosso dia a dia.
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Nem sempre o racismo é visível. Entender o que possibilita que tais microagressões estejam presentes nas relações sociais, bem como compreender as condições que tornam o racismo possível de modo sistêmico, depende de considerarmos as bases em que a sociedade brasileira é formada. Isto se dá pois a organização econômica e política do Brasil foi constituída a partir da violência e da exploração sobre determinados segmentos da população. Sem o africano escravizado, a estrutura econômica do país sequer teria existido.
Agora que você conhece as microagressões raciais, vamos desvendar as complexidades do racismo, compreenderndo a estrutura e o funcionamento do racismo, do preconceito e da discriminação no Brasil