Módulo 1 | Aula 1
letramento racial para trabalhadores do sus
Racismo, Antirracismo, Raça e Saúde
Qualquer que seja a dimensão da vida social sob análise, a proporção de negros é sempre mais alta nos indicadores que refletem as piores condições de vida, trabalho e saúde; enquanto nos indicadores que refletem melhores condições, a participação de negras e negros é mais baixa. Ao mesmo tempo, os dados mostram que:
Pessoas brancas têm mais renda, mais escolaridade, moradias mais salubres e seguras, têm mais de tudo que é bom, e menos de tudo que é ruim. A frieza, contudo, não advém dos números, mas da realidade que retratam, na qual a desigualdade racial é constatável a olho nu (Osorio, 2021, p. 7).
A observação desse padrão de condições desvantajosas, ao qual está submetido permanentemente o mesmo grupo populacional, nos informa que as diferenças injustas nas condições de vida verificadas não acontecem por acaso. Não se trata de achados casuais, ou mera coincidência.
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Estamos diante de desigualdades entre grupos raciais que se repetem historicamente, sistematicamente e estruturalmente nas várias dimensões da vida social, e fazem com que grupos assumam de modo permanente posições sociais assimétricas.
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Esse processo de acesso desigual aos direitos sociais tem se traduzido em vantagens materiais e simbólicas para as pessoas brancas, e desvantagens para pessoas negras, do ponto de vista econômico, cultural e político.
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A esse processo, que vem se atualizando e perpetuando, legitimado pela ideia de raça, chamamos de racismo.
Importante
O racismo é uma forma sistemática de discriminação, baseada na raça, que permeia todas as relações sociais e produz uma inegável estratificação hierarquizada que coloca a população negra em desvantagem em relação aos brancos.
Mesmo que “raça” não tenha mais nenhuma validade e aceitação biológica, esse conceito opera no imaginário social, atribuindo, legitimando, naturalizando e perpetuando as desigualdades sociais, culturais, psíquicas e políticas. As desigualdades sociais são chamadas raciais quando se encontram e se comprovam mecanismos causais operando ao nível individual e social baseados na ideia de raça.
No Brasil, a noção de raça é exercida socialmente em relação à aparência, à cor da pele, aos traços físicos, à fisionomia, aos gestos e aos sotaques. Assim, para superar esse imaginário racista, precisamos primeiro assumi-lo, falando de raça, racializando os debates e as práticas.
Na experiência brasileira o racismo recai sobre os indivíduos cuja aparência é associada a traços de origem africana, combinados com a cor da pele escura. Por isso, podemos e devemos afirmar: não somos todos iguais. E isso não significa que falar de raça e das particularidades da população negra crie rivalidade ou ignore o fato de que profundas desigualdades atingem todo o povo brasileiro. Significa sim, chamar atenção que melhorar as condições de vida da população negra implicará necessariamente em melhores condições para a população brasileira como um todo (Guimarães, 1999; Schucman, 2010).
Diante de todas as evidências acumuladas mediante dados quantitativos e qualitativos, cabe o reconhecimento do racismo como elemento central para explicar as piores condições de vida e, portanto, também as iniquidades em saúde “experimentadas por mulheres e homens negros, de todas as regiões do país, níveis educacionais e de renda, em todas as fases de sua vida” (Werneck, 2016, p. 540).
O racismo é a explicação mais sólida para as desigualdades raciais verificadas no Brasil (Hasenbalg, 1979; Skidmore, 1976; Guimarães, 2006).
Apesar dos dados serem contundentes, ainda são comuns discursos que reconhecem a existência da desigualdade racial entre brancos e negros, mas não a vinculam ao racismo. É frequente, mesmo em setores progressistas, que as desigualdades raciais sejam atribuídas a um problema limitado à pobreza e a um legado da escravidão (que estranhamente teria recaído somente sobre negros, sendo que os brancos também estavam lá), o que não se sustenta à luz da produção teórica no Brasil sobre desigualdades, que não é nova e nem escassa (Guimarães, 2006).
O racismo é comumente associado a atos individuais de microagressões, violência física e exclusão de pessoas negras de espaços comuns. Entretanto, para abordar o problema em sua complexidade, precisamos ampliar nosso campo de visão para outras dimensões além das relações interpessoais. Vamos entender a partir de um exemplo? Para isso, clique nas setas dos cartões giratórios abaixo:
O racismo está entranhado em todas as dimensões da vida social. Então, se ficarmos concentrados somente no aspecto dos comportamentos individuais faremos uma abordagem frágil, que tratará o racismo como um problema ético e psicológico de indivíduos e grupos isolados, a ser combatido somente pela via jurídica, por meio de sanções civis e penais, ignorando que ele compõe as estruturas da sociedade e, portanto, é um problema de todos.