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Módulo 3 | Aula 2

Abordagem da infecção na atenção primária e nos demais níveis da Rede de Atenção

Objetivos de aprendizagem

  • Identificar os componentes da Rede de Atenção à Saúde para a implantação/implementação da linha de cuidado de prevenção à transmissão vertical do HTLV.

Avanços e desafios

Embora descoberto na década de 1980, a infecção pelo HTLV ainda permanece desconhecida para muitos gestores, profissionais de saúde e para a população e é invisível para boa parte das políticas públicas em saúde. Apesar de décadas de lacuna de ações efetivas de enfrentamento à infecção, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) instituiu o HTLV-1 como motivo de preocupação e a prevenção da transmissão materno-infantil como prioridade.

Frente ao desafio de instituir a prevenção da transmissão vertical do HTLV no SUS e, por se tratar de nova linha de cuidado, as ações do Ministério da Saúde, por meio do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DATHI), têm angariado notoriedade internacional na resposta ao HTLV-1. Além disso, destaca-se a forte colaboração entre o governo federal, os cientistas e as PvHTLV.

Apesar dos avanços significativos da resposta brasileira ao enfrentamento do HTLV, como a instituição da notificação compulsória em todo território nacional, a elaboração de protocolo sobre a prevenção da transmissão vertical, a instituição de nota informativa com a recomendação da cabergolina (fármaco utilizado como inibidor da secreção de leite) e da fórmula láctea infantil na prevenção da transmissão vertical do HTLV, ainda se faz necessário ampliar e fortalecer as políticas públicas no país.

Rede de Atenção à Saúde

As Redes de Atenção à Saúde (RASs) são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, que promovem e asseguram a integralidade do cuidado por meio de arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas.

O que é uma organização poliárquica

Uma organização poliárquica é uma estrutura organizacional caracterizada por uma distribuição descentralizada, permitindo que múltiplos centros de decisão operem de forma independente e simultânea. Ela difere de uma organização hierárquica tradicional, na qual as tomadas de decisão são centralizadas nos níveis superiores de uma gestão.

A mudança dos sistemas piramidais e hierárquicos para as redes de atenção à saúde

Sistema piramidal
Fonte: DIAHV/SVS/MS (2017), baseado em Mendes (2011).

Os níveis de atenção à saúde são arranjos produtivos que são diferenciados conforme a densidade tecnológica, da seguinte forma:

  • Menor complexidade ⇒ Atenção Primária à Saúde
  • Complexidade intermediária ⇒ Atenção Especializada
  • Alta complexidade ⇒ Atenção Terciária

Os níveis de atenção são essenciais para promover o uso racional de recursos e para determinar a gestão dos entes de governança da RASs. Eles prezam pela distribuição equilibrada dos pontos de atenção entre os territórios sanitários, de acordo com os níveis de atenção à saúde.

O objetivo das RASs é oferecer o cuidado de qualidade, de forma contínua, integral, responsável e humanizado. No desempenho do sistema, ele deve ser otimizado em termos de equidade, acesso e eficácia clínica, sanitária e econômica.

Compondo os arranjos organizativos da RASs, os pontos de atenção à saúde são espaços onde ofertam serviços de saúde, de forma singular e se comunicam entre si (referência e contrarreferência) por meio de instrumentos pactuados.

Os pontos de atenção à saúde se caracterizam pelas suas relações verticais, diferenciando-se apenas pela densidade tecnológica, e são igualmente importantes na integralidade do cuidado. Os sistemas de apoio e logístico estão dispostos em forma horizontal com os demais pontos de atenção da RASs.

A estrutura operacional das redes de atenção à saúde

A imagem mostra, de forma esquemática, a estrutura operacional das redes de atenção à saúde e as interligações entre sistemas de governança, sistemas logísticos e de apoio.
Fonte: Mendes, 2012.

A utilização estratégica dos pontos de atenção à saúde é fundamental para assegurar o cuidado com qualidade e integralidade, promovendo intervenções de promoção e prevenção à saúde, curativas, reabilitadoras e paliativas. Além disso, os pontos de atenção à saúde são estratégicos para a otimização da efetividade do sistema.

Rede Cegonha*
(saúde materna e infantil)

Qualificar a assistência à saúde materna e infantil;
Mitigar as mortalidades materna, infantil e fetal;
Garantir o acesso às ações de planejamento sexual e reprodutivo, pré-natal, parto e nascimento, puerpério e primeira infância.

* desde setembro/2024 a Rede Cegonha passou a ser Rede Alyne

Rede de Urgência e Emergência (RUE)

Ampliar e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência e emergência de forma ágil e oportuna, tanto no componente pré-hospitalar e hospitalar.

Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas

Garantir o acesso às ações e serviços de saúde de forma integral, humanizada e equitativa.

Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência

Proteger a saúde e reabilitar as pessoas com deficiência em relação a suas capacidades funcionais (física, auditiva, intelectual e visual).

Rede de Atenção Psicossocial

Acolher e acompanhar as pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas no âmbito do SUS.

Linhas de cuidado

As Linhas de Cuidado (LC) são formas de articulação para estabelecer o cuidado integral, por meio de pactuações das responsabilidades dos diferentes pontos de atenção à saúde. As Linhas de Cuidado promovem uma conexão de práticas de produção de saúde e de recursos existentes, orientadas por diretrizes clínicas e pactuações de gestão. Elas também são elaboradas para dar respostas às necessidades epidemiológicas de maior relevância e promover o contínuo assistencial, superando as fragmentações no processo do cuidado.

A implantação de uma linha de cuidado deve começar pela Atenção Primária à Saúde (APS), que é o primeiro nível de coordenação do cuidado e ordenamento da RASs. Para a operacionalização da LC, devem ser observados alguns pressupostos:

  • Assegurar recursos humanos e materiais necessários;
  • Integração entre os pontos de atenção à saúde;
  • Corresponsabilização dos profissionais e gestores dos níveis de atenção;
  • Processos de Educação Permanente contínuos;
  • Pactuação da Linha de Cuidado e das responsabilidades em instâncias gestoras - Comissão Intergestora Regional (CIR), Conselho Estadual de Saúde (CES), Comissão Intergestora Bipartite (CIB).

O Ministério da Saúde instituiu 25 Linhas de Cuidado voltadas a condições em saúde, com o objetivo de fortalecer as redes de atenção e qualificar o contínuo assistencial. Neste escopo das linhas de cuidado, quanto a infecções transmissíveis, apenas as infecções pelo HIV/aids no adulto e hepatites virais foram contempladas.

Eixos temáticos das linhas de cuidado instituídas pelo Ministério da Saúde

A imagem mostra uma agrupamento de elipses representando a estrutura operacional das redes de atenção à saúde.
Fonte: Adaptado do Instituto de Avaliação de Tecnologia em Saúde. Desenvolvimento de Linhas de Cuidado à Saúde no Brasil.

Linha de Cuidado de Prevenção à Transmissão Vertical do HTLV

Para elaborar uma nova linha de cuidado é preciso conhecer as estratégias, as pactuações vigentes e os pontos da Rede de Atenção à Saúde. Apesar de existirem algumas Linhas de Cuidado que podem servir de instrumentos norteadores, a elaboração de uma nova LC exige vontade técnica e decisão política para a sua implantação.

A Política Nacional das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) é de competência do Ministério da Saúde. Contudo, em consonância com a descentralização político-administrativa do SUS, estados e municípios têm autonomia para planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, gerir e executar os serviços públicos de saúde de acordo com a disposição da RASs e pactuações locorregionais.

Devido a descentralização das ações da Política das ISTs, os estados e municípios brasileiros apresentam expertise no manejo clínico, na promoção e prevenção e na vigilância das infecções sexualmente transmissíveis. Este know-how com as demais ISTs é de grande valia para a instrumentalização da linha de cuidado de prevenção à transmissão vertical do HTLV.

Desse modo, a gestão local também tem a responsabilidade de induzir a implantação de uma linha de cuidado em seu território, de acordo com sua RASs e pactuações em instâncias gestoras. Apesar dos avanços alcançados no enfrentamento à infecção pelo HTLV, o Ministério da Saúde ainda não estabeleceu a LC de prevenção à transmissão vertical à infecção. Todavia, por meio de diretrizes já instituídas, é possível esboçar uma LC pensando nos seguintes objetivos:

Objetivos da LC

ORIENTAR: Os profissionais de saúde de forma a centralizar o cuidado no paciente vivendo com HTLV e em suas necessidades; ESTABELECER: A pactuação dos fluxos do contínuo assistencial nos níveis de atenção à saúde; INCLUIR: A assistência as pessoas convivendo com HTLV dentro das RASs.
Fonte: Própria autora

Para a implantação e implementação da linha de cuidado de prevenção à transmissão vertical do HTLV é preciso inserir intervenções nos três níveis de atenção à saúde (Primária, Secundária e Terciária) e utilizar os pontos de atenção das redes temáticas de atenção à saúde já estabelecidos no território para atender às necessidades globais dos pacientes vivendo com HTLV. As redes temáticas que devem ser articuladas são:

  • Rede materna e infantil;
  • Rede de Urgência e Emergência;
  • Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas;
  • Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência; e
  • Rede de Atenção Psicossocial.

Atenção Primária à Saúde

A Atenção Primária à Saúde (APS) é o primeiro nível de atenção responsável pelo ordenamento da RASs e pela coordenação do cuidado, pois está inserida no território adscrito e está mais próximo da população. A APS executa um conjunto de ações de promoção e proteção à saúde, de prevenção de agravos e no diagnóstico, no tratamento, na reabilitação e na paliação, tanto no âmbito individual quanto no coletivo.

Como primeiro nível de atenção à saúde, a APS precisa atender a três funções primordiais:

  • Resolutividade - solucionar a grande parte dos problemas de saúde da população.
  • Organização - organizar os fluxos de referência e contrarreferência dos usuários, nos diversos pontos de atenção.
  • Responsabilização - corresponsável pelo usuário em qualquer ponto de atenção à saúde que esteja.

O planejamento familiar e as orientações sobre saúde sexual e reprodutiva são estratégias desenvolvidas na APS. Elas são de extrema importância no cuidado à saúde integral da mulher, principalmente no que diz respeito a orientações pré-concepcionais, para prevenir agravos durante a gestação, parto e puerpério, em especial no rastreio das infecções sexualmente transmissíveis.

De modo semelhante à abordagem ao HIV, as equipes multiprofissionais da APS deverão orientar as gestantes, durante o pré-natal, sobre a importância da testagem para o HTLV e os benefícios do diagnóstico precoce, principalmente para a prevenção da transmissão vertical. Durante o pré-natal, os profissionais de saúde da APS deverão realizar ações direcionadas à prevenção da transmissão vertical do HTLV conjuntamente com as ações já desenvolvidas durante a rotina do pré-natal.

Existem várias ações, algumas em comum com outros níveis de atenção para uma gestante vivendo com HTLV. Confira:

Ações em comum realizadas pela Atenção Primária e pelos Centros de Testagem e Aconselhamento

Atenção Primária à Saúde Centros de Testagem e Aconselhamento
Acolher a gestante no serviço
Estabelecer um vínculo acolhedor e humanização e uma comunicação eficaz.
Solicitar a testagem sorológica para o HTLV para todas as gestantes Realizar a testagem sorológica para o diagnóstico do HTLV em todas as gestantes
Realizar o aconselhamento pré e pós-teste
Preencher adequadamente a caderneta da gestante com o resultado da testagem para HTLV
Orientar para as estratégias de promoção à saúde
Investigar a infecção pelo HTLV nas parcerias sexuais
Fortalecer a atenção às gestantes de populações-chave e populações prioritárias convivendo com HTLV
Notificar os casos de gestante com diagnóstico confirmado para HTLV e estabelecer os respectivos fluxos assistenciais juntamente com a área de vigilância epidemiológica local Notificar os casos de gestante com diagnóstico confirmado e criança exposta ao HTLV, conforme fluxos e pactuações com a vigilância epidemiológica local
Oferecer os insumos de prevenção às ISTs – preservativos, gel lubrificante
Participar de campanhas alusivas e desenvolver atividades de prevenção da infecção pelo HTLV
Disponibilizar materiais informativos e educativos sobre a infecção pelo HTLV
Promover articulação com a sociedade civil sobre a infecção pelo HTLV
Contribuir para a redução do preconceito, estigma e discriminação das pessoas vivendo com HTLV
Fonte: Heytor Neco. Adaptado de Gadelha.

Ações mais específicas realizadas pelos níveis de atenção primária e especializada em uma linha de cuidado de prevenção à transmissão vertical do HTLV

Atenção Primária à Saúde Centros de Testagem e Aconselhamento
Orientar a gestante vivendo com HTLV sobre os motivos da NÃO amamentação, o direito de receber fórmula láctea infantil e a cabergolina (inibidor da lactação), conforme pactuação local Realizar a contrarreferência para a APS
Promover o acesso às ações de prevenção e diagnóstico às ISTs Produzir informações para o planejamento das ações de enfrentamento de prevenção da transmissão vertical do HTLV em nível local
Orientar familiares e acompanhantes sobre a infecção pelo HTLV Contribuir para a construção de estratégias de educação em saúde de prevenção ao HTLV que envolvam a comunidade
Referenciar as gestantes com diagnóstico e a criança exposta ao HTLV para o serviço especializado, mantendo o cuidado compartilhado na Atenção Primária Apoiar matricialmente os serviços da Atenção Básica (AB) para implantação e implementação das ações de prevenção ao HTLV
Realizar a investigação dos casos de gestante com diagnóstico confirmado e criança exposta ao HTLV Referenciar para o SAE as gestantes com teste confirmatório positivo para HTLV
Construir um planejamento terapêutico com a participação da gestante Apoiar as ações de educação permanente sobre prevenção ao HTLV para os profissionais
Fortalecer a Linha de Cuidado Materno-infantil, por meio da integração da APS com a atenção especializada, em consonância com a linha de prevenção à transmissão vertical do HTLV
Fonte: Heytor Neco. Adaptado de Gadelha.

Atenção Especializada

A Atenção Especializada é compreendida pelos componentes da Atenção Secundária (média complexidade – ambulatórios, Unidades de Pronto Atendimento, Centro de Testagens e Aconselhamento e Serviços de Atenção Especializada) e Atenção Terciária (alta complexidade - hospitais).

Os Centro de Testagem e Aconselhamento (CTAs) e os Serviços de Atendimento Especializados (SAEs) são pontos de atenção à saúde que prestam ações direcionadas à prevenção e ao manejo clínico das infecções sexualmente transmissíveis. Estes serviços devem dar suporte às redes de atenção à saúde. As gestantes também poderão ser encaminhadas para seguimento no pré-natal de alto risco, tendo o acompanhamento equivalente ao realizado no SAE.

Os CTAs são serviços que realizam aconselhamento, orientações e testes para as ISTs, cujos atendimentos são realizados por demanda espontânea ou referenciada. Os CTAs também podem realizar ações extramuros – nas escolas, igrejas, universidades etc. A depender dos contextos locais e da capacidade de resposta, estes serviços podem realizar as ações que você viu nos quadros anteriores.

Já os SAEs, serviços ambulatoriais para fazer o acompanhamento clínico das pessoas convivendo com ISTs por meio de uma equipe multidisciplinar, têm a função de diagnosticar e acompanhar longitudinalmente as pessoas convivendo com ISTs. Nesses serviços, os atendimentos são realizados por demanda espontânea ou referenciada.

Pensando na linha de cuidado de prevenção à transmissão vertical do HTLV, e comparando com as ações dos CTAs no mesmo nível de atenção, veja as ações que tanto os CTAs quanto os SAEs podem realizar:

Centros de Testagem e Aconselhamento Serviços de Atendimento Especializado
Acolher a gestante no serviço
Estabelecer um vínculo acolhedor e humanização e uma comunicação eficaz
Investigar a infecção pelo HTLV nas parcerias sexuais
Oferecer os insumos de prevenção às ISTs – preservativos, gel lubrificante
Contribuir para a redução do preconceito, estigma e discriminação das pessoas vivendo com HTLV
Realizar a contrarreferência para a APS
Produzir informações para o planejamento das ações de enfrentamento de prevenção da transmissão vertical do HTLV em nível local
Orientar para as estratégias de promoção à saúde
Notificar os casos de gestante com diagnóstico confirmado e criança exposta ao HTLV, conforme fluxos e pactuações com a vigilância epidemiológica local Notificar os casos de gestante/puérpera com diagnóstico confirmado para HTLV e criança exposta à infecção, conforme fluxos e pactuações com a vigilância epidemiológica local
Participar de campanhas alusivas e desenvolver atividades de prevenção da infecção pelo HTLV
Contribuir para a construção de estratégias de educação em saúde de prevenção ao HTLV que envolvam a comunidade
Fonte: Heytor Neco. Adaptado de Gadelha.

Agora, veja a ações mais específicas de cada um desses serviços:

Centros de Testagem e Aconselhamento Serviços de Atendimento Especializado
Realizar a testagem sorológica para o diagnóstico do HTLV em todas as gestantes Realizar o seguimento da mulher/gestante/puérpera convivendo com HTLV e da criança exposta à infecção
Realizar o aconselhamento pré e pós-teste Fornecer fórmulas lácteas infantis, conforme pactuação local
Preencher adequadamente a caderneta da gestante com o resultado da testagem para HTLV Oferecer atendimento especializado, com resolutividade diagnóstica, tratamento e acompanhamento às pessoas convivendo com o HTLV
Fortalecer a atenção às gestantes de populações-chave e populações prioritárias convivendo com HTLV Promover um atendimento multidisciplinar – Enfermagem, Assistência Psicológica, Social, Farmacêutica, Nutricional, Odontológica e Fisioterapêutica
Disponibilizar materiais informativos e educativos sobre o HTLV Construir Projetos Terapêuticos Singulares com a participação da pessoa com HTLV
Promover articulação com a sociedade civil sobre a infecção pelo HTLV Promover a qualidade de vida das pessoas convivendo com HTLV
Apoiar matricialmente os serviços da Atenção Básica (AB) para implantação e implementação das ações de prevenção ao HTLV Realizar o diagnóstico e manejo clínico das comorbidades e infecções oportunistas
Referenciar para o SAE as gestantes com teste confirmatório positivo para HTLV Promover articulação com a sociedade civil
Apoiar as ações de educação permanente sobre prevenção ao HTLV para os profissionais Disponibilizar materiais informativos e educativos sobre a infecção pelo HTLV
Fonte: Heytor Neco. Adaptado de Gadelha.

Atenção Terciária

A Política Nacional de Atenção Hospitalar estabelece diretrizes para a organização do componente hospitalar dentro da Rede de Atenção à Saúde. Ela atua de forma articulada com a APS. No âmbito do SUS, a assistência hospitalar é organizada de acordo com as necessidades da população, na horizontalização do cuidado, na regulação do acesso e em consonância com as linhas de cuidado locorregionais estabelecidas.

Neste cenário, a maternidade constitui uma tipologia da atenção hospitalar, de alta complexidade, que visa garantir o cuidado à saúde da mulher (direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério) e a saúde da criança (direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis). Sua organização deve estar direcionada ao continuum de ações de atenção à saúde materna e infantil, em consonância com a realidade locorregional, conforme a articulação dos distintos pontos de atenção à saúde.

As maternidades, como componentes da Rede Cegonha (atualmente Rede Alyne) na atenção especializada, podem atuar na atenção secundária – atendimento ambulatorial e na atenção terciária – atendimento hospitalar.

O que é a Rede Cegonha?

Focando na qualidade dos cuidados à saúde materno-infantil, a Rede Cegonha foi instituída com o objetivo de tecer uma rede assistencial e garantir à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada durante a gravidez, parto e puerpério assim como assegurar à criança o direito ao nascimento seguro, ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis. Ela é estruturada em quatro componentes: pré-natal; parto, nascimento e puerpério; atenção integral à saúde da criança e sistema logístico – transporte sanitário e regulação.

Recentemente, o Governo Federal publicou a Portaria GM/MS Nº 5.350, de 12 de setembro de 2024 que dispõe sobre a Rede Alyne como estratégia de reestruturação da antiga Rede Cegonha, cujo objetivo é reduzir a mortalidade materna em 25%. Além da expansão das ações voltadas para saúde materno-infantil, a nova rede busca diminuir a mortalidade materna de mulheres negras em 50% até 2027. A iniciativa homenageia a jovem negra Alyne Pimentel, que morreu aos 28 anos, gestante e vítima de negligência médica.

Dentro da linha de cuidado de prevenção à transmissão vertical do HTLV, o quadro a seguir exibe um descritivo e comparação das ações que podem ser desenvolvidas na Atenção Terciária. Conheça as ações comuns aos SAE e atenção terciária:

Serviços de Atendimento Especializado Atenção Terciária
Acolher a gestante no serviço
Estabelecer um vínculo acolhedor e humanização e uma comunicação eficaz
Oferecer os insumos de prevenção às ISTs – preservativos, gel lubrificante
Contribuir para a redução do preconceito, estigma e discriminação das pessoas vivendo com HTLV
Realizar a contrarreferência para a APS Realizar a contrarreferência para a APS e SAE
Produzir informações para o planejamento das ações de enfrentamento de prevenção da transmissão vertical do HTLV em nível local Participar de campanhas alusivas e desenvolver atividades de prevenção da infecção pelo HTLV
Orientar para as estratégias de promoção à saúde
Notificar os casos de gestante/puérpera com diagnóstico confirmado para HTLV e criança exposta à infecção, conforme fluxos e pactuações com a vigilância epidemiológica local
Participar de campanhas alusivas e desenvolver atividades de prevenção da infecção pelo HTLV Promover um atendimento multidisciplinar – Enfermagem, Assistência Psicológica, Social, Farmacêutica, Nutricional, Odontológica e Fisioterapêutica
Fornecer fórmulas lácteas infantis, conforme pactuação local
Promover a qualidade de vida das pessoas convivendo com HTLV
Realizar o diagnóstico e manejo clínico das comorbidades e infecções oportunistas
Disponibilizar materiais informativos e educativos sobre a infecção pelo HTLV
Fonte: Heytor Neco. Adaptado de Gadelha.

Agora, veja a ações mais específicas de cada um desses serviços:

Serviços de Atendimento Especializado Atenção Terciária
Realizar o seguimento da mulher/gestante/puérpera convivendo com HTLV e da criança exposta à infecção Participar de campanhas alusivas e desenvolver atividades de prevenção da infecção pelo HTLV
Oferecer atendimento especializado, com resolutividade diagnóstica, tratamento e acompanhamento às pessoas convivendo com o HTLV Preencher a caderneta da gestante com informações sobre o parto e pós-parto
Promover um atendimento multidisciplinar – Enfermagem, Assistência Psicológica, Social, Farmacêutica, Nutricional, Odontológica e Fisioterapêutica Administrar a cabergolina para inibição da lactação em todas as gestantes com diagnóstico confirmado para a infecção pelo HTLV
Promover articulação com a sociedade civil Realizar o agendamento da consulta com o SAE do recém-exposto ao HIV e da puérpera, conforme pactuações locais quanto ao referenciamento
Investigar a infecção pelo HTLV nas parcerias sexuais
Contribuir para a construção de estratégias de educação em saúde de prevenção ao HTLV que envolvam a comunidade
Fonte: Heytor Neco. Adaptado de Gadelha.

Vigilância Epidemiológica

A Vigilância Epidemiológica (VE) é definida pela Lei nº 8080 de 19 de setembro de 1990 como “um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. As ações de vigilância epidemiológica são realizadas de forma descentralizada, universal e equânime.

O objetivo das ações de vigilância das infecções sexualmente transmissíveis é analisar de forma contínua e sistemática a situação epidemiológica dos agravos, articulando as intervenções de promoção, prevenção e recuperação da saúde. Também tem a premissa de produzir informações para subsidiar processos de formulação, gestão e avaliação das políticas e ações públicas de importância estratégica.

Em fevereiro de 2024, o Ministério da Saúde incluiu a infecção pelo HTLV em gestante, parturiente ou puérpera e em criança exposta na lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de Saúde Pública. Todavia, ainda serão discutidos e pactuados entre os entes federal, estaduais e municipais, o rastreamento universal das gestantes durante o pré-natal e testes confirmatórios – conforme aprovação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Também serão discutidos a definição de caso, instrumentos e fluxos de notificação, qualificação das equipes da APS e da vigilância epidemiológica e o monitoramento dos casos.

Ainda não foi possível estabelecer e pactuar os indicadores de saúde pertinentes ao monitoramento da transmissão vertical do HTLV. O Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculose e de Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS) foi instituído com o objetivo de promover ações intersetoriais para acelerar o processo de eliminação de doenças determinadas socialmente como problemas de saúde pública no Brasil até 2030, dentre elas, a transmissão vertical do HTLV.

Estados e municípios brasileiros que já realizam testagens para HTLV em gestantes durante a consulta de pré-natal no SUS

Governo do Estado da Bahia, 2020 - Miranda et al., 2022 - Opas, 2022 - Secretaria de Estado de Saúde da Paraíba, 2023.
Governo do Estado da Bahia, 2020 - Miranda et al., 2022 - Opas, 2022 - Secretaria de Estado de Saúde da Paraíba, 2023.

Os estados da Bahia e Paraíba utilizam o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e o Sistema próprio do estado, respectivamente, para notificar os casos diagnosticados de infecção pelo HTLV.

Os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) constituem a Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Epidemiológica e Vigilância Ambiental do SUS e são responsáveis pelo monitoramento epidemiológico de doenças e agravos de interesse para a saúde pública. Desta forma, é possível estabelecer centros de referência locorregional de diagnóstico laboratorial para o HTLV, aproveitando a rede dos Lacens.

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Nessa aula você conheceu aspectos das Redes de Atenção à Saúde e das Linhas de Cuidado e, agora, já é capaz de identificar os componentes da Rede de Atenção à Saúde para a implantação/implementação da Linha de Cuidado de prevenção à transmissão vertical do HTLV.

AUTORA: Renata Gadelha