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Módulo 1 | Aula 3

Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HTLV

Objetivos de aprendizagem

  • Compreender os princípios básicos de métodos e fluxos para o diagnóstico laboratorial recomendados pelo Ministério da Saúde do Brasil.

Testes sorológicos

A infecção pelo HTLV é uma questão de saúde pública global, com implicações significativas para os sistemas de saúde. Para realizar o diagnóstico dessa infecção é importante conhecer algumas peculiaridades do vírus, como sua estrutura, os subtipos circulantes (HTLV-1 e HTLV-2) e principalmente como se dá resposta imune do hospedeiro frente a essa virose.

A resposta imune ao HTLV é um processo complexo que envolve a ativação do sistema imunológico para combater a infecção. Quando o HTLV entra no corpo, ele infecta principalmente linfócitos T CD4+, células cruciais para a resposta imunológica. Em resposta à infecção, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos específicos contra os antígenos do HTLV. Estes anticorpos podem ser detectados através de testes sorológicos que são fundamentais para o diagnóstico da infecção. Além dos anticorpos, a resposta imune celular, mediada por linfócitos T citotóxicos, também desempenha um papel significativo na contenção da propagação do vírus.

O que são testes sorológicos?

Testes sorológicos são exames laboratoriais usados para detectar a presença de anticorpos no sangue de uma pessoa. Esses testes são frequentemente utilizados para determinar se alguém foi exposto a um patógeno específico, como um vírus ou bactéria, e se desenvolveu uma resposta imune contra ele.

Existem diferentes tipos de testes sorológicos, cada um com seu propósito e método específicos:

IgM: Os anticorpos IgM geralmente aparecem no início de uma infecção. A presença de IgM indica uma infecção recente ou em andamento.
IgG: Os anticorpos IgG aparecem mais tarde durante a infecção e geralmente indicam uma infecção passada ou imunidade a longo prazo.
IgA: Menos comum em testes sorológicos de rotina, mas pode ser relevante em certos contextos, como infecções mucosas.
Alguns testes sorológicos podem ser projetados para detectar diretamente os antígenos, que são partes do patógeno, como proteínas virais ou bacterianas. Isso é menos comum em comparação com os testes de anticorpos.

O tempo entre a infecção pelo HTLV e a detecção de anticorpos específicos no sangue é conhecido como janela imunológica. Durante essa fase, o sistema imunológico ainda está desenvolvendo uma resposta e os testes sorológicos podem não ser capazes de identificar os anticorpos produzidos. Para o HTLV, a janela imunológica pode variar, mas geralmente os anticorpos começam a ser detectáveis entre 4 e 8 semanas após a infecção. No entanto, em alguns casos, pode levar até seis meses para que os níveis de anticorpos sejam suficientemente altos para serem detectados por métodos sorológicos utilizados para triagem como o Enzyme-Linked Immunosorbent Assay ou em português Ensaio de Imunoabsorção Enzimática (ELISA) e Chemiluminescent Immunoassay ou em português Quimioluminescência (CLIA).

Após a soroconversão, os testes sorológicos como ELISA, CLIA, Western Blot (WB) e o Ensaio de Linha (LIA) são amplamente utilizados para o diagnóstico e confirmação da infecção pelo HTLV.

O ELISA e o CLIA são os primeiros a serem realizados devido à sua alta sensibilidade e facilidade de execução. O WB e o Ensaio de Linha são utilizados como testes confirmatórios para validar os resultados positivos iniciais e identificar os tipos virais, por exemplo, se o indivíduo está infectado pelo HTLV-1 ou HTLV-2. O WB detecta anticorpos específicos contra várias proteínas virais, proporcionando uma confirmação detalhada da infecção. O Ensaio de Linha, similar ao WB, utiliza tiras com antígenos virais imobilizados para uma detecção precisa dos anticorpos específicos.

Os testes moleculares, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), são ferramentas valiosas para o diagnóstico precoce do HTLV. Estes testes detectam diretamente o DNA do HTLV nas células infectadas (DNA proviral), permitindo a identificação da infecção durante a janela imunológica. A PCR é altamente sensível e pode detectar pequenas quantidades de DNA proviral, proporcionando um diagnóstico precoce e preciso. No entanto, devido ao custo e à necessidade de infraestrutura laboratorial avançada, a PCR é geralmente utilizada em casos específicos ou como um complemento aos testes sorológicos.

Vale ressaltar que o diagnóstico precoce permite intervenções que podem retardar ou prevenir complicações graves, melhorar a qualidade de vida dos infectados e reduzir a transmissão. Assim, a compreensão do diagnóstico se faz essencial para os profissionais de saúde, gestores e a sociedade civil.

Princípios Básicos do Diagnóstico Laboratorial

Para compreender os princípios básicos de qualquer método de diagnóstico laboratorial, precisamos nos familiarizar com alguns termos e com alguns elementos que compõem a resposta imunológica de um indivíduo frente a um agente infeccioso. O diagnóstico sorológico do HTLV envolve a detecção de anticorpos específicos contra o vírus no soro do paciente.

Para entender mais sobre testes imunológicos

Fonte: CVF

Métodos de Diagnóstico Laboratorial utilizados para Infecção por HTLV

Testes de Triagem para HTLV

O ELISA é uma das técnicas mais utilizadas devido à sua alta sensibilidade e facilidade de execução. Nesse método, antígenos virais são fixados em uma placa e o soro do paciente é adicionado. Se houver anticorpos contra o HTLV no soro, eles se ligarão aos antígenos. Um anticorpo secundário conjugado a uma enzima é então adicionado, que se liga aos anticorpos do paciente. A reação enzimática subsequente gera uma mudança de cor, indicando a presença de anticorpos contra o HTLV.

Princípio da Técnica ELISA (Ensaio da Imunoabsorção Enzimática)

A imagem é sequência de cinco ilustrações que  explicam o princípio da técnica ELISA, mostrando as cinco etapas do processo. A Primeira Etapa mostra poços de uma placa de ensaio revestidos com anticorpos de captura, com uma solução representando a amostra sendo adicionada. A segunda Etapa ilustra a ligação do antígeno alvo da amostra aos anticorpos de captura no fundo dos poços. A terceira Etapa mostra um anticorpo primário se ligando ao antígeno já imobilizado no fundo do poço. A quarta Etapa exibe um anticorpo secundário marcado com biotina se ligando ao anticorpo primário. E a quinta Etapa mostra a adição de estreptavidina conjugada com HRP, que catalisa uma reação de cor no ensaio.
Fonte: Imagem criada por Tatiane Assone

Como o teste Elisa funciona?

Fonte: CVF

Outra técnica comum é o CLIA, que também detecta anticorpos contra o HTLV com alta sensibilidade. Similar ao ELISA, o CLIA utiliza antígenos virais fixados e a adição do soro do paciente para a detecção de anticorpos. A principal diferença está no sistema de detecção: no CLIA, a reação entre o anticorpo secundário e o substrato resulta em emissão de luz, que é medida por um luminômetro. A intensidade da luz emitida é proporcional à quantidade de anticorpos presentes, permitindo uma detecção precisa e sensível da infecção pelo HTLV.

Testes Confirmatórios

Para confirmação de resultados positivos e identificação dos tipos virais, são empregados métodos como o Western Blot (WB), o Ensaio de Linha (LIA) e a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). O WB é um teste confirmatório que separa proteínas virais por eletroforese em gel e as transfere para uma membrana. O soro do paciente é então aplicado, e se houver anticorpos contra o HTLV, eles se ligam a proteínas específicas, visualizadas por uma reação colorimétrica.

Princípio da Técnica de Western Blot

A imagem descreve o princípio da técnica de Western Blot em quatro etapas ilustradas. A primeira imagem é a Separação. Ela mostra um gel de eletroforese com amostras separadas por corrente elétrica, indicando o processo de separação das proteínas. A segunda imagem é a Transferência. Ela mostra uma pilha consistindo de papel filtro, gel e membrana, mostrando o processo de transferência das proteínas para a membrana. A terceira imagem exibe o mecanismo de coloração, onde os anticorpos primário e secundário se ligam ao antígeno alvo, com a presença de substrato e enzima para detecção. A última imagem ilustra o resultado. Ela mostra uma membrana com bandas visíveis, representando a detecção e localização das proteínas de interesse.
Fonte: Ilustração criada por Tatiane Assone

Como é feita a técnica Western Blot?

Fonte: CVF

O Ensaio de Linha é similar ao WB, mas utiliza tiras com antígenos virais imobilizados em linhas discretas. Quando o soro do paciente é aplicado, anticorpos específicos se ligam às linhas correspondentes, que são detectadas por reações colorimétricas ou quimioluminescentes. Esses métodos confirmatórios são essenciais para distinguir verdadeiros positivos de falsos positivos e proporcionar um diagnóstico preciso da infecção pelo HTLV.

Material sugerido

A técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) para o diagnóstico confirmatório de HTLV baseia-se na amplificação do DNA proviral do HTLV presente nas células infectadas. A PCR é uma ferramenta altamente sensível e específica, capaz de detectar pequenas quantidades de material genético viral antes mesmo que os anticorpos sejam produzidos pelo sistema imunológico. No procedimento, amostras de sangue do paciente são processadas para extrair o DNA, que é então misturado com primers específicos para o HTLV, nucleotídeos, Taq Polimerase e outros reagentes necessários.

Princípio da Reação em cadeia da polimerase / Teste de RT-PCR

Na primeira ilustração, uma seringa, usada para coletar uma amostra de sangue de um braço humano. A segunda ilustração mostra o tubo de sangue, com circulo do lado. Dentro do círculo tem um desenho do vírus HTLV. Uma flecha indica o próximo passo, o tubo de exame com um círculo ao lado, onde tem um desenho do DNA purificado dentro, representando o  processo de extração de DNA das células brancas do sangue. A próxima ilustração tem um tubo de amostras e uma seta indicando que o tubo vai para uma placa de qPCR. Ao lado da placa tem uma seta indicando a imagem de um termociclador de qPCR, onde a placa é inserida. A imagem mostra o processo de amplificação do DNA alvo utilizando qPCR, ilustrado por figuras esquemáticas de DNA. O primeiro grupo mostra a separação das duas fitas de DNA - a denaturação. A sequência mostra a ligação de primers às fitas de DNA - o anelamento. A próxima sequência mostra a cópia das fitas de DNA originais, formando novas fitas complementares. A imagem inclui um gráfico indicando o resultado do teste.
Fonte: Imagem criada por Tatiane Assone, usando em Biorender.com

Através de ciclos repetidos de aquecimento e resfriamento, a enzima polimerase sintetiza novas cópias do DNA-alvo, resultando em uma quantidade amplificada de DNA viral que pode ser facilmente detectada e analisada.

A PCR é particularmente útil durante a janela imunológica, quando os anticorpos contra o HTLV ainda não são detectáveis por testes sorológicos tradicionais. Além disso, a técnica de PCR pode ser utilizada para confirmar resultados sorológicos duvidosos ou para realizar a genotipagem do vírus, fornecendo informações adicionais sobre a infecção. A precisão e a capacidade de detecção precoce tornam a PCR uma ferramenta valiosa no diagnóstico confirmatório de HTLV, especialmente em casos em que a suspeita clínica é alta, mas os resultados sorológicos são negativos ou inconclusivos. No entanto, devido ao custo e à complexidade do equipamento necessário, a PCR é geralmente reservada para casos específicos ou em laboratórios especializados.

Interpretação dos Resultados dos Testes

A interpretação segura dos resultados de exames de triagem e de confirmação para HTLV requer uma compreensão detalhada dos métodos utilizados e dos possíveis resultados que cada etapa pode apresentar, assim é essencial ter acesso à metodologia utilizada e à bula do fabricante do ensaio realizado. Fatores como sensibilidade e especificidade dos testes, bem como a ocorrência de falsos positivos e falsos negativos afetam a interpretação dos resultados.

Dicas sobre a interpretação dos testes

A interpretação dos resultados dos testes depende da sensibilidade (capacidade de detectar verdadeiros positivos) e especificidade (capacidade de detectar verdadeiros negativos).

A ocorrência de falsos positivos e falsos negativos pode impactar o diagnóstico. A compreensão das causas desses resultados é essencial para a interpretação correta.

Em um primeiro momento, os testes de triagem, como ELISA ou CLIA, são projetados para serem altamente sensíveis, o que fornece segurança para descartar resultados falso-negativos, esses testes vão detectar a presença de anticorpos contra HTLV no soro do paciente. Um resultado positivo nesses testes indica que o paciente pode estar infectado com HTLV, mas devido à possibilidade de resultados falso-positivos, principalmente em populações de baixa prevalência, é crucial proceder com testes confirmatórios. Um resultado negativo geralmente sugere a ausência de infecção, mas deve-se considerar a janela imunológica de 90 dias pós exposição, período em que os anticorpos ainda não são detectáveis.

Os testes confirmatórios, como o Western Blot (WB) ou o Ensaio de Linha, oferecem maior especificidade ao detectar anticorpos contra proteínas específicas do HTLV. A interpretação desses resultados deve considerar a presença de bandas específicas que indicam a infecção pelo vírus. Um resultado confirmatório positivo, com as bandas esperadas, confirma a infecção pelo HTLV. Em contrapartida, um resultado negativo ou indeterminado no teste confirmatório pode sugerir a ausência de infecção ou a necessidade de retestar após algum tempo, especialmente se há suspeita clínica alta e o paciente está na janela imunológica.

Adicionalmente, em casos de resultados indeterminados ou discordantes, o teste de PCR pode ser empregado para detectar o DNA proviral, garantindo um diagnóstico preciso. A combinação de resultados de triagem e confirmação, junto com a avaliação clínica e epidemiológica, é essencial para assegurar a interpretação correta e segura dos exames para HTLV.

Resultados do teste Western blot para confirmação de infecção por HTLV e discriminação do tipo viral (HTLV-1 e HTLV-2) em amostras reativas

A imagem mostra resultados do teste Western blot em amostras reativas.
Fonte: Imagem de Heytor Neco

VOCÊ SABIA?…

Atualmente existem testes rápidos para HTLV em desenvolvimento no Brasil. Os testes rápidos são de grande importância porque para realizá-los não é necessária uma grande estrutura laboratorial, e isso permite que mais pessoas sejam triadas e diagnosticadas. Inclusive, é fundamental para pessoas que vivem em locais remotos ou de difícil acesso.

Quiz Interativo

1. Se a triagem CLIA for positiva, o Western Blotting for indeterminado, e a PCR for positiva para HTLV-2, qual é a interpretação final do diagnóstico?


2. Se a triagem CLIA for positiva, o Western Blotting mostrar bandas para p19 e/ou p24, GD 21 e rgp46-I, e a PCR for positiva para HTLV-1, qual é a interpretação final do diagnóstico?


3. Se a triagem CLIA for positiva e o Western Blotting mostrar nenhuma reatividade, qual seria a interpretação final do diagnóstico sorológico para HTLV?


Fluxogramas para o Diagnóstico

O fluxograma para o diagnóstico do HTLV envolve uma série de etapas sequenciais para detectar e confirmar a presença do vírus no organismo.

Inicialmente, utiliza-se um teste de triagem sorológica, como o ELISA ou o CLIA, devido à sua alta sensibilidade e capacidade de processar um grande número de amostras de forma eficiente. Positivo: Se o resultado do teste de triagem for positivo, um teste confirmatório é necessário para garantir a precisão do diagnóstico. Testes como o Western Blot (WB) e o Ensaio de Linha são comumente utilizados nessa etapa, pois oferecem maior especificidade ao detectar anticorpos contra proteínas particulares do HTLV. Negativo: Em casos de resultados discordantes, ou quando há suspeita de infecção recente, a PCR pode ser empregada para detectar diretamente o DNA proviral, confirmando a presença do vírus de forma definitiva. Assim, os fluxogramas de diagnóstico combinam diferentes testes para aumentar a acurácia do diagnóstico.

O Guia de Manejo Clínico da Infecção pelo HTLV, publicado pelo Ministério da Saúde do Brasil em 2020, apresenta dois tipos de fluxogramas para o diagnóstico e a confirmação dessa virose que pode ser testes sorológicos ou por testes moleculares.

Fluxograma de testes laboratoriais para diagnóstico da infecção por HTLV-1 e HTLV-2 no Brasil, empregando testes confirmatórios sorológicos

A imagem apresenta um fluxograma que ilustra o processo de testes de laboratório para  diagnóstico da infecção por HTLV-1 e HTLV-2 no Brasil, empregando testes confirmatórios sorológicos.
Fonte: DCCI/SVS/MS

Fluxograma de testes laboratoriais para diagnóstico da infecção por HTLV-1 e HTLV-2 no Brasil, empregando testes confirmatórios moleculares

Fonte: DCCI/SVS/MS

O fluxograma utilizado para a população geral pode ser utilizado em gestantes, uma vez que um estudo recente mostrou que a gestação não interfere na detecção de anticorpos anti-HTLV nem na detecção de segmentos do genoma proviral.

No entanto, para crianças nascidas de mães infectadas pelo HTLV (crianças expostas) com idade inferior a 18 meses, recomenda-se a realização do teste molecular (PCR). Caso este resultado seja negativo, é aconselhável repetir o exame em mais amostras de sangue. Importante destacar que o diagnóstico definitivo em crianças expostas com idade abaixo de 18 meses, ainda não está estabelecido, pois se desconhece o período em que se pode encontrar células infectadas da mãe no sangue da criança exposta.

Para crianças com idade acima de 18 meses, recomenda-se seguir o fluxograma utilizado para a população geral. Na maioria das crianças, foi observada a perda dos anticorpos maternos em seis meses, havendo, porém, relatos de soro-negativação completa aos 12 meses. Ainda, em crianças não amamentadas, sugere-se realizar a sorologia para HTLV aos 15 meses e, nas amamentadas, três meses após a retirada do aleitamento materno. Já em crianças que se infectaram, o tempo de soroconversão para HTLV variou de seis a 24 meses.

Desafios dos fluxogramas de diagnóstico

Apesar de ser um processo bem estruturado, a operacionalização do fluxograma de diagnóstico do HTLV enfrenta desafios significativos. A implementação e manutenção dos testes laboratoriais requerem infraestrutura adequada, treinamento especializado de pessoal e controle rigoroso de qualidade, fatores que podem ser limitantes em áreas com recursos escassos. Além disso, os custos associados aos testes confirmatórios, especialmente o PCR, são elevados, o que pode restringir o acesso ao diagnóstico preciso em muitos locais. A necessidade de múltiplos testes para confirmação também aumenta o tempo de espera para um diagnóstico definitivo, o que pode atrasar o início do acompanhamento clínico e intervenções necessárias. Portanto, equilibrar a precisão diagnóstica com a viabilidade operacional e os custos é um desafio contínuo na gestão do diagnóstico do HTLV.

Considerações Clínicas e Epidemiológicas

No Brasil, a testagem para HTLV é realizada em bancos de sangue, durante o processo de doação de órgãos e tecidos, processo de fertilização in vitro, em pessoas com suspeita de leucemia/linfoma de células T do adulto (ATLL), e recentemente durante o pré-natal.

Portarias para regulamentação de diagnóstico para HTLV - Ministério da Saúde do Brasil

A imagem apresenta informações sobre as portarias do Ministério da Saúde do Brasil relacionadas ao diagnóstico de HTLV. Para o Banco de Sangue, tem a Portaria GM/MS nº 1.376, de 19 de novembro de 1993 que se refere às normas para a coleta e manejo de sangue em relação ao HTLV. Para Transplantes, tem a Portaria GM/MS nº 2.600, de 21 de outubro de 2009, sobre as diretrizes para transplantes e a inclusão do diagnóstico de HTLV. Para Portadores de ATLL, tem a Portaria GM/MS nº 23, de 31 de dezembro de 2016, que trata dos cuidados com indivíduos portadores de leucemia T-linfocitária associada ao HTLV. Para Gestantes, tem a Portaria GM/MS nº 3.148, de 6 de fevereiro de 2020, que se concentra em diretrizes para o manejo de gestantes em relação ao HTLV.
Fonte: Imagem criada por Tatiane Assone, usando em Biorender.com

A elaboração e promoção de políticas de saúde pública eficazes são essenciais para a prevenção e controle da infecção pelo HTLV. Isso inclui programas de triagem, campanhas de conscientização e acesso a cuidados de saúde.

Considerando esse cenário, existem fatores de risco que estão diretamente relacionados à forma de transmissão e a grupos étnicos que apresentam maior prevalência dessa infecção viral. Alguns grupos de risco:

  • pessoas com histórico de múltiplas transfusões de sangue antes de 1993
  • usuários e ex-usuários de drogas injetáveis
  • famílias de pessoas vivendo com HTLV
  • povos indígenas
  • profissionais do sexo
  • pessoas vivendo com outras infecções virais

Grupo de risco: famílias de portadores de HTLV

As famílias de pessoas vivendo com HTLV representam um grupo crucial para a testagem devido ao risco de transmissão intrafamiliar. É comum que membros da mesma família compartilhem comportamentos ou condições que facilitam a transmissão do vírus, como o aleitamento materno, contato sexual e até a exposição a sangue e secreções contaminadas. Identificar a presença do HTLV em familiares próximos permite intervenções precoces e adequadas, como aconselhamento sobre práticas seguras e, no caso de mulheres infectadas, a prevenção da transmissão materno-infantil através da abstinência do aleitamento materno. A testagem familiar não apenas ajuda a prevenir novas infecções, mas também proporciona um monitoramento clínico adequado e suporte para os portadores do vírus, melhorando a qualidade de vida e a saúde pública.

Indicações para testagem diagnóstica da infecção por HTLV-1/2

  • Indivíduos com manifestações clínicas compatíveis com as doenças associadas ao HTLV-1, como uveites, dermatites, bexiga neurogênico, síndrome de Sjögren, sintomas reumatológicos
  • Diagnóstico diferencial de mielopatias
  • Doadores de sangue, órgãos ou tecidos e leite humano
  • Receptores de órgãos ou tecidos
  • Familiares e parcerias sexuais de pessoas vivendo com HTLV-1/2
  • Indivíduos com infecções de transmissão sanguínea e sexual
  • Gestantes
  • Crianças expostas ao HTLV
  • Usuários de drogas injetáveis
  • Casos de exposição ocupacional a sangue ou material biológico, como acidente com material perfurocortante
  • Pacientes infectados por Strongyloides stercoralis
  • Pacientes infectados por Mycobacterium tuberculosis
  • Pacientes com leucemia ou linfoma

De modo geral, a triagem regular nesses grupos de pessoas pode prevenir a disseminação do vírus entre parceiros e clientes, além de oferecer oportunidades para educação e prevenção, protegendo não só a saúde individual, mas também ajudando a reduzir a propagação do HTLV e suas doenças associadas.

Apesar dos avanços, o diagnóstico do HTLV ainda enfrenta desafios, incluindo a necessidade de testes mais acessíveis e precisos, especialmente em áreas endêmicas, maior oferta de testes comerciais para confirmação da infecção e uma plataforma de testes rápidos, que podem auxiliar no processo de triagem dessa virose.

Diagnóstico de HTLV, seu histórico e peculiaridades

Na live Diagnóstico da Infecção de HTLV: Histórico e Desafios, a professora Adele Caterino-de-Araújo e o professor Jorge Casseb discutem o tema. Veja o vídeo:

Live Diagnóstico da Infecção de HTLV

Fonte: HTLV Channel

O diagnóstico laboratorial da infecção pelo HTLV é um componente essencial no controle dessa infecção viral. Esperamos que a partir de agora você esteja apto para lidar com os desafios apresentados pelo HTLV, identificando pessoas que vivem com HTLV, para promover um melhor manejo clínico e implementar medidas efetivas de prevenção na sua comunidade.

Você chegou ao final da aula

Nessa aula, você conheceu os princípios básicos de métodos e fluxos para o diagnóstico laboratorial recomendados pelo Ministério da Saúde do Brasil.

AUTORA: Tatiane Assone