Módulo 3

Preparação e resposta às Emergências em Saúde Pública no Contexto da COVID-19

Aula 2

Comunicação rápida e segura para ESP (plano e estratégias) – COVID-19

É difícil realizar uma previsão para ESP como a pandemia COVID-19, porém pesquisadores do mundo todo vinham alertando para o surgimento de novas doenças infectocontagiosas e ressurgimento de outras nos últimos anos, bem como da necessidade de atualizar as formas de preparação e resposta para enfrentamento.

Para Refletir

Os desastres desencadeados por ameaças naturais e tecnológicas ocorridos no Brasil nos últimos 10 anos trouxeram várias experiências e, sobretudo, demonstraram a necessidade de equipes de saúde estarem devidamente preparadas.

Ao se deparar com uma situação emergencial, que exigia estratégias de Comunicação de Riscos, as equipes de saúde precisam de um plano de comunicação pautado em estratégias seguras para se comunicar com diferentes públicos. No entanto, não é necessário esperar uma ESP se instalar para ter um plano, ao contrário, planejar é pensar, prever e indicar formas de ação antes da chegada da crise.

Como elaborar um plano de comunicação?

O plano deve ser elaborado de acordo com as necessidades e capacidades locais.

Entretanto, algumas orientações são importantes. A abordagem sistêmica é a mais indicada, pois envolve diferentes níveis de atuação dos sistemas de saúde, no caso do Brasil o SUS nas suas esferas federal, estadual e regional/local, bem como todas as partes interessadas (diversos setores públicos e privados, a sociedade organizada), com atribuição de responsabilidades.

O plano pode conter diferentes etapas, de acordo com a avaliação do desenvolvimento do cenário de risco:

  • Avaliar as capacidades nacionais e locais e prever recursos (humanos, financeiros, logísticos, entre outros) que sejam sustentáveis em momentos de crise.
  • Identificar os principais atores e formar parcerias prévias para auxiliar a comunicação.
  • Capacitar e treinar as equipes, incluindo a realização de exercícios simulados.
  • Definir claramente em que fase da crise cada etapa do plano será ativado.
  • Identificar as mídias-chave, com listas atualizadas de jornalistas, emissora de rádios, redes sociais e seus influencers, bem como outros canais de comunicação que muitas vezes são típicos de cada cultura local.

É importante ter clareza dos objetivos do plano para realizar a avaliação necessária para ajustes e aprimoramento.

Como selecionamos a melhor estratégia para a comunicação de riscos? É necessário seguir três passos:

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Avaliar o cenário de risco

Verificar se o risco é grande ou pequeno, se é futuro ou iminente, quais os níveis de exposição da população, quais as vulnerabilidades e a capacidade de lidar ou suportar a ameaça, bem como quais os recursos disponíveis. Esta etapa é feita em conjunto com outras equipes, não envolvendo somente os responsáveis pela comunicação.


Sondar a percepção de risco da população exposta ou dos afetados

Há momentos em que a população precisa ser alertada, pois o risco é algo distante, pouco perceptível, em outros casos, o nível de consciência do risco é tão alto que pode causar pânico, indignação e revolta.

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Escolher a estratégia

Após seguir esses dois passos, escolher a estratégia de comunicação de riscos mais adequada.

Estratégias

Usada quando o público ainda não está ciente dos riscos e precisa ser alertado.

Exemplo: no início da pandemia COVID-19 no Brasil, o uso de máscara foi direcionado apenas aos profissionais de saúde e pessoas que apresentassem sintomas. No entanto, a orientação mudou algumas semanas depois para que toda a população, indistintamente, usasse máscara. Esse fato exigiu dos responsáveis pela comunicação um grande esforço para convencer parte da população da necessidade de uso, pois já havia sido criada a falsa percepção de que só profissionais de saúde precisavam se proteger e só sintomáticos podiam transmitir.

Usada na iminência de uma situação de agravamento do cenário, mas que ainda não se estabeleceu.

Exemplo: mensagens de alerta que as secretarias de saúde emitem quando o número de leitos ocupados sobe e/ou há insuficiência de insumos básicos, como por exemplo oxigênio, e há necessidade de reforço nas medidas preventivas.

Quando há medo e indignação do público e uma situação conflituosa a ser sanada, devem ser emitidas mensagens que acalmem a população com informações transparentes e confiáveis.

Exemplo: em um dos piores cenários da pandemia no Brasil, a falta de oxigênio em hospitais de Manaus, as secretarias de saúde de outros estados começaram a comunicar a situação de seus estoques na tentativa de acalmar a população.

Quando o cenário de risco está estável, é utilizada na rotina dos serviços para reforço de mensagens, para manter o quadro de vigilância e para que mediadas preventivas não sejam deixadas de lado.

Exemplo: manter uso de máscara mesmo após a vacinação.

Para Refletir

As estratégias descritas foram adaptadas do curso Risk communication (OpenWHO, 2018) para a pandemia da COVID-19 e, certamente, não são as únicas que podem ser utilizadas, mas ajudam a iniciar o processo de Comunicação de Riscos com mais segurança.

É importante ressaltar que qualquer estratégia de comunicação só será eficiente quando o público tem condições de cumprir as medidas indicadas.

Durante o desenrolar da pandemia no Brasil, pudemos acompanhar as situações em que foi decretado lockdown em cenários críticos. A comunicação de riscos foi direcionada no sentido de convencer as pessoas a permanecerem em suas casas, mas dependendo da atividade laboral não há condições de exercer o trabalho remoto, como por exemplo: motoristas de ônibus, garis, profissionais de segurança etc.

Para estes casos, foi fundamental o reforço das mensagens sobre medidas preventivas como uso de máscara mais eficientes, desinfecção constante das mãos com álcool gel e manter o distanciamento entre pessoas, sempre que possível.

Para Refletir

Há ainda uma legião de trabalhadores informais como: vendedores ambulantes, entregadores, motoristas de aplicativos, manicures e faxineiras. Para estes, lockdown significa ficar sem nenhuma fonte de renda. Sendo assim, a comunicação de riscos deve ser acompanhada de ações socioeconômicas e outras iniciativas que possibilitem todos as pessoas exercerem as medidas preventivas indicadas.