Módulo 3

Preparação e resposta às Emergências em Saúde Pública no Contexto da COVID-19

Aula 2

O que comunicar, e para qual público?

“Nos dias de hoje, uma pessoa é sujeita a mais informação num dia do que uma pessoa, na idade média, durante toda a sua vida”

(OpenWHO, 2018)

Como há muita informação e relativamente de fácil acesso, é difícil selecionar o que comunicar e para qual público. Durante um pronunciamento em fevereiro de 2020 o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor Geral da OMS, chamou a atenção para a “infodemia”, ou seja, o excesso de informações que a pandemia gerou em um período curto.

Atenção

Os responsáveis pela Comunicação de Riscos, além de atender a demandas de informação de forma rápida e segura, precisam selecionar o que informar, para quem e em que momento. Para tanto, ao iniciar um processo de Comunicação de Riscos, os responsáveis pela sua coordenação (pessoas e instituições) devem estar atentos a uma série de recomendações.

A primeira delas é ter clareza sobre a questão ou problema a ser enfrentado no momento. Em uma ESP, como a pandemia da COVID -19, cenários de risco podem mudar em horas, dias, semanas ou meses. Deste modo, algo que não era urgente informar, pode se tornar prioridade em questão de horas.

Fonte: Freepik
Fonte: Freepik

Se em 24 horas o número de leitos de UTI ocupados sobe drasticamente em um município, a mensagem sobre manter o isolamento social deve ser reforçada, assim como os cuidados preventivos (uso de máscara de forma adequada, álcool em gel, etc).

É necessário pensar no resultado que deseja atingir através da comunicação a ser realizada. Qual é a principal mensagem que se pretende passar de acordo com o cenário atual? Ou qual o principal problema no momento?

Se no exemplo acima as autoridades decretarem o confinamento (lockdown) como medida de contenção, a mensagem principal seria “Fique em casa!”

É importante questionar qual o resultado pretende alcançar, individual e/ou abrangente? É fundamental ter sempre em mente os possíveis resultados da comunicação para posterior avaliação do alcance de seus objetivos. Os responsáveis pela Comunicação de Riscos devem elaborar uma representação do(s) público(s) que pretendem alcançar e compreender suas percepções. A comunicação está direcionada para quem?

Estas são orientações muito importantes para conseguir resultados mais eficientes. Deve-se ter em mente que nos comunicamos para diferentes públicos ao mesmo tempo (mídia, profissionais de saúde, técnicos de outras áreas envolvidos na resposta, empresários, população em geral). Em alguns casos, há necessidade de pensar em linguagens específicas para cada um desses públicos. Com profissionais de saúde, por exemplo, pode-se usar mais termos técnicos, já para a comunidade em geral, tentamos evitar esses termos usando uma linguagem mais simples.

Outro ponto que merece atenção é a percepção do risco. Pessoas e grupos sociais percebem o risco de formas diferentes.

Para Refletir

O rejuvenescimento da pandemia, detectado através da maior ocupação de leitos de internação e UTI por pessoas abaixo de 59 anos, criou a percepção do jovem como principal “disseminador do vírus”. Embora isso tenha contribuído para alertar a população sobre o fato do coronavírus não afetar somente idosos com a forma grave da doença, acabou por provocar a culpabilização dos jovens. Neste sentido, é preciso cuidado com as percepções que estigmatizam, para este caso a comunicação adequada, bem como iniciativas que possam minimizar os impactos da pandemia no presente e no futuro desta e de outras gerações é fundamental.

Em um país como o Brasil com grande diversidade sociocultural, as diferentes percepções do risco se tornam um desafio, mas ao mesmo tempo podem ser uma potencialidade. Envolver as comunidades locais e suas lideranças para divulgar os conhecimentos é uma das formas de alcançar os melhores resultados.

Saiba Mais

Durante a Pandemia da COVID-19 surgiram algumas inciativas de auto-organização em comunidades vulneráveis do ponto de vista social e ambiental.

  • Moradores de favelas do Rio de Janeiro organizaram uma estrutura para melhor informar a população e pressionar autoridades. Cartilhas, manuais, funk, carro de som, um gabinete de crise e uma campanha pela vida de suas mães fizeram parte da comunicação de riscos.
  • Em comunidades indígenas do Alto Xingú, o envolvimento das lideranças com as equipes de saúde foi fundamental para comunicar as medidas de prevenção e no convencimento sobre a importância da vacinação