Módulo 3
Preparação e resposta às Emergências em Saúde Pública no Contexto da COVID-19
Os desafios da tradução do conhecimento em saúde para a comunicação de riscos
No processo de produção e Gestão do Conhecimento, o conteúdo a ser comunicado deve passar por um "tratamento" até chegar ao público final. É aí que entra o papel da Comunicação de Riscos.
Por que se
comunicar em ESP?
Por que se comunicar em ESP?
É importante compreender que a Comunicação de Risco é parte integrante da resposta em saúde pública a qualquer situação de emergência e, portanto, está prevista no Regulamento Sanitário Internacional (RSI), pois as pessoas têm o direito de ser informadas sobre os riscos e como se proteger.
A Comunicação de Risco ajuda a influenciar a mudança de comportamento, entretanto, vale ressaltar que pessoas e grupos populacionais têm diferentes percepções de um mesmo tipo de risco.
Alguns fatores influenciam esta percepção e, neste caso, os comunicadores devem estar atentos a essas diferenças. Quando não há informação segura disponível, as pessoas vão buscá-la por conta própria, gerando desinformação e rumores, que devem ser identificados e esclarecidos o mais rápido possível. É importante ressaltar ainda que a comunicação de forma frequente e franca, além de oferecer apoio para a resposta à emergência, ajuda a criar e manter confiança nas autoridades sanitárias.
Saiba Mais
Criada em abril de 2020 a campanha “Se liga no Corona!” é uma inciativa da Fiocruz em parceria com instituições representantes da sociedade organizada que produz e divulga conteúdo por meio de radionovelas, spots para carros de som, peças e vídeos para mídias sociais e cartazes digitais.
Essa campanha tornou-se uma ferramenta de comunicação eficiente que utiliza linguagem adequada para a disseminação de informações precisas junto a populações vulnerabilizadas, bem como para estabelecer a interlocução entre saberes necessários à prevenção da COVID-19.
No caso da pandemia da COVID-19, a mais grave crise de saúde pública da história recente, os tomadores de decisão enfrentam desafios de várias origens, como as incertezas científicas que são intrínsecas a própria produção do conhecimento, mas quando se trata de cenários em constante mudança, tornam-se mais preocupantes. A escassez de conhecimento, sobretudo no início da pandemia, é outro fator que prejudicou a resposta.
A orientação inicial do Ministério da Saúde era: “em caso de suspeita, fique em casa por 14 dias e só procure um hospital se o problema se agravar”. Informações sobre as necessidades de respeitar um distanciamento de pelo menos 1 metro entre o paciente e os demais residentes, além de limpeza de maçanetas, vaso sanitário e móveis com álcool 70% ou água sanitária e os cuidados com os alimentos também eram reforçadas periodicamente neste período. Alguns meses depois a orientação mudou para: “Não espere: procure atendimento imediatamente aos primeiros sintomas de COVID-19”, pois já se sabia, através de evidências, que o diagnóstico rápido e preciso reduz a necessidade de internação e de tratamentos intensivos. Além disso, permite ao médico adotar a melhor conduta, acompanhar o paciente e o orientar sobre as formas de transmissão do coronavírus para outras pessoas.
Por se tratar de uma nova doença, sem medicamento específico e com vacinas produzidas em tempo recorde, há muitas especulações e interesses em jogo. A proliferação de notícias falsas tem sido um dos problemas mais sérios enfrentados, abordaremos o tema com detalhes mais adiante. A corrida contra o tempo, a falta de capacidade técnica e de insumos para certos procedimentos, associados a uma série de erros e negligências das autoridades do país, foram outros fatores que impuseram limitações à resposta. Diante desses desafios, tanto a Gestão do Conhecimento como a Comunicação de Riscos contam com o auxílio de plataformas do conhecimento.
As plataformas de tradução de conhecimento (KT), compostas por organizações, iniciativas e redes de apoio à formulação de políticas baseadas em evidências, podem desempenhar um papel importante no fornecimento de evidências relevantes e oportunas para informar as respostas à pandemia e preencher a lacuna entre ciência, política e prática (serviços) e contribuir para a Comunicação de Riscos.
(El-Jardal et al, 2020)
Atenção
- O Observatório COVID-19 Fiocruz é um exemplo de plataforma que produz informações para ação. Seu objetivo geral é o desenvolvimento de análises integradas, tecnologias, propostas e soluções para enfrentamento da pandemia por COVID-19 pelo SUS e pela sociedade brasileira.
- O Observatório Covid-19 da Universidade Federal de Pernambuco é um ambiente virtual de ações e pesquisas desenvolvidas pela universidade. Cabe ao Observatório o armazenamento, exposição, troca de conteúdos específicos, análise e evolução de dados técnicos, desempenhando a função de instrumento balizador no apoio social, estratégico e científico, assim como no compartilhamento de conhecimentos gerados através das atividades interdisciplinares.
- O Observatório COVID-19 BR é uma iniciativa independente, fruto da colaboração entre pesquisadores com o desejo de contribuir para a disseminação de informação de qualidade, baseada em dados atualizados. Participam desta iniciativa 85 pesquisadores associados a 28 instituições.
Em síntese, nas plataformas de conhecimento (KT) se realiza a interação entre pesquisadores, tomadores de decisão e técnicos dos serviços e saúde, acelerando a produção de conhecimentos baseados em evidências de diferentes naturezas, de acordo com as necessidades dos públicos específicos. As plataformas KT estão posicionadas de forma a servir como um centro confiável que fornece evidências que podem ser postas em prática por formuladores de políticas, partes interessadas, cidadãos e mídia em tempos de crise.
Para Refletir
As plataformas podem ainda contribuir para que as vozes das pessoas mais afetadas por uma ESP sejam incluídas de forma significativa no processo de tomada de decisão. Algumas possuem espaços de troca e interação com a comunidade, que pode colaborar com informações decisivas para o monitoramento da eficácia das medidas de prevenção e mitigação durante uma crise e para a avaliação do impacto da resposta em diferentes grupos da população. Portanto, se tornam uma estratégia a mais no esforço de tornar a resposta inclusiva, equitativa e adequada às necessidades contextuais locais.