MÓDULO 4 | AULA 3 A vigilância da Mpox no território
O processo de territorialização de informações em saúde no enfrentamento da Mpox
Um dos métodos para colocar em prática o reconhecimento das condições de vida em um território e conhecer a produção social da Mpox nas populações, se dá por meio do processo de territorialização de informações para identificar as formas das quais os atores sociais locais se apropriam e usam:
- Os espaços;
- As potencialidades de ação local, reflexos da existência de organização comunitária no território, de instituições que realizam apoio social, do perfil característico da população, principalmente em relação a renda e escolaridade;
- Os riscos;
- As vulnerabilidades.
São elementos essenciais para o conhecimento das condições de vida do território:
- Todas as formas de recursos locais;
- Equipamentos públicos como escolas, serviços de saúde e assistenciais.
- Resgate da história de ocupação do território, suas tradições e manifestações culturais.
Nesse processo, é importante conhecer o perfil demográfico da população: características, gênero, escolaridade, faixa etária, condições de habitação e sanitárias. Do mesmo modo, formas de realização de encontros sociais entre as pessoas no território local em igrejas e associações, principalmente os que promovem contato físico, como festas em clubes e manifestações populares como carnaval e outras tradicionais que acontecem em eventos regionais pelo país e locais com grande circulação de pessoas (de outros territórios e países), como aeroportos, portos, rodoviárias e ferroviárias.
Tudo isso são determinações sociais importantes e fornecem indicações para a organização de práticas de vigilância em saúde para o enfrentamento da Mpox.
Essas informações podem ser obtidas em documentos oficiais, em instituições que produzem dados como prefeituras, universidades, organizações não governamentais entre outras, ou a partir da realização de investigação pela própria equipe de saúde.
Porém, para que isso aconteça e seja efetivo, a territorialização de informações deve ser produzida e pactuada com a população local, possibilitando planos de ação participativos com adequação de estratégias às particularidades e à linguagem própria do território — formas de comunicação cujo entendimento é construído por meio da cultura e da história local com seus códigos, signos e normas que traduzem de forma particular os acontecimentos sociais e os tipos de ação e comportamentos da população.
Criado pela sociedade e utilizado para significação e para comunicação social, com o objetivo de dar significado e sentido às relações entre as pessoas.
Qualquer objeto, som ou palavra capaz de representar outra coisa. Toda pessoa depende de signos para viver e interagir com o meio no qual se insere. Precisa de signos para entender o mundo, a si mesmo e às outras pessoas com as quais se relaciona.
Corresponde a padrão. Norma social é modelo de comportamento relativo a um grupo de pessoas em sociedade. A sociedade pactua um sistema de valores e normas que, quando desrespeitado, impõe algum tipo de sanção. Portanto, norma social é regra explícita ou implícita que propõe comportamento que a sociedade valoriza. (Barthes, R. 1972; Guiraud, P. 1980.) (Gondim; Monken, 2016).
A participação social constitui elemento essencial para o êxito das ações de enfrentamento da Mpox. As ações devem ser desenvolvidas com a população pelas equipes de saúde que atuam no território a partir do entendimento de suas condições de vida.
Isso implica um processo contínuo de coleta, análise e sistematização de dados para compreender como as populações vivem e as condições locais existentes para a transmissão da Mpox. Os dados podem ser:
As características sociais, culturais, ambientais e sanitárias que envolvem os territórios interferem nas práticas, que devem ser organizadas tendo o protagonismo da população nas ações de enfrentamento.
O processo de territorialização de informações é uma tecnologia de escuta "para ouvir as vozes do território" em diferentes situações, a fim de que a população seja sujeita no reconhecimento do território e nas decisões e ações em saúde.
Promove a inserção da participação social em processos decisórios, efetivando organização integrada com os serviços e produzindo práticas em saúde de enfrentamento à Mpox.
A participação popular nas práticas de saúde é vital para ampliar a atuação territorializada e aproximá-las das equipes no controle e vigilância, possibilitando a construção de pactos educativos e comunicativos para propor ações de enfrentamento à Mpox com linguagem própria do território e com base em sua identidade e modo de vida local.
Mobilizar a população para ação com as redes de solidariedade e de apoio social do território significa conduzir pessoas a agirem em conjunto, o que necessita criar estrutura para estabelecer relações de cooperação e de uso de recursos com o fim de efetivar a mobilização social.
A Vigilância em Saúde deve se organizar para uma atuação participativa, mas também de forma intersetorial. A abordagem territorial permite fazer ou implementar a integração entre os setores da gestão pública. Os diversos setores de atuação governamental, como educação, saúde, cultura, meio ambiente, urbanismo e outros, na realidade não se integram, sequer conseguem se associar por si só, pois atuam separadamente em função de interesses e projetos que caracterizam a função de cada um deles.
Ao utilizar a ideia mencionada na primeira parte da aula sobre a comparação entre território e quadra polivalente, revela-se para nós que, na verdade, o que integra os diversos setores é o território. Como vimos, território é o conceito que nos faz entender como se materializa a realidade social e suas regras de convivência local e que acontece de forma simultânea por meio das diversas maneiras que cada ator social realiza sua ação.
O pertencimento das pessoas aos lugares de vida e de identidade territorial devem ser destacados nas ações para a realização de agendas territorializadas no enfrentamento da Mpox. São questões importantes, pois envolvem fixação, moradia e possibilidade de estabelecer relações sociais. A construção de uma identidade com o lugar é um processo que engloba apropriar-se das regras sociais locais, os hábitos, as crenças e tradições (códigos e valores) ligadas diretamente ao cotidiano.
O território agrega todas as coisas existentes em uma dada realidade e a atuação governamental separa suas intervenções. Na verdade, o território é o elemento integrador da atuação dos diversos setores da gestão pública, pois a intervenção de cada um, em separado, pode acarretar problemas em decorrência da sobreposição de ações que muitas vezes são desnecessárias.
No processo de territorialização, identificam-se os setores que atuam no local e com isso são organizadas práticas integradas de enfrentamento à Mpox.
Ações intersetoriais de Vigilância em Saúde envolvem:
| Educação | Com práticas educativas e comunicativas atuando junto à comunidade escolar. |
| Meio Ambiente | No monitoramento da transmissão do vírus (zoonose) pelo contato físico com animais que carregam o vírus ou no seu uso para alimentação. |
| Urbanismo | Na identificação de problemas nas habitações e nas condições sanitárias, principalmente em relação à disponibilidade de água. |
| Cultura | Com a identificação de hábitos e de ações com base na identidade da população e com os diversos tipos de parceiros locais atuantes na música, dança, teatro, literatura, religião e outras. Esses atores são relevantes pelo conhecimento que têm das condições de vida locais e facilidade de penetração no território e de comunicação utilizando uma linguagem própria do território para efetivar ações de mobilização social |
Exemplo de parcerias para a ação intersetorial: