MÓDULO 4 | AULA 3 A vigilância da Mpox no território
Determinações sociais para Mpox no território
O que são as determinações sociais para Mpox no território? Vamos entender melhor!
No processo de territorialização de informações das condições de vida, por exemplo, as equipes de saúde podem identificar riscos que têm origem em características sociais, como aquelas associadas à existência e à localização de populações em faixas etárias que apresentam menor imunidade para Mpox, tais como crianças e idosos, que, quando relacionadas ao seu perfil de renda pode tornar mais grave a situação.
Existem também determinadas práticas sociais de risco para a produção da Mpox, como a localização no território de trabalhadores(as) do sexo ou de usuários de drogas e de populações em situação de rua. Essas populações muitas vezes se localizam em praças, embaixo de viadutos, becos, terrenos e construções abandonadas (sem uso regular), exigindo maior atenção das equipes de saúde para esses locais no território para controle e promoção de ações educativas e comunicativas.
Isso porque entende-se que o território e suas condições de vida interferem na saúde, de modo que é fundamental entender o território e localizar contextos e situações que podem produzir ou mesmo possibilitar processos de transmissão associados à produção da Mpox.
O território, além de ser um conceito que contribui para a explicação do processo saúde-doença da Mpox, também possibilita identificar a rede de serviços a fim de organizar o cuidado e a assistência a casos da doença.
É importante compreender a organização territorial do SUS para identificar estratégias de controle e definir responsabilidades sanitárias de acordo com a região de saúde.
Ao organizarem as suas práticas, os serviços de saúde devem levar em conta regras de convivência informais entre as pessoas nos territórios, construídas pela interação local. Tais regras podem identificar a existência de formas de restrição à atuação das equipes de saúde e ao próprio acesso da população.
A população nas comunidades pode ter hábitos e comportamentos construídos socialmente ao longo do tempo, que muitas vezes não se identificam e até se contrapõem à forma de abordagem da equipe de saúde. A equipe pode atuar de um modo que não é o mais adequado conforme a cultura local e em desacordo com a linguagem própria do território ou mesmo não conhecer a história local e suas particularidades. Pode existir também algum tipo de interferência ou barreira de acesso a uma determinada Unidade de Saúde que tem origem na história de ocupação da população no território, fazendo com que haja alguma restrição física ou cultural de acesso pela população à assistência à saúde.
É importante que os serviços de saúde conheçam o território onde atuam e as características singulares da vida social local. Essas informações quase sempre não são encontradas nos bancos de dados oficiais (como em instituições de pesquisa, universidades e nas prefeituras, nos estados e nos ministérios federais), exigindo das equipes de saúde conhecer a memória, a linguagem e valores contidos nas práticas sociais cotidianas existentes no território para que possa organizar formas mais adequadas de ação.
Outra forma de colocar em prática uma abordagem territorial na Vigilância em Saúde, é considerar os processos de vizinhança comunitária de coexistência entre pessoas e grupos, muitas vezes associadas à solidariedade e ao apoio social para ajuda mútua. Saberes comunitários organizam no território redes de solidariedade que fortalecem laços e vínculos sociais para enfrentamento dos problemas e das necessidades locais, sendo fundamentais na mobilização da população.
São relações sociais que existem na população, que se tornam estratégicas para organizar práticas populares de ajuda mútua, como:
- Os ervateiros, que realizam práticas de saúde por meio de plantas medicinais;
- As parteiras;
- Os benzedeiros e curandeiros;
- As cozinhas comunitárias, para enfrentar a segurança alimentar da população;
- Cuidadores informais de idosos e de crianças, entre outros.
Você sabia que as práticas populares possuem grande capacidade de mobilização da população para o enfrentamento de crises sanitárias provocadas por determinadas enfermidades e para mobilização da população em situação de vulnerabilidade social e de insegurança alimentar, produtos das desigualdades socioterritoriais?
Isso mesmo. Essa dinâmica ocorre em nível local, no cotidiano, principalmente em territórios vulnerabilizados, em comunidades com população de baixa renda, onde se observa acentuada exclusão social. São pessoas que buscam, de forma recorrente, estratégias de sobrevivência nas redes de apoio locais. Tais pessoas podem ser fundamentais para organizar práticas de enfrentamento à Mpox em conjunto com as equipes de saúde local.
Essas redes de solidariedade existentes no território fazem dos atores sociais envolvidos parceiros importantes, que podem se integrar às práticas das equipes de saúde já que dominam as tecnologias sociais, a memória e a linguagem do território para agir sobre as condições que cercam a transmissão da doença, já que entendem as características, os problemas e as potencialidades locais, além de se comunicarem melhor com a população. Possuem maior possibilidade de aproximação com toda a população e de penetração em territórios vulnerabilizados do que diversos órgãos e instituições públicas, como os serviços de saúde e assistência social, principalmente no que diz respeito às formas de agir sobre populações específicas para a transmissão da Mpox.