MÓDULO 3 | AULA 3 Educação popular em saúde e o planejamento de atividades educativas
Planejamento das atividades educativas
Uma das grandes questões para o planejamento de uma atividade educativa é a mediação da atividade: qual o papel do mediador na condução da atividade educativa?
O mediador da atividade deve se perceber como educador-educando. Ser educador, a partir da educação popular, não é simplesmente transmitir informações. É preciso problematizar a realidade e contribuir para a formulação de novas perguntas, se perceber como educando.
Paulo Freire nos diz: " Não há, por outro lado, diálogo, se não há humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens o recriam permanentemente, não pode ser um ato arrogante. O diálogo, como encontro dos homens para a tarefa comum de saber agir, se rompe, se seus polos (ou um deles) perdem a humildade. Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim?"
São alguns pontos de atenção:
- Ao invés da realização de palestras em que apenas o mediador tem o poder de falar, é importante ouvir e permitir a troca de dúvidas, informações e saberes entre os participantes.
- Partir sempre da realidade do grupo e do contexto de vida dos usuários deve ser o ponto de partida das discussões.
- Estimular que os participantes possam conhecer, analisar e definir estratégias que podem ser mais efetivas para solucionar seus problemas.
- Privilegiar a interação entre as pessoas e sua realidade, em vez de só destacar os conteúdos e as condutas preestabelecidas. O foco é no processo, nas pessoas e na criação de oportunidades para que analisem, questionem a realidade, os problemas e a busca de soluções ou respostas possíveis em seus contextos.
Sendo assim, como planejar uma atividade educativa a partir da educação popular em saúde?
Na perspectiva da educação popular em saúde é importante considerar que os problemas ou necessidades a serem discutidas devem partir da comunidade ou dos sujeitos envolvidos na ação educativa.
O diálogo entre práticas e saberes acadêmicos e populares pode ser favorecido por meio de metodologias problematizadoras e participativas.
As primeiras experiências de alfabetização de adultos conduzidas e sistematizadas por Paulo Freire eram organizadas a partir de círculos de cultura, que propunham investigação, tematização e problematização do universo vocabular dos educandos: uma compreensão de que a leitura do mundo deveria antecipar a leitura da palavra. As etapas desse ciclo envolvem ação-reflexão-ação e o desenvolvimento de uma consciência crítica que surge da problematização da realidade e das experiências.
Muitas vezes, no cotidiano, usamos diferentes abordagens para conduzir o processo educacional e mesmo sobre qual tema iremos discutir. Paulo Freire destaca, por exemplo, que existem "situações pedagógicas": uma chave importante para pensarmos a prática educativa em saúde.
Nesse sentido, talvez o maior desafio do trabalho educativo seja a construção dessas situações pedagógicas no dia a dia dos serviços de saúde. Daí que, para essa concepção como prática de liberdade, a sua dialogicidade comece não quando o educador-educando se encontra com os educandos-educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes.
As atividades educativas exigem planejamento prévio e devem ser previstas na rotina de trabalho das equipes: o planejamento e a realização da atividade demandam tempo. No momento do planejamento você pode construir um roteiro para a atividade, como este que descrevemos a seguir:
Passo 1: o que queremos fazer? Isto é, que temas pretendemos abordar e qual é o público-alvo da ação.
Passo 2: por que queremos fazer? Isto é, quais são os nossos objetivos.
Passo 3: como queremos fazer? Isto é, que métodos e técnicas usaremos para alcançar os nossos objetivos.
Passo 4: como iremos avaliar o trabalho educativo realizado? Isto é, dimensionar alguma forma de avaliar se os objetivos foram alcançados.
Complementar
Para ampliar os seus conhecimentos sobre os conteúdos abordados nesta aula, veja o material complementar que separamos para você:
- Capítulo 7 do livro Na corda bamba de sombrinha: a saúde no fio da história