MÓDULO 1 | AULA 1 Mpox: a doença, o vírus e a epidemiologia
Visão geral do vírus e sua biologia
Como você viu até agora, o vírus precisa de um hospedeiro, seja ele humano ou não, para poder se multiplicar e ser transmitido para outros hospedeiros. Isso acontece porque os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios. Geralmente, a estrutura dos vírus é formada por:
- Material genético (ácido nucléico): pode ser DNA ou RNA, responsável por conferir todas as características ao vírus.
- Capsídeo: consiste em uma estrutura formada por proteínas, responsável por proteger o material genético e realizar o contato do vírus com a célula. Age como se fosse uma chave do vírus feita para abrir a porta da célula do hospedeiro.
- Envelope: seria uma segunda camada de proteção (em alguns casos), formada pelos mesmos componentes das membranas das nossas células, sendo eles: lipídios (gordura), proteínas e carboidratos (açúcares). Isso acontece porque alguns vírus, ao saírem de uma célula para infectar outra, levam uma parte da membrana plasmática com eles.
O Orthopoxvirus monkeypox, assim como os outros membros da família Poxviridae, possui um genoma composto por DNA com duas fitas, sendo envolto por um capsídeo, além de possuir os “corpos laterais” (do inglês, lateral bodies), que contêm moléculas proteicas associadas com a entrada do vírus na célula do hospedeiro. Até o momento, sabe-se que o MPXV apresenta dois tipos de partículas virais infecciosas: o vírion maduro (VM), que não possui um envelope externo, e o vírion envelopado (VE), que possui o envelope viral (Chadha et al., 2022).
Observe a seguir o desenho esquemático da estrutura do Orthopoxvirus monkeypox:
Agora compare-o com uma visão das partículas virais do Orthopoxvirus monkeypox se replicando no interior de uma célula, vistas por microscopia eletrônica:
Por terem lipídios em sua composição, os vírus envelopados tendem a ser menos resistentes fora do hospedeiro. Isso porque a gordura é facilmente removida por detergentes e desinfetantes, como: álcool 70%, hipoclorito de sódio 0,1% (água sanitária) e peróxido de hidrogênio 0,5% (água oxigenada), deixando o ácido nucléico do vírus mais exposto. Contudo, esse envelope pode conferir certa vantagem ao vírus no interior do hospedeiro, por confundir as nossas células de defesa, que não reconhecem o envelope como um corpo estranho.
Conheça a lista de produtos específicos regularizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a desinfecção de superfícies nas instituições de saúde e suas concentrações na NOTA TÉCNICA Nº 47/2020/SEI/COSAN/GHCOS/DIRE3/ANVISA.
Até o momento existem duas linhagens desse vírus: a da África Central (atualmente conhecida como clado I) e da África Ocidental (clado II). Historicamente, o clado I causa um quadro mais grave da doença e é considerado mais transmissível. Desde a identificação do primeiro caso humano, em 1970, até recentemente, a doença vinha sendo considerada endêmica, ou seja, frequente em países das regiões Central e Ocidental da África. De lá para cá, como isso mudou?
Distribuição geográfica e principais países endêmicos
1958
O Orthopoxvirus monkeypox foi isolado e identificado pela primeira vez em macacos.
1970
Descrição do primeiro caso humano, sendo uma criança na República Democrática do Congo, região onde a varíola humana havia sido erradicada em 1968.
Desde 1970: casos humanos da Mpox foram relatados em 11 países africanos: Benin, Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Gabão, Costa do Marfim, Libéria, Nigéria, República do Congo, Serra Leoa e Sudão do Sul.
1996 - 1997:
Foi relatado um surto na República Democrática do Congo com taxa de letalidade mais baixa e taxa de incidência maior do que o normal.
2003
O primeiro surto de Mpox fora da África ocorreu nos Estados Unidos da América (EUA) e estava ligado ao contato de humanos com cães da pradaria com Mpox, que haviam sido alojados com ratos importados de Gana. Esse surto ocasionou mais de 70 casos de Mpox nos EUA.
2017
A Nigéria vivenciou um grande surto de Mpox, com mais de 500 casos suspeitos e mais de 200 casos confirmados e uma taxa de letalidade de aproximadamente 3%. Os casos continuam sendo relatados até hoje.
2018-2022
A Mpox foi relatada em viajantes da Nigéria para Israel em setembro de 2018; para o Reino Unido em setembro de 2018, dezembro de 2019, maio de 2021 e maio de 2022; para Singapura em maio de 2019; e para os EUA em julho e novembro de 2021.
2022
Múltiplos casos de Mpox foram identificados em diversos países não endêmicos, a partir de maio desse ano, sem que houvesse relação direta de contato com pessoa que tivesse vindo de países endêmicos.
Maio 2022
Em 20 de maio de 2022, a OMS emitiu um alerta sobre o aumento do número de diagnósticos confirmados da doença em países não endêmicos
31 de maio de 2022: notificação do primeiro caso de Mpox no Brasil, em São Paulo.
Junho 2022
12 de junho de 2022: notificação do segundo caso de Mpox no Brasil, no Rio de Janeiro, no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) — que se tornou referência para o atendimento, vigilância e pesquisa da Mpox.
De junho de 2022 até a presente data: a OMS/OPAS (Organização Mundial da Saúde/Organização Pan-Americana da Saúde) desenvolveu uma plataforma para compartilhar a ocorrência dos casos de Mpox na região das Américas.
Julho 2022
23 de julho de 2022: a OMS declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) — nesse momento, o nível de atenção sobre a Mpox foi aumentado e passou-se a recomendar a ampliação das capacidades de vigilância e medidas de saúde pública para contenção da transmissão nos países.
29 de julho de 2022: o Ministério da Saúde do Brasil ativou o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública Nacional – COE Monkeypox, cujo objetivo foi organizar a atuação do SUS de forma coordenada e fortalecer as medidas de saúde e a vigilância para contenção e controle da emergência.
Maio 2023
A Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) foi declarada encerrada pela OMS.
Agosto 2024
A OMS decretou, novamente, a Mpox como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), devido ao aumento de casos da doença na República Democrática do Congo (RDC) e em um número crescente de países na África.