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Mpox: Vigilância, Informação e Educação em Saúde

MÓDULO 1 | AULA 1 Mpox: a doença, o vírus e a epidemiologia

TÓPICO 4

A epidemiologia

Por tudo que vimos até aqui a respeito da biologia do vírus causador da Mpox, sua origem e distribuição geográfica, podemos concluir que estamos tratando de uma doença infectocontagiosa: ela é causada por um agente etiológico e é adquirida de forma transmissível, ou seja, por contato direto ou indireto com o vírus.

As doenças infectocontagiosas se caracterizam por serem transmissíveis, e sua distribuição geográfica expressa o fluxo de seres vivos com Mpox, mas, sobretudo, permitem visualizar as regiões onde o vírus encontra melhores condições de replicação.

No decorrer de seis meses de acompanhamento (de setembro de 2022 a fevereiro de 2023), dos 5.570 municípios brasileiros, 633 (11,36%) registraram pelo menos um caso confirmado ou provável. Porém, alguns municípios se destacam pela maior quantidade de casos: São Paulo (2.993 casos confirmados ou prováveis), Rio de Janeiro (1.047) e Goiânia (418). Posteriormente, até 30 de janeiro de 2024, foram registradas 57.333 notificações da doença, apresentando um aumento de 5,6% do número total de notificações em relação ao registrado até 30 de junho de 2023. Contudo, destes, apenas 11.212 (19,6%) foram confirmados e 425 (0,7%) foram classificados como prováveis. Novamente, o maior número de casos foi registrado no município de São Paulo (4.356 casos, sendo 37,4%), seguido do Rio de Janeiro com 1.610 casos (13,8%).

O que sabemos sobre essas cidades? Que são cidades com importante concentração urbana, mas cuja distribuição populacional do território não é homogênea. Você, que é trabalhador da Atenção Primária em Saúde, está acostumado a observar as características do seu local de atuação e reconhecer as pessoas e domicílios que se encontram em condições mais vulneráveis: locais sem coleta de lixo e saneamento, onde o fornecimento de água é precário ou irregular, onde as moradias são inadequadas. Geralmente, são os mesmos locais onde a população tem mais baixa renda, menor escolaridade, menor acesso à justiça, segurança e outras políticas públicas sociais.

Neste momento, é importante que você compreenda que, não apenas a distribuição, mas a concentração de quaisquer doenças infectocontagiosas tende a ser maior onde as condições de vida são mais reveladoras das desigualdades sociais de uma região. Isso ocorre porque a forma como adoecemos tem relação direta com as condições sob as quais vivemos.

Se extrapolarmos esse pensamento para o cenário mundial, podemos compreender como e porque, apesar do Orthopoxvirus monkeypox ser um agente etiológico conhecido há décadas, produziu adoecimento e morte em países africanos sem se tornar uma preocupação tão difundida. A Mpox só se tornou emergência e chamou a atenção das autoridades sanitárias mundiais após chegar à Europa e se espalhar pelo mundo.

Ela é o que chamamos de doença negligenciada: são doenças infectocontagiosas que se tornaram endêmicas em populações de baixa renda (especialmente em países da África, Ásia e América Latina), porque para elas são destinados poucos investimentos em pesquisa e produção de fármacos, e pouca atenção de políticas de prevenção e tratamento. Isso ocorre porque a maior capacidade de pesquisa e produção de fármacos, no mundo, está concentrada no setor privado, que orienta suas ações pelo lucro. Não interessa a essas indústrias investir em produtos para países e populações pobres, com baixa capacidade de pagamento.

É interessante observar que a Mpox se tornou uma emergência de saúde pública no contexto de pós-pandemia de Covid-19. Quais são as diferenças? Pandemia, endemia, epidemia são termos parecidos, que podem nos confundir, mas precisamos compreender o que significam porque eles nomeiam diferentes modos de comportamento da doença em um espaço geográfico e temporal. Vamos entender cada um desses termos?

Para Assistir

Atualmente, não vivemos mais uma pandemia de Covid-19, mas ela deixou alguns aprendizados importantes, que podem nos ajudar no enfrentamento à Mpox:

  • Conhecer os modos de transmissão é um pré-requisito para orientar formas de prevenção.
  • Controlar uma doença transmissível envolve rastrear contatos e estabelecer estratégias de interrupção da transmissão, que em alguns casos podem necessitar de isolamento.
  • Orientar corretamente a população é um esforço necessário para frear a disseminação de informações enganosas ou preconceituosas que às vezes afastam as pessoas do serviço de saúde.
  • Prevenir e controlar a transmissão são desafios maiores com populações que vivem em condições mais precárias, especialmente no que diz respeito ao acesso à água tratada e moradia adequada, com cômodos divididos e ventilados. Por isso, com esses grupos precisamos ter uma atuação mais próxima e generosa por parte dos serviços de saúde.
Material
Complementar

Para ampliar os seus conhecimentos sobre os conteúdos abordados nesta aula, selecionamos uma lista de artigos e textos complementares.