Tarja Aula 2

Vacinação: conceitos, desenvolvimento e desafios

Objetivos de aprendizagem:

Ao final desta aula, você será capaz de:

  • Compreender o que são as vacinas, como são desenvolvidas e qual a sua importância em termos da saúde dos indivíduos e das populações.

  • Conhecer os fatores associados à queda da cobertura vacinal.

  • Identificar os desafios e estratégias de enfrentamento para a queda da cobertura vacinal.

Importância das vacinas

A vacinação tem sido uma enorme contribuição para a saúde global. Nos seres humanos, a vacinação conseguiu erradicar a varíola e, entre os animais, a peste bovina. Já a poliomielite, conhecida como paralisia infantil, teve uma redução bastante considerável devido à aplicação de vacinas.

O anúncio da erradicação da varíola foi realizado na Assembleia Mundial da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 8 de maio de 1979. Capa da edição da Revista da OMS, em maio de 1980.

Apesar desses sucessos, aproximadamente três milhões de crianças ainda morrem a cada ano, no mundo, por infecções que poderiam ser evitadas com vacinação, incluindo pneumonia e diarreia (GREENWOOD, 2014).

A recente queda na cobertura vacinal observada em vários países, na década de 2010, e a persistência de desigualdades na cobertura vacinal entre regiões e grupos sociais tem sido motivo de preocupação. O Brasil e a Venezuela, por exemplo, já perderam o status de eliminação do sarampo, por não terem conseguido controlar surtos da doença, que surgiram em menos de 12 meses após a certificação (GAMEIRO, 2019).


Em setembro de 2017, A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) declarou a região das Américas como zona livre de sarampo, a primeira em todo o mundo, ao fim de uma batalha que se estendeu por 22 anos (BRASIL, 2016).


Uma das ações para impedir que as doenças preveníveis por vacinas voltem a acontecer com frequência, é o aumento e a manutenção das altas coberturas vacinais. No caso da América Latina, uma das regiões com maior queda de cobertura vacinal na década de 2010, identifica-se três grupos de fatores que influenciariam uma menor adesão à vacinação (GUZMAN-HOLST et al., 2020):

  • fatores contextuais (perfil socioeconômico da população, como baixo nível de renda e escolaridade);
  • fatores relacionados às pessoas ou a influência de grupos (baixo nível de informação, confiança nas instituições, nos políticos e no sistema de saúde); e
  • fatores relacionados à vacina e à vacinação, com destaque para os que influenciam a acessibilidade (disponibilidade da vacina e acesso aos serviços de saúde).

Como reverter a baixa adesão às vacinas

É necessária uma revisão das atuais estratégias de comunicação sobre vacinas em virtude da baixa adesão e o novo cenário epidemiológico (HOMMA, PASSOS, 2019). Deve-se buscar maior impacto emocional da informação em saúde na população-alvo, além da divulgação permanente nos meios de comunicação de massa sobre as vacinas, sua importância e baixa frequência de eventos adversos, em contraste com as complicações graves ou fatais das doenças. A forte atuação governamental, o envolvimento e a participação da sociedade organizada como um todo são fundamentais para combater a disseminação de notícias falsas sobre as vacinas e promover a transparência e informação sobre os processos da vacinação.

Os atuais surtos de doenças evitáveis pela vacinação, em vários países, estão revelando grupos populacionais com baixa cobertura vacinal, como populações rurais, populações indígenas, populações mais pobres nas periferias das cidades e migrantes. É preciso que haja esforços conjuntos tanto por parte do Estado quanto da sociedade civil para garantir o acesso dessas populações aos serviços de atenção básica à saúde. Isso aumenta a adesão dos indivíduos e comunidades às campanhas de vacinação existentes, contribuindo para que as coberturas vacinais sejam alcançadas.

No contexto atual, a pandemia de SARS-CoV-2/Covid-19 se disseminou muito rapidamente para os territórios mais pobres cronicamente expostos a contextos de privação social dentro das cidades e no interior, para áreas mais vulneráveis socioeconômicas (SOUZA, MACHADO, CARMO, 2020). A América Latina foi muito afetada, com grande número de casos e alta mortalidade em países como Brasil, México, Peru, Colômbia e Argentina (OMS, 2021a).

Os movimentos sociais representativos de grupos populacionais mais vulneráveis podem tanto pressionar o poder público para o acesso à vacinação como propor diálogos sobre as estratégias de divulgação acerca da importância em manter a vacinação em dia nas suas comunidades, através de reuniões, rádios, jornais, e-mails, WhatsApp e mídias sociais, e estimular a ida às unidades de saúde para que os profissionais de saúde orientem e apliquem as vacinas faltantes.

Acompanhe a situação no painel da Organização Mundial da Saúde em WHO Coronavirus (COVID-19) Dashboard (inglês):

Painel da OMS WHO Coronavirus (COVID-19) Dashboard em 27 de janeiro de 2022. Fonte: WHO

Desigualdades na distribuição de vacinas

A desigualdade no acesso à saúde também se reflete na distribuição da vacinação no mundo. Dados de 26 de janeiro de 2022 indicam que 60,8% da população mundial havia sido vacinada, mas apenas 9,8% das pessoas em países de baixa renda haviam recebido ao menos uma dose das vacinas disponíveis (OUR WORLD IN DATA, 2022).

Distribuição de vacinas no mundo

Em 2021, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, clamou por uma maior equidade na vacinação pelo mundo. Ele indicou a necessidade de uma grande ação dos governos e da indústria farmacêutica para a flexibilização nas regulamentações comerciais com medidas como compartilhamento de dose, transferência de tecnologia, licenciamento voluntário e renúncia aos direitos de propriedade intelectual, nesta que é a maior crise das nossas vidas.

Diretor-geral da OMS Crédito: © Elma Okic

“Vivemos um momento excepcional da história e devemos estar à altura do desafio” (OMS, 2021b).


Embora não seja a única medida eficaz contra a disseminação da Covid-19, certamente a vacinação em massa de toda a população mundial, dentro de um curto prazo, deve ser a meta de todos enquanto sociedade, uma vez que apenas a vacinação de um grande número de pessoas poderá deter a disseminação e morte causadas pelo vírus. Alguns países parecem, com suas políticas poucos efetivas de contenção da pandemia, apostar na chamada imunidade coletiva (popularmente conhecida como imunidade de rebanho) da população pela exposição ao vírus, mas essa conduta tem sido criticada por vários especialistas (SBMT, 2021).

A imunidade coletiva é um conceito usado classicamente para o uso de vacinas quando feito em larga escala, uma vez que a exposição a um vírus como o SARS-CoV-2 pode causar a morte de milhares de pessoas e sobrecarregar os sistemas de saúde. Para que esta imunidade coletiva seja alcançada, muitas pessoas têm que ficar imunes ao agente (alguns pesquisadores falam em até 80%). No caso da Covid-19, isso significa que muitas pessoas correrão o risco de ter doença grave e até morrer antes que a imunidade coletiva seja alcançada, o que torna inviável qualquer medida de saúde pública que esteja baseada na aquisição desta imunidade pelo contágio direto, ou seja, pela imunidade natural. Para que a imunidade coletiva seja alcançada, é muito importante que isso seja feito pela vacinação ampla da sociedade, porque apenas as vacinas podem gerar imunidade sem correr o risco de desenvolver doença e morte.

Hoje, há várias vacinas disponíveis contra a Covid-19 em diferentes países, todas com eficácia comprovada em pesquisas de alta qualidade e liberadas pelas autoridades competentes de cada país. Mesmo diferenciadas de eficácia contra a disseminação da doença, todas protegem bem contra a gravidade e a morte relacionadas à Covid-19 e, por isso, não deve ser encorajada a busca por uma vacina específica em detrimento de outras.

Os estudos sobre a intercambialidade entre as doses de vacinas contra Covid-19 têm avançado!

Atenção

Intercambialidade de vacinas contra Covid-19 é quando as doses aplicadas não são do mesmo fabricante.

A OMS indicou que tanto calendários homólogos (uso da mesma vacina para todas as doses) como heterólogos (vacinas diferentes, inclusive no funcionamento) são eficazes contra a Covid-19, mas há alguma indicação que as heterólogos talvez ofereçam imunidade superior. Acesse o relatório aqui (inglês).

Atenção

Homólogo - uso da mesma vacina para todas as doses.

Atenção

Heterólogo - uso de vacinas diferentes para as doses.

A escolha do produto a ser usado e do calendário apropriado deve ser feita baseada em informações de cada país sobre a disponibilidade das vacinas, conhecimento dos riscos e benefícios de cada produto (ex. contraindicação da vacina AstraZeneca/Fiocruz para grávidas no Brasil) e considerações de acesso, como vacinas com maior estabilidade para áreas remotas.

A vacinação em massa de toda a população deve ser a meta, independentemente do tipo de vacina aplicada.

Acompanhe mais informações sobre a cobertura vacinal pelo mundo em Coronavirus (COVID-19) Vaccinations (Our Wolrd in Data – inglês).

Como funcionam as vacinas

Os seres humanos contam com um potente sistema imune contra agentes estranhos ao organismo. De uma forma geral, a resposta imune se desenvolve a partir da entrada do agente externo no organismo de uma pessoa. Esse agente será reconhecido como estranho pelo nosso sistema imune, desencadeando um processo que deverá culminar com a contenção da disseminação e eventual eliminação deste agente. Caso uma pessoa entre em contato diretamente com o agente (ex.: vírus ou bactéria), teremos a infecção natural; caso o contato seja feito pela introdução do agente ou partes dele, temos o que chamamos de imunização ativa ou vacinação.

Atenção

SISTEMA IMUNE é o sistema de proteção do nosso corpo, que gera uma resposta de proteção aos agentes estranhos.

Atenção

AGENTE é o microorganismo causador de doenças como, por exemplo, o vírus SARS-CoV-2.

O mecanismo pelo qual o nosso organismo organiza sua proteção contra o agente estranho é bastante completo. Em linhas gerais, ao entrar no corpo humano, o agente não é reconhecido como sendo próprio do organismo e células chamadas macrófagos englobam este agente e o destroem. Além dos macrófagos, há também outras células chamadas linfócitos, que se encarregam de destruir diretamente o agente (linfócitos T) e produzem anticorpos específicos para cada agente estranho (linfócitos B).

Atenção

MACRÓFAGOS são componentes do nosso sistema de proteção (imune) responsáveis por comer (fagocitar) os organismos estranhos e por ativar outras células do nosso sistema imune como as células T que produzem anticorpos.

Atenção

LINFÓCITOS são células do nosso sistema de proteção que, quando estimuladas pela presença de um agente, identificam e destroem este agente.

Atenção

ANTICORPOS são proteínas produzidas pelo nosso sistema imune em resposta à entrada de antígenos. Elas circulam em líquidos do corpo, como o plasma do sangue, e ajudam na destruição dos agentes.

No caso da infecção natural, em um primeiro contato do organismo com o agente, o processo de montagem completa na nossa resposta imune é lento e pode levar alguns dias, provocando a doença. No caso da Covid-19, a doença pode levar ao agravamento em 20% dos casos e morte em cerca de 5%.

Nosso organismo conserva o que chamamos de memória imunológica, uma lembrança do agente invasor, e em contatos futuros a reação a ele pode ser mais rápida e a doença menos grave.

A vacina usa a lógica da memória imunológica. Quando nos vacinamos, montamos a nossa proteção com base num antígeno (agente estranho modificado incapaz de causar a doença), como um vírus inativado ou partes de um agente, que simula o primeiro contato e retém a memória para possíveis contatos futuros.

Atenção

Memória imunológica é a propriedade de resposta rápida aos agentes quando há nova exposição.

Atenção

ANTÍGENOS são agentes estranhos ao nosso corpo que, apesar de serem incapazes de causar a doença, são capazes de gerar uma resposta - ou proteção - quando introduzidos no organismo. O antígeno é o componente ativo de uma vacina.

Esta animação do Fundo das Nações Unidas para as Crianças (UNICEF) mostra como as vacinas funcionam (espanhol).

Atenção

Para saber mais sobre como funcionam as vacinas, consulte:
Como funcionam as vacinas
Lo que debes saber sobre las vacunas (Unicef - espanhol)

Desenvolvimento das vacinas: fases até o registro - via tradicional

As vacinas e os medicamentos são avaliados em várias etapas antes de serem liberados para uso nos seres humanos. Como todas as vacinas, as vacinas contra a Covid-19 passaram por um processo de teste rigoroso de várias fases, incluindo grandes pesquisas que envolvem dezenas de milhares de pessoas. Esses testes são projetados especificamente para identificar quaisquer questões de segurança. Classicamente, há uma fase de testes em animais chamada pré-clínica e três fases de estudos em seres humanos.

Fases de estudos em seres adultos

Há, ainda, a Fase 4 (farmacovigilância) que é realizada após a aprovação pelas agências reguladoras dos países. Em períodos de normalidade, o tempo entre as fases 1 e 3 durava vários anos e poucos produtos que iniciavam a Fase 1 chegavam à Fase 3. Até o desenvolvimento das vacinas para Covid-19, a vacina que tinha sido desenvolvida mais rapidamente foi a para Ebola. A experiência adquirida no desenvolvimento de vacinas para o Ebola forneceu lições importantes no processo regulatório, clínico e de fabricação, que pode ser aplicado ao SARS-CoV-2 e a outros patógenos epidêmicos.

Desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19 – via para registro emergencial

Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou a Covid-19 “situação de emergência de saúde pública internacional”. Considerando que uma vacina disponível seria uma das medidas eficazes para o controle da transmissão viral e redução da morbimortalidade, o desenvolvimento e aprovação de uma nova vacina não poderiam seguir a via tradicional. O mundo precisava de uma vacina com urgência.

A alternativa foi a realização de estudos do tipo ensaio clínico com algumas etapas realizadas de forma paralela, para obtenção de registro de uma vacina para uso emergencial.

  • Ensaio clínico: são experimentos com seres humanos, seguindo normas rígidas de conduta dos pesquisadores, em que se avalia uma intervenção, neste caso a aplicação da vacina, para verificar a segurança e eficácia.

  • Eficácia da vacina: está relacionada à capacidade da vacina proteger as pessoas contra a infecção ou contra seus efeitos por um determinado agente causador de uma doença.

  • Segurança da vacina: diz respeito à avaliação sobre se a vacina traz mais benefícios do que riscos à saúde das pessoas e da coletividade, quando aplicada em larga escala, ou seja, a um grande número de pessoas.

O diálogo contínuo entre os desenvolvedores, as agências regulatórias e os conselhos científicos de vacinas, colaborou com o desenvolvimento e registro rápido das vacinas para Covid-19. O aconselhamento às empresas desenvolvedoras desses produtos sobre os requisitos regulamentares ajudou a garantir que padrões de segurança e eficácia fossem incorporados no início do processo e que a vasta experiência não comprometesse o desenvolvimento da vacina. As empresas expandiram a capacidade de fabricação e em larga escala de produção para facilitar a implantação da vacina sem demora após a sua aprovação.

Como qualquer vacina, as da Covid-19 podem causar efeitos colaterais leves e de curto prazo, como febre baixa ou dor ou vermelhidão no local da injeção. A maioria das reações às vacinas são leves e desaparecem por conta própria em alguns dias. Efeitos colaterais mais graves ou duradouros das vacinas são possíveis, mas extremamente raros. Mas todas as vacinas liberadas pelas autoridades de cada país têm segurança e eficácia comprovadas em pesquisas de alta qualidade.

Talvez, a forma mais visível de se confirmar a segurança das vacinas contra Covid-19 seja a informação da OMS de que milhões de pessoas em todo o mundo tenham sido vacinadas, com poucos registros de eventos adversos como, por exemplo, a miocardite (inflamação no músculo do coração). No caso das vacinas m-RNA, foram notificados 40,6 casos por milhão de segundas doses aplicadas, em homens jovens. Você pode ter mais informações a respeito desses casos no sítio da WHO.

Os dados até agora disponíveis indicam que as vacinas têm funcionado bem para evitar a evolução da Covid-19 para internações e morte. Vários estudos de efetividade das vacinas (ou seja, como elas funcionam na vida real) têm demonstrado que elas reduzem a sobrecarga dos sistemas de saúde e os óbitos, e que pessoas não vacinadas têm maior chance de evoluir com gravidade, mesmo para as novas variantes.

Doses de vacinas administradas no mundo
Atenção

Saiba mais sobre a segurança das vacinas nos sítios da Organização Mundial da Saúde
Segurança das vacinas COVID-19
Enfermedad por el coronavirus de 2019 (COVID-19): seguridad de las vacunas (espanhol)
Coronavirus disease (COVID-19): Vaccines safety (inglês)

O que são os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP/CONEP) e o Comitê Independente de Monitoramento

Para garantir que os estudos sejam conduzidos de forma ética, toda pesquisa realizada com a participação de seres humanos deve ser conduzida de acordo com alguns preceitos éticos como, por exemplo, consentimento livre e esclarecido na participação em pesquisa e garantia da relevância social da pesquisa. Além disso, toda pesquisa envolvendo os seres humanos tem que ser registrada e monitorada por Comitês de Ética em Pesquisa (CEP).

Os CEPs são formados por grupos de pessoas com diferentes formações e experiências científicas que atuam de forma independente. Eles foram criados para defender os interesses dos participantes da pesquisa, sua integridade e dignidade.

Tipos de vacinas para a Covid-19

Os antígenos responsáveis pelo funcionamento das vacinas podem ser produzidos a partir de diferentes substâncias e por diferentes mecanismos. Eles podem ser:

  • Antígenos vivos atenuados (ex.: vacina contra o sarampo/caxumba/rubéola e poliomielite oral);
  • Inativados com produtos químicos, calor ou radiação (ex.: vacina de influenza e Sinovac contra a Covid-19);
  • Pedaços ou componentes dos agentes (ex.: DTP e vacinas contra meningite por algumas bactérias);
  • Vacinas com vetor viral (um vírus seguro para o ser humano carrega parte do agente dentro dele e, ao se multiplicar no organismo, produz essa parte ativando a resposta imune; vacinas AstraZeneca, Janssen e Sputnik V contra a Covid-19); e
  • Vacinas com componentes de engenharia genética (mRNA; ex.: vacina Pfizer/Wyeth e Moderna contra a Covid-19).

Atenção

Para mais informações sobre os diferentes tipos de vacina, acesse os sítios da WHO:
Os diferentes tipos de vacinas COVID-19

Vacinas para a Covid-19

As vacinas são aplicadas de forma variada em diferentes países, mas na maioria deles são feitas em uma ou duas doses e uma dose de reforço, em calendários homólogos ou heterólogos, dependendo de características como faixa etária, presença de doenças de base (ex. câncer) e em uso de medicação (ex. imunossupressores, ou seja, remédios que causam queda da imunidade de uma pessoa). Até o momento (fevereiro de 2022), todas devem ser feitas intramuscular, de acordo com as bulas dos fabricantes.

Segundo informações da OPAS, até fevereiro de 2022, nas Américas são aplicadas 15 vacinas diferentes nos país do continente:

  • Pfizer BioNTech-Comirnaty
  • AstraZeneca – Vaxzevria
  • SII – Covishield
  • Moderna – mRNA-1273
  • Janssen – Ad26.COV 2.5
  • Beijing CNBG – BBIBP-CorV
  • Gamaleya – Sputnik V
  • Sinovac – CoronaVac
  • CanSino – Ad5-nCOV
  • Gamaleya – Sputnik-Light
  • Finlay – Soberanda-02
  • BioCubaFarma - Abdala
  • Julphar – Hayat – Vax
  • Finlay – Soberana Plus
  • Bharat – Covaxin

Os calendários vacinais utilizados em cada país variam bastante. Para uma consulta mais detalhada sobre vacinas aplicadas e calendários nacionais, deve-se acessar as páginas eletrônicas dos Ministérios da saúde de cada país ou a página eletrônica da OPAS aqui.

Até o primeiro semestre de 2021 as vacinas eram aplicadas em pessoas com mais de 12 anos de idade. Entretanto, ao longo do ano, os estudos clínicos realizados em crianças começaram a gerar resultados bastante favoráveis à aplicação de vacinas para faixas etárias menores. A partir do final do segundo semestre de 2021, vários países no mundo começaram a vacinar crianças como parte dos seus calendários de imunização contra a Covid-19.

Embora a OMS classifique as crianças como grupo de menor prioridade, a instituição afirma que a vacinação nessa faixa etária poderá gerar benefícios além daqueles diretos (ex. redução das internações e mortalidade), como minimizar interrupções no processo educacional das crianças e adolescentes.

Lembre-se: os estudos estão em constante aperfeiçoamento. Verifique a recomendação atual sobre o intervalo entre as doses, assim como a quantidade de doses e as marcas disponibilizadas, na sua região.

Todas as vacinas em uso protegem contra a aquisição do vírus, em graus variáveis, e contra o agravamento da doença e morte. Desde que aprovadas pelas agências reguladoras dos países, devem ser administradas sem distinção ou preferências.

Eventos adversos mais frequentes após vacinas Covid-19

Evento adverso pós-vacinação (EAPV) é qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina ou outro imunobiológico (imunoglobulinas e soros heterólogos). Um EAPV pode ser qualquer evento indesejável ou não intencional, isto é, sintoma, doença ou achado laboratorial anormal. Nenhuma relação causal com a vacina está implicada a partir do uso do termo evento adverso.

Já o termo reação adversa a medicamento se refere a uma resposta nociva e não intencional ao uso de medicamento e que ocorre em doses normalmente utilizadas em seres humanos para a profilaxia, diagnóstico ou tratamento de doenças. Portanto, investigar é necessário!

Os efeitos colaterais típicos das vacinas contra Covid-19 incluem:

  • Dor no local da injeção;
  • Febre;
  • Fadiga;
  • Dor de cabeça;
  • Dor muscular;
  • Calafrios e diarréia.

As chances de qualquer um desses efeitos colaterais que ocorrem após a vacinação diferem de acordo com a vacina específica.

Atenção

Para entender melhor sobre os eventos adversos pós vacinais, consulte o sítio da WHO:
Efeitos colaterais das vacinas Covid-19

O que é farmacovigilância - importância da vigilância e notificação dos eventos adversos

Farmacovigilância é definida como “a ciência e atividades relativas à identificação, avaliação, compreensão e prevenção de eventos adversos ou quaisquer problemas relacionados ao uso de medicamentos” (BRASIL, 2021b). Cabe à farmacovigilância identificar, avaliar e monitorar a ocorrência dos eventos adversos relacionados ao uso dos medicamentos comercializados no mercado brasileiro, com o objetivo de garantir que os benefícios relacionados ao uso desses produtos sejam maiores que os riscos por eles causados.

Além das reações adversas a medicamentos, são questões relevantes para a farmacovigilância: eventos adversos causados por desvios da qualidade de medicamentos, inefetividade terapêutica, erros de medicação, uso de medicamentos para indicações não aprovadas no registro, uso abusivo, intoxicações e interações medicamentosas.

Vacinas e os movimentos sociais na América Latina

Na América Latina, há várias iniciativas de movimentos sociais no sentido de garantir o acesso e a adesão às vacinas contra a Covid-19 para populações específicas, historicamente marginalizadas no acesso aos meios de saúde. Segundo a pesquisa “Mapeamento das ações e iniciativas digitais dos movimentos sociais de trabalhadores e populações vulnerabilizadas para o enfrentamento da pandemia de Covid-19 no Brasil, México e Equador (2020 - 2021)”:

No Brasil, podemos citar:

  • Campanha Vacina Parente organizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que procurou fortalecer a adesão dos indígenas na primeira fase da vacinação pela vacina da Sinovac em um momento que se observava alta resistência e disseminação de “fake news” entre esses povos. A iniciativa elaborou material audiovisual com a explicação de indígenas enfermeiros, médicos e agentes comunitários, em seus territórios, com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da vacinação. Os materiais foram traduzidos para diversas línguas indígenas.
  • Movimentos de favelas do Rio de Janeiro que organizaram campanhas específicas, como o Vacina pra Favela Já para garantir o acesso à vacina.

No Equador e no México, se observa iniciativas pontuais de grupos que se organizam e mobilizam ações específicas e continuadas com relação à Covid-19 e consequentemente à vacinação como:

Registro de vacinação

Essas informações estão no projeto de pesquisa “Mapeamento das ações e iniciativas digitais dos movimentos sociais de trabalhadores e populações vulnerabilizadas para o enfrentamento da pandemia de Covid-19 no Brasil, México e Equador (2020 - 2021)”. Coordenação do projeto: Gustavo Corrêa Matta e Flávia Bueno; Coordenação técnica: Juliana Kabad; Equipe de pesquisa: Nidilaine Dias Xavier, May-ek Querales, Cristina Yepéz e Priscila Petra. Disponível aqui.

Perguntas frequentes e mitos x verdades sobre as vacinas contra Covid-19

Selecionamos algumas dúvidas frequentes e mitos sobre as vacinas contra Covid-19.

As vacinas contra a Covid-19 contêm algum componente perigoso e tóxico? (OPAS, 2021)
Não. Embora os componentes listados nas bulas das vacinas possam soar alarmantes (ex.: tiomersal e alumínio), de modo geral essas substâncias são encontradas naturalmente no corpo humano, nos alimentos que consumimos e no ambiente ao nosso redor. As quantidades contidas nas vacinas são muito pequenas e não “envenenarão” nem danificarão o organismo.

As vacinas contra a Covid-19 podem fazer com que eu me torne magnético? (OPAS, 2021)
As vacinas contra a Covid-19 não podem e não irão torná-lo magnético, mesmo no local da injeção. As vacinas são livres de metais que poderiam causar alguma atração magnética em seu corpo.

Quanto tempo dura a imunidade da vacina contra a Covid-19? (OPAS, 2021)
Ainda há muitas incógnitas em relação à maioria das vacinas candidatas contra a Covid-19. Ainda não sabemos quanto tempo dura a proteção conferida pelas vacinas autorizadas para uso emergencial.

Receber a vacina da Covid-19 significa que posso parar de usar a máscara e de adotar as medidas de precaução contra o coronavírus? (LOS ANGELES TIMES, 2021)
As pessoas que são vacinadas contra a Covid-19 ainda precisam adotar precauções de prevenção de infecções. Continue a usar sua máscara e fique a pelo menos 2 metros de distância de indivíduos que não moram em sua casa. As vacinas não impedem que o coronavírus entre em seu corpo; elas apenas impedem que você obtenha uma forma moderada a severa de Covid-19. Ainda não está claro se as pessoas vacinadas contra a Covid-19 podem carregar e transmitir o vírus, mesmo que elas próprias não fiquem doentes.

A vacina Covid-19 pode fazer com que eu pegue a Covid-19? (LOS ANGELES TIMES, 2021)
A vacina Covid-19 não pode e não vai fazer com que você contraia a Covid-19. As duas vacinas mRNA aprovadas instruem suas células a reproduzir uma proteína spike (que se assemelha a um espinho) que faz parte do coronavírus SARS-CoV-2, que ajuda seu corpo a reconhecer e combater o vírus se ele entrar em seu corpo. A vacina Covid-19 não contém o vírus SARS-CoV-2, portanto não se pode obter a Covid-19 da vacina. A proteína que ajuda seu sistema imunológico a reconhecer e combater o vírus não causa nenhuma infecção.

A tecnologia do RNA mensageiro é usada para tornar a vacina Covid-19 muito nova e as vacinas são inseguras? (LOS ANGELES TIMES, 2021; OPAS, 2021)
As vacinas de mRNA contêm instruções para o nosso organismo fabricar uma pequena parte do vírus; o nosso sistema imune reage a esse estímulo e nos protege da doença. Essas vacinas são novas, mas não desconhecidas. Pesquisadores estudam e trabalham com elas há décadas para combater doenças como a gripe e o vírus Zika. As vacinas de mRNA estão sendo submetidas aos mesmos padrões de segurança rigorosos que se aplicam a todas as outras vacinas. Os fabricantes de vacinas criaram a tecnologia para ajudar a responder rapidamente a nova pandemia, como a Covid-19.

A vacina pode interferir na fertilidade de mulheres e homens? (LOS ANGELES TIMES, 2021)
Não há qualquer certeza de que isso acontecerá. Pelo contrário, a primeira evidência já surgiu de que a infecção com o novo coronavírus SARS-CoV-2 em si é que pode influenciar a fertilidade no homem, mas isto seria uma consequência da infecção com o vírus, não a vacina.

Esses são alguns exemplos. Conheça outras perguntas respondidas pela Organização Pan-Americana de Saúde nos sítios: Perguntas frequentes: vacinas contra a COVID-19

Vacinas e Fake news

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIM) junto a Avaaz (rede para mobilização social global através da Internet, associação civil sem fins lucrativos) observou que a proporção de pessoas que acreditam em desinformação sobre vacinas é maior entre os que usam redes sociais e/ou WhatsApp como fonte de informação - 73% contra 60% para quem cita outras fontes.

As falsas notícias (fake news) têm ganhado destaque nos assuntos de forma geral, no entanto, no que diz respeito à saúde, têm um impacto desastroso. As fake news criam uma barreira entre o indivíduo e possíveis medidas de prevenção e tratamento de doenças.

Vacinas são altamente eficazes e seguras para uso. Embora seguras, vimos que elas podem gerar alguns eventos adversos. Há muitos anos que vários boatos sobre a proteção e a ocorrência dos eventos adversos das vacinas são disseminados pelo mundo e, em vários momentos, grandes movimentos contrários à vacinação impactam negativamente na cobertura vacinal.

É fundamental que tais boatos ou informações falsas sejam combatidos por todos, incluindo as diversas organizações da sociedade civil, sempre a partir de fontes seguras como instituições governamentais nacionais e internacionais (ex.: Organização Pan-americana da Saúde/OPAS e Organização Mundial da saúde/OMS).

A OMS tem uma página de checagem de fatos sobre a Covid-19 (espanhol e inglês).

Resumo da aula

Algumas doenças podem ser prevenidas com vacinação, como a Covid-19. Já existem vacinas para Covid-19 aprovadas e em uso no mundo, depois de estudos clínicos que comprovaram suas eficácias e segurança. O engajamento da população, dos movimentos sociais, em ações que aumentem a cobertura vacinal, não só das vacinas para Covid-19, mas também das outras vacinas, é fundamental para que os agentes causadores destas doenças parem de circular no nosso meio.

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