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Diabetes Mellitus no SUS
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Módulo 2 | Aula 3 Tratamento farmacológico do diabetes: classes terapêuticas disponíveis e suas características

Tópico 2

Classes medicamentosas para tratamento do diabetes tipo 2

Foto de prateleiras com vários remédios organizados, uma mão com jaleco branco está pegando uma das caixas de remédio.
Fonte: Freepik

As principais classes terapêuticas utilizadas no tratamento farmacológico do diabetes, elencadas nos Protocolos Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) Diabetes Mellitus Tipo I e II nas Diretrizes Brasileiras de Diabetes, serão descritas ao longo deste tópico. Posteriormente falaremos sobre as insulinas e análogos.

Os antidiabéticos (AD) se diferenciam quanto ao mecanismo de ação, o que justifica seu agrupamento em classes farmacológicas, e quanto às suas características e efeitos adversos, que determinam as diferenças dos medicamentos dentro de uma mesma classe.

As ações dos principais antidiabéticos disponíveis na prática clínica estão relacionadas:

  • ao retardamento da passagem do bolo alimentar.
  • à estimulação da secreção da insulina.
  • à diminuição da produção hepática de glicose.
  • ao aumento da excreção da glicose na urina.

A decisão sobre a prescrição dos medicamentos deve considerar a eficácia, potenciais efeitos adversos (principalmente hipoglicemia), efeito sobre o sistema cardiovascular e renal, efeito sobre o peso e custo e disponibilidade no Sistema de Saúde.

(LYRA et al., 2022)

As principais características das Classes dos antidiabéticos, bem como aspectos clínicos importantes a serem considerados na prática, estão apresentados no quadro abaixo:

Tabela com as características relacionadas aos antidiabéticos.

Quadro 1: Características relacionadas aos antidiabéticos disponíveis no Brasil– 2020-2022
CLASSE/ MEDICAMENTO EFICÁCIA CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS IMPORTANTES CONTRAINDICAÇÕES
Sulfonilureias ALTA Gliclazida MR e glimepirida tem menor risco de hipoglicemia; orientar tomada com alimento; monitorar e/ou orientar paciente sobre sinais de hipoglicemia3; monitorar funções renal e hepática Insuficiência hepática; Gestação; TFG < 30mL/min/1,73m 2
Meglitinidas MÉDIA ↓ da variabilidade da glicemia pós-prandial Gestação
Biguanida ALTA Diarreia e náuseas são comuns (principalmente no início do tratamento e menos frequentes na apresentação XR; orientar tomada com alimento); Risco de deficiência de vitamina B12 (monitorar níveis anualmente após quatro anos de início); monitorar funções renal e hepática Insuficiência Cardíaca Congestiva (classe IV), doença hepática grave, TFG < 30mL/min/1,73m2
Inibidores da alfa-glicosidase MÉDIA Melhora perfil lipídico; Efeitos adversos gastrointestinais comuns, principalmente flatulência, meteorismo e diarreia (orientar tomada com alimento)1 Doença inflamatória intestinal; Doença intestinal associada à má absorção; Doença Renal Crônica grave
Glitazonas (tiazolidinedionas) ALTA Recomenda-se evitar seu uso em pacientes com IR devido à retenção hídrica potencial; risco de fraturas ósseas Insuficiência hepática; Gestação; Insuficiência Cardíaca Classes III e IV
Gliptinas (inibidores da enzima DPP-4) MÉDIA Podem ser usados na IR (requerem ajuste); risco de pancreatite aguda; o paciente pode apresentar dor nas articulações Alergia aos componentes do medicamento (exemplo: celulose, lactose, óxido de ferro amarelo, óxido de ferro vermelho; deve-se ter atenção caso o paciente tenha alergia a esses dois últimos e problemas respiratórios: pode haver piora do quadro clínico)
Miméticos e análogos do GLP-1 ALTA Administração SC com risco de reações no local da administração; risco de pancreatite aguda Pancreatite; TFG < 15mL/min/1,73m2; Uso simultâneo de inibidores da DPP-4
Inibidores do SGLT2 MÉDIA Risco de cetoacidose diabética (monitorar fatores de risco e/ou orientar sobre sinais); descontinuar três a quatro dias antes de cirurgia agendada ou jejum prolongado para reduzir risco de cetoacidose diabética; risco de infecção genito-urinária; monitorar função renal Limitação de uso pela função renal: Dapagliflozina: TFG < 25mL/min/1,73m2; Empagliflozina: TFG < 15mL/min/1,73m2; Canagliflozina: TFG < 15mL/min/1,73m 2;
Legendas: DPP-4: dipeptidil peptidase; GLP-1: peptídeo semelhante a glucagon 1; ICC: Insuficiência Cardíaca Congestiva; IR: Insuficiência Renal; MR: do inglês, de liberação modificada; SC: subcutânea; SGLT2: co-transportador de sódio/glicose 2; TFG: Taxa de Filtração Glomerular; XR:M do inglês, liberação estendida.

Com exceção dos miméticos e análogos do GLP-1, que tem como via de administração a via subcutânea, todos os demais são de administração oral.

Considerando as principais características (Quadro 1 acima), alguns dos medicamentos se configuram como primeira escolha em adultos não gestantes com recente diagnóstico de diabetes tipo 2 com hemoglobina glicada (HbA1c) menor que 7,5% e sem doença cardiovascular e renal para controle glicêmico e prevenção de complicações. Entretanto, a depender do contexto clínico do paciente e da evolução do diabetes, pode haver necessidade de combinação de antidiabéticos (AD). Porém, essa combinação deve ser individualizada e deve considerar preferências e aspectos clínicos do paciente, principalmente funções cardiovascular e renal, tolerabilidade em termos de efeitos adversos e interações medicamentosas potenciais com intervenções farmacológicas usadas para outras enfermidades, além de questões de acesso, facilitadores de adesão e preferências.