Módulo 2 | Aula 1 Tratamento não farmacológico do diabetes: dieta, exercício físico e educação para autocuidado
Nutrientes, grupos de alimentos, padrões alimentares e recomendações específicas para o manejo da dieta
O paciente com diabetes tipo 2 apresenta particularidades que necessitam ser consideradas na elaboração um plano alimentar.
Cerca de 80% desses pacientes têm sobrepeso; portanto, a perda de peso é uma parte importante do tratamento.
Uma perda de peso de aproximadamente 5% a 7% promove melhora metabólica e apoia no controle glicêmico. Por isso, recomenda-se uma dieta hipocalórica balanceada, orientada por um nutricionista especialista.
Para pacientes com diabetes tipo 1, o plano alimentar poderá ser normocalórico, uma vez que fazem uso de insulinoterapia. Na presença de sobrepeso, pode-se recomendar um plano hipocalórico leve. A hipoglicemia e hiperglicemia precisam ser evitadas. As metas glicêmicas podem ser mais flexíveis e a contagem de carboidratos deve ser orientada, essencialmente nas fases de crescimento e desenvolvimento.
Padrões alimentares no cuidado do diabetes
Padrões alimentares representam o conjunto de alimentos/preparações consumidos por uma determinada população/pessoa. Geralmente, esses padrões incluem elementos culturais significativos, como as refeições em família.
A dieta mediterrânea tem sido apontada como a abordagem dietética mais eficaz para melhorar o controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2.
O quadro abaixo detalha a composição desse padrão alimentar, que é baseado na ingestão de água e consumo de produtos locais, frescos e sazonais. Além de benéficos para a saúde, protegem o meio ambiente, garantem a biodiversidade do planeta e diminuem os impactos nas alterações climáticas.
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O consumo frequente de ervas aromáticas, além do alho e cebola como temperos complementares, aumenta a ingestão de compostos organossulfurados, aminoácidos e micronutrientes com propriedades anti-inflamatórias, antitrombóticas e antioxidantes.
- Compostos Organossulfurados: compostos organossulfurados são compostos, normalmente orgânicos que contém pelo menos uma ligaçao covalente carbono – enxofre. Fonte: Wikipedia.
E quais são as recomendações gerais sobre grupo de alimentos no controle do diabetes?
Os carboidratos são nossa fonte primária de energia, porém, 100% dos carboidratos têm como produto final a glicose.
Por serem alimentos energéticos, os carboidratos precisam estar presentes na nossa alimentação, por isso na construção do plano alimentar é importante incluir de 50% a 60% de alimentos desse grupo.
Como já sabemos que o produto final dos carboidratos é a glicose, é preciso estar atento ao índice glicêmico de cada alimento ingerido.
- Glicemia: é a quantidade de glicose (açúcar) no sangue.
- índice Glicêmico: é o valor de glicemia após comermos determinado alimento.
A qualidade dos carboidratos deve variar, mas a quantidade deve ser mantida por refeição e não mudar entre os dias, principalmente para diabéticos que fazem uso de medicação oral ou insulinoterapia, uma vez que a prescrição medicamentosa também é fixa.
Orientações sobre a inclusão de carboidratos na alimentação
Reduza o consumo de doces e refrigerantes. Opte por alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras.
Substitua produtos refinados, como pão e arroz brancos, por versões integrais. Alimentos integrais são ricos em fibras, o que ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue.
Evite consumir muitos alimentos ricos em carboidratos de uma só vez, como massas, pães e cereais. Prefira raízes e tubérculos, como batata doce e inhame, que possuem melhor valor nutritivo comparado ao pão e bolacha.
Escolha frutas com baixo índice glicêmico. Frutas com alta carga glicêmica podem ser consumidas junto com outras refeições, como no café da manhã, almoço ou jantar, variando ao longo do dia. Lembre-se de que as frutas contêm glicose e frutose, que, dependendo da quantidade consumida, podem elevar os níveis de glicose no sangue.
As gorduras são essenciais para o organismo, constituindo também uma importante fonte de energia.
No controle do diabetes, é preciso moderar o consumo de gorduras de origem animal e evitar frituras, pois a hiperglicemia pode alterar os níveis de triglicerídeos e colesterol, contribuindo para o aumento do risco cardiovascular. O uso de gordura monoinsaturada, como o azeite de oliva, pela presença de substâncias fenólicas deve ser estimulado.
Na presença do risco cardiovascular aumentado, preferir alimentos como leite e iogurte desnatados, além de queijo com menor percentual de gordura.
As proteínas são nutrientes essenciais para o nosso organismo, exercendo diversas funções como a construção e reparação de tecidos, além da função de defesa do organismo, por meio do sistema imunológico.
O consumo excessivo de proteína não deve ser estimulado, pois aumenta o ritmo de filtração renal, o que pode ser danoso aos rins e ainda pode alterar a glicose sanguínea. Por isso, o acompanhamento por um nutricionista é importante.
São fontes de proteína: ovos, leite e derivados, carnes, aves e pescados, feijão, soja, lentilha.
Os ovos constituem uma proteína de alto valor biológico. No entanto, alguns estudos não recomendam o consumo de mais de 2 ovos para indivíduos diabéticos, pois a ingestão de mais de 500 mg de colesterol dietético pode contribuir para o aumento do colesterol sanguíneo.
A escolha dos queijos deve ser baseada nos percentuais mais baixos de gordura. Recomenda-se queijos mais magros, como ricota, minas frescal, muçarela light e requeijão light sem acréscimo de amido, com percentual menor que 20% de gordura total. Por outro lado, é necessário evitar queijos como do reino, manteiga e prato, pois são mais ricos em gordura. Também é preciso ficar atento à quantidade de sal dos queijos, evitando os mais salgados.
Estudos experimentais mostram que o consumo de produtos ultraprocessados induz altas respostas glicêmicas, uma vez que são ricos em açúcares e gorduras, gerando alterações metabólicas e distúrbios na homeostase da microbiota intestinal. As alterações na microbiota intestinal podem causar desde problemas digestivos até a produção de superbactérias.
Os aditivos, como espessantes e corantes, além dos compostos químicos formados durante os processos de fabricação ou liberados das embalagens dos produtos ultraprocessados, são alguns dos mecanismos que podem explicar a relação entre o consumo desses produtos e a ocorrência de doenças como diabetes.
A dica é: descasque mais e desembrulhe menos.
E quais são as principais orientações em relação a micronutrientes e alimentos específicos?
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O álcool é energético! Contudo, denominamos suas calorias como vazias, pois é ausente de vitaminas e sais minerais.
Para indivíduos que bebem socialmente, considera-se consumo moderado 1 drink para mulheres por dia e 2 drinks para homens por dia, desde que devidamente orientados quanto aos sinais, sintomas e manejo da hipoglicemia decorrente da ingestão de álcool.
O consumo de bebida alcoólica em jejum deve ser evitado, e a glicemia após a ingestão deve ser monitorada.
A quantidade de 30g de etanol é equivalente a 600ml de cerveja, 2 cálices de vinho ou 2 doses de uísque, podendo causar hiperglicemia quando consumida em quantidades superiores. Contudo, o consumo elevado de álcool faz com que o fígado consuma o estoque de glicogênio, podendo causar hipoglicemia.
Consumir adoçantes artificiais, em vez do açúcar, auxilia na diminuição da ingestão calórica, o que pode ser desejável para pessoas com diabetes e excesso de peso. Quem quiser optar pela linha natural pode escolher entre estévia, eritritol e xilitol.
O ciclamato e a acarina podem atravessar a barreira placentária durante a gestação. Por isso, essas categorias de adoçantes não devem ter seu consumo estimulado nessa fase da vida.
Contagem de carboidratos
A contagem de carboidratos é uma forma de entender como os carboidratos afetam a glicemia. Essa ferramenta dietética ajuda a equilibrar a relação entre a glicemia, o carboidrato ingerido e a quantidade de insulina/hipoglicemiantes orais, melhorando o estilo de vida ao oferecer maior flexibilidade na alimentação.
Tanto pessoas com diabetes tipo 2 como aquelas com diabetes tipo 1 podem se beneficiar da contagem de carboidratos.
Como os alimentos impactam na glicemia
Cada tipo de alimento gera uma resposta glicêmica em nosso organismo e, dependendo do tipo de carboidrato, a glicemia pode ser alterada em maior ou menor velocidade.
Se o indivíduo apresentar glicemias mais elevadas, é conveniente utilizar carboidratos com resposta glicêmica mais baixa.
Uma porção de carboidratos de 15g = ½ banana comprida, 1 rodela pequena de cará, 1 batata doce pequena, 2 colheres de aveia, 1 fatia de pão integral, 2 torradas integrais.
Uma porção de carboidratos de 15g = uma porção pequena de macaxeira ou aipim, ½ pão francês, 2 colheres de sopa de cuscuz, 1 batata inglesa
Com base nisso, o cálculo da quantidade de carboidrato total e por refeição deve ser realizado por um nutricionista, de forma individualizada, levando em consideração características como peso, prática de exercício físico, medicação e estilo de vida do paciente.
Para os indivíduos com diabetes tipo, que fazem uso de hipoglicemiantes orais, as quantidades de carboidratos devem ser fixas, pois a medicação apresenta dosagem fixa.
Vamos exemplificar: se durante a semana, por exemplo, houver um consumo de 72 g de carboidrato no café da manhã e no final de semana a pessoa consumir 174 g, o dobro, a glicose estará elevada. É possível variar a qualidade dos carboidratos, mas manter as quantidades.
Como variar a dieta
Ter um Manual de Contagem de Carboidratos para pessoas com diabetes como o da Sociedade Brasileira de Diabetes (2023) é uma ótima opção de consulta para substituições.
Confira este exemplo!
Uma nutricionista recomendou o consumo de 57g de carboidratos no café da manhã, veja as variações possíveis:
Tabela com três colunas e quatro linhas, divididas em: café da manhã 1 (Alimento – gramas de carboidratos), café da manhã 2 (Alimento - gramas de carboidratos) e café da manhã 3 (Alimento – gramas de carboidratos).
No café da manhã 1: Fruta - 15g, 2 fatias de pão integral-30g, 1 fatia de queijo-0g, 1 copo de leite - 12g.
No café da manhã 2: Fruta - 15g, 1 prato raso de papa de aveia: (2 colheres de sopa de aveia + 1 copo de leite) – 27g, meia banana comprida -15g, 1 fatia de queijo - 0g.
No café da manhã 3: Fruta - 15g, 2 rodelas de inhame - 30g, 1 ovo – 0g, 1 copo de leite – 12g.
No caso de alimentos industrializados é possível identificar a porção de carboidrato no rótulo.
Atualmente esses produtos devem ter na frente um símbolo indicando se tem alto teor de açúcar adicionado, gordura saturada e sódio.
Na tabela nutricional também é possível observar o tamanho da porção do alimento, a quantidade total de carboidratos, gorduras e fibras.
Como saber se o paciente está no caminho certo
Para acompanhar os efeitos do plano alimentar, do exercício físico e do tratamento medicamentoso, o paciente precisa medir a glicemia antes e duas horas após as refeições e verificar se as metas de controle glicêmico foram atingidas.