Curso 1

Vacinação Covid‑19:
Protocolos e Procedimentos Técnicos

Módulo 1

Tópico 1

Tipos de vacina

As vacinas exploram a capacidade extraordinária do sistema imunológico humano altamente evoluído, de responder e se lembrar de encontros com antígenos patogênicos. No entanto, durante grande parte da história, as vacinas foram desenvolvidas por meio de pesquisas empíricas sem o envolvimento de imunologistas.

Quanto mais entendemos sobre as vacinas, melhor controlamos surtos que ameaçam a segurança da saúde global (como Covid‑19 ou Ebola) e podemos descobrir como reativar as respostas imunológicas de um sistema imunológico em envelhecimento (no caso do herpes zoster) e proteger a crescente população de idosos de doenças infecciosas.

O desenvolvimento de vacinas tem se baseado em escolhas racionais desde meados do século 20, quando a imunologia avançou a ponto de distinguir a proteção mediada por anticorpos da mediada por linfócitos, e quando a passagem em cultura de células permitiu a seleção de atenuados mutantes. Depois desse ponto, vacinas foram desenvolvidas “racionalmente” por estudos de proteção em animais; por inferência de respostas imunes que mostram proteger contra infecções naturais repetidas (os chamados correlatos de proteção) e do uso de administração passiva de anticorpos contra antígenos específicos para mostrar que esses antígenos devem ser incluídos nas vacinas.


Vacinas virais

As vacinas virais podem ser classificadas como atenuadas, inativadas ou de subunidades. As vacinas atenuadas contêm agentes infecciosos vivos, mas enfraquecidos, ou seja, o vírus se encontra ativo, porém, sem capacidade de produzir a doença. Raras vezes, estes vírus podem reverter para a forma selvagem causando a doença. Por isso, estas vacinas são contraindicadas para imunodeprimidos e gestantes.

Vírus atenuados levam esta denominação pois passam por um processo no qual sua virulência é reduzida a níveis considerados seguros para a aplicação clínica (vacinação).

O método mais utilizado para a obtenção de vírus atenuados baseia-se em promover infecções sequenciais de vírus patogênicos em culturas celulares in vitro, ou em ovos embrionados. O que se obtém após a série de passagens são cepas virais menos virulentas (atenuadas), as quais sofreram mutações genéticas pontuais que comprometem o funcionamento de fatores virais necessários à patogenicidade, sem, no entanto, gerar prejuízos à capacidade “replicativa” do vírus.

Quando aplicado no corpo de um indivíduo, o vírus atenuado é capaz de se replicar, porém de maneira lenta, sem causar maiores danos ao organismo. A prolongada exposição ao vírus durante a lenta replicação viral induz uma resposta imune. Esta resposta leva à produção de células de memória (linfócito B e T), as quais garantem o estabelecimento de imunidade contra o vírus em questão.

Já as vacinas inativadas e de subunidades usam agentes mortos ou apenas partículas deles. Os componentes dessas vacinas são chamados de antígenos e têm como função estimular o sistema imune a produzir anticorpos, de forma semelhante ao que acontece quando somos expostos aos vírus - porém, sem causar doença - reduzindo ao máximo o risco de infecção. A vacina inativada contém o vírus inativado por agentes químicos ou físicos; as vacinas de subunidades são fragmentos do vírus (antígenos) purificados.

Vacinas inativadas ou de subunidades não chegam a “imitar” a doença - como as atenuadas. O que elas fazem é “enganar” o sistema imune e fazer acreditar que o agente infeccioso morto, ou uma partícula dele, representa perigo real e desencadeia o processo de proteção. São vacinas sem risco de causar infecção em pessoas imunodeprimidas ou em gestante e seu feto. Por trabalhar com patógenos completamente incapacitados de provocar sintomas de uma doença, as vacinas inativadas, de modo geral são formuladas com adjuvantes (componentes que ajudam na estimulação do sistema) e tendem a ter esquemas vacinais com várias doses, como as vacinas de poliomielite injetável (VIP) e de subunidades da hepatite B.

São exemplos de vacinas inativadas a da poliomielite injetável (VIP), da hepatite A, da gripe e da raiva.

Atualmente, algumas vacinas são obtidas por engenharia genética, como, por exemplo, a vacina para hepatites B e a vacina para infecções com vírus do papiloma humano (HPV). Nessas vacinas, emprega-se a informação genética do patógeno, responsável pela codificação de proteínas que representem antígenos relevantes para a proteção. É possível, então, produzir proteínas recombinantes por meio de sistemas de expressão heteróloga usando outros microrganismos - como bactérias e leveduras - ou células de mamíferos ou de insetos como fonte para os antígenos a serem incorporados nas formulações vacinais.

Além disso, a disseminação das técnicas de manipulação genética alterou de diferentes maneiras a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas. Por meio de estratégias de clonagem gênica e mutagênese, podemos gerar vírus atenuados de forma precisa e com mais segurança.