
Aula 2
Depressão perinatal
Objetivos de aprendizagem:
- Reconhecer sinais de alerta para depressão na gravidez e puerpério.
- Aplicar a escala de Depressão Perinatal de Edimburgh.
- Praticar condutas empáticas e acolhedoras no atendimento à mulher com depressão.
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Identificar mulheres com necessidade de ajuda imediata.
Depressão perinatal
A depressão perinatal é uma condição muito frequente, podendo afetar até uma em cada quatro mulheres (25% dos casos). No entanto, frequentemente passa despercebida.

Algumas mulheres não falam sobre o que sentem por medo do julgamento alheio. Mesmo quando conseguem relatar seus sintomas a um profissional de saúde, é comum que não recebam o tratamento adequado. Por isso, é fundamental ampliar a conscientização e qualificar o cuidado prestado nesse período tão sensível.
Algumas características dessa condição:

> Acompanhe este caso
Lorraine, 23 anos, G2Pc1A0, sem patologias prévias. Começou o pré-natal com 12 semanas. Fez todos os exames, que não mostraram quaisquer alterações. Está em uso de sulfato ferroso. Na 5ª consulta, com IG = 28 semanas, diz que está muito nervosa. Davidson, seu filho, tem 7 anos. A professora falou que ele é hiperativo e precisa consultar com psicólogo. Lorraine pede para você prescrever um calmante.

Como você poderia explorar esta queixa?
Quais informações adicionais podem ser relevantes?
- Lorraine diz que depois do nascimento de Davidson ficou muito triste e nervosa, não conseguia cuidar dele, achava que não ia dar conta, não dormia direito. Tinha um medo exagerado de que algo ruim pudesse acontecer com o filho. Sentia-se o tempo todo cansada. Não conseguia se concentrar nas coisas.
- Até hoje tem vergonha de falar, mas na época pode dizer que queria morrer. Só depois que o Davidson completou um ano, é que melhorou um pouco. Nunca falou sobre isso com ninguém.
- Não queria engravidar agora, porque o marido está desempregado e estão brigando muito. Às vezes fica triste e chora.
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Mudou-se para o bairro há poucos meses. Seu pai já morreu. Sua mãe e irmãs moram no interior.

Se as mulheres não costumam falar sobre seus sintomas e não reconhecem a depressão como um problema, como essas pacientes podem ser encontradas pelo serviço de saúde?
O profissional de saúde deve estar atento aos fatores de risco. Não apenas médicos e enfermeiros, qualquer membro da equipe, incluindo ACS devem estar atentos aos fatores de risco para depressão perinatal. Se presentes, converse com a mulher e seus familiares. Busque notícias sobre ela.
Fique atento porque nem sempre a mulher verbaliza o que está sentindo. Muitas vezes, os sinais aparecem primeiro em pequenos comentários, mudanças de comportamento ou no contexto em que ela vive.

Por isso, é fundamental que os profissionais de saúde estejam atentos aos fatores de risco para depressão perinatal. A seguir, veja a tabela que organiza esses fatores em três níveis de gravidade:
Risco baixo a moderado | Risco moderado a alto | Risco alto |
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Atenção!
Fique alerta aos sinais como a perda da capacidade de dormir quando o bebê está dormindo, a perda rápida de peso acompanhada da falta de apetite e a perda do prazer em comer.
> O profissional de saúde deve aplicar um instrumento de rastreio. Você sabe o que um instrumento de rastreio?
Rastreio, Rastreamento ou Screening é a utilização de exames para detectar uma doença em pessoas assintomáticas. A premissa do rastreamento é que a doença seria identificada antes dos sintomas, possibilitando começar o tratamento nas fases iniciais da doença com objetivo de aumentar as chances de cura.

No caso da depressão pós parto, não se trata de um exame de sangue, mas sim um questionário, chamado Escala de Depressão pós parto de Edinburgh (EDPE).
- A Escala de Depressão Pós-parto de Edinburgh (EDPE) é um questionário auto-aplicável, de fácil e rápida execução. Apresenta melhores valores preditivos nos 2° e 3° trimestres. Recomenda-se sua aplicação no final da gravidez e no puerpério (2 semanas após o parto, para excluir o Blues Puerperal).
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A EDPE tem uma pontuação de 0 a 30. Pontuação ≥ 12 indica rastreio positivo. Nestes casos, a paciente deve ser avaliada pelo médico, que vai realizar uma boa anamnese e verificar se preenche critérios diagnósticos para depressão maior, pelo DSM-5 ou outro método diagnóstico, como o CID-10.
Fluxograma para aplicação e interpretação da Escala de Depressão Pós-parto de Edinburgh


Você sabia?
O blues puerperal, também denominado baby blues ou tristeza pós-parto, é uma condição emocional transitória frequentemente observada em mulheres no período pós-parto. Caracteriza-se por labilidade emocional, episódios de choro frequente, irritabilidade, ansiedade e oscilações de humor, manifestando-se, em geral, nos primeiros dias após o nascimento do bebê.
A triagem para depressão deve ser realizada em todas as mulheres, mesmo se não apresentarem sintomas de doença mental. Veja a recomendação da OMS:
Recomendações da OMS sobre cuidados maternos e neonatais para uma experiência pós-natal positiva
Recomendação | Força da recomendação | |
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Triagem para depressão e ansiedade pós‑parto | A triagem para depressão e ansiedade pós‑parto com um instrumento validado é recomendada e deve ser acompanhada por serviços de diagnóstico e tratamento para mulheres com triagem positiva. | Recomendado |
> Escala de depressão pós-parto de Edimburg (EDPE)
A Escala de depressão pós-parto de Edimburgo (EDPE) é um instrumento de autoavaliação composto por 10 itens que abordam sintomas depressivos frequentemente observados no período do puerpério.
O questionário é autoaplicável e pode ser preenchido pela mulher enquanto aguarda a consulta, por exemplo. Deve ser entregue ao profissional de saúde (pré-natalista) no início do atendimento, para que seja feita a devida interpretação.
Também é possível que o preenchimento ocorra durante uma visita domiciliar, tanto na gestação quanto no puerpério, com o apoio do Agente Comunitário de Saúde (ACS). Nesses casos, o ACS pode somar os pontos e comunicar o médico da equipe caso a pontuação seja igual ou superior a 12(doze).
Apesar de sua simplicidade e da forte recomendação por diversas organizações de saúde, a EDPE ainda é pouco utilizada nos serviços de atenção à saúde.
Trata-se, no entanto, de uma ferramenta importante que pode, por si só, contribuir para sensibilizar os profissionais sobre os problemas de saúde mental durante a gestação e o pós-parto.
Conheça o formulário da Escala de depressão pós-parto de Edinburgh:
1. Eu tenho sido capaz de rir e achar graça das coisas | 6. Eu tenho me sentido esmagada pelas tarefas e acontecimentos do meu dia‑a‑dia | ||
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0 | Como eu sempre fiz | 3 | Sim, na maioria das vezes não consigo lidar bem com eles |
1 | Não tanto quanto antes | 2 | Sim, algumas vezes não consigo lidar tão bem quanto antes |
2 | Sem dúvida, menos que antes | 1 | Não. Na maioria das vezes consigo lidar tão bem quanto antes |
3 | De jeito nenhum | 0 | Não. Eu consigo lidar tão bem quanto antes |
2. Eu sinto prazer quando penso no que está por acontecer em meu dia‑a‑dia | 7. Eu tenho me sentido tão infeliz que eu tenho tido dificuldade de dormir | ||
0 | Como sempre senti | 3 | Sim, na maioria das vezes |
1 | Talvez, menos que antes | 2 | Sim, algumas vezes |
2 | Com certeza menos | 1 | Não muitas vezes |
3 | De jeito nenhum | 0 | Não, nenhuma vez |
3. Eu tenho me culpado sem necessidade quando as coisas saem erradas | 8. Eu tenho me sentido triste ou arrasada | ||
3 | Sim, na maioria das vezes | 3 | Sim, na maioria das vezes |
2 | Sim, algumas vezes | 2 | Sim, muitas vezes |
1 | Não muitas vezes | 1 | Não muitas vezes |
0 | Não, nenhuma vez | 0 | Não, de jeito nenhum |
4. Eu tenho me sentido ansiosa ou preocupada sem uma boa razão | 9. Eu tenho me sentido tão infeliz que eu tenho chorado | ||
3 | Sim, muitas vezes | 3 | Sim, quase todo o tempo |
2 | Sim, algumas vezes | 2 | Sim, muitas vezes |
1 | Não muitas vezes | 1 | De vez em quando |
0 | Não, nenhuma vez | 0 | Não, nenhuma vez |
5. Eu tenho me sentido assustada ou em pânico sem um bom motivo | 10. A ideia de fazer mal a mim mesma passou por minha cabeça | ||
3 | Sim, muitas vezes | 3 | Sim, muitas vezes, ultimamente |
2 | Sim, algumas vezes | 2 | Algumas vezes nos últimos dias |
1 | Não muitas vezes | 1 | Pouquíssimas vezes, ultimamente |
0 | Não, nenhuma vez | 0 | Nenhuma vez |
> Tratamento
O tratamento pode ser feito com medicamentos e ou psicoterapia. Na maioria das vezes requer seguimento de médio ou longo prazo.
Melhores resultados são obtidos quando são avaliados e tratados aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
Veja a seguir os exemplos de tratamento não farmacológico. Eles constituem a primeira escolha para o tratamento.
- Grupos psicoeducativos.
- Debriefing pós-parto antes da alta hospitalar.
- Orientações pré e pós-parto.
- Visitas domiciliares/contato telefônico por profissional treinado ou por pares.
- Psicoterapia interpessoal (terapia estruturada breve e focal).
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Psicoterapia cognitivo-comportamental (diretiva, breve, focada no problema atual da paciente).
A OMS recomenda “Intervenções psicossociais e/ou psicológicas durante o período pré e pós-natal são recomendadas para prevenir a depressão e a ansiedade pós-parto”. Veja a recomendação:
Recomendações da OMS sobre cuidados maternos e neonatais para uma experiência pós-natal positiva
Recomendação | Força da recomendação | |
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Prevenção da depressão e ansiedade pós‑parto | Intervenções psicossociais e/ou psicológicas durante o período pré e pós‑natal são recomendadas para prevenir a depressão e a ansiedade pós‑parto. | Recomendado |
Quais intervenções desse tipo são realizadas em sua unidade? Converse com outros profissionais da equipe multiprofissional, em particular psicólogos, se estiverem disponíveis na sua unidade. Discuta este problema, planeja intervenções que podem ser úteis.
Alguns sinais podem indicar que o tratamento não está sendo eficaz ou que o quadro clínico está se agravando. Em casos de transtornos mentais, o risco de suicídio é uma complicação possível e deve ser levado a sério. Ao identificar qualquer indício de risco à vida, é fundamental acionar o médico responsável e realizar o encaminhamento imediato para um serviço de referência em saúde mental, como o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
É importante observar os sinais:
- Ausência de melhora após 6 semanas de tratamento.
- Ideação ou comportamento suicida ou homicida.
- Comportamento agressivo.
- Sintomas psicóticos (delírio ou alucinação).
- Catatonia.
- Alterações de julgamento que coloquem a paciente ou terceiros em risco iminente.
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Perdas funcionais limitantes.
A depressão perinatal é comum, mas muitas vezes invisível. Por isso, toda a equipe de saúde deve estar atenta: reconhecer sinais, aplicar a Escala de Edimburgo, acolher com empatia e encaminhar quando necessário.
Cuidar da saúde mental materna é também cuidar da vida. Ao escutar sem julgamento e agir com responsabilidade podemos mudar histórias e fortalecer redes de apoio.
Cada acolhimento pode fazer a diferença. Que possamos ser esse ponto de escuta e cuidado.
Atividade
Em relação à depressão perinatal, é correto afirmar que:
