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Pré-natal de
Qualidade

Aconselhamento e Dispensação
de Contraceptivos e Prevenção
da Gravidez na Adolescência
Curso para ACS

Capa das páginas do curso Campus Virtual

Módulo 3 | Condições clínicas comuns

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Aula 1

Hipertensão na gravidez

Objetivos de aprendizagem:

  • Conhecer o papel das três demoras na mortalidade materna.
  • Discutir as diferentes formas de hipertensão na gravidez, em particular a diferença entre HAC e PE.
  • Analisar a periodicidade das sorologias na caderneta da gestante, comparando com o protocolo vigente.
  • Identificar os fatores de risco clínicos para pré-eclâmpsia.
  • Orientar as medidas de prevenção para pré-eclâmpsia (AAS, cálcio e atividade física).
  • Conhecer os critérios diagnósticos para pré-eclâmpsia.
  • Reconhecer os sinais de alerta para pré-eclâmpsia.

Por que hipertensão na gravidez é uma questão importante para o profissional da atenção primária?

A hipertensão na gravidez é uma questão crítica para a atenção primária, pois é uma das principais causas de mortalidade materna, tanto no Brasil quanto no mundo. No entanto, muitos casos são evitáveis. Uma abordagem adequada e um atendimento eficiente e ágil são fundamentais para prevenir a morte materna por hipertensão. Atrasos na triagem, diagnóstico, transporte e tratamento podem ter consequências fatais. É essencial reforçar a importância de um atendimento rápido e eficaz para salvar vidas.

Clique aqui e assista ao vídeo sobre o Cuidado integral a gestantes e bebês e a Rede Alyne

No Brasil, em 2019, foram notificados 1.576 óbitos maternos. Após aplicação de fator de correção de 1.05, este número pode chegar a 1.655. As causas obstétricas diretas foram responsáveis por 65,7% dos óbitos. Entre estas, 370 óbitos foram devidos à hipertensão na gravidez (20% do total de óbitos).

Fonte: Ministério da Saúde, Brasil (2021).

Também é uma das principais causas de morbidade materna e fetal/neonatal. Isto é, mesmo quando não ocorre morte materna, podem ocorrer complicações graves para a mãe ou para o bebê.

Veja as principais causas de morbidade materna e fetal/neonatal:

Mortalidade materna por hipertensão

Por que as mulheres têm morrido por hipertensão, apesar de ser uma causa prevenível?

Um estudo analisou os óbitos por hipertensão e identificou atrasos nos diferentes níveis de atenção. Observe o quadro a seguir, e identifique os atrasos que ocorrem na APS.

Fonte: Freepik (2025)

Circunstâncias e fatores relacionados à assistência à gestação, ao parto e ao puerpério a partir da causa da morte por hipertensão

Circunstâncias da causa da morte Fatores relacionados à assistência à gestação, parto e puerpério

Demora na identificação da complicação (1.ª colocação)

  • Na consulta de pré‑natal o médico/enfermeiro não atenta para os sinais e sintomas da hipertensão;
  • Ausência ou fragilidade no acompanhamento da gestante pela equipe da UBS;
  • Hospital: fragilidade no acolhimento e classificação de risco e, quando medicada, não é monitorada e recebe alta precoce;
  • Falta de orientações sobre a conduta para a gestante quanto aos sinais e sintomas da hipertensão.

Diagnóstico tardio da hipertensão (2.ª colocação)

  • Pré‑natal: não identifica a hipertensão, não valoriza as queixas das gestantes e não solicita exames específicos ou há demora na entrega dos resultados.

Dificuldade na referência e contrarreferência (3.ª colocação)

  • Inexistência ou fragilidade da central de regulação de leitos;
  • Distância da residência até a referência (referência centralizada nos grandes centros);
  • Ausência de oferta de transporte àquelas gestantes em situação de vulnerabilidade social;
  • Não é repassada a informação sobre o local do parto, a partir da vinculação pela central de leitos pelo serviço que realiza o pré‑natal;
  • Não existe ou é precária a pactuação entre municípios pequenos e os de referência para o pré‑natal de alto risco;
  • Devido à falta de oferta de consultas nas unidades de residência, as gestantes custeiam pré‑natal em clínicas populares às suas expensas ou não se vinculam a um serviço de referência ao parto.
Fonte: Ministério da Fazenda, Brasil (2019).

> Atuação de profissionais da atenção primária na prevenção da mortalidade materna por hipertensão

O tempo é crucial na obtenção de cuidados adequados para evitar mortes maternas.

  • Fatores que interferem na busca pelo cuidado adequado determinam as chances de vida e morte.
  • Muitas mulheres que morrem em decorrência de complicações na gestação chegam tarde aos locais em que poderiam receber cuidados adequados.

O modelo para o estudo da mortalidade materna proposto por Thaddeus S e Maine D (1994), considera o tempo para a obtenção de cuidados obstétricos adequados como a variável mais importante para a redução da mortalidade materna.

Confira a seguir, as três fases do modelo:

  • Fase I - Demora na decisão de procurar cuidados pelo indivíduo e / ou família;
  • Fase II - Demora em chegar a uma unidade de cuidados adequados de saúde;
  • Fase III - Demora em receber os cuidados adequados na instituição de referência.

Para reduzir a mortalidade materna é necessário que todas as mulheres tenham acesso a cuidados obstétricos de emergência oportunamente!

Clique aqui e assista o vídeo e os slides sobre: O Papel das Demoras na Provisão de Cuidados Adequados às Complicações Maternas

Caderneta Médica

De que maneira o agente comunitário de saúde pode contribuir para reduzir cada uma dessas demoras?

Reflita sobre essa pergunta e discuta com sua equipe.

> Identificação da hipertensão na gravidez

Hipertensão é identificada através da mensuração da pressão arterial com um esfigmomanômetro.

Fonte: Freepik (2025)

É considerada anormal sempre que: PAS ≥ 140 mmHg ou PAD ≥ 90 mmHg. Medidas alteradas precisam ser confirmadas por outra mensuração.

Clique aqui e saiba mais sobre como aferir a pressão arterial (PA) no material do Ministério da Saúde.

> Medida da PA em gestantes obesas

Nos indivíduos obesos, o uso de um manguito com tamanho e forma ideais em relação ao braço do paciente é de importância primordial. A escolha do manguito apropriado depende não apenas da circunferência do braço, mas também de sua forma. Manguitos mais longos e largos são necessários nesses pacientes para não haver superestimação da PA. A abordagem do antebraço deve ser considerada válida e pode ser usada em contextos clínicos para medir a PA, quando a medição do braço for desafiadora na obesidade grave (circunferência superior a 50 cm, em que não há manguito disponível).

> Avaliação das medidas da PA

A pressão arterial (PA) é um dos principais indicadores de saúde cardiovascular e sua interpretação é essencial para um diagnóstico preciso. Conhecer a classificação diagnóstica da hipertensão arterial é fundamental para identificar precocemente alterações nos níveis de pressão e adotar as condutas adequadas para cada caso.

No contexto da gravidez, a avaliação da PA exige ainda mais atenção, pois valores alterados podem indicar condições distintas, como hipertensão arterial crônica ou pré-eclâmpsia. Embora ambas apresentem aumento da pressão arterial, suas causas, evolução e impactos na saúde materno-fetal são diferentes.

A seguir, conheça a classificação detalhada da hipertensão arterial em adultos e suas particularidades da PA durante a gestação, diferenciando os principais tipos de doenças hipertensivas que podem surgir nesse período.

Classificação diagnóstica da hipertensão arterial (adultos com mais de 18 anos de idade)

PAD (mmHg) PAS (mmHg) Classificação
< 85 < 130 Normal
85–89 130–139 Normal limítrofe
90–99 140–159 Hipertensão leve (estágio 1)
100–109 160–179 Hipertensão moderada (estágio 2)
> 110 > 180 Hipertensão grave (estágio 3)
< 90 > 140 Hipertensão sistólica isolada

Porém, nem todas as medidas alteradas de PA têm o mesmo significado na gravidez. É fundamental distinguir hipertensão arterial crônica e pré-eclâmpsia. As duas condições apresentam PA elevada, porém as duas condições apresentam evolução diferentes. Veja abaixo:

Hipertensão arterial crônica é uma doença que já existia antes da gravidez. Como a paciente podia não ter conhecimento, admite-se que toda hipertensão diagnosticada antes de 20 semanas é HAC.

Pré-eclâmpsia e Hipertensão gestacional são doenças hipertensivas que aparecem durante a gravidez, a partir de 20 semanas.

Diagnóstico diferencial das doenças hipertensivas na gravidez

Condição Definição
Hipertensão arterial crônica (HAC) Presença de hipertensão relatada pela gestante ou identificada antes da 20.ª semana de gestação (lembrar de solicitar proteinúria de base até 20 semanas — junto com rotina).
Hipertensão aparecendo na gravidez Hipertensão gestacional Identificação de hipertensão arterial, em gestante previamente normotensa, a partir da 20.ª semana de gestação — porém sem proteinúria ou manifestação de outros sinais/sintomas relacionados à pré‑eclâmpsia.
Pré‑eclâmpsia Identificação de hipertensão arterial, em gestante previamente normotensa, a partir da 20.ª semana de gestação — associada à proteinúria significativa.

Na ausência de proteinúria, também se considera pré‑eclâmpsia quando a hipertensão arterial for acompanhada de comprometimento sistêmico ou disfunção de órgãos‑alvo.
Fonte: Adaptado Manual de Gestação de Alto Risco – Ministério da Saúde, 2022.

Gestantes com Hipertensão arterial crônica (HAC) também podem apresentar pré-eclâmpsia (sobreposta). A HAC é um dos principais fatores de risco para pré-eclâmpsia. E pré-eclâmpsia ocorrendo em gestantes portadoras de HAC pode ser mais grave. Por isso mulheres com HAC são consideradas gestantes de alto risco.

Qual o papel da Atenção Primária em Saúde na abordagem das doenças hipertensivas na gravidez?

  1. Identificar e atuar sobre fatores de risco conhecidos da pré-eclâmpsia, desde a primeira consulta;

  2. Identificar a hipertensão na gravidez;

  3. Reconhecer e agir apropriadamente sobre sinais e sintomas após 20 semanas de gestação (evitar as demoras).

> Fatores de risco para pré-eclâmpsia e como eles podem ser identificados

O pré-natalista deve buscar marcadores de risco para pré-eclâmpsia na primeira consulta de pré-natal.

Conheça os riscos moderados e fatores de risco maiores da pré-eclâmpsia a seguir:

Fatores de risco moderados Fatores de risco maiores
  • Nuliparidade.
  • História familiar de pré‑eclâmpsia (Mãe e/ou irmãs) idade ≥ 35 anos.
  • Gravidez prévia com desfecho adverso (descolamento prematuro de placenta, baixo peso ao nascer com > 37 semanas, trabalho de parto prematuro).
  • Intervalo > 10 anos desde a última gestação.
  • História de pré‑eclâmpsia, principalmente acompanhada de desfechos adversos.
  • Gestação múltipla.
  • Obesidade (IMC > 30).
  • Hipertensão arterial crônica.
  • Diabetes tipo 1 ou 2.
  • Doença renal.
  • Doenças autoimunes (Ex.: Lúpus eritematoso sistêmico, síndrome antifosfolípide).
  • Gestação decorrente de reprodução assistida.

Várias meta-análises e revisões sistemáticas têm buscado estabelecer os fatores de risco ambientais, biológicos e genéticos para pré-eclâmpsia.

> Os fatores de risco podem ser identificados durante a primeira consulta de pré-natal e registrados na caderneta de gestante

Hipertensão crônica

Pré-eclâmpsia prévia

Diabetes pré-gestacional

Gestação gemelar

SAAF*

IMC>30

*Suspeitar em pacientes com história de trombose e maus resultados obstétricos.

Perceba a caderneta da gestante. Como podemos ver, todos os fatores de riscos maiores podem ser facilmente identificados e registrados na caderneta da gestante.

Se a gestante apresentar 1 fator de risco maior ou 2 fatores de risco moderados, o uso de AAS e cálcio está indicado.

Fonte: Caderneta da Gestante, Ministério da Saúde, 2024.

Prevenção

Algumas intervenções podem diminuir o risco de pré-eclâmpsia. As intervenções comprovadamente benéficas são:

  • Uso de AAS e cálcio em gestantes de alto risco ou com baixa ingestão de cálcio.
  • Atividade física desde o início da gestação (150 minutos por semana).

Clique aqui e leia a nota técnica conjunta nº 251/2024 do Ministério da Saúde, que foi criada para estabelecer a suplementação universal de cálcio para gestantes.

Veja o sequenciamento para a identificação e prevenção de pré-eclâmpsia na imagem a seguir.

Sequenciamento para a identificação
Fonte: ACOG, 2020.

> Sinais de Alarme na Gravidez: Identificação e Manejo na Atenção Primária

Vimos anteriormente que, entre as circunstâncias e fatores relacionados à assistência à gestação, ao parto e ao puerpério a partir da causa da morte por hipertensão, muitos estão relacionados com a atenção primária.

O que não fazer:

  • Na consulta de pré-natal o médico /enfermeiro não atenta para os sinais e sintomas da hipertensão;
  • Ausência ou fragilidade no acompanhamento da gestante pela equipe da UBS;
  • Falta de orientações sobre a conduta para a gestante quando aos sinais e sintomas da hipertensão.
  • Não identifica a hipertensão e não valoriza as queixas das gestantes e não solicita exames específicos ou ocorre demora na entrega dos resultados desses exames.

Isso significa que todos os profissionais da APS, incluindo o Agente comunitário de saúde devem estar muito atentos aos seguintes pontos:

Toda medida de PA alterada deve ser acompanhada com atenção. Qualquer PAS ≥ 140 mmHg OU PAD ≥ 90 mmHg está alterada.

Se a alteração aparece pela primeira vez após 20 semanas, o diagnóstico de pré-eclâmpsia deve ser considerado.

Gestantes com suspeita de pré-eclâmpsia precisam ser avaliadas em hospital com o objetivo de confirmar o diagnóstico e avaliar a gravidade da doença, se o diagnóstico for confirmado. Essa avaliação deve ser realizada assim que a suspeita aparece.

Gestantes com HAC ou pré-eclâmpsia devem manter PA < 140/90 mmHg. Se a pressão arterial estiver acima desse valor, algum hipotensor deve ser iniciado; e se já estiver em uso de hipotensor, a dose deve ser ajustada pelo médico.

Pacientes com HAC e/ou pré-eclâmpsia podem ser acompanhadas na comunidade, se a pressão estiver controlada e não existirem outros sinais de gravidade.

Os profissionais de ACS devem conhecer os sinais de alarme e procurar atendimento a qualquer momento, se aparecer qualquer um dos sinais de alarme.

Sinais de alarme

Sinais e sintomas

  • Dor de cabeça, principalmente quando persistente, não melhorando com analgésicos comuns.
  • Dor no estômago, também quando persistente, não melhorando com sintomáticos.
  • Falta de ar.
  • Náuseas e vômitos.
  • Diminuição da movimentação fetal.

Crise hipertensiva

PA ≥ 160/110 é uma emergência médica. A crise hipertensiva aumenta o risco de acidente vascular cerebral e morte. Um atendimento imediato é necessário, com o objetivo de diminuir os níveis pressóricos.

  • Se a gestante apresentava PA normal até então, uma crise hipertensiva pode ser a primeira manifestação da pré‑eclâmpsia.
  • Se a gestante já tinha o diagnóstico de HAC, uma crise hipertensiva pode indicar o aparecimento de pré‑eclâmpsia.
  • Se a gestante já tinha o diagnóstico de pré‑eclâmpsia, uma crise hipertensiva pode indicar o agravamento da doença.

Na vigência de uma crise hipertensiva, o tratamento deve começar o mais rápido possível. Idealmente, em até 30 minutos após o diagnóstico. Todas as gestantes com crise hipertensiva devem ser encaminhadas para uma unidade hospitalar. Mas, se ela está numa UBS, o tratamento já pode ser iniciado com Nifedipina de ação rápida, em comprimidos de 10 mg. É simples, seguro e efetivo.

Fonte: ACOG, 2019

A escolha dos medicamentos deve ser feita pelo médico. Todavia, se o agente comunitário de saúde conhece os medicamentos e as doses, pode conversar com a gestante e verificar se o uso está correto. O médico deve sempre anotar na Caderneta da Gestante todas as vezes que prescrever algum medicamento ou modificar a dose. Perceba na imagem da caderneta de vacinação.

Fonte: Caderneta da Gestante, Ministério da Saúde, 2024.

Os medicamentos mais utilizados na gestação, para controle da pressão arterial, são a Metildopa e a Nifedipina.

Conheça a orientações referentes a cada medicamento:

Medicamento Orientações
Metildopa
  • Existem comprimidos de 250 e de 500 mg. As doses variam de 500 até 3.000 mg por dia, em tomadas a cada 12 horas, a cada 8 horas, ou a cada 6 class="icon circle" horas.

  • É preciso verificar se a gestante está usando a dose prescrita. Exemplo: às vezes está prescrito Metildopa 500 mg 1 cp de 12 em 12 horas. Mas ela pode ter recebido o comprimido de 250 mg. Então precisa tomar 2 cp de 250 mg a cada 12 horas.

  • Efeito colateral: sonolência.

Nifedipina
  • Existem comprimidos de 10 e de 20 mg. Existem também comprimidos de liberação rápida e de liberação lenta (Retard). Para manutenção, o indicado é o uso dos comprimidos de liberação lenta. A dose usual é de 30 a 120 mg por dia, em tomadas a cada 12 horas, a cada 8 horas, ou a cada 6 horas.

  • Efeitos colaterais: taquicardia, dor de cabeça.

Dica

Dica!

Medir a pressão a cada 1-2 dias por até 2 semanas após a transferência para a atenção primária:
PA ≥ 140/90 – ajustar posologia de hipotensores.
PA < 120/70 – diminuir dose, suspender hipotensores.

Como vimos, é importante ter olhar atento para a hipertensão na gravidez. O acompanhamento precoce e contínuo pode salvar vidas. Continuem atentos aos sinais e orientem as gestantes sobre a importância do pré-natal. Juntos, podemos promover gestações mais seguras e saudáveis.

Atividade

Em relação à hipertensão na gravidez, é correto afirmar que:


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