
Aula 1
Até quando esperar – suporte no final da gravidez
Objetivos de aprendizagem:
- Compreender as dúvidas e ansiedades da gestante no final da gravidez, ouvindo-a com empatia.
- Identificar os testes utilizados para avaliação da vitalidade fetal e suas indicações clínicas.
- Aplicar orientações adequadas à gestante quanto à necessidade de procurar avaliação médica diante da diminuição da movimentação fetal.
- Analisar a recomendação de interrupção da gestação a partir de 41 semanas, considerando os riscos e benefícios.
-
Discutir com a gestante as indicações, benefícios e possíveis efeitos da indução do parto, promovendo uma decisão compartilhada.
A importância no suporte ao final da gravidez
A expectativa do nascimento, a preocupação com a vitalidade fetal, a presença de sintomas somáticos e psíquicos fazem do final da gestação (37-41 semanas), um período particularmente desafiador para os provedores de cuidado.

No Brasil, o modelo de cuidado está organizado de forma que o cuidado durante o pré-natal compete à atenção primária (na comunidade) e o cuidado ao parto compete aos Hospitais-Maternidade (retornando à atenção primária no puerpério). Ao final da gravidez, o cuidado deve, portanto, ser transferido da atenção primária para os Hospitais-maternidades.
> Entenda a seguir as responsabilidades por Etapa do Ciclo Gravídico-Puerperal

A transferência do cuidado no pré-natal, da atenção primária para a maternidade, no final da gravidez, tem sido um dos pontos críticos do cuidado ao ciclo gravídico gestacional no Brasil. Algumas características dessa condição de saúde, dos cuidadores e da organização do modelo de cuidado fazem com que a transferência de cuidado no final da gestação seja um processo particularmente desafiador:
Qual é o significado de DPP – Data Provável do Parto?
Desde a primeira consulta, o pré-natalista calcula a DPP (Data Provável do Parto). A DPP corresponde a 40 semanas, aproximadamente 9 meses.


Algumas mulheres ficam na expectativa de que o bebê vai nascer neste dia. E podem ficar extremamente ansiosas se o parto não ocorre até esta data. É natural que isso ocorra. O aparecimento de sintomas físicos e emocionais pode fazê-las pensar que algo de errado está acontecendo com a gravidez. Acreditam que mais de 40 semanas já é mais do que 9 meses, e que o “bebê está passando da hora de nascer”. Se a cidade possui uma ou mais maternidades, começam a buscar atendimento em diferentes serviços na esperança de que o parto aconteça logo.

Você sabia?
Pouco mais da metade das mulheres têm seus bebês antes de 40 semanas. Um estudo com dados dos EUA em 1990, mostrou que quase metade de todos os nascimentos (48%) ocorreram com ≥40 semanas. Em 2020, todavia, este número caiu para menos de um terço (30%).
Essa mudança no momento do nascimento pode ser explicada pelo aumento no número de intervenções, principalmente induções do parto, e não por uma mudança na fisiologia do parto. Perceba no gráfico a seguir.

> Até quando esperar?
É comum que muitas mulheres continuem grávidas após as 40 semanas — essa é uma variação natural do processo gestacional. Estar grávida a partir de 40 semanas não significa que há algo errado ou que o bebê está “passando da hora”, como se costuma dizer. É importante compreender esse período com tranquilidade, escuta atenta e informação de qualidade, para oferecer à gestante o suporte necessário nessa fase tão delicada e cheia de expectativas.
A idade gestacional definida como limite é 41 + 6. Isso é chamado de pós datismo. De modo geral, as mulheres não deveriam se preocupar muito com isso, porque a maioria delas entra em trabalho de parto antes dessa idade gestacional.
Todavia, ao completar 41 semanas, algumas evidências mostram que é vantajoso induzir o parto neste momento. Por isso, na maioria das maternidades, a indução do parto é oferecida para as mulheres. A maioria concorda ou até deseja que o parto seja iniciado a partir de 41 semanas.
Mas para aquelas que não desejam induzir o parto com 41 semanas, continuar esperando o trabalho de parto espontâneo até 41 + 6 é uma opção razoável. Nestes casos, recomenda-se uma avalição médica, para discutir vantagens e desvantagens dessa conduta. É prudente realizar um US para avaliar a condição fetal.

> Como a gravidez será interrompida? Como funciona a indução do parto?
Interromper a gravidez não significa fazer cesariana. Para as mulheres que não entraram em trabalho de parto espontâneo, e não havendo contraindicações ao parto vaginal, a indução do parto pode ser realizada de forma segura.
A indução do parto é um processo pelo qual o médico/enfermeiro obstetra promove o início das contrações uterinas que vão levar ao nascimento do seu bebê. Existem vários motivos que podem levar o médico a induzir o parto. Uma idade gestacional > 41 semanas é uma indicação muito frequente.
Existem também várias formas de induzir o parto. As mais utilizadas são o balão e o misoprostol. Veja a seguir:

Indução do trabalho de parto com balão.

Misoprostol: Dosagem recomendada é de 25 a 50 microgramas.
A partir de 40 semanas, se a mulher ainda não entrou em trabalho de parto espontâneo, é recomendado conversar sobre indução do parto. Essa conversa deve ser feita pelo médico ou enfermeiro. Se possível, pode ser encaminhada para a maternidade, para que seja mais bem orientada sobre todo o processo de indução.
Qual o papel da APS, nesta fase da gravidez?
Em primeiro lugar, é fundamental garantir a continuidade das consultas no pré-natal. Em alguns casos, a equipe da APS pode se sentir insegura para acompanhar a gestação nas semanas finais e, a partir de 38 semanas, orienta a mulher a procurar a maternidade em caso de sintomas ou dúvidas. Com isso, informa que não há necessidade de retornar à UBS, encerrando o acompanhamento — ou seja, “dando alta” do pré-natal de forma precoce. De fato, se a gestante apresentar sinais de trabalho de parto, deve procurar a maternidade imediatamente (Você conhece estes sinais?).
Sinais de alerta que indicam a necessidade de encaminhar a gestante para a maternidade:
Se a barriga da gestante ficar dura a cada 5 minutos, por pelo menos 30 segundos, e isso continuar por mais de 1 hora, pode ser sinal de trabalho de parto. Oriente a gestante a procurar imediatamente a maternidade.
Se a gestante relatar que está saindo líquido que escorre pelas pernas, molha a roupa ou a cama, isso pode ser rompimento da bolsa. Mesmo sem dor ou contrações, oriente a gestante a ir para a maternidade para ser avaliada.
Se a gestante não souber se o que está saindo é líquido da bolsa ou apenas corrimento, oriente-a a colocar um absorvente e observar por 1 a 2 horas. Se o absorvente ficar bem molhado, como fralda de bebê com xixi, ela deve ir ao serviço de saúde para avaliação.
Mas se, ao longo da semana, não apresentar nenhum destes sinais, deve retornar normalmente à consulta semanal de pré-natal, até entrar em trabalho de parto ou completar 41 semanas.

Dica
Incentive a gestante a comparecer às últimas consultas! Explique que o pré-natal não tem “alta”: ele só termina 42 dias depois do parto. Mesmo que a gestante seja encaminhada para o pré-natal de alto risco, ela deve continuar sendo acompanhada pela equipe da Unidade Básica de Saúde. O seu papel é reforçar a importância desse cuidado até o final do período do puerpério.
Aspectos que o profissional deve considerar nas consultas a partir de 37 semanas
Uma das maiores preocupações das mulheres, quando a gravidez chega no termo (> 37 semanas) e, principalmente, quando ultrapassa as 40 semanas, é a vitalidade do bebê, e o medo do óbito fetal (bebê morrer dentro do útero).

De fato, “um óbito adicional ocorre para cada 1.449 mulheres (95% CI 1,237 to 1,747) que continuaram a gravidez entre 40-41 semanas”.
Os profissionais da APS precisam estar atentos. Na presença de qualquer um dos seguintes fatores de risco, e condições, a gestante deve ser encaminhada para uma maternidade:
- PA ≥ 140/90 mmHg.
- Altura uterina menor do que o esperado para a idade gestacional.
- Diminuição da movimentação fetal.
-
Perdas genitais (líquido ou secreções diferentes do usual, que não podem ser esclarecidas na UBS).

Atenção!
Outras condições aumentam o risco de óbito fetal e exigem acompanhamento mais rigoroso. Fique atento a gestantes com patologias prévias, como hipertensão arterial crônica (HAC) e diabetes, e com intercorrências na gestação, como sífilis, infecção urinária (ITU), toxoplasmose, HIV e hepatites. Essas situações devem ser identificadas e acompanhadas com cuidado.
Fique atento a sintomas novos que surgirem na gestante, como dores, inchaços ou mal-estar. Observe também mudanças na pressão arterial e os fatores de risco já conhecidos. Se notar algo diferente, avise os profissionais da equipe para que a gestante receba o cuidado necessário.
Sintomas comuns no final da gravidez
Estudo com objetivo de explorar o fenômeno do trabalho de parto antes da admissão hospitalar, a partir da perspectiva de mulheres nulíparas (n = 23), mostrou que as mulheres podem apresentar muitos sintomas até o momento da internação. Podem ser sensações físicas ou emocionais.
Sensações físicas e emocionais relatadas pelas mulheres antes da internação.
Categoria | Descritores |
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Sensações físicas relatadas pelas mulheres antes da admissão hospitalar | |
Dor |
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Fadiga |
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Pressão |
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Inquietação |
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Desconforto |
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Dispneia |
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Fome |
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Sintomas TGI e urinários |
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Membranas rotas |
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Bem‑estar |
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Sensações emocionais relatadas pelas mulheres antes da admissão hospitalar | |
Ansiedade |
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Dissociação |
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Transe |
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Afetos positivos (geral) |
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Afetos negativos (geral) |
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Compreendeu que apoiar a gestante nessa fase da gravidez nem sempre é fácil?
Não se trata simplesmente de continuar escutando os Batimentos Cardíacos Fetais - BCF, avaliando pressão e medindo altura uterina e avaliando exames realizados. É preciso reconhecer as angústias da mulher e apoiar de forma efetiva.
Converse com esta gestante, pergunte o que está sentindo. Ofereça ajuda, envolva a rede de apoios. Essa é uma fase de acolhimento, cuidado e carinho.
Veja algumas intervenções que podem ser feitas:

Massagem

Escalda pés

Aromaterapia

Música

Relaxamento
O final da gestação é um período de muitas transformações físicas e emocionais para a mulher. Cabe a nós, profissionais da saúde, oferecer escuta qualificada, orientação segura e suporte afetivo. Reconhecer os sinais de alerta, apoiar as decisões informadas e acolher as dúvidas com empatia são atitudes fundamentais para garantir um cuidado humanizado e seguro. Lembre-se: não é apenas o corpo da gestante que se prepara para o parto — sua mente e seu coração também precisam de cuidado. Esteja presente. Converse. Acolha.
Atividade
Em relação ao final da gravidez, é correto afirmar que:
