MÓDULO 4 | AULA 4
Ações educativas e
comunicativas de
vigilância em saúde
Ações educativas e comunicativas das práticas de Vigilância em Saúde.
Todas as formas específicas de manifestação cultural mencionadas anteriormente podem ajudar as ações de enfrentamento da Mpox das equipes de saúde em conjunto com a população. Como vimos, os saberes, as formas de comunicação e a linguagem local embutidas na cultura do território, podem subsidiar ações educativas e comunicativas na interação com a população e suas especificidades no modo de vida, problemas e potencialidades.
Sobre a realização de práticas especificas de Vigilância podemos mencionar que todos os elementos do território vão orientar as ações educativas e comunicativas em que os agentes de campo estão envolvidos.
Na visita domiciliar, esses trabalhadores devem ficar atentos quanto à organização do espaço da moradia em relação a: número de cômodos, número de pessoas que ali residem, faixa etária e morbidade. Também devem identificar as condições de saneamento, principalmente as relativas à disponibilidade de água e à possibilidade de fazer isolamento. Além disso, orientações devem ser dadas em relação aos riscos sanitários no domicílio, quanto ao uso de roupas de cama e de banho e objetos de uso pessoal. Essas observações podem ajudar a propor algumas medidas de prevenção e de redução de danos decorrentes dos riscos de exposição à Mpox.
Devem estar atentos também aos problemas ambientais em determinados territórios onde haja ocupação humana próxima a faunas e floras específicas. Como vimos nas aulas anteriores, a Mpox é considerada uma zoonose viral, transmitida aos seres humanos a partir de animais. Em decorrência da degradação ambiental, os ciclos epidemiológicos das zoonoses, quando as doenças produzidas por vírus de origem animal têm ciclos específicos de tempo para acontecer, podem ser modificados e, consequentemente, causar impactos negativos na biodiversidade.
As ações educativas e comunicativas pautadas pelo território devem agir sobre os problemas provocados pelas alterações de ambientes naturais causados pela ocupação humana. Questões como perda e fragmentação de habitats em que espaços naturais são destruídos em decorrência do desmatamento desordenado — sem planejamento prévio e manejo adequados —, converte ambientes naturais em plantações, pastagens, local de extração de madeiras ou em áreas urbanas. Esses processos tendem a reduzir a biodiversidade, selecionando aquelas espécies que são capazes de sobreviver nos habitats alterados, aumentando o risco de zoonoses saltarem de seus hospedeiros silvestres para seres humanos. Esse fenômeno é conhecido como spillover, ou “transbordamento”, na tradução literal.
No mundo de hoje, a globalização da economia intensificou esses processos de modificação intensa dos territórios e da diversidade dos ecossistemas, o que provoca ocupação desordenada favorecendo o surgimento e a propagação de agentes infecciosos, exigindo respostas de setores governamentais, como o da saúde, especialmente a Vigilância e a Atenção Primária em Saúde.
O processo de globalização da economia mundial que vem ocorrendo nas últimas décadas produz alterações com consequências avassaladoras no ambiente, na vida social, na cultura e na política nos territórios, incorporando de forma intensa tecnologias em redes de cadeias produtivas e de finanças em todos os lugares do planeta.
A apropriação e o uso da diversidade de territórios e seus recursos no mundo de hoje pelo processo de globalização, se constitui na materialização dos grandes interesses econômicos das empresas mundiais, principalmente em países periféricos. Esse processo vem desestruturando o modo de vida de populações e os ecossistemas pelo mundo ao extrair dos lugares seus recursos de forma insustentável e predatória, além de se beneficiar de regulações de defesa ambiental e de direitos trabalhistas inconsistentes nesses territórios. Além disso, facilita a disseminação de doenças, de patógenos (como vírus e bactérias) e de substâncias tóxicas pela diversidade de territórios no mundo (Gondim, 2018).
As ações de Vigilância consistem também em proteger a saúde de animais silvestres, proibindo a caça e o desmatamento como uma das medidas mais eficazes para promover a saúde da população. As zoonoses geram não só impactos na saúde pública, como também causam graves perdas econômicas. Dessa forma, é necessária a busca de ações conjuntas de diversos setores de governo e da sociedade, por meio de uma abordagem na perspectiva da saúde única.
Uma das causas do surgimento e da proliferação de doenças infecciosas na Amazônia, como dengue, febre amarela e malária, é o desmatamento da maior floresta tropical do mundo. No vídeo Desmatamento e o risco de novas epidemias como a Covid-19, a equipe de Covid-19, DivulgAÇÃO Científica, conversou com dois especialistas sobre desmatamento e o surgimento de epidemias, Philip Fearnside e Joel Henrique Ellwanger.
Outras práticas de Vigilância devem se concentrar sobre a saúde do trabalhador. As “vozes do território” e suas formas de cultura são importantes elementos para informar e agir sobre os riscos embutidos em diversos processos de trabalho em que a proximidade e o contato entre pessoas são característicos dessas atividades, colocando-os de forma mais exposta à Mpox. São os casos de trabalhadores dos serviços de saúde (enfermeiros, dentista, agentes de saúde, assistente social e outros), principalmente os que atuam no cuidado com populações em situação de rua e em locais onde haja prostituição. Não podemos deixar de mencionar as questões relativas aos trabalhadores envolvidos com a gestão de resíduos, ação que exige atenção no descarte de medicamentos e de materiais clínicos como agulhas, curativos entre outros dos serviços de saúde.
Cabe ressaltar os riscos dos profissionais que atuam em atividades físicas e esportivas e nos serviços de beleza (manicure, tatuagem, cabeleireiro e outros).
Como já mencionamos, a memória, os saberes, as formas de comunicação e a linguagem do território abrem possibilidades de encontros cooperativos entre as pessoas para construir formas de ação educativa e comunicativa específicas para cada realidade.
Essas ações, ao terem vínculos culturais com o território, podem facilitar o desenvolvimento de medidas de prevenção. São importantes também para a vigilância epidemiológica agir em conjunto com a comunidade na identificação de casos e de populações prioritárias, no que tange a gênero, faixa etária e de pessoas com comorbidades, como idosos e pessoas com doenças que a podem debilitar mais ainda, diminuindo a proteção para outras infecções.
Do mesmo modo acontece com possíveis campanhas de vacinação, caso essa forma de enfrentamento venha a ser implementada. A confiança, a solidariedade e os vínculos sociais podem produzir elementos fundamentais de mobilização das pessoas para esse tipo de medida sanitária, lembrando que a vacina ainda não está amplamente disponível e não há certeza de quando a população terá acesso a ela.
SAÚDE ÚNICA E VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Traduzido do termo em inglês One Health, refere-se a uma abordagem integrada que reconhece a conexão entre a saúde humana, animal, vegetal e ambiental.
O conceito de Saúde Única é central para a organização e desenvolvimento das ações de vigilância da saúde, atuais e futuras, pela urgência de assegurar a vida no planeta para a atual e as novas gerações, incorporando na pesquisa, no desenvolvimento tecnológico, no ensino e nas práticas sanitárias a dimensão ecológica e ambiental dos problemas de saúde como parte indissociável da existência humana.