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Mpox: Vigilância, Informação e Educação em Saúde

MÓDULO 4 | AULA 2 Informações na gestão de risco da Mpox

Tópico 2

Indicações para o teste de Mpox

Qualquer indivíduo que atenda à definição de caso suspeito deve ser submetido ao teste de PCR para Mpox, quando os recursos permitirem. Na ausência de lesões na pele ou nas mucosas, a PCR pode ser feita em um swab orofaríngeo, anal ou retal. Entretanto, a interpretação dos resultados de swabs requer cautela: embora um resultado positivo seja indicativo de Mpox, um resultado negativo não é suficiente para excluir a infecção por MPXV. O teste de PCR no sangue não é recomendado para vigilância e diagnóstico, pois a viremia do MPXV provavelmente ocorre no início do curso da infecção, tem duração e resultados falso-negativos são esperados.

Saiba Mais
Fonte: Jornal da USP (2025)

Você sabe o que é um SWAB?

O swab é uma espécie de “cotonete”, com longas hastes, usado por profissionais de saúde para fazer a coleta de secreções no fundo das fossas nasais e da garganta do paciente. Na ponta da longa haste há um material sintético que absorve as secreções.

Investigação de casos

Durante o atual surto de Mpox em vários países, o contato físico próximo, inclusive relações sexuais, com pessoas com Mpox é o fator de risco mais significativo para a infecção por MPXV. Se houver suspeita de Mpox, a investigação deve consistir em:

  1. Exame clínico do paciente, usando medidas adequadas de prevenção e controle de infecções;
  2. Questionar o paciente sobre possíveis fontes de infecção e a presença de doenças semelhantes na comunidade e em seus contatos, ainda que antes de se tornar um caso (rastreamento de contatos anteriores);
  3. Coleta e envio seguros de amostras para testes de diagnóstico de varíola e exames laboratoriais

A investigação da exposição deve abranger o período de 21 dias antes do início dos sintomas.

As amostras coletadas de pessoas com suspeita de Mpox devem ser manuseadas com segurança, por pessoal treinado que trabalhe em laboratórios adequadamente equipados. As regulamentações nacionais e internacionais sobre o transporte de substâncias infecciosas devem ser rigorosamente seguidas durante o acondicionamento e o transporte das amostras. É necessário um planejamento cuidadoso para considerar a capacidade nacional de testes laboratoriais. Os laboratórios clínicos devem ser informados com antecedência sobre as amostras a serem enviadas de pessoas com suspeita ou confirmação de Mpox, para que possam minimizar o risco para os funcionários do laboratório (Opas, 2023b).

Isolamento

Qualquer paciente com suspeita de Mpox deve ser isolado durante os períodos infecciosos presumidos e conhecidos, ou seja, durante os estágios prodrômico e eruptivo da doença, respectivamente. O isolamento deve ser mantido até que todas as lesões cicatrizem com formação de pele íntegra, sem crosta. A confirmação laboratorial de casos suspeitos é importante, mas não deve atrasar a implementação de ações de saúde pública.

Rastreamento de contatos

O rastreamento de contatos é uma medida fundamental de saúde pública para controlar a disseminação de patógenos de doenças infecciosas, como o MPXV.

O rastreamento de contatos permite a interrupção das cadeias de transmissão e também pode ajudar as pessoas com maior risco de desenvolver doenças graves a identificar mais rapidamente sua exposição, para que possam monitorar seu estado de saúde e, se apresentarem sintomas, procurar atendimento médico rapidamente.

Os casos devem ser prontamente entrevistados o mais rápido possível para obter os nomes e as informações de contato de todos os possíveis contatos e identificar os locais visitados onde pode ter ocorrido contato com outras pessoas. Os contatos dos casos devem ser notificados dentro de 24 horas após a identificação e orientados a monitorar seu estado de saúde e procurar atendimento médico, caso apresentem sintomas. Deve-se atentar às questões éticas relacionados ao sigilo profissional e o usuário deve ter direito a participar do processo de notificação dos contactantes.

No contexto atual, assim que um caso suspeito for identificado, a identificação e o rastreamento de contatos devem ser iniciados, enquanto uma investigação mais aprofundada do caso de origem estiver em andamento para determinar se pode ser classificado como provável ou confirmado. Uma vez que o caso seja descartado, o rastreamento de contatos pode ser interrompido.

Definição de um contato

Um contato é definido como uma pessoa que tenha sido exposta a outra com Mpox durante o período infeccioso e que tenha uma ou mais das seguintes exposições a um caso provável ou confirmado de Mpox:

  • Contato físico direto pele a pele, pele a mucosa ou boca a mucosa (como tocar, abraçar, beijar, contato íntimo oral ou outro contato sexual);
  • Contato com materiais contaminados, como roupas ou roupas de cama, incluindo materiais removidos de roupas de cama ou superfícies durante o manuseio ou a limpeza de ambientes contaminados;
  • Exposição respiratória prolongada face a face em proximidade (inalação de gotículas respiratórias e possivelmente aerossóis de curto alcance);
  • Exposição respiratória (ou seja, possível inalação de) ou exposição da mucosa ocular a material de lesão (por exemplo, crostas) de uma pessoa com Mpox.

Os itens anteriores também se aplicam aos profissionais de saúde potencialmente expostos na ausência do uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs) apropriados.

Há uma diferença fundamental entre as formas de transmissão direta de pessoa para pessoa por respiração. Na transmissão por gotículas, o contato próximo permite que gotículas respiratórias de uma pessoa doente sejam liberadas por tosse, espirro ou fala e alcancem outra por meio do ar. Por serem muito pesadas, essas partículas não ficam suspensas por muito tempo no ar. Já os aerossóis são partículas infecciosas menores, que ficam suspensas no ar por mais tempo, principalmente em locais fechados, com pouca ventilação. Pelo fato de permanecem suspensos no ar por algumas horas, os aerossóis contendo o material genético do vírus podem ser importante fonte de infecção, se consideradas a quantidade de pessoas e as dimensões do ambiente, bem como o tempo de exposição.

Identificação de contatos

Os casos podem ser solicitados a identificar contatos em vários contextos, inclusive:

  • Domicílio;
  • Local de trabalho;
  • Escola/creche;
  • Contatos sexuais;
  • Assistência médica (inclusive exposição laboratorial);
  • Locais de culto;
  • Transporte;
  • Esportes;
  • Bares/restaurantes;;
  • Reuniões sociais;
  • Festivais;
  • Quaisquer outras interações lembradas.

Lista de convidados em festas, listas de presença em escolas, bilhetes de identificação de passageiros etc. podem ser usados para identificar contatos.

A experiência durante o surto de Mpox em andamento em vários países, bem como em surtos anteriores, mostra que alguns casos podem ser relutantes ou incapazes de fornecer informações de todos os contatos, especialmente dos contatos sexuais.

Para superar esse desafio, as autoridades de saúde pública devem incentivar os casos a notificar diretamente seus contatos e orientá-los sobre a melhor forma de fazer isso. Pesquisas sobre doenças sexualmente transmissíveis mostraram que atividades como notificação de parceiros, ou seja, notificar voluntariamente um parceiro de que ele foi exposto a uma infecção, podem produzir bons resultados de rastreamento.

Os organizadores de eventos ou gerentes de locais ou ambientes comunitários nos quais foram identificados casos de Mpox também podem estar envolvidos na notificação de contatos. Esses locais onde ocorre contato físico, inclusive sexo entre os participantes, podem incluir:

Saunas

Casas de banho

Boates

Quadras e ginásios esportivos

Locais de serviços pessoais, como salões de beleza e estúdios de tatuagem

Se uma pessoa que recebeu diagnóstico positivo para Mpox (caso confirmado) relatar ter participado de um evento ou local onde houve contato físico próximo durante o período infeccioso, mas não consegue identificar todos os possíveis contatos, as autoridades de saúde pública podem, quando possível, entrar em contato com os organizadores do evento para enviar uma notificação geral a todos os participantes sobre o risco potencial de exposição. Além disso, nesse caso, todas as informações relevantes sobre a Mpox, inclusive o encaminhamento para o serviço de saúde, precisam ser fornecidas junto com a notificação.

Depois que os contatos forem identificados, eles devem ser informados sobre:

  • A exposição;
  • O risco de desenvolver a infecção;
  • Os sintomas da varíola;
  • E quando os sintomas podem aparecer.

Monitoramento de contatos

Os contatos devem ser monitorados, ou devem se automonitorar diariamente quanto ao aparecimento de sinais ou sintomas por um período de 21 dias a partir do último contato com o caso provável, o caso confirmado ou contato com materiais contaminados durante o período infeccioso.

Os sinais e sintomas preocupantes incluem:

  • Dor de cabeça
  • Febre;
  • Calafrios;
  • Dor de garganta;
  • Mal-estar;
  • Fadiga;
  • Erupção cutânea;
  • Linfadenopatia (linfonodos inchados).

Os contatos devem monitorar sua temperatura duas vezes ao dia. Durante o período de monitoramento de 21 dias, os contatos devem praticar regularmente a higiene das mãos e a etiqueta respiratória.

A etiqueta respiratória consiste em uma série de cuidados que devem ser adotados por todo aquele que passa a ser monitorado como “contato” por conta da possibilidade de contaminação, ainda que não tenha manifestado qualquer sinal ou sintoma. A etiqueta respiratória recomenda:

  1. O uso de máscaras para proteger as pessoas à sua volta;
  2. Ao tossir ou espirrar, não usar as mãos: procurar sempre cobrir o nariz e a boca com um lenço de papel, e depois descarta-lo no lixo;
  3. Na falta do lenço, cobrir o nariz e a boca com o braço;
  4. Evitar cumprimentos com abraços, apertos de mão e beijos;
  5. Não compartilhar copos, talheres e toalhas;
  6. Lavar frequentemente as mãos com água e sabão ou higienizá-las com álcool gel 70%;
  7. Evitar aglomerações e ambientes fechados e com muitas pessoas.

Como medida de precaução, enquanto estiverem sob vigilância de sintomas, os contatos assintomáticos não devem doar sangue, células, tecidos, órgãos, leite materno ou sêmen.

Os contatos também devem tentar evitar contato físico com crianças, mulheres grávidas, indivíduos imunocomprometidos e animais, inclusive animais de estimação.

Os contatos assintomáticos que monitoram seu status de forma adequada e regular podem continuar com as atividades diárias de rotina, como ir ao trabalho e à escola (ou seja, não é necessário ficar em quarentena). Embora as evidências sobre a transmissão pré-sintomática ou assintomática ainda estejam surgindo e não sejam conclusivas, os contatos conhecidos de casos confirmados são aconselhados a evitar contato sexual com outras pessoas durante o período de monitoramento de 21 dias, independentemente de seus sintomas. Essa é uma medida de precaução para minimizar o risco de transmissão a partir de contatos expostos.

Monitoramento de profissionais de saúde expostos

Fonte: Freepik (2025).

Qualquer profissional de saúde que tenha cuidado de uma pessoa com Mpox provável ou confirmada, ou trabalhado com uma amostra de laboratório relevante, deve estar alerta para o desenvolvimento de sintomas que possam sugerir Mpox, especialmente no período de 21 dias após a última data de atendimento.

E existe vacina para Mpox?

Bom, as vacinas produzidas para a varíola podem proteger contra a Mpox. Essas vacinas incluem:

Dryvax

A primeira vacina contra a varíola humana aprovada pela Agência Reguladora de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês). Essa vacina continha vírus Vaccinia vivos e liofilizados, produzidos por meio da infecção da pele abdominal ou linfa de animais inoculados, e foi considerada uma vacina de primeira geração. A vacina demonstrou ter eficácia de 85% na prevenção da varíola símia (4). A produção dessa vacina foi suspensa após a erradicação da varíola humana;

ACAM2000

Licenciado em 2007. O ACAM2000 é uma vacina de 2ª geração, de vírus vivo replicante, que foi licenciada pela Food and Drug Administration dos EUA para imunização de pessoas consideradas de alto risco de infecção por varíola. Foi disponibilizado para a prevenção de Mpox.;

MVA-BN

Uma vacina mais recente é a MVA-BN, também conhecida como Imvanex, Imvamune ou Jynneos, aprovada pelas Autoridades Reguladoras Nacionais da União Europeia, Canadá e Estados Unidos para prevenir a varíola e a Mpox. De terceira geração, essa vacina contém vírus vivo atenuado não replicante.

Como a varíola foi erradicada em 1980, a maioria dessas vacinas não está amplamente disponível e não há certeza de quando estarão disponíveis ao público. Em alguns países, as vacinas podem estar disponíveis em quantidades limitadas e para uso de acordo com as orientações nacionais.

Alguns estudos mostraram que as pessoas que foram vacinadas contra a varíola podem ter alguma proteção contra a Mpox. Essas pessoas podem necessitar de uma única dose de reforço.

Na vigilância de um surto, a identificação de casos suspeitos pode ser decisiva para impedir a disseminação de uma doença. No caso da Mpox não é diferente: por estarem em contato direto com a população, os profissionais de nível médio (técnicos, auxiliares e agentes de saúde) possuem maior vínculo afetivo com as pessoas que vivem no território, muitas vezes as conhecem pelo nome, sabem de suas histórias, condições de vida, dificuldades e comportamentos.

Para Assistir

Esse vínculo é da maior importância quando é preciso rastrear os contatos de um indivíduo que está sendo considerado um caso suspeito de Mpox. Como a doença tem sido transmitida predominantemente via contato sexual, muitos constrangimentos e impedimentos podem se apresentar diante de uma suspeita ou diagnóstico. Somente quando existe uma relação de confiança e respeito entre profissionais e pacientes é que esse diálogo tem chance de ocorrer.

Os técnicos, auxiliares e agentes de saúde são fundamentais:

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Na produção cotidiana e atualizada de informações corretas e de qualidade sobre o território, a população e os usuários das unidades básicas de saúde;


Na identificação, notificação e monitoramento dos casos suspeitos;

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Na identificação e rastreamento dos contatos;


No monitoramento de contatos;

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No desenvolvimento de ações educativas em visitas domiciliares e em unidades básicas.