MÓDULO 2 | AULA 2 Como realizar o processo de notificação da Mpox
Fichas de notificação (impressas e digitais) e sistemas de informação em saúde
Recomenda-se que os profissionais de saúde de nível médio ou superior atuantes em diferentes pontos de atenção à saúde, incluindo em UBSs, conheçam a lista de notificação compulsória nacional. Claro que decorar todos os agravos pode parecer um exagero, mas, em caso de dúvida, trata-se de um instrumento que deve estar facilmente acessível no trabalho. É comum algumas unidades básicas deixarem a versão mais atualizada em um mural coletivo.
Outro uso importante é a lista funcionar como um instrumento de articulação do processo de trabalho entre os membros da equipe multiprofissional (médico, enfermeiro, agentes de saúde, técnico de enfermagem, gerente etc.) da APS, para alinhamento do trabalho e discussão sobre os agravos ou doenças que são mais característicos em sua área ou realidade municipal. Afinal, trata-se de uma lista nacional para um país com ampla diferenciação nos padrões de morbidade e mortalidade.
Conforme exposto, a notificação compulsória trata de diferentes agravos, doenças e situações distintas com características próprias. Diante disso, para cada doença ou agravo há uma ficha de notificação específica, com a definição de caso suspeito e todos os dados a serem coletados.
Essas fichas são padronizadas pelo Ministério da Saúde e utilizadas nacionalmente por estabelecimentos de saúde públicos e privados.
Como no Brasil há uma grande diversidade de realidades, existem locais em que a notificação é realizada em fichas impressas e, em outros, apenas digitais.
Em ambos os casos, o registro dos dados segue um fluxo específico para o armazenamento nos sistemas de informações em saúde. Nesse caso, a ficha de notificação constitui um registro em saúde e, a partir do momento que contém dados e informações, torna-se um documento arquivístico.
Após a leitura sobre o processo de notificação compulsória no Brasil. Você já sabia que profissionais de nível médio podem notificar? Você já realizou alguma notificação? Pense sobre quais foram as dificuldades vivenciadas ou eventuais dificuldades que poderiam existir.
E, mais: identifique, na lista nacional de notificação compulsória, as doenças, os agravos ou evento de saúde púbica com importância sanitária em seu território. Sinalize também aqueles que você nunca notificou ou com os quais teve contato. E aí? Será que essas situações estão sendo notificadas?
Chegou à UBS da sua cidade mais um caso de atendimento suspeito de Mpox e a ACS Clara partiu para uma visita domiciliar. Assista ao vídeo e veja o que acontece na história.
A notificação da Mpox deve acontecer, preferencialmente, nas UBS ou policlínicas de saúde, a partir de um olhar clínico-epidemiológico e da coleta de amostras laboratoriais do usuário para a realização de exames.
Deve ser notificado o indivíduo de qualquer idade que se enquadre na definição de caso suspeito, ou seja, apresente início súbito de erupção cutânea aguda sugestiva de Mpox, única ou múltipla, em qualquer parte do corpo (incluindo região genital/perinatal, oral) e/ou início súbito de lesão em mucosa sugestiva de e/ou proctite, e/ou edema peniano, podendo estar associada a outros sinais e sintomas.
O profissional de saúde que identifica um caso suspeito deve notificá-lo imediatamente à vigilância em saúde de seu território, utilizando sempre a ficha de notificação de caso suspeito/confirmado de Mpox, ou seja, um instrumento específico para esse agravo. Após a notificação, deve ser realizado o processo de investigação e, para isso, há uma ficha específica de investigação.
Ficha individual de Notificação de Mpox para todo o Brasil (versão 01/03/23)
pan_tool_alt Confira abaixo o PDF da ficha ou, se preferir, baixe aqui o arquivo
A versão mais atualizada desses dois instrumentos foi publicada em março de 2023 e está disponível neste endereço eletrônico.
As fichas de notificação e investigação de Mpox são instrumentos de registro vinculados ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN e/ou e-SUS Sinan) das quais constam diversas variáveis necessárias para apoiar o processo de trabalho dos serviços de saúde.
As versões atuais da Mpox (versão 01/03/23) constam de 109 possíveis variáveis a serem coletadas (incluindo dados obrigatórios e não obrigatórios). Essas variáveis estão organizadas em dez (10) blocos de informação, listados a seguir. Cada um desses blocos reúne um conjunto de dados a serem coletados.
- Dados do estabelecimento de notificação;
- Dados de identificação do indivíduo (informações pessoais e sociodemográficas sensíveis);
- Dados do indivíduo (outras informações sociodemográficas que não identificam a pessoa acometida por Mpox);
- Dados clínicos iniciais;
- Dados de hospitalização e tratamento;
- Dados laboratoriais e de diagnóstico molecular para Mpox (qPCR);
- Resultado do diagnóstico complementar (Um bloco da ficha que vai conter outros exames que a pessoa pode fazer ou não para verificar outras doenças);
- Investigação de informações individuais;
- Exposição provável;
- Classificação do caso (incluindo um campo aberto para informações complementares e observações dos profissionais notificadores).
Toda a informação que consta na ficha de notificação (seja registrada em papel ou no formato digital) deve ser, imediatamente, enviada ao e-SUS SINAN. Nesse sistema, todos os dados coletados serão armazenados em uma base de dados reunindo todas as notificações feitas pelo respectivo estabelecimento de saúde. Como o sistema possui um fluxo ascendente de envio das informações, ou seja, as bases de dados dos estabelecimentos de saúde são reunidas em nível municipal, gerando uma base de dados municipal. Nessa lógica, os dados provenientes de todos os municípios de determinada unidade da federação irão compor as bases estaduais. Por fim, o registro de todas as bases das unidades da federação compõe a base de dados nacional, reunida e organizada pelo Ministério da Saúde.
e-SUS SINAN
O SINAN é um sistema de informação constituído durante a década de 1990. A versão eletrônica do SINAN, denominada de e-SUS SINAN, foi lançada durante o ano de 2022, sendo a Mpox o primeiro agravo possível de registro eletrônico.
Possivelmente, em algum momento no início do surgimento da Mpox, você pode ter ouvido falar que o registro de casos suspeitos dessa doença deveria ser feito por meio de uma ferramenta denominada RedCap. De fato, trata-se de uma informação verdadeira. No contexto inicial da epidemia, quando a Mpox se constituiu em Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional e, portanto, um evento de saúde pública de relevância, foi construído um fluxo específico de notificação online por meio do RedCap. Como o evento tornou-se uma situação de saúde relevante no cenário nacional e internacional, o Brasil acelerou o desenvolvimento do e-SUS SINAN com fins de específico para esse agravo, tendo ocorrido o lançamento oficial em setembro de 2022.
A partir daí, municípios e estados tiveram que reorganizar seus processos de notificação e produção da informação em saúde com base nesse sistema. Por isso, podemos dizer que, atualmente, o sistema de informação em saúde específico para a notificação da Mpox trata-se é o e-SUS SINAN.
Antes de avançar no fluxo de notificação, é importante reconhecer que profissionais de saúde podem enfrentar dificuldades ao preencher fichas de notificação, caso tenham dúvidas sobre como abordar orientação sexual e identidade de gênero, ou se omitirem informações em campos considerados não essenciais, como escolaridade e ocupação. A falta de preenchimento adequado é comum em diferentes municípios do Brasil e pode comprometer a compreensão do processo de adoecimento. Campos não obrigatórios, embora não sinalizados com um asterisco, são importantes para a análise de saúde. Para melhorar a qualidade dos registros, é necessário implementar processos de qualificação nos registros que ajudem a identificar e a superar lacunas no preenchimento. Isso envolve sensibilizar os profissionais e os gestores sobre a importância de todos os dados coletados e como eles contribuem para uma melhor compreensão da situação de saúde.
Importante atentar que a qualificação do registro também é responsabilidade da autoridade sanitária (secretarias municipais, estaduais ou Ministério da Saúde), que deve identificar quais são as lacunas ou dificuldades no preenchimento em sua região e tentar compreender como é possível superá-las.
Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL)
Após a notificação, o profissional de saúde responsável pela coleta das amostras biológicas deve imediatamente cadastrá-las no Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) — sistema de informação em saúde essencial para o armazenamento de pedidos de confirmação de amostras biológicas dos usuários que são suspeitos para Mpox.
O GAL é utilizado por profissionais da assistência e da gestão e tem como objetivo gerenciar e acompanhar as realizações das análises laboratoriais, desde sua solicitação até a emissão do laudo final. Esse sistema também permite gerar relatórios gerenciais e de produção nas Redes de Laboratórios de Saúde Pública. Em relação às amostras Mpox, o GAL é utilizado em todos os municípios e no Distrito Federal. Esse sistema armazena e documenta o registro biológico da amostra.
No fluxo de produção da informação sobre Mpox deve haver conexão e sincronia entre as etapas de notificação compulsória e de registro biológico para a confirmação laboratorial, ou seja, entre o e-SUS SINAN e o GAL. Esses sistemas de informações não são integrados, de modo que é necessário que os profissionais de saúde os conheçam e manuseiem ambos.
Abaixo é possível observar a tela inicial do GAL, no qual o acesso se dá por meio de um login de usuário específico e senha. Há diferentes módulos de uso (ambiental, animal, biologia médica e controle de qualidade) que precisam ser escolhidos, assim como deve ser delimitado o respectivo laboratório para acesso.
Você, trabalhador de saúde, já acessou o GAL e realizou solicitações? Como foi a sua experiência?
Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC)
Paralelamente, uma terceira dimensão do registro da Mpox, que envolve a produção da informação de modo permanente, refere-se ao uso do prontuário. Desse modo, a notificação compulsória, a coleta e o registro de amostras — como as orientações ao usuário — não devem ser as únicas ações do profissional que está atendendo um caso suspeito de Mpox.
Todas as informações relacionadas ao acompanhamento e cuidado com o usuário, assim como a notificação e investigação realizada, devem ser registradas no prontuário do paciente, seja em papel ou na interface digital.
Há um código específico na 10° Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10) para a Mpox que deve ser utilizado: CID B04.
Um profissional de saúde que atue na APS, seja de nível médio ou superior, deve registrar a suspeita da patologia de Mpox e todas as ações realizadas no Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC/e-SUS AB) ou em outro prontuário eletrônico próprio do município. O registro no PEC/e-SUS, ou em prontuário próprio, será consolidado no Sistema de Informações para a Atenção Básica (SISAB). Tais informações são importantes na APS para que outros profissionais de saúde que venham a atender o indivíduo compreendam o seu histórico de saúde, assim como também podem contribuir para organização e planejamento de ações territorializadas por parte da gestão.
Caso uma pessoa evolua para óbito, deve ser preenchido também o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) que tem como documento base a Declaração de Óbito (DO). A DO deve ser preenchida por estabelecimentos de saúde públicos ou privados. Esse documento é preenchido apenas pelo médico.
Portanto, no cotidiano do trabalho na APS, os principais sistemas de informações utilizados para a notificação e cuidado com a Mpox são:
- O e-SUS SINAN;
- O GAL;
- O PEC/e-SUS APS (ou outro prontuário eletrônico próprio que o município tenha).
Para sistematizar esse conteúdo, disponibilizamos a seguir um quadro com a descrição geral desses SIS e sua articulação com a Mpox.
| Principais sistemas de informações envolvidos no processo de notificação da Mpox – Brasil, 2023 | ||
|---|---|---|
| Sistema | Objetivo | Qual relação com a Mpox? |
| e-SUS SINAN ou SINAN |
O e-SUS SINAN foi criado, em 2022, para ser um sistema online capaz de ser acessado por computadores e por dispositivos móveis, como tablets e smartphones. Nele, os profissionais de saúde devem registrar as notificações dos casos de doenças e agravos que estão inclusas na lista de notificação compulsória, tanto em nível municipal, como estadual. Ainda se encontra em fase de testes, não sendo utilizado em todas as localidades. O e-SUS SINAN vem como uma proposta para, ao longo do tempo, substituir o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), que é o sistema responsável por reunir a notificação de todas as doenças e agravos. |
É no SINAN (ou e-SUS SINAN em algumas localidades) que são registrados os casos suspeitos de Mpox (ficha de notificação) e suas respectivas investigações epidemiológicas. Permite que sejam realizadas consultas e elaborados diagnósticos dinâmicos da doença na população, levando em consideração os dados que foram inseridos. Por meio dos dados coletados nesse sistema é possível ter o perfil epidemiológico e demográfico da Mpox. O SINAN é um importante instrumento de auxílio no planejamento de saúde, na definição de prioridades e de monitoramento da Mpox. |
| e-SUS APS, SISAB, e-SUS AB |
O e-SUS APS é uma estratégia do Ministério da Saúde para reestruturar as informações da APS em nível nacional. A reestruturação se pauta no processo de informatização eletrônica do SUS, que objetiva ter um modelo de gestão de informação capaz de apoiar os municípios e qualificar o cuidado prestado aos cidadãos. No SISAB ocorre o processamento e a disseminação dos dados e informações da APS, voltados para dar suporte à compreensão da realidade, além de fornecer subsídios à gestão no que tange à tomada de decisão. É importante para o financiamento da APS. Sistema e-SUS APS, composto por duas modalidades de coleta: Coleta de Dados Simplificada (CDS), coleta de dados por meio das fichas e da digitação no sistema. O segundo é por meio do Sistema com Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), que apresenta dados e o histórico do paciente, sendo o prontuário do cidadão em formato eletrônico. Ainda há os Aplicativos e-SUS Território e e-SUS Atividade Coletiva (e-SUS AC), que auxiliam os profissionais de saúde na coleta de dados em campo e durante as atividades coletivas quando elas não são realizadas na unidade básica de saúde, como visitas domiciliares ou atividades de promoção em saúde no território. |
Esse SIS pode ser fundamental na melhoria do cuidado prestado ao paciente. O relato de sinais e sintomas, o diagnóstico, assim como a evolução da doença no paciente com Mpox devem ser registrados nesse SIS. Os profissionais de saúde podem, inclusive, monitorar o surto em níveis locais. |
| GAL |
O sistema Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) visa informatizar o Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública das Redes Nacionais de Laboratórios de Vigilância Epidemiológica e Vigilância em Saúde Ambiental, por meio da gestão e acompanhamento das diferentes etapas de realização dos exames/ensaios. Ele também permite a criação de relatórios de produção, epidemiológicos e analíticos/estatísticos das redes de laboratórios credenciadas. A partir de uma cadeia bem definida de atuação, em certos casos, a depender da confirmação dos resultados dos exames laboratoriais, os casos suspeitos ou confirmados das Doenças de Notificação Compulsórias (DNC) são enviados ao SINAN, precisando da integração dos profissionais. |
Nesse SIS são lançados e registrados todos os exames realizados de casos suspeitos de Mpox. O diagnóstico para Mpox vírus é realizado em todos os 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) e em quatro centros colaboradores: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Laboratórios de Enterovírus da Fiocruz-RJ; Instituto Evandro Chagas (Belém-PA); Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz-AM). (Informação obtida no Portal do Ministério da Saúde em Março de 2024). |