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Diabetes Mellitus no SUS
Promoção, prevenção e o fortalecimento do autocuidado

Módulo 3 | Aula 2 Complicações cardiovasculares e estratégias de prevenção

Tópico 2

Morbimortalidade por complicações cardiovasculares em diabéticos

Figura ilustrativa de um coração.
Fonte: Freepik

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morbidade e mortalidade em pessoas com diabetes. Isso significa que essas doenças representam a maior ameaça à vida e à qualidade de vida dos diabéticos. Além de serem as principais causas de morte, as complicações cardiovasculares podem deixar sintomas e sequelas que dificultam a vida diária dos pacientes.

Portanto, quando se trata de diabetes, o que mais preocupa tanto o público em geral quanto os próprios diabéticos são os riscos de amputação, cegueira ou diálise.

Segundo uma pesquisa realizada no Brasil em 2019, chamada "Quando o diabetes toca o coração", somente metade dos entrevistados que tinham diabetes achava que era uma condição muito séria e um quarto deles não sabia que existia uma relação entre diabetes e infarto.

É muito importante mudar essa percepção enganosa da "hierarquia" das complicações do diabetes. A seguir, apresentaremos alguns fatos de interesse.

Nos anos 1980-1990, as complicações cardiovasculares representavam de 70 a 75% da mortalidade total entre pacientes com diabetes tipo 2, reduzindo sua expectativa de vida em até 10 anos devido a cardiopatias isquêmicas e acidentes vasculares cerebrais. Esse cenário alarmante motivou a realização de grandes ensaios clínicos para determinar estratégias eficazes de prevenção.

Um dos ensaios clínicos mais reconhecidos foi o UKPDS (Estudo Prospectivo de Diabetes do Reino Unido), que acompanhou mais de 7000 pacientes recém-diagnosticados com diabetes tipo 2 por cerca de 10 anos. Este estudo demonstrou pela primeira vez que o controle rigoroso da hiperglicemia com sulfonilureias ou insulina poderia reduzir a incidência de infartos do miocárdio em 16%. Além disso, testou-se o uso de metformina em pacientes com sobrepeso, revelando-se ainda mais eficaz na prevenção cardiovascular, com reduções de 39% nos infartos do miocárdio, 41% nos acidentes vasculares cerebrais e 36% nas mortes.

O UKPDS evidenciou que o controle rigoroso da pressão arterial potencializava significativamente os benefícios do controle glicêmico na prevenção de todas as formas de complicações do diabetes.

Esses resultados provocaram uma mudança profunda na atenção aos pacientes com diabetes, passando a enfatizar o manejo integrado de todos os fatores de risco cardiovascular. Essa mudança também levou a uma revisão no modelo de cuidado, enfatizando a necessidade de monitoramento contínuo e envolvimento ativo da equipe de saúde e dos pacientes, mesmo na ausência de sintomas, visando a prevenção de complicações. Este novo modelo de atenção é conhecido como Modelo de Atenção a Condições Crônicas, adotado no Brasil.

Tais mudanças, acompanhadas por transformações na sociedade, como combate ao tabagismo e incentivo a uma alimentação saudável, além dos avanços médicos como os procedimentos de revascularização arterial, resultaram em efeitos mensuráveis nos pacientes diabéticos, conforme resumido no quadro a seguir:

Tabela da evolução das percentagens de óbitos por doenças cardiovasculares (DVC), câncer ou outras causas em pessoas com diabetes, dividido em cinco colunas e três linhas.

A causa de óbito por DVC em 1988-1994 foi de 47,7%, em 1998-2008 foi de 51,5%, em 1997-2011 foi de 51,5% e em 2010-2015 foi de 34,0%.

A causa de óbito por câncer em 1988-1994 foi de 18,9%, em 1998-2008 foi de 24,2%, em 1997-2011 foi de 23,4% e em 2010-2015 foi de 19,7%.

A causa de óbito por outras causas em 1988-1994 foi de 33,4%, em 1998-2008 foi de 24,3%, em 1997-2011 foi de 25,5% e em 2010-2015 foi de 46,3%.

Fonte: Tabela traduzida de National Library of Medicine

A tendência decrescente das mortes por doenças cardiovasculares em pessoas com diabetes não deve obscurecer o fato de que essas doenças continuam sendo, de longe, a principal causa de mortalidade entre os diabéticos. Entre as outras causas, as mortes por causas externas são as mais frequentes, representando cerca de 15% do total de óbitos, enquanto as mortes por doença renal, uma complicação típica do diabetes, constituem menos de 3% das causas de morte entre os diabéticos.

Vale ressaltar também que os números encorajadores são em grande parte resultado da melhoria nas medidas de prevenção e no manejo do diabetes, as quais não devem ser negligenciadas.

É importante notar que, enquanto houve redução em algumas das complicações cardiovasculares mais comuns no passado, como o infarto do miocárdio, outras complicações menos destacadas anteriormente, como a arteriopatia periférica e a insuficiência cardíaca, têm aumentado. Atualmente, essas complicações lideram a lista de eventos cardiovasculares que afetam pessoas com diabetes tipo 2 (Shah, 2015).

Portanto, no topo dos esforços de prevenção das complicações do diabetes está a prevenção das doenças cardiovasculares.