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Campus Virtual Fiocruz

Diabetes Mellitus no SUS
Promoção, prevenção e o fortalecimento do autocuidado

Módulo 2 | Aula 2 Cirurgia Bariátrica

Tópico 3

Cirurgia bariátrica e metabólica para pacientes com Diabetes Mellitus

Como vimos até agora, as cirurgias bariátricas oferecem diversos benefícios para a saúde. Neste tópico, vamos mostrar como essas cirurgias podem ajudar no tratamento e controle do diabetes.

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Fonte: Flaticon

O procedimento cirúrgico para o tratamento da obesidade promove perda de peso significativa e duradoura, e melhora o controle do diabetes tipo 2 devido à rápida melhora da hiperglicemia e da homeostase glicêmica. Esses procedimentos têm sido sugeridos como tratamentos para o diabetes tipo 2 mesmo na ausência de obesidade grave, sendo mais comumente referidos como "cirurgia metabólica".

Glossário

Homeostase glicêmica: tem como finalidade manter os níveis de açúcar (glicose) na corrente sanguínea dentro de taxas ideais. A homeostase glicêmica é crucial para prevenir condições como a hiperglicemia (níveis elevados de glicose no sangue) e a hipoglicemia (níveis baixos de glicose no sangue), ambas potencialmente perigosas.

Ressalta-se que na cirurgia metabólica ocorre o mesmo procedimento da cirurgia bariátrica. A diferença entre as duas é que a cirurgia metabólica visa o controle da doença. Já a cirurgia bariátrica tem como objetivo a perda de peso, com as metas para contenção das doenças, como o diabetes e hipertensão, em segundo plano.

Há muitas evidências, incluindo dados de grandes estudos de coorte e ensaios clínicos randomizados controlados (não cegos), demonstrando que a cirurgia metabólica promove controle glicêmico e redução do risco cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 e obesidade, em comparação com a intervenção não cirúrgica. A cirurgia reduz também a incidência de doença microvascular, melhora a qualidade de vida, diminui o risco de câncer e melhora os fatores de risco de doenças cardiovasculares e eventos cardiovasculares a longo prazo. Além disso, estudos de coorte que combinam indivíduos operados e não operados sugerem fortemente que a cirurgia metabólica reduz a mortalidade por todas as causas.

Recomendações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica para pacientes com diabetes.

A cirurgia bariátrica e metabólica está indicada para indivíduos:

  • com diabetes tipo 2, diagnosticado há menos de 10 anos;
  • com IMC superior a 30 kg/m²;
  • com refluxo gastroesofágico com mais de 30 e no máximo 70 anos;
  • que tenham parecer médico que aponte a resistência ao tratamento clínico com antidiabéticos orais e/ou injetáveis, mudanças no estilo de vida;
  • que tenham comparecido ao endocrinologista por no mínimo dois anos.

A cirurgia bariátrica e metabólica deve ser realizada em instituições hospitalares de alta complexidade com equipes multidisciplinares capacitadas e experientes no manejo da obesidade, diabetes mellitus e cirurgia gastrointestinal.

Os indivíduos com diabetes mellitus que estão sendo considerados para cirurgia bariátrica e metabólica devem ser avaliados quanto a condições psicológicas e circunstâncias sociais e situacionais que podem ter o potencial de interferir nos resultados da cirurgia, sendo necessário que eles recebam suporte médico e psicológico de longo prazo e monitoramento rotineiro do estado de micronutrientes, nutrição e metabolismo.

Se houver suspeita de hipoglicemia pós-bariátrica, a avaliação clínica deve excluir outros distúrbios potenciais que contribuem para a hipoglicemia, e o manejo inclui educação, terapia nutricional médica com nutricionista com experiência em hipoglicemia pós-bariátrica e tratamento medicamentoso, conforme necessário.

A monitorização contínua da glicose deve ser considerada como um importante adjuvante para melhorar a segurança, alertando os indivíduos para a hipoglicemia, especialmente para aqueles com hipoglicemia grave ou desconhecimento da hipoglicemia.

Embora a cirurgia tenha demonstrado melhorar o perfil metabólico de pessoas com diabetes tipo 1, estudos maiores e de longo prazo são necessários para determinar o papel da cirurgia metabólica nesses indivíduos.

Leitura
Complementar

Perda de peso é apontada como nova prioridade no tratamento do Diabetes Tipo 2 por Sociedades Internacionais (SBCBM 2022).

Riscos e complicações potenciais da cirurgia bariátrica e metabólica em pacientes com Diabetes Mellitus

A segurança da cirurgia bariátrica e metabólica melhorou muito ao longo do tempo, principalmente com o uso de técnicas menos invasivas, chamadas laparoscópicas, e com equipes de especialistas trabalhando juntas. As chances de alguém morrer durante ou após a cirurgia são geralmente muito baixas, variando entre 0,1% e 0,5%, o que é semelhante a outros tipos de cirurgias abdominais comuns, como a remoção da vesícula biliar ou do útero.

Complicações maiores ocorrem em 2% a 6% daqueles submetidos à cirurgia metabólica, o que se compara favoravelmente com as taxas de outras operações eletivas comumente realizadas.

Os tempos de recuperação pós-cirúrgica e a morbidade também diminuíram drasticamente. Complicações menores e necessidade de reintervenção operatória ocorrem em até 15%.

Além do período perioperatório, os riscos em longo prazo incluem deficiências de vitaminas e minerais, anemia, osteoporose, síndrome de dumping e hipoglicemia grave.

Glossário

Síndrome de dumping: conjunto de sintomas ocasionados pela passagem rápida de alimentos do estômago para o intestino, principalmente aqueles com grandes concentrações de gordura e/ou açúcares.

A cirurgia bariátrica e metabólica pode levar a deficiências nutricionais e de micronutrientes, sendo necessário monitoramento constante e suplementação ao longo da vida. Síndrome de dumping, caracterizada por sintomas como diarreia e náuseas após as refeições, é comum logo após a cirurgia. Por outro lado, a hipoglicemia pós-bariátrica pode se manifestar horas após as refeições ricas em carboidratos, levando a sintomas como tremores e confusão.

O tratamento inicial envolve educação alimentar, suplementação vitamínica, e acompanhamento nutricional. Para casos mais graves, medicamentos podem ser prescritos para retardar a absorção de carboidratos ou reduzir a produção de insulina. Além disso, é importante que os pacientes sejam avaliados por profissionais de saúde mental antes da cirurgia, especialmente para avaliar riscos de abuso de substâncias ou condições psicológicas. Após a cirurgia, é essencial o acompanhamento regular para garantir uma boa saúde mental e resultados positivos a longo prazo.