Módulo 3 | Aula 1 A Literacia para a Saúde no cotidiano da Atenção Primária à Saúde
Os desafios da salutogênese
No cotidiano profissional as equipes de saúde devem dialogar sobre os processos de trabalho. São muitos os desafios que serão encontrados e entre eles podemos destacar:
Necessidade de ampliar o acesso da população aos serviços das Unidades Básicas de Saúde.
Estudos demonstram que as pessoas com menos riscos à saúde costumam acessar um número de consultas considerado maior que o necessário para o adequado acompanhamento de suas condições crônicas de saúde, enquanto outras com mais riscos e vulnerabilidade por vezes não conseguem ou não procuram acesso aos cuidados (BRASIL, 2014). São diversos fatores que conduzem a esta questão: como exemplo podemos citar que a baixa LS contribui para que pessoas com condições de saúde que necessitem atenção precoce somente procurem a APS quando se sentem adoecidas.
Para muitas pessoas a promoção da saúde não faz parte de seu autocuidado. Para mudar esse cenário, é necessário incentivar a organização dos processos de trabalho da equipe de saúde e planejar ações que possibilitem a promoção da saúde, independentemente se a pessoa já se encontra adoecida ou não de saúde presentes no cotidiano das pessoas.
Buscar maior qualidade da atenção à saúde
Qualidade é a capacidade dos serviços de saúde em responder de forma efetiva às necessidades de saúde, no momento em que as pessoas precisam. Isso quer dizer: acesso e efetividade das ações (BRASIL, 2014). O planejamento das ações quer sejam no plano preventivo, promocional ou tratamento e recuperação da saúde, precisa ser elaborado e gerido com a participação de todos os atores sociais envolvidos, com vista à efetividade do cuidado. Porém, nem sempre isto é possível, visto que as demandas são tantas e eventualmente a equipe tem a sensação de não estar produzindo saúde.
As discussões coletivas, as articulações entre os setores da comunidade, equipe de profissionais, gestores, entre outros envolvidos no processo de produção de saúde integral poderão construir um planejamento de ações que priorize uma maior qualidade de saúde.
Persistir na busca à integralidade da atenção
A integralidade apresenta diversas dimensões e envolve o conceito amplo de saúde, integralidade compreende promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças e recuperação da saúde. Refere-se também à abordagem integral da pessoa, no seu contexto sociofamiliar, econômico, emocional e sistemas fisiológicos (BRASIL, 2014). A exemplo, podemos citar que ocasionalmente pessoas chegam à unidade com queixa de depressão e, ao ser ouvida, verifica-se um conjunto de necessidades que podem ser atendidas na unidade ou encaminhadas aos outros serviços de saúde e/ou setores da comunidade.
Para se aprofundar nesses e em outros desafios da salutogênese consulte o site Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
Podemos elencar outras situações que constituem desafios e, portanto, é interessante que você analise a realidade do locus do seu trabalho, das demandas, do território, em todas as suas dimensões – demográfica, epidemiológica, administrativa, política, tecnológica, social e cultural, quais as estratégias utilizadas para inclusão de pessoas nos serviços de saúde, programas e projetos existentes que constituem-se enquanto medidas de promoção de saúde, entre outros aspectos, para, então, propor conjuntamente com outros atores a (re)organização dos processos de trabalho, que certamente precisam estar em movimento e de acordo com a produção de saúde.
Nessa perspectiva, a LS é uma das propostas eficientes para a produção da saúde com ênfase na promoção da saúde. Aumentar os níveis de LS apresenta-se como forma de otimizar a qualidade de vida e o bem-estar da população.
Estudos revelam que são três os fatores conhecidos que se relacionam com um baixo nível de LS e que comprometem a qualidade de vida das pessoas:
- Aumento de internação.
- Maior procura e utilização dos serviços de urgência.
- Dificuldades com ações para prevenção de doenças e promoção da saúde.
Fonte: Baseado no Manual de boas práticas em saúde, 2019, Portugal.
O aumento da LS é um grande desafio para a sociedade brasileira considerando os rebatimentos dos determinantes sociais de saúde na vida da população. Entretanto, é uma abordagem necessária e, mais uma vez, enfatizamos que para ser integrada, deverá ser constituída pelos atores envolvidos na efetivação da equidade e direitos humanos fundamentais (PAVÃO; WERNECK, 2021). São eles:
Usuários dos serviços de saúde e outros cidadãos.
Gestores e instâncias políticas responsáveis pela educação e pela saúde.
Trabalhadores da saúde.
Demais setores da sociedade.
Fonte: Baseado no Manual de Boas Práticas em Saúde, 2019 e na Política Nacional de Promoção em Saúde, 2018, Brasil.
É relevante salientar que a abordagem integrada da LS é constituída de forma democrática por seus atores. Para se efetivar, a LS requer programas e projetos construídos com os atores, de forma planejada, e cujas ações façam sentido no cotidiano das pessoas envolvidas e de suas realidades. Programas e projetos impostos somente por partes daqueles que acreditam ser o melhor para si e para outrem dificultam ou não materializam o aumento do nível de LS dos cidadãos, com consequências negativas para o sistema de saúde.
Assim, a LS contribui na promoção de modos de vida saudável, com reflexos na qualidade de vida, como também em comportamentos preventivos e protetores da saúde.
E qual a diferença entre modo de vida saudável e qualidade de vida? Bom, apesar de parecidos, são conceitos diferentes. Ficou curioso?
Modos de vida "são o conjunto de hábitos e costumes que são influenciados, modificados, encorajados ou inibidos pelo prolongado processo de socialização. Esses hábitos e costumes incluem o uso de substâncias tais como o álcool, fumo, chá ou café, hábitos de alimentação saudável e prática de atividades físicas. Eles têm importantes implicações para a saúde e são frequentemente objeto de investigações epidemiológicas" (WHO, 2004).
Já a qualidade de vida envolve o bem-estar físico, mental, psicológico e emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos, e também a saúde, educação, poder de compra e outras circunstâncias da vida (WHO, 2004).