Módulo 1 | Aula 2 Reflexões sobre a salutogênese no contexto da Atenção Primária à Saúde

Tópico 1

Paradigma salutogênico de saúde

Fonte: Fiocruz

A Política Nacional de Atenção Básica (2017) tem o compromisso de promover a saúde, a prevenção, o tratamento de doenças, a redução de danos ou de sofrimentos que comprometam o modo de vida do indivíduo ou da coletividade em seus territórios.

Você sabia que existe um paradigma ou modelo científico que pode auxiliar os trabalhadores da APS a implantar ou implementar a Política Nacional de Atenção Básica (2017) tendo como foco a saúde?

Estamos nos referindo ao modelo salutogênico de Saúde, descrito pelo cientista e pesquisador Aaron Antonovsky, que estudou a relação entre a saúde e a doença, criando a palavra: “salutogênese, das origens (gênese) da saúde (saluto)” (ANTONOVSKY, 1979). Este termo surge de um questionamento intrigante: quais são as origens da Saúde?

O autor rejeita a classificação dicotômica “saúde-doença”. Sua proposta é ultrapassar essa divisão criando um conceito de um processo contínuo no qual ao longo da vida as pessoas irão se defrontar com os dois pólos desse contínuo, ou seja, o polo ease (saúde) e disease (doença).

Saiba mais...

No prefácio do seu primeiro livro aponta-se que não há soluções fáceis para se pensar a saúde a partir do modelo salutogênico. Seus escritos são dirigidos a sociólogos, psicólogos, enfermeiros, médicos, organizadores de saúde, epidemiologistas, arquitetos, organizadores comunitários, àqueles que desejam compreender e aprimorar as capacidades adaptativas dos seres humanos (ANTONOVSKY, 1979).

A partir desta indagação, Antonovsky desenvolve estudos e pesquisas para analisar as perspectivas de Promoção da Saúde a partir da superação da dicotomia entre saúde e doença. Com isso, o autor explicita a distinção entre os fatores e elementos que podem contribuir para cada pessoa promover saúde, daqueles que podem reduzir ou modificar os riscos para doenças e agravos específicos.

Ao longo de sua pesquisa sobre as origens da saúde, aprofundou os estudos acerca das relações entre estressores, saúde e doença de modo a compreender por que algumas pessoas conseguiam manter boa saúde física e mental mesmo em condição de forte estresse.

Nesse contexto, o foco central da salutogênese é o estudo dos recursos de enfrentamento, ou seja, mesmo diante de fatores estressantes algumas pessoas desenvolvem a capacidade de superação e conseguem focar na promoção de sua saúde.

A partir de agora, iremos discutir alguns conceitos baseados na obra deste autor.

Pictograma de uma pessoa estressada

O estresse deve ser compreendido como algo endêmico (nativo ou constituinte) à condição humana. O estresse é reconhecido como aqueles fatores que levam ao estado de tensão. Eles podem ser provenientes do próprio indivíduo (interno) ou do ambiente externo, sendo imposto ao sujeito.

Pictograma de um rosto de perfil com setas em direção da cabeça, representando a tensão.

A tensão é uma resposta ao estresse e pode ser tanto emocional como fisiológica. Então, controlar, manejar ou fazer gestão do estresse é a resolução rápida e completa do problema e da eliminação da tensão que está em seu organismo. Porque a tensão, se não for resolvida de modo eficaz, leva o indivíduo a entrar em um estado de estresse como o estado de resposta do organismo frente às tensões que podem levar às doenças crônicas.

Nessa perspectiva, torna-se importante, não só estudar os estressores, mas também, olhar e compreender como os indivíduos, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social e que têm menos recursos, combatem esses estressores.

O paradigma salutogênico, para estabelecer-se como um construto universal de saúde, afastou-se da orientação do paradigma patogênico, estabelecendo-se como uma orientação global sobre a saúde.

O desprovimento de recursos e a saúde estão intimamente ligados, trazendo a visão de que a saúde não se deve apenas à menor ou maior qualidade dos serviços de saúde, mas também aos impactos dos determinantes sociais em saúde na vida da população.

Três fotografias justapostas lado a lado em que uma delas mostra um homem em internação hospitalar, outra mostra casas em uma favela e por fim, outra fotografia de uma mulher negra com as mãos sobre o rosto, demonstrando tristeza.
Fonte: à partir de Freepik
Material complementar

Você encontrará aqui um artigo sobre determinantes sociais.

Para o modelo salutogênico, os determinantes sociais em saúde, como por exemplo a pobreza, o desemprego e a violência, podem contribuir para uma situação de tensão crônica da vida. As situações estruturais e culturais duradouras como pobreza, desemprego e marginalidade podem gerar aborrecimentos diários, que as pessoas enfrentam e que podem levar, por exemplo, às doenças crônicas não transmissíveis.

Contudo, a exposição a tais estressores cria uma tensão imediata ao organismo, que se resolvida, não resulta em uma doença ou estresse como uma condição prejudicial à saúde. De tal maneira, para Antonovsky, o enfrentamento e o manejo/gestão da tensão emergiram como conceitos importantes e impulsionadores para fomentar ações com enfoque na promoção da saúde.

Para refletir...

Será que há diferença se duas pessoas estiverem expostas ao mesmo estressor e uma delas tiver muitos recursos de enfrentamento, enquanto a outra praticamente não tiver nenhum? Tanto a experiência de vida cultural quanto suas consequências serão diferentes para as duas pessoas no manejo/gestão do estresse?

A pergunta que se impõe é a da compreensão que sustenta a sobrevivência do ser humano, bem como saber onde encontrar a força e a capacidade de sobrevivência. De acordo com a teoria salutogênica, a resolução efetiva da tensão está relacionada a dois aspectos principais: o senso de coerência e os recursos gerais ou generalizados de resistência, que serão abordados a seguir.