Curso 1

Vacinação Covid‑19:
Protocolos e Procedimentos Técnicos

Módulo 4

Tópico 1

Povos indígenas: aspectos demográficos e sociodiversidade no Brasil

O Brasil é um dos países com a maior sociodiversidade indígena do planeta. São oficialmente reconhecidas 305 etnias falantes de mais de 200 línguas e presentes em todas as regiões do país. Neste contexto, o volume populacional em aldeias e terras indígenas é variado, sem esquecer que a presença indígena em áreas urbanas é um fenômeno cada vez mais expressivo, com crescimento acima de 10% ao ano nas cidades.

896,9 mil pessoas foram identificadas como indígenas
(0,4% do total da população residente no Brasil)
57,7% residia em terras indígenas

(IBGE, 2010)

Esta diversidade demográfica e sociocultural corrobora que para que as políticas públicas se preocupem com a situação dos povos indígenas, uma vez que para este segmento são registradas expressivas desigualdades e iniquidades sociais.

Uma das características mais expressivas dos povos indígenas no Brasil é a pluralidade de sistemas culturais, nos quais se incluem diferentes línguas, crenças e modos de vida (organização social). A ausência de sensibilidade por parte dos profissionais de saúde e gestores (na maioria, não indígenas) podem ser obstáculos para que os indígenas acessem os serviços e alcancem resolutividade para suas necessidades em saúde. Por isso, é fundamental que as equipes de saúde construam relações de confiança e espaços para escuta e diálogo com as lideranças e famílias indígenas para planejamento e implementação de suas ações. Nesse sentido, os Agentes Indígenas de Saúde são importantes aliados para comunicar as informações.

Na relação com os indígenas, é fundamental que os trabalhadores da área da saúde sejam cautelosos e precavidos no sentido de não impor seu “modo de vida ocidental”, pois isso poderá estabelecer uma relação verticalizada e preconceituosa.

Para ilustrar as relações entre profissionais de saúde e os indígenas, sugerimos leitura da detalhada análise que Luiza Garnelo, médica, antropóloga e indigenista, realizou sobre os Baniwa, que vivem na Amazônia. O artigo está disponível na Scielo.

O médico cardiologista e epidemiologista Anderson da Costa Armstrong, explica como a relação com as pessoas externas pode influenciar na aceitabilidade das ações de saúde e a importância das campanhas de conscientização.

Organização do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no Sistema Único de Saúde

O Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (SASI-SUS) se insere no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), seguindo seus princípios e diretrizes. Criado em 1999 através da Lei Nº 9.836, conhecida como Lei Arouca, o Subsistema está presente em todas as regiões do Brasil por meio dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). A operacionalização das ações de saúde é responsabilidade da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde (MS). As normas para o funcionamento do Subsistema são definidas pela Política Nacional de Saúde dos Povos Indígenas.

Distritos Sanitários Especiais Indígenas

O SASI é formado por 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), divididos estrategicamente por critérios territoriais, seguindo a ocupação geográfica das comunidades indígenas e de forma que pode não haver correspondência com os limites geográficos dos estados. Sua estrutura de atendimento conta com unidades básicas de saúde indígenas, pólos base e as Casas de Apoio à Saúde Indígena (CASAI), tal estrutura deve ser articulada com a rede de serviços do SUS para garantir a assistência de média e alta complexidade.

A Política Nacional de Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), que estabelece as diretrizes para o funcionamento do subsistema, esclarece que as necessidades de saúde dos indígenas que não forem cobertas pelos Distritos devem ser garantidas pelo restante da rede SUS, tais como as unidades de saúde e equipes de saúde da família, que são de responsabilidade dos respectivos municípios onde residem.

As ações que envolvem os processos para imunização para os indígenas que não residem em TI, incluindo a vacina contra Covid‑19, deverão seguir os critérios do Ministério da Saúde, da Sesai e das gestões municipais. Destaca-se que no âmbito do enfrentamento da Covid‑19, em julho de 2020, o Ministro Luís Roberto Barroso determinou a extensão imediata das ações do SASI-SUS para as populações indígenas em terras não-homologadas e aquelas em área urbana com barreiras de acesso a rede SUS.

A PNASPI refere que o atendimento às necessidades em saúde dos indígenas nos DSEI é realizado por equipes multidisciplinares de saúde (EMSI), compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e de Saneamento (AISAN). Os trabalhadores enfrentam diversos desafios para que as ações sejam eficazes, sobretudo relacionados à logística e operacionalização dos recursos. No caso das ações de imunização, os desafios vão desde intempéries climáticas (elevadas temperaturas e longos períodos de chuvas), até longos percursos rodoviários e fluviais, passando pela ausência de energia elétrica para manutenção dos insumos e imunobiológicos.

Anderson da Costa Armstrong explica como o estilo de vida influencia na disseminação do coronavírus.