Campus Virtual Fiocruz

Módulo 1 | Aula 1

Critérios necessários para iniciar a PrEP

O primeiro passo para iniciar a PrEP é realizar a avaliação das pessoas que possuem a indicação para o uso da profilaxia pré-exposição oral (PrEP) e, para isso, é necessário realizar as seguintes investigações, que são:

Fonte: Fiocruz Imagem
  1. Testar negativo/não reagente no teste de HIV
  2. Não haver exposição de risco ao HIV nas últimas 72 horas
  3. Não haver suspeita de infecção aguda pelo HIV
  4. Não haver contraindicações para os medicamentos da PrEP
  5. Possuir cálculo de clearance da creatinina ≥ 60ml/min
  6. Ter disposição para usar a PrEP de acordo com a prescrição e para fazer o teste de HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) de forma periódica
  7. Indicar vulnerabilidade para infecção pelo HIV

  8. Veja os detalhes a seguir.

1. Testar negativo/não reagente no teste de HIV

Realize o teste de HIV preferencialmente no mesmo dia em que a pessoa iniciar a PrEP e use preferencialmente testes rápidos de HIV no local de atendimento. Em caso de teleatendimento, pode-se utilizar o autoteste para HIV.

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Para informações sobre uso de autoteste e PrEP, acesse a NOTA TÉCNICA Nº 26/2024-CGAHV/.DATHI/SVSA/MS

Tendo realizado o exame, a pessoa terá até 7 dias, a partir da data da coleta do teste, para retirar o medicamento em uma UDM (Unidade Dispensadora de Medicamentos) do Sistema Único de Saúde (SUS) gratuitamente.

2. Não haver exposição de risco ao HIV nas últimas 72 horas

Verifique se a pessoa não foi exposta ao HIV nas últimas 72 horas. Caso ela tenha alguma exposição de risco nesse período, avalie a indicação da PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV).

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Pergunte ao(à) usuário(a) quando foi sua última exposição sexual de risco.

Após o término da PEP, volte a realizar o teste de HIV no(a) usuário(a) e se o teste der negativo novamente, e ela continua tendo um risco significativo de infecção pelo HIV, inicie a PrEP imediatamente.

3. Não haver suspeita de infecção aguda pelo HIV

Verifique se a pessoa apresenta sinais e sintomas que possam representar uma infecção aguda pelo HIV, sem que existam outras hipóteses diagnósticas mais prováveis. Verifique se há sinais e sintomas de síndrome viral aguda.

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Pergunte ao(à) usuário(a) sobre suas exposições de risco recentes com relação ao HIV.

Caso exista a suspeita de uma infecção aguda pelo HIV:

  • Em caso de suspeita clínica de infecção aguda pelo HIV, com ausência de marcadores imunológicos, deve-se realizar o exame de carga viral do HIV, a fim de reduzir o período de janela diagnóstica. Nesse caso, o início da PrEP deve ser postergado até o esclarecimento diagnóstico.
  • Podem iniciar imediatamente a PrEP indivíduos com alto risco de infecção pelo HIV que tiveram uma exposição recente, que estiverem fora da janela de 72 horas para o início de PEP e que se apresentam durante a avaliação inicial sem sinais e sintomas de infecção pelo HIV.
  • Esperar que alguns indivíduos estejam fora do período de janela para o início da PrEP aumenta o risco de exposições adicionais ao HIV e implica atraso significativo para o início da profilaxia.
  • Caso se opte por iniciar a PrEP, esses indivíduos devem ser monitorados mais de perto, com busca ativa de sinais e sintomas e maior frequência de testagem nas próximas duas a oito semanas.

4. Não haver contraindicações para os medicamentos da PrEP

O(a) usuário(a) não deve ter alergia a nenhum medicamento do esquema da PrEP. No Brasil a PrEP oral é composta por Fumarato de Tenofovir Desoproxila (TDF) e Entricitabina (FTC).

A pessoa não deve ter alergia a nenhum medicamento do esquema de profilaxia pré-exposição.

A eficácia da PrEP não é comprometida pelo uso de álcool, outras drogas ou hormônios, podendo ser usada concomitantemente, desde que o uso dessas substâncias não interfira na adesão à tomada do medicamento.

5. Possuir cálculo de clearance da creatinina ≥ 60ml/min

Para realizar a avaliação renal, é necessário calcular o clearance estimado da creatinina. Esse cálculo é realizado por meio da equação de COCKCROFT-GAULT ou Fórmula de CKD – EPI19.

COCKCROFT-GAULT


Homens: ClCr = [140 – idade (anos)] x peso (kg) x 1 x creatinina sérica (mg/dL) x 72
Mulheres: ClCr = [140 – idade (anos)] x peso (kg) x 0,85 x creatinina sérica (mg/dL) x 72

Variável Unidade de Medida
Idade Anos
SerumCreat (creatinina sérica) Miligramas/decilitros (mg/dl) ou
Micromol/litros (µmol/L)
Pesos Quilogramas (kg)
Sexo Em mg/dl
Homens = 1
Mulheres = 0,85

Em µmol/L
Homens = 1,23
Mulheres = 1,04

Indica-se a dosagem da creatinina na avaliação inicial, conforme a faixa etária e histórico do usuário:

  • Idade < 30 anos e sem fatores de risco para redução da função renal: opcional.
  • Idade ≥ 30 anos e/ou presença de fatores de risco para redução da função renal: avaliar solicitar na primeira consulta.

A solicitação e coleta do exame de função renal deve ser feita preferencialmente no dia da primeira dispensação de PrEP, podendo-se aguardar seu resultado dentro do prazo do primeiro retorno do usuário em 30 dias, sem prejuízo para a primeira dispensação da profilaxia. Para pessoas sem histórico de doença renal ou fator de risco, o resultado do exame não deve atrasar o início da PrEP.

Para indivíduos com idade menor do que 30 anos e sem fator de risco, a realização do exame de creatinina no seguimento é opcional. Para pessoas com idade entre 30 e 50 anos, sem fator de risco, o exame pode ser realizado a cada 12 meses. Nos indivíduos com idade superior a 50 anos OU com história de comorbidades, tais como HAS e diabetes, OU com estimativa inicial do ClCr menor que 90 mL/min, a reavaliação da função renal deve ser mais frequente, a cada seis meses, pelo maior risco de declínio para valores anormais do clearance de creatinina.

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Para calcular o clearance da creatinina, você pode utilizar a Calculadora Virtual de CICr.

6. Ter disposição para usar a PrEP de acordo com a prescrição e para fazer o teste de HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) de forma periódica

A PrEP oferece altos níveis de proteção contra a infecção pelo HIV para aqueles que tomam o medicamento de acordo com a prescrição, e para isso, as pessoas devem:

  • Tomar a PrEP de acordo com a prescrição.
  • Para evitar esquecimentos, indica-se, de preferência, sempre no mesmo horário.
  • Tomar a PrEP com ou sem alimentos.
  • Fazer o teste a cada três meses ou quatro meses, ou seja, o(a) usuário(a) deve estar disposto a fazer o teste de HIV de forma periódica. O Ministério da Saúde recomenda que o teste de HIV seja feito a cada 3 ou 4 meses.

Evidências científicas têm demonstrado que PrEP, quando tomada conforme prescrito, tem níveis de proteção ao HIV superiores a 99%.

7. Indicar vulnerabilidade para infecção pelo HIV

Confira a seguir, as orientações para identificação de indivíduos com risco significativo de infecção pelo HIV.

As pessoas com alto risco de infecção pelo HIV que solicitam a PrEP tendem a apresentar maior:

  • Uso da PrEP
  • Adesão à PrEP
  • Permanência na PrEP

Lembre-se de considerar sempre a possibilidade de administrar a PrEP a qualquer pessoa com um risco significativo de HIV!

A PrEP fornece proteção adicional para as parcerias sorodiferentes nas seguintes situações:

  • Durante o tempo que o tratamento antirretroviral leva para suprimir a carga viral (até 6 meses).
  • Se tiver dúvidas sobre a eficácia do tratamento de sua parceria, ou em caso de interrupções na adesão terapêutica da parceria.
  • Se tiver outras parcerias sexuais além da parceria com a pessoa que vive com HIV/aids em tratamento antirretroviral.

Na busca repetida por PEP por exposição sexual, há maior vulnerabilidade à infecção do HIV, se há relato de uso de Profilaxia Pós-Exposição (PEP) sexual ao HIV nos últimos 6 meses.

Não usar preservativos aumenta o risco de infecção pelo HIV.
Considere a possibilidade de oferecer PrEP para pessoas que:

  • Referem ter tido relações sexuais sem preservativo.
  • Expressam preocupação pelo uso futuro de preservativos.
  • Expressam o desejo de deixar de usar preservativos.

Pode-se considerar que os indivíduos correm um risco considerável de infecção pelo HIV se tiverem parcerias sexuais com alto risco de infecção pelo HIV. Por exemplo, vivem em uma zona de alta prevalência com uma parceria que tem outras parcerias sexuais simultâneas.

Históricos recentes de IST determinados por meio de testagem ou relatados pela pessoa ou tratamento sindrômico, determinado por:

  • Testagem ou indicados pela pessoa.
  • Tratamento sindrômico de IST.

Indicações de vulnerabilidade para infecção pelo HIV

Mulher com palma da mão aberta
Fonte: Freepik
  1. Solicitação ou desejo de usar PrEP, independente de relatar riscos.
  2. Repetição de práticas sexuais anais ou vaginais com penetração sem o uso ou uso irregular de preservativo.
  3. Frequência de relações sexuais com parcerias eventuais, quantidade e diversidade dessas parcerias.
  4. Histórico de episódios de IST.
  5. Busca repetida por PEP.
  6. Contextos de relações sexuais em troca de dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia etc.
  7. Uso de Chemsex: prática sexual sob a influência de drogas psicoativas (metanfetaminas, gama-hidroxibutirato – GHB, MDMA, cocaína, poppers) com a finalidade de melhorar ou facilitar as experiências sexuais.
  8. Compartilhamento de agulhas, seringas ou outros equipamentos para injetar drogas.