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Mpox: Vigilância, Informação e Educação em Saúde

MÓDULO 2 | AULA 1 O registro da Mpox no sistema de informação em saúde

TÓPICO 1

Informação em saúde

Você já ouviu falar sobre a informação em saúde?

A informação em saúde desempenha papel fundamental no campo da Saúde Coletiva, sendo essencial para a vigilância em saúde e o planejamento, monitoramento e avaliação de políticas de saúde. Antes de discutirmos a informação em saúde, é importante entendermos o conceito mais amplo de informação. Informação, em sua essência, significa uma interpretação ou uma representação a respeito de algo. A informação é um conjunto de dados que, quando organizados e interpretados, adquirem significado. Ela pode ser transmitida de forma:

  • Verbal;
  • Escrita;
  • Visual;
  • Sonora.

No contexto da saúde, a informação assume um significado especial, pois irá justamente se dedicar a interpretar ou a representar algo relacionado ao processo saúde-doença-cuidado. Com isso, chegamos à definição de informação em saúde.

“A descrição ou representação limitada de um evento, agravo ou atributo da situação de saúde-doença-cuidado de indivíduos ou populações a partir de uma determinada visão de mundo”

(Moraes, 2014, p. 650)

Porém, por que seria limitada? Limitada significa parcial, pois qualquer representação e análise, por melhor que seja, sempre parte de um ponto de vista, ou seja, de uma “visão de mundo”, isso também se aplica à área da saúde. Por isso, ao tentarmos compreender uma situação específica — como o processo de adoecimento por Mpox — temos que reunir o máximo de dados possíveis para produzirmos informações em saúde mais precisas e adequadas ao nosso contexto social, político, cultural e sanitário.

Além da compreensão dos conceitos de dado e informação, outro conceito estruturante desse assunto é o de registro em saúde. Um registro, de modo geral, compreende a materialização de uma determinada visão, de uma perspectiva ou análise específica.

"Na área da saúde, ao falarmos de registro em saúde podemos nos referir tanto ao processo de trabalho desenvolvido pelas instituições ou profissionais de saúde no que se refere ao ato e momento de registrar, como também aos documentos e demais suportes existentes para organizar e guardar a informação em saúde gerada".

(Sharapin; Leandro, 2020)

Alguns exemplos de registro em saúde:

Prontuário do paciente

Chapa radiológica com laudo

Bases de dados dos sistemas de informações em saúde

Ficha de notificação

Saiba Mais

O Brasil tem uma longa história no que se refere ao tema da Informação em Saúde e a constituição dos Sistemas de Informações em Saúde como um patrimônio público. Para que você possa saber mais sobre essa história, lhe convidamos a visualizar a apresentação animada intitulada Breve histórico das informações e registros em saúde no Brasil.

Caso queira se aprofundar no assunto, recomendamos que faça a leitura do texto Histórico das informações e registros em saúde.

A informação é o resultado da combinação de vários tipos de dados trabalhados, organizados e interpretados, agregando, dessa forma, valor adicional a um determinado fato, ou seja, qualificando esse fato para que melhor possamos compreendê-lo (Coeli et al., 2009).

Desse modo, a informação em saúde abrange diversos aspectos que nos ajudam a compreender a saúde de indivíduos, grupos sociais e populações, tais como:

  • Ocorrência de doenças e agravos;
  • Acesso aos serviços de saúde;
  • Qualidade do atendimento;
  • Melhor compreensão a respeito das causas de morte;
  • Identificação de situações de desigualdades em saúde;
  • Fatores de risco e proteção para doenças, entre outros.
Fonte: Freepik (2025)

Ela é essencial para que os gestores e profissionais de saúde possam tomar decisões embasadas em evidências, oferecendo atendimento adequado à população.

A informação em saúde não se limita apenas aos registros de pacientes em hospitais, mas engloba dados coletados em diversos níveis do sistema de saúde, desde a APS até os hospitais de alta complexidade. Ou seja, ela é um elemento transversal na rede de atenção à saúde, sendo, portanto, um dos pilares do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, que tem como objetivo proporcionar acesso universal, integral e equitativo. Além disso, a informação em saúde auxilia na identificação de desigualdades sanitárias e sociais em saúde, colaborando com a formulação de políticas públicas mais efetivas.

No contexto da era digital e tecnológica, dados são frequentemente coletados, armazenados e manipulados de modo mais rápido, para posterior análise, interpretação e processamento da informação em saúde, desempenhando papel essencial na tomada de decisão informada e na geração de valor em diversos campos, incluindo saúde, educação e meio ambiente.

Para ilustrar como a informação em saúde funciona na prática, consideremos o processo de trabalho na Unidade Básica de Saúde (UBS) da ACS Clara. Na UBS, diversas atividades relacionadas à informação em saúde acontecem diariamente. Conheça parte dessa rotina:

Os profissionais de saúde da UBS coletam dados dos pacientes, incluindo informações demográficas, histórico de saúde, sintomas atuais e exames laboratoriais. Espera-se que esses dados sejam registrados nos prontuários dos pacientes.

Registro e armazenamento dos prontuários dos pacientes e demais documentos envolvendo a gestão da UBS. Esses registros devem ser armazenados em lugares seguros, de modo a garantir a proteção dos dados e a privacidade dos pacientes.

A UBS acompanha indicadores de saúde da comunidade, como taxas de vacinação, incidência de doenças transmitidas por vetores, taxas de mortalidade infantil, notificação de casos suspeitos de doenças específicas, como foi a situação de caso suspeito de Mpox em nossa história, entre outros.

A UBS possui um fluxo informacional regular com a Secretaria de Saúde do município sobre os atendimentos realizados, demandas da comunidade e necessidades de recursos.

Com base nos dados coletados, a UBS e a Secretaria de Saúde elaboram planos de ação para prevenir doenças, promover a saúde da população em seu território de abrangência e melhorar a qualidade do atendimento.

Os profissionais de saúde da UBS utilizam informações a fim de construir estratégias educativas para interação e diálogo com a população, seja sobre doenças ou agravos específicos, mas também sobre a condição de vida e saúde de seu território.

Periodicamente, a UBS avalia os resultados das ações de saúde realizadas, ajustando estratégias conforme necessário para melhor atender às necessidades da população.

Em resumo, a informação em saúde desempenha papel primordial na gestão e prestação de serviços de saúde em uma UBS. Ela permite a tomada de decisões informadas, a promoção da saúde da comunidade e a redução de desigualdades, contribuindo para o alcance dos princípios do SUS.

Vimos na animação fictícia deste módulo o “caminho” (percurso) que os dados percorrem, desde sua entrada na unidade básica de saúde, seu registro, até sua “saída” enquanto informação produzida. A história de Ana ilustra de forma clara como os dados permeiam todas as facetas da vida cotidiana, com especial destaque na esfera da saúde e, mais especificamente, nas unidades básicas.

As queixas de Ana (seus sinais e sintomas) e as formas de vivência da usuária em seu território, são dados registrados para melhor compreensão de seu processo de adoecimento, funcionando como elementos “alertas” para a identificação de situações importantes de serem acompanhadas mais de perto, como um caso suspeito de Mpox. Ao procurar a Unidade de Saúde mais próxima, ela passa por um processo de acolhimento mediado por uma ACS, quando seus dados pessoais e de moradia são registrados primeiramente. Percebe-se que, durante a triagem, a enfermeira solicita uma série de testes rápidos para outras doenças (como Sífilis, HIV e hepatite B e C). Essa coleta de dados, tanto dos registros dos testes, queixas e os possíveis resultados são fundamentais para direcionar os cuidados de saúde, bem como para fins estatísticos e epidemiológicos. Tais dados serão registrados e armazenados no prontuário de Ana.

A importância dos dados não para por aí. Além dos testes realizados, exames mais detalhados, consultas e demais procedimentos nos serviços de saúde, precisamos nos preocupar com a forma de armazenamento de todos esses dados. Afinal, eles precisam estar disponíveis em tempo adequado para apoiar a gestão do cuidado em saúde. Além disso, os dados de Ana, em conjunto com os dados de outros usuários que possam ter uma situação de saúde parecida, serão úteis para se conhecer a situação de saúde desse território em relação ao que se refere ao adoecimento por Mpox: Quantos casos suspeitos? De qual sexo? São de alguma localidade específica no território? Ou estão dispersos?

Cada resultado positivo ou negativo de Mpox, ou de outro agravo, é registrado em um determinado Sistema de Informação em Saúde (SIS). No caso do caso suspeito e/ou confirmado de Mpox, o registro dessa respectiva notificação será inserido no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (e-SUS SINAN), contribuindo para o monitoramento de doenças de notificação compulsória e auxiliando na identificação de tendências (como as doenças se comportam ao longo do tempo) e possíveis surtos ou emergências em saúde pública, de importância nacional ou internacional.

Já os registros dos testes rápidos são consolidados no Sistema de Informações para a Atenção Básica (SISAB), que compila informações essenciais para análises estatísticas e avaliações das condições de vida em territórios da APS.

Esses são dois SIS utilizados no registro da Mpox, mas o que seria um sistema de informação em saúde (SIS)?

Para introduzir melhor a compreensão de Sistema de Informação em Saúde, precisamos apontar algumas conceituações gerais sobre o que vem a ser um sistema.

Um sistema pode ser considerado um conjunto integrado de partes que se articulam para uma finalidade em comum (Colei et al., 2009). Ou seja, podemos ter no serviço de saúde um sistema direcionado para os óbitos e o outro para as doenças e agravos. Esses dois sistemas têm como objetivo comum armazenar e processar dados específicos de um determinado lugar em um momento histórico.

Um SIS pode ser entendido como o conjunto de etapas que se integram, se articulam, e que envolve coleta, sistematização, armazenamento, processamento dos dados e difusão de informações em saúde, ou seja, aquelas informações que possibilitarão a interpretação e a análise das dimensões do processo saúde-doença-cuidado.

No âmbito da saúde, os SIS têm como objetivo transformar dados em informação, de forma que permita compreender determinados fenômenos, como:

  • Condições de saúde;
  • Mortalidade;
  • Morbidade;
  • Fatores de risco;
  • Condições demográficas;
  • Outros aspectos.

O conhecimento da realidade faz com que os SIS seja uma ferramenta capaz de apoiar a tomada de decisão nos serviços de saúde. Ainda que algumas dessas etapas faça uso de ferramentas digitais, seu uso não é uma obrigatoriedade (Rezende, Soares, Reis, 2020, Almeida Filho; Rouquayrol, 2006).

A figura a seguir explicita as diferentes etapas que envolvem a produção da informação em saúde.

Os dados e informações em saúde permitem não apenas o acompanhamento individual, mas também a identificação de padrões de saúde em comunidades e regiões, facilitando a formulação de intervenções preventivas e a alocação eficiente de recursos.