MÓDULO 1 Encerramento
Chegamos ao final do primeiro módulo, quando vimos que:
- A Mpox, inicialmente denominada de “varíola dos macacos” ou “Monkeypox”, é uma zoonose que que recebeu esse nome porque o vírus foi isolado e identificado pela primeira vez, em 1958, quando macacos enviados de Cingapura para um laboratório dinamarquês adoeceram. Atualmente, os casos relatados referem-se a transmissão entre humanos.
- Em 23 de julho de 2022 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a Mpox uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). No ano seguinte, em 11 de maio de 2023, a ESPII foi declarada encerrada também pela OMS. Contudo, em 14 de agosto de 2024, a OMS decretou novamente a Mpox como uma ESPII devido ao aumento de casos da doença na República Democrática do Congo (RDC) e em um número crescente de países na África.
- Apesar de o Orthopoxvirus monkeypox, agente etiológico da Mpox, e o Orthopoxvirus variola, agente etiológico da varíola, possuírem constituição genética idêntica em quase 90%, é importante ressaltar que, diferentemente da Mpox, que possui diversos hospedeiros (como seres humanos, macacos e roedores), o vírus da varíola circula apenas entre os seres humanos e é mais letal.
- O Orthopoxvirus monkeypoxé um vírus de genoma DNA com duas fitas, sendo composto por um capsídeo e os “corpos laterais” (do inglês, lateral bodies), associado com a entrada do vírus na célula do hospedeiro. Até o momento, sabe-se que esse vírus apresenta dois tipos de partículas virais infecciosas: o vírion maduro (VM), que não possui um envelope externo, e o vírion envelopado (VE), que possui o envelope viral.
- A transmissão do Orthopoxvirus monkeypoxpode ocorrer por contato direto com pessoas infectadas, especialmente com as lesões e suas secreções (como pus, sangue, saliva etc.) ou indireto, por meio de objetos que tenham sido recentemente utilizados por pessoas com Mpox (como roupas, toalhas, copos, talheres etc.) ou por meio de gotículas que se espalham a partir da fala e da respiração (após um contato próximo, de menos de 2 metros, e prolongado). A transmissão a partir de fluidos sexuais vem sendo estudada. Contudo, independente disso, a prática sexual tem um importante papel na transmissão do vírus devido à proximidade com as lesões. Gestantes também podem transmitir o vírus para o feto através da placenta.
- Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, a Mpox é geralmente uma doença autolimitada, cujos sinais e sintomas duram de 2 a 4 semanas. O período de incubação é tipicamente de 6 a 16 dias, mas pode chegar a 21 dias.
- Os sinais e sintomas sugestivos de Mpox são erupções cutâneas ou lesões na pele, com algumas características típicas: podem ser dolorosas, profundas e bem circunscritas; podem ser planas ou levemente elevadas, formam vesículas ou bolhas preenchidas com um líquido claro ou amarelado (pústulas), úlceras, lesões umbilicadas e/ou com formação de crostas. De forma geral, os sinais e sintomas podem aparecer isolados ou associados, duram de 2 a 4 semanas e podem ser precedidos de sinais e sintomas inespecíficos (fase prodrômica).
- O diagnóstico clínico é realizado por profissionais de saúde a partir da análise do relato do usuário sobre a doença, dos sinais e sintomas observáveis a partir de anamnese e de exame físico, do histórico de saúde e doença do paciente e de suas relações com o ambiente familiar e territorial. O diagnóstico clínico diferencial pode incluir doenças exantemáticas (como varicela zóster (catapora), herpes-zóster e sarampo) e infecções sexualmente transmissíveis, como herpes simples (viral), sífilis, cancro mole e linfogranuloma venéreo (bacterianas).
- O diagnóstico laboratorial provém de um exame complementar ao clínico, realizado em laboratório a partir da coleta de material do usuário. Para tal, devem ser coletadas pelo menos duas amostras (cada uma em um local diferente) provenientes das lesões de pele, como: líquido das vesículas/pústulas ou crostas secas. O teste utilizado na confirmação dos casos de Mpox é a qPCR, (reação em cadeia pela polimerase em tempo real), um tipo de teste que se baseia na detecção do material genético (DNA) do vírus.
- A Mpox é uma doença que pode atingir pessoas de qualquer sexo, gênero, comportamento sexual ou idade. Há algumas noções estigmatizantes — como a ideia de que a Mpox é uma doença de homens que fazem sexo com homens — que precisam ser estudadas por profissionais da Atenção Primária, para serem desconstruídas no processo de educação em saúde.
- Pessoas que têm o diagnóstico confirmado, mas apresentam bom estado geral, recebem cuidados que têm objetivo de aliviar os sintomas, como dor e coceira, e evitar contaminação de outras pessoas, recomendando-se manter o paciente isolado, de preferência no ambiente familiar, durante o período de duração dos sintomas até a cicatrização das lesões na pele. Atualmente, não existe um antiviral específico para Mpox, sendo indicado o tratamento de suporte com manejo da dor, da coceira, cuidados de higiene das áreas afetadas e hidratação.
- A prevenção da Mpox deve ser realizada a partir de uma combinação de medidas de controle, vigilância epidemiológica e monitoramento dos casos, incluindo o diagnóstico precoce, e de estratégias de conscientização da população sobre os fatores de risco para a transmissão do Orthopoxvirus monkeypox, como: antissepsia frequente das mãos com álcool 70%, utilização de máscara, isolamento dos casos etc. Além disso, as vacinas produzidas para a varíola podem proteger contra Mpox, incluindo: Dryvax, ACAM2000 e MVA-BN (ou Jynneos); contudo, sua disponibilidade é limitada e sua aplicação foi destinada a grupos desproporcionalmente afetados pela Mpox.