História da Saúde Pública no Brasil - Unidade 2

Aula 4

Educação médica no Brasil

É possível delinear alguns dos fatores que contribuíram para singularizar o ensino de medicina, seu dinamismo, bem como suas crises sucessivas, a partir de meados do século XX.

Na América Latina e no Brasil, os projetos de reforma, que levaram à implantação dos modelos de medicina preventiva, comunitária e familiar, foram precedidos de diagnósticos que identificavam a inadequação do perfil do profissional recém-formado.

O Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas foi criado formalmente em 1956, dirigido por Noel Nutels até a sua morte, em 1973.

A crise onipresente na educação médica, derivada, em parte, da expansão exponencial do conhecimento médico, estimulada por um crescente mercado por novas tecnologias de cuidado, sobretudo nas sociedades mais afluentes, levou a sucessivas mudanças curriculares.

A especialização comprometeu inicialmente a educação e o papel do médico generalista, além de propiciar o aparecimento das profissões paramédicas.

Simultaneamente, vários movimentos sociais e políticos, também nos países em desenvolvimento, passaram a demandar a expansão da cobertura e efetividade dos serviços e a interpelar as escolas médicas, cobrando-lhes uma nova postura diante de questões ético-políticas.

Com a universalização do modelo biomédico de ensino, após a Segunda Guerra Mundial, consolidaram-se as especialidades: saúde pública, bioquímica, epidemiologia, pediatria, hematologia.

Antes disso, a urologia, a neuropsiquiatria e a dermatologia e sifilografia já figuravam entre os primeiros campos que estabeleceram certificados formais para seus pares.

É preciso salientar ainda que, desde a década de 1960, o ideal de uma formação médica universitária que preenchesse os requisitos de um patamar comum em todas as especialidades e um aprendizado prático suficiente tornou-se crescentemente ilusório.

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Grupos sociais e estudantes se mobilizaram para reivindicar a inclusão de novos temas. Entre eles, estavam: pobreza, acesso universal ao cuidado médico e deterioração da relação médico-paciente.

Regra geral, as iniciativas reformistas deram maior atenção à medicina preventiva, à medicina comunitária, ao modelo de aprendizagem baseado em problemas e capaz de interagir globalmente com o paciente, tendo em conta sua condição social.

No caso da América Latina, é possível afirmar que os questionamentos ao modelo de ensino biomédico parecem ter sido contemporâneos ao seu longo processo de introdução.

Nesse movimento de crítica, consolidam-se os esforços para o desenvolvimento das disciplinas básicas, para a introdução do ensino das chamadas ciências do comportamento, dos componentes preventivos e psicossociais e para a premência da criação de departamentos de medicina preventiva nas escolas médicas latino-americanas.

Como parte desse movimento, sob os auspícios da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), da Association of American Medical Colleges (AAMC), da Fundação Kellogg e outras organizações norte-americanas, tem início o processo de criação de associações nacionais de escolas e faculdades de medicina, assim como de uma federação latino-americana, ampliando as bases institucionais desse movimento reformador.

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Logo da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem).

Fonte: Site institucional da Abem.

A Associação Brasileira de Escolas de Medicina (Abem), criada em 1962, logo estabeleceu-se como um espaço de veiculação de posições acerca da trajetória e desafios da educação médica no país.

Sensível aos debates na saúde internacional, intimamente associada às suas organizações, mas igualmente fruto de um movimento endógeno, a Abem também muito cedo foi reconhecida pelas autoridades governamentais como uma instituição representativa e que foi mobilizada para a discussão e políticas para o setor.

Para poder avançar com seus projetos, Zeferino Vaz teve de confrontar-se com as autoridades do Ministério de Educação que se recusavam a aceitar um novo padrão que diferia do imposto desde a Lei Francisco Campos, criada no Estado Novo, que impunha o modelo da Faculdade Nacional do Rio de Janeiro como parâmetro das disciplinas básicas.

Graças a seu prestígio pessoal, às condições de trabalho por ele oferecidas e às novas perspectivas profissionais e de pesquisas assim abertas, Zeferino Vaz conseguiu atrair um grupo de professores eminentes do Brasil e do exterior. O apoio veio não somente do orçamento estadual, como também da Fundação Rockefeller e outras fontes.

Principalmente durante o governo dos militares, nos anos 1960 e 1970, a expansão do ensino médico no Brasil tornou-se uma questão muito importante para o campo, trazendo tensões e problemas. Compreenderemos melhor essa discussão na próxima unidade, em que abordaremos a saúde durante a ditadura militar brasileira.

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