Unidade 2

Do Período Getulista à Ditadura Civil Militar​

Aula 4

As doenças da pobreza e os projetos de desenvolvimento nacional

O surgimento de vacinas mais eficazes e dirigidas a novas doenças, a descoberta dos inseticidas organoclorados (em especial o DDT) e a invenção dos antibióticos reforçavam o otimismo acerca do controle das doenças transmissíveis. Imaginava-se que o uso desses recursos em larga escala poderia eliminar os vetores e proporcionar a cura dos atingidos, dando fim ao ciclo de doença e pobreza que continuamente debilitava parte de nossa população e impedia o desenvolvimento do país.

Embora essa promessa acabasse mostrando-se utópica, muitos ganhos foram obtidos. No começo da década de 1940, o ciclo urbano da febre amarela era interrompido no país. Duas décadas depois, sob a inspiração das agências de saúde internacionais Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil deu início a campanhas para erradicar a varíola e a malária.

Foto oficial do presidente Juscelino Kubitschek.
Foto oficial do presidente Juscelino Kubitschek.
Fonte: Acervo do CPDOC/FGV.

O combate a essas doenças era compreendido, na época, como o melhor caminho para romper com o ciclo vicioso da doença e da pobreza mencionado anteriormente.

Sob essa perspectiva, os projetos para a saúde dos governos brasileiros, sobretudo o de Juscelino Kubitschek, deram grande ênfase a programas de erradicação das doenças pestilenciais e de massa.

Saiba Mais

No caso de JK, como ficou conhecido o presidente mineiro, parte de seu plano nacional de desenvolvimento envolvia a ideia de que “o Brasil não é só doença”, e de que seria possível superar o quadro diagnosticado pelo movimento sanitarista na Primeira República.

No campo médico, as discussões acerca dos problemas sanitários das regiões mais pobres do país mobilizaram especialidades como a Medicina Tropical e a Parasitologia, tanto na dimensão da pesquisa laboratorial quanto na atuação política.

Em 1953, foi realizado em Fortaleza o Primeiro Congresso Médico do Nordeste Brasileiro, reunindo nomes importantes de todos os estados da região, e colocando como pauta principal de discussão as chamadas “doenças tropicais”, principalmente a doença de Chagas e a leishmaniose.

Saiba Mais: Medicina Tropical, doenças tropicais: dos trópicos ou da pobreza?

A Medicina Tropical é uma área tradicional do conhecimento biomédico, cujas origens remontam ao contexto colonialista da Europa no século XIX. Seu objeto seriam as doenças transmissíveis, provenientes das regiões mais quentes, muitas delas difundidas a partir da ação de vetores.

Entretanto, uma discussão mais aprofundada sobre o conceito de ‘doenças tropicais’ aponta para os aspectos sociais da noção, mostrando a predominância de um argumento social para a definição da enfermidade como tropical, em contraponto à determinação climatológica e geográfica. Ou seja: as doenças seriam dos trópicos porque aqui há condições socioeconômicas precárias para o seu controle, não porque o clima determina a recorrência dessas enfermidades.

Visando à erradicação das doenças da pobreza, foi criado, em 1956, o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DENERu), dentro do recém-separado Ministério da Saúde (1953).

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DENERu

O DENERu incorporou os programas existentes, sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Saúde (febre amarela, malária e peste) e da Divisão de Organização Sanitária (bouba, esquistossomose e tracoma).


SESP

Outra instituição que teve papel central no combate às doenças de massa foi o SESP. Se lembrarmos da primeira aula desta unidade, o Serviço Especial de Saúde Pública foi criado no âmbito da política da boa vizinhança durante a Segunda Guerra, com ênfase no combate à malária. A sobrevivência do SESP no pós-guerra estava ligada ao papel que já cumpria desde sua origem, ou seja, o de promover saúde pública em regiões de fronteira econômica.

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