Os primeiros casos de uma epidemia em uma determinada área devem ser sempre submetidos a uma investigação detalhada. A magnitude, a extensão e a natureza do evento, assim como a forma de transmissão e os tipos de medidas de controle indicados (individuais, coletivos ou ambientais), são alguns elementos que orientam a equipe sobre a necessidade de serem investigados todos os casos ou apenas uma amostra deles.
É essencial a detecção precoce dos surtos, para que medidas de controle sejam adotadas oportunamente. Só assim um grande número de casos e óbitos podem ser evitados.
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As doenças respiratórias podem se disseminar rapidamente entre as populações, especialmente as que vivem em ambientes restritos ou fechados, podendo causar morbidade considerável e interrupção das atividades diárias. Por isso, é importante que, diante de situações de surto ou epidemia, sejam adotadas medidas específicas para interrupção da cadeia de transmissão. Os funcionários que atuam no sistema prisional chegam e partem da instalação diariamente após o contato com suas próprias famílias e com pessoas privadas de liberdade. Cada um desses contatos atua como uma rota potencial de transmissão (MONTOYA-BARTHELEMY et al., 2020). A exemplo da Covid-19, estima-se que, na população livre, cada infectado contamine de 2 a 3 pessoas. Dadas as condições de encarceramento nas prisões brasileiras, pode-se estimar que um caso contamine até 10 pessoas. Assim, em uma cela com 150 privados de liberdade, 67% deles estarão infectados ao final de 14 dias, e a totalidade, em 21 dias (WHO, 2020).
A boa coordenação entre as equipes locais envolvidas na comunicação de riscos aos envolvidos é fundamental para a contenção de um surto. Existe uma preocupação generalizada de que possa haver grandes surtos nas cadeias e penitenciárias e que esses locais possam amplificar a transmissão da Covid-19 nas comunidades vizinhas (OKANO; BLOWER, 2020).
A rápida disseminação da Covid-19, como ocorre com a maioria das epidemias, afeta significativamente as pessoas mais desfavorecidas. Portanto, para mitigar os efeitos das epidemias nas prisões e reduzir a sua morbimortalidade, é essencial que as prisões, os centros de detenção de jovens e os centros de detenção de imigração sejam integrados à resposta geral à saúde pública e que também forneçam equipamentos de proteção para a equipe de profissionais que trabalha no sistema prisional (CAPUTO et al., 2020).
Na Covid-19, a percepção do risco à vida e à saúde, somada à restrição da circulação dentro do espaço prisional, com a interrupção das atividades coletivas (laborais, educativas e religiosas), pode se tornar fator agravante das tensões, com implicações emocionais intensas para os internos (BRASIL, 2020c). A suspensão do contato com a família intensifica a sensação de isolamento e de insegurança.
Para reduzir a sensação de perda de controle e a ansiedade decorrentes do isolamento, é necessário que os privados de liberdade sejam informados:
É importante evitar a estigmatização e a violência que podem ocorrer contra pessoas identificadas como possíveis portadoras da Covid-19 (WHO, 2020).
Como forma de amenizar a tensão, as medidas de controle devem ser comunicadas para os seguintes grupos:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Protocolo de tratamento de influenza 2017. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_tratamento_influenza_2017.pdf. Acesso em: 12 jun. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/junho/25/guia-vigilancia-saude-volume-unico-3ed.pdf. Acesso em: 12 jun. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coronavírus Covid-19. Guia de Vigilância Epidemiológica. Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pela Doença pelo Coronavírus 2019. Vigilância Integrada de Síndromes Respiratórias Agudas Doença pelo Coronavírus 2019, Influenza e outros vírus respiratórios. Brasília: Ministério da Saúde, 2020a. Disponível em: https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/07/GuiaDeVigiEpidemC19-v2.pdf. Acesso em: 10 jun. 2020.
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Portaria Interministerial Nº 7, de 18 de março de 2020. Dispõe sobre as medidas de enfrentamento da emergência de saúde pública previstas na Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, no âmbito do Sistema Prisional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 mar. 2020b. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-interministerial-n-7-de-18-de-marco-de-2020-248641861. Acesso em: 12 jun. 2020.
BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia Covid-19. Recomendações gerais. Brasília: Ministério da Saúde. 2020c. Disponível em: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-content/uploads/2020/04/Saúde-Mental-e-Atenção-Psicossocial-na-Pandemia-Covid-19-recomendações-gerais.pdf . Acesso em: 9 jun. 2020.
CAPUTO, F. et al. Covid-19 emergency in prison: Current management and forensic perspectives. Médico-legal Journal, 21 maio 2020. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0025817220923693. Acesso em: 11 jun. 2020.
CHAO, W.C.; LIU, P.Y.; WU, C.L. Control of an H1N1 outbreak in a correctional facility in central Taiwan. Journal of Microbiology, Immunology and Infection, v. 50, n. 2, p. 175-–182, 1 abr. 2017. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26051221/?from_term=RESPIRATORY+VIRUS+SURVEILLANCE+IN+PRISONS&from_pos=7 . Acesso em: 10 jun. 2020.
MONTOYA-BARTHELEMY, A. G.; et al. Covid-19 and the Correctional Environment: The American Prison as a Focal Point for Public Health. American Journal of Preventive Medicine, v. 58, n. 6, p. 888-–891, jun. 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7164863/ . Acesso em: 12 jun. 2020.
OKANO, J. T.; BLOWER, S. Preventing major outbreaks of Covid-19 in jails. Lancet (London, England), v. 395, n. 10236, p. 1542-–1543, 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7190297/ . Acesso em: 12 jun. 2020.
WHO. Regional Office for Europe. Preparedness, prevention and control of Covid-19 in prisons and other places of detention. Interim guidance. Copenhagen: WHO, 2020. Disponível em: http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0019/434026/Preparedness-prevention-and-control-of-Covid-19-in-prisons.pdf?ua=1. Acesso em: 10 jun. 2020.