Riscos à saúde associados ao contato com resíduos de serviços de saúde
A manipulação inadequada dos RSS está associada a riscos à saúde dos trabalhadores, incluindo possibilidades de ferimentos com agulhas, contato com sangue e demais líquidos corpóreos contaminados, aspiração de substâncias tóxicas dispostas de maneira inadequada. Por isso é tão importante a segregação dos resíduos, de acordo com as suas características, pensando-se na melhor maneira de acondicionamento. Dessa forma, pode-se evitar a exposição dos trabalhadores que garantem o gerenciamento dos RSS, até a disposição final.
Veja os principais tipos de riscos associados ao manejo dos resíduos de serviços de saúde e suas características:
Quando se fala em risco biológico, considera-se a possibilidade de ocorrer algum evento adverso que envolva a presença de agente biológico. Sabe-se que a presença de agentes patogênicos nos resíduos, por si só, não determina a ocorrência da doença. As infecções dependem de fatores além da presença do agente infeccioso, como a via de transmissão, a porta de entrada e o estado de susceptibilidade do hospedeiro (ZANON, 2002; PEREIRA, 1995).
Exposição a produtos químicos em geral podem levar a danos à saúde dos trabalhadores caso o manuseamento não seja adequado. Alguns dos causadores são substâncias desinfetantes, como álcool, glutaraldeído, hipoclorito de sódio, ácidos, bases, dentre outros. Este risco pode ser minimizado através do uso dos EPIs adequados.
Normalmente associados a temperaturas extremas, radiação, ruído exagerado, vibração, iluminação e umidade. Na maioria dos casos situações extremas são prejudiciais, tanto valores muito elevados ou muito baixos.
Especialmente exposição a agentes mecânicos, como seringas, frascos trincados ou quebrados, tesouras e demais materiais perfurocortantes, que são encontrados com frequência no ambiente de vacinação e podem causar ferimentos nos trabalhadores e frequentadores desses ambientes. Portanto, os resíduos perfurocortantes devem ser segregados imediatamente após sua geração em recipientes adequados, sendo armazenados em locais seguros e de fácil acesso.
A postura incorreta, especialmente durante o levantamento e transporte de cargas excessivas, podem resultar em danos musculares e nas articulações. O gerenciamento dos resíduos pode demandar a movimentação de materiais cuja carga pode chegar a quantidades elevadas. Portanto, o gerenciamento é fundamental, especialmente neste caso em que é possível aumentar a frequência de recolhimento de resíduos, por exemplo, como ação para minimizar este risco.
Para reduzir os riscos de transmissão de doenças por sangue e fluidos orgânicos e acidentes com perfurocortantes em ambientes de vacinação, a pesquisadora Noil Cussiol propõe algumas recomendações através de uma cartilha elaborada em parceria com a FEAM:
- gerenciar corretamente os resíduos, acondicionando-os de maneira adequada para proporcionar segurança no seu manuseio;
- não reencapar, entortar, quebrar ou retirar manualmente as agulhas das seringas;
- colocar os recipientes coletores para o descarte de material perfurocortante próximo ao local onde é realizado o procedimento;
- descartar todo resíduo perfurocortante e abrasivo, inclusive os que não foram usados, em recipiente exclusivo, resistente à perfuração e com tampa, sem ultrapassar o limite de 2/3 da capacidade total;
- fornecer equipamentos de proteção individual ao pessoal da higienização e coleta dos resíduos, de acordo com o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA do estabelecimento, e exigir o seu uso correto (atentar para a possibilidade de haver agulha dispersa no chão);
- EPIs devem possuir qualidade suficiente e ser disponibilizados na quantidade suficiente;
- seguir as orientações do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) do estabelecimento.
Riscos dos trabalhadores
O risco ao qual os trabalhadores que manipulam os RSS estão expostos está associado a fatores com potencial de geração de problemas à saúde ocupacional. Estudos epidemiológicos sobre risco de hepatite B e C em trabalhadores que coletam RSS em hospitais, por exemplo, mostraram uma maior prevalência nos coletores de RSS se comparados aos não expostos a resíduos de serviços de saúde, conforme Anagaw e colab. (2012), Shiferaw e colab. (2011) e Franka e colab. (2009). Outro estudo, realizado no Brasil - Risco de infecção pelos vírus das hepatites B e C nos trabalhadores da coleta de resíduos de serviços de saúde em Belo Horizonte (MOL e colab., 2017) indicou que os trabalhadores que manuseiam resíduos apresentam maior prevalência de hepatite B se comparados aos indivíduos não expostos aos resíduos.
Diante deste risco, vale destacar que a imunização contra a hepatite B passou a estar disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), desde março de 2010, sendo recomendada a todos os trabalhadores que atuarão diretamente com o manuseio dos resíduos. É responsabilidade do empregador assegurar que a imunização contra hepatite B seja efetiva em todos os trabalhadores que atuam na coleta de resíduos de serviços de saúde, como pré-requisito para iniciar as atividades laborais.
Destinação dos resíduos
Uma importante etapa é a destinação dos RSS. Os gestores devem atuar para garantir a destinação adequada destes resíduos, que apresentam alguns riscos diferenciados.
Portanto, destaca-se novamente a segregação como importante ferramenta para garantir o envio seguro dos resíduos para diferentes destinações, sempre de acordo com as características que apresentam.
Os resíduos com maior risco, por exemplo, precisam ser destinados para tratamento. Já os resíduos do subgrupo A4, com menor risco, podem ser destinados em aterro sanitário licenciado para essa destinação. Quando não houver aterros disponíveis nas proximidades do estabelecimento que possam receber esse resíduo, deve ser considerada a possibilidade de enviar para tratamento junto com os resíduos do subgrupo A1.
Já os resíduos que não apresentam riscos, como os resíduos com potencial de reciclagem, devem ser encaminhados para associações de catadores de materiais recicláveis. Os resíduos comuns não recicláveis devem ser destinados para aterro sanitário .
É importante garantir que estes resíduos não sejam destinados em lixões - infelizmente o Brasil ainda apresenta uma quantidade expressiva de lixões em atividade.