Módulo 2 | Aula 2 A Organização do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS)

Tópico 5

Financiamento do SasiSUS

O financiamento do SasiSUS segue as mesmas regras do orçamento do SUS. São três as Leis que trazem a regra de como funciona:

É feito pelo governo pensando nas grandes diretrizes que serão realizadas no período de 4 anos. Ele define os objetivos, as metas e as ações para desenvolverem cada diretriz.

Define as regras para a elaboração e execução do orçamento de cada ano, entre elas as metas e as prioridades do governo federal.

Apresenta o valor que o governo tem disponível a cada ano para gastar em cada órgão, programa e ação.

Todas estas leis, que vão definir o dinheiro destinado para o SasiSUS, são elaboradas pelo governo federal e aprovadas pelo Congresso Federal. Assim, as decisões sobre o orçamento não são apenas técnicas, mas também políticas, pois dependem do interesse do governo, dos interesses do Congresso Federal e da articulação e pressão dos diversos grupos nestes espaços.

Atenção

É importante lembrar que o Plano Distrital de Saúde Indígena deve conversar com as leis do orçamento, pois se o Plano Distrital previr uma ação que não está contemplada no PPA, LDO e LOA, significa que não há orçamento para realizar esta ação.

A participação dos povos indígenas nos diversos momentos de construção destes documentos, no governo federal, no congresso, e também na fiscalização deve ser constante.

O PPA vigente em 2021 corresponde ao período de 2020 a 2023 que foi aprovado pela Lei 13.971, de 27 de dezembro de 2019. Nele está o PROGRAMA: 5022 - Proteção, Promoção e Recuperação da Saúde Indígena que traz o orçamento previsto para o SasiSUS.

Gráfico da evolução do orçamento da ação 20YP - Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde Indígena, no período de 2013 a 2021. Gráfico em barras paralelas verticais, na cor laranja, no qual cada barra representa o orçamento do ano correspondente. No eixo horizontal, os marcadores representam os anos de 2013 a 2021. No eixo vertical, os marcadores representam os valores, em ordem de crescimento de duzentos mil reais. O gráfico demonstra que houve crescimento constante dos valores entre 2013 e 2015, quando o orçamento ultrapassou um milhão e duzentos mil reais. Houve pequena queda em 2016 em relação ao ano anterior, mas observa-se um novo período de crescimento constante até 2018, quando o orçamento chegou ao pico de mais de um milhão e seiscentos mil reais. Há nova queda em 2019, e a partir deste ano os valores mantêm-se praticamente constantes, na ordem de um milhão e quatrocentos mil reais, até 2021.
Evolução do Orçamento Executado (valor pago no ano + restos a pagar do ano anterior) na ação 20YP - Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde Indígena no período de 2013 a 2021. Dados do Siga Brasil: Portal do Orçamento atualizados em 25/12/2021.

Além dos recursos que vão para a SESAI e os DSEIs realizarem as ações do SasiSUS, os municípios e estados ao receberem os recursos para a assistência à população também tem contemplada a população indígena.

Em 2020 houve uma mudança no financiamento das ações de atenção básica realizadas pelos municípios; até 2020 era repassado um valor de acordo com a população contabilizada pelo censo do IBGE, o que contemplava a população indígena, agora há um recurso pela população cadastrada na atenção básica do município e outro pelas metas atingidas, o que não garante a contagem de toda a população indígena.

Além destes recursos, há um incentivo financeiro que é direcionado diretamente para alguns hospitais indicados para garantir uma atenção diferenciada à população indígena, o Incentivo de Atenção Especializada aos Povos Indígenas – IAE-PI. Este incentivo foi regulamentado em 2007 pela Portaria 2656 de 17 de outubro junto com o Incentivo de Atenção Básica aos Povos Indígenas - IAB-PI que era repassado aos municípios.

A mudança nas parcerias com os municípios para a contratação de profissionais e desenvolvimento de ações nos territórios, que comentamos no início da aula, associada às denúncias de que diversos municípios não estavam utilizando o recurso para desenvolver ações para as comunidades indígenas, fez com que o Incentivo de Atenção Básica para os Povos Indígenas (IAB-PI) deixasse de existir com a publicação da Portaria 2012 de 14 de setembro de 2012. Assim todos os municípios pararam de receber este recurso.

Já o IAE-PI foi objeto de discussão de um grupo de trabalho criado pela Portaria 3032 de 11 de dezembro de 2013 e foi reformulado quatro anos depois pela Portaria 2663 de 11 de outubro de 2017.

O grande objetivo deste incentivo é garantir a atenção diferenciada ao indígena no ambiente hospitalar, para isso a portaria estabelece:

Art. 275.  O IAE-PI tem como objetivos:

  1. viabilizar o direito do paciente indígena a intérprete, quando este se fizer necessário, e a acompanhante, respeitadas as condições clínicas do paciente;
  2. - garantir dieta especial ajustada aos hábitos e restrições alimentares de cada etnia, sem prejuízo da observação do quadro clínico do paciente;
  3. promover a ambiência do estabelecimento de acordo com as especificidades étnicas das populações indígenas atendidas;
  4. facilitar a assistência dos cuidadores tradicionais, quando solicitada pelo paciente indígena ou pela família e, quando necessário, adaptar espaços para viabilizar tais práticas;
  5. viabilizar a adaptação de protocolos clínicos, bem como critérios especiais de acesso e acolhimento, considerando a vulnerabilidade sociocultural;
  6. favorecer o acesso diferenciado e priorizado aos indígenas de recente contato, incluindo a disponibilização de alojamento de internação individualizado considerando seu elevado risco imunológico;
  7. promover e estimular a construção de ferramentas de articulação e inclusão de profissionais de saúde dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas - DSEI/SESAI/MS e/ou outros profissionais e especialistas tradicionais que tenham vínculo com paciente indígena, na construção do plano de cuidado dos pacientes indígenas;
  8. assegurar o compartilhamento de diagnósticos e condutas de saúde de forma compreensível aos pacientes indígenas;
  9. organizar instâncias de avaliação para serem utilizadas pelos pacientes indígenas relativamente à qualidade dos serviços prestados nos estabelecimentos de saúde;
  10. fomentar e promover processos de educação permanente sobre interculturalidade, valorização e respeito às práticas tradicionais de saúde e demais temas pertinentes aos profissionais que atuam no estabelecimento, em conjunto com outros profissionais e/ou especialistas;
  11. promover e qualificar a participação dos profissionais dos estabelecimentos nos Comitês de Vigilância do Óbito;
  12. proporcionar serviços de atenção especializada em terras e territórios indígenas; e
  13. em relação especificamente aos hospitais universitários:

    a) instalar ambulatórios especializados em saúde indígena, visando promover a coordenação do cuidado especializado ao usuário indígena, porta de entrada diferenciada e a qualificação de profissionais em formação;

    b) realizar projetos de pesquisa e extensão em saúde indígena; e

    c) realizar projeto de telessaúde.

Para além deste recurso do governo federal que é direcionado para os DSEIs executarem a assistência nos territórios indígenas, estados e municípios também podem incluir em seus orçamentos ações para serem desenvolvidas para a população indígena, complementando a assistência e o financiamento do SasiSUS, como diz a PNASPI.

Para refletir...

Você conhece a programação orçamentária do seu DSEI?

Você sabe como é gasto o dinheiro do orçamento do seu DSEI?

O hospital de referência para o seu território recebe o recurso do IAE-PI? Como é a assistência que o hospital presta aos indígenas?

Para escutar...

Ouça as explicações de Mariana Marelonka sobre os desafios do financiamento do Sasi

Desafios que precisam ser superados pelo SasiSUS

Confira abaixo os principais desafios a ser superados pelo SasiSUS

  1. É constante a falta de materiais e medicamentos nos territórios indígenas para que as EMSI possam desenvolver suas ações;
  2. A falta de profissionais de saúde para atuar nas EMSI ou a constante mudança de profissionais também interferem na qualidade da assistência prestada;
  3. A falta de capacitação para os profissionais não indígenas atuarem em contexto intercultural de forma integrada com os profissionais indígenas e articulada com as práticas de saúde indígenas;
  4. A falta de articulação com os serviços que ficam nos municípios e de capacitação destes serviços que, por muitas vezes, desrespeitam os indígenas durante o atendimento, não garantindo seus direitos à uma alimentação diferenciada, ao tradutor, à presença de acompanhante ou dos especialistas em saúde de sua comunidade;
  5. A falta de garantia de atendimento à população indígena que mora em territórios não homologados ou na cidade e, por isso, hoje não são atendidas pelas ações do SasiSUS;
  6. A vulnerabilidade dos territórios indígenas que, mesmo quando demarcados, sofrem com invasões e desmatamentos;
  7. A falta de intersetorialidade nas ações de saúde para que garantam a atenção integral de forma diferenciada para a população indígena.