Módulo 2 | Aula 4
Indicadores de Saúde
Índices (Indicadores Compostos ou Sintéticos)
Índices, também chamados de indicadores compostos ou sintéticos, são calculados pela combinação de dois ou mais indicadores simples de uma ou mais dimensões. Geralmente, utilizam-se métodos de aglutinação que podem definir pesos diferentes para seus componentes, como mostrado na figura abaixo:
Os índices têm vantagens como a síntese de informações, facilidade de comparação e interpretação em relação a indicadores simples. Contudo, também enfrentam críticas por questões como falta de especificidade, sensibilidade a mudanças, possível arbitrariedade na seleção de variáveis e pesos (Friebel & Steventon, 2018; Valente, 2002; OECD, 2008).
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Foi criado em 1990, como um contraponto ao uso do indicador Produto Interno Bruto (PIB) per capita como indicador de desenvolvimento, pois este considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Já o IDH é baseado em um conceito de desenvolvimento centrado nas escolhas e bem-estar das pessoas. É uma medida sintética calculada a partir de três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e longevidade. Essa metodologia foi adequada ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores para avaliar o desenvolvimento dos municípios e regiões metropolitanas brasileiras, resultando no IDHM brasileiro, que é composto pelas mesmas três dimensões do IDH Global (PNUD, 2013). O índice varia de 0 a 1, sendo que valores mais próximos de 1 indicam maior desenvolvimento humano. As figuras abaixo explicam como ler o índice:
Outro exemplo de índice é o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), desenvolvido pelo Ipea e instituições parceiras, que mede a vulnerabilidade social a partir de três dimensões: infraestrutura urbana, capital humano, e renda e trabalho. Como o IDH, ele varia de 0 a 1, mas, neste caso, quanto mais próximo de 1, maior a vulnerabilidade social.
Acesse a página do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil e consulte os indicadores disponíveis para o seu município.
Acesse também a plataforma do Atlas da Vulnerabilidade Social para consultar o Índice de Vulnerabilidade Social.
A seleção de indicadores para compor um índice e a definição de seus pesos podem ser politicamente disputadas. Os índices também são criticados quando usados como critério para priorização de políticas públicas, como a destinação de mais recursos para municípios com piores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) (Carvalho et al., 2023; Guimarães & Jannuzzi, 2005).
Métodos transparentes, atualização regular e sensibilidade ao contexto são essenciais para mitigar os desafios no uso de índices.
“Uma importante limitação do IDH, estreitamente vinculada ao plano das políticas públicas, guarda relação direta com um superdimensionamento desse índice, geralmente lastreado num processo de negligenciamento do entendimento que um indicador nada mais é do que a medida operacional do conceito”
GUIMARÃES E JANNUZZI, 2005, p.77
Caso deseje se aprofundar mais na discussão sobre o uso de indicadores sintéticos, sugerimos a leitura do artigo IDH, indicadores sintéticos e suas aplicações em políticas públicas: uma análise crítica.
Atributos desejáveis de um indicador
A qualidade de um indicador depende de vários fatores, como frequência dos eventos, tamanho da população e precisão dos sistemas de informação usados. Para que sejam eficazes no monitoramento da saúde e políticas públicas, os indicadores devem possuir os seguintes atributos ou características (Jannuzzi, 2009; OPAS, 2018; RIPSA, 2013):
- Validade: Diz respeito à capacidade do indicador de medir aquilo que ele se propõe a medir; é o grau de proximidade entre o conceito e a medida.
- Confiabilidade: Refere-se à qualidade do levantamento dos dados utilizados no cálculo do indicador.
- Sensibilidade: Capacidade do indicador de detectar mudanças ou variações no fenômeno ou dimensão social que está sendo medida.
- Especificidade: O indicador deve detectar mudanças apenas no fenômeno ou dimensão social que está sendo medida, diferenciando-o de outros fenômenos e dimensões.
- Reprodutibilidade: Os resultados devem ser iguais quando são obtidos por pessoas diferentes ou em diferentes contextos, usando o mesmo método.
- Relevância: O indicador deve responder a prioridades sociais e/ou de saúde e ser significativo e útil para os usuários e tomadores de decisão
- Mensurabilidade: Diz respeito à existência de uma forma de atribuir valor ao indicador.
- Viabilidade: O indicador deve basear-se em dados disponíveis ou possíveis de conseguir.
- Sustentabilidade: Diz respeito à existência de condições necessárias para a estimativa contínua.
- Oportunidade: Diz respeito à capacidade de coleta e notificação dos dados em tempo hábil.
- Inteligibilidade: Deve haver transparência na metodologia de construção do indicador.
- Comunicabilidade/compreensibilidade/simplicidade: O indicador deve ser compreensível pelos usuários e ser comunicado com clareza.
- Custo-efetividade: Os resultados devem justificar o investimento de tempo e recursos.
- Periodicidade: Os dados devem ser regularidade no levantamento e atualização.
- Desagregabilidade: Refere-se à possibilidade de o indicador ser analisado e apresentado de forma detalhada e segmentada em partes menores ou específicas, como por faixa etária, sexo, raça/cor, escolaridade, perfil socioeconômico, entre outras categorias de análise relevantes.
Na prática, nem todos os indicadores conseguem reunir todos os atributos desejáveis, principalmente devido às limitações nas fontes de dados e periodicidade. No entanto, é essencial reconhecer essas limitações e revisitar os atributos periodicamente para melhorar o indicador à medida que as fontes de dados evoluem e se tornam mais precisas.