Módulo 3 | Aula 4 Relato e Pré-Registro
Vamos iniciar esse assunto com um questionamento.
O que mais precisamos saber antes de fazer experimentos com animais?
Assim como as leis que regulamentam o uso humanitário, as responsabilidades de fiscalização e as penalidades, diversas organizações e iniciativas dedicam seus esforços para guiar os pesquisadores nas melhores práticas durante o uso de animais de experimentação. Vamos conhecer mais sobre elas a seguir:
O National Centre for the Replacement Refinement & Reduction of Animals in Research, também conhecido como NC3Rs, é uma instituição inglesa dedicada a difundir e promover o princípio dos 3Rs em toda a comunidade científica, fornecendo treinamento e estimulando a incorporação destes princípios em políticas, práticas e regulamentos.
Os princípios dos 3Rs têm como objetivo a garantia do bem-estar animal de experimentação. O termo se refere a Substituição, Redução e Refinamento (do inglês Replacement, Reduction and Refinement), apoiando a adoção de métodos alternativos, redução do número de animais e minimização do sofrimento tanto quanto possível. O princípio dos 3Rs se baseia na otimização dos desenhos e modelos experimentais para a experimentação animal de forma mais humanizada. Vale ressaltar que alguns animais de experimentação são capazes de manifestar sinais de incômodo, que podem ser reconhecidos pelos pesquisadores. Por exemplo, se um roedor sente desconforto, pode eriçar os pelos, diminuir a locomoção, ou permanecer no canto da gaiola. Diversos sinais de desconforto ou sofrimento podem ser reconhecidos e, nesses casos, intervenções podem ser feitas de modo a amenizar ou impedir o sofrimento animal.
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O ARRIVE é a sigla de Animal Research: Reporting of in vivo Experiments, um guia feito pelo NC3R (National Centre for Replacement Refinement & Reduction of Animals in Research) com recomendações para melhorar o relato de pesquisas envolvendo animais. Seguindo as recomendações do ARRIVE, pesquisadores podem otimizar a transparência e a confiabilidade das publicações envolvendo animais, permitindo melhor escrutínio e reprodutibilidade. Muitos periódicos adotam o ARRIVE como modelo a ser seguido.
A seguir mostraremos, resumidamente, os dez passos sugeridos pelo ARRIVE para garantir o relato responsável de sua experimentação animal:
Para cada experimento, forneça detalhes claros do desenho experimental, incluindo os grupos controles e experimentais. Assim você visualiza e otimiza os experimentos necessários para atingir os objetivos do projeto.
Deixe claro quantos animais foram utilizados por grupo em cada experimento, incluindo replicatas independentes.
Descreva os critérios utilizados para incluir ou excluir animais em um experimento, declarando explicitamente que estes foram definidos antes da coleta de dados ser realizada.
Descreva o método utilizado para a randomização e relate o tipo de randomização utilizada (simples, estratificada, blocos completos randomizados etc.)
Especifique se o ocultamento foi utilizado ou não para cada etapa do experimento (alocação, condução, avaliação dos resultados e análise dos dados) e indique em qual condição específica os pesquisadores tinham acesso ou não às informações sobre grupos experimentais.
Se não foi feito o ocultamento, declare explicitamente a informação e o motivo.
Descreva detalhadamente todas as variáveis que serão analisadas (por exemplo, alterações comportamentais) e como serão registradas e analisadas. Sempre que possível, use formas de registro que evitem um viés metodológico que tendencie o resultado para determinada resposta.
As análises estatísticas utilizadas refletem os objetivos e o desenho do experimento, de modo que devem ser determinadas antes da coleta dos dados. Deixe claro quais os métodos estatísticos e softwares foram utilizados para cada experimento.
Descreva detalhadamente qual a origem, espécie, linhagem, sexo, peso e idade dos animais utilizados. Geralmente, esses são fatores que influenciam diretamente os resultados, de modo que devem estar explícitos no trabalho.
Descreva detalhadamente os procedimentos pré e pós-experimentais (incluindo o manejo dos animais, monitoramento do bem-estar e eutanásia) e os procedimentos utilizados para desenvolver o modelo e avaliar os resultados.
Descreva todos os resultados obtidos em cada replicata. Detalhe quantas repetições foram feitas de cada experimento e mostre todas e não só resultados representativos. Descreva a medida de variabilidade, quando aplicável.
Clique aqui para acessar o guia ARRIVE completo.
Como parte dos esforços para promover os três Rs e aumentar a reprodutibilidade da pesquisa, um grupo de especialistas do Reino Unido e da Noruega, liderado pela Norecopa (Plataforma de Consenso Nacional da Noruega para o avanço dos "3 Rs"), produziu um conjunto de diretrizes para o planejamento de experimentos chamado PREPARE (Planning Research and Experimental Procedures on Animals: Recommendations for Excellence), que é considerado complementar às diretrizes de relato do ARRIVE:
Pré-registro de pesquisas envolvendo animais.
O pré-registro permite que pesquisadores documentem suas hipóteses, métodos e planos de análise antes de iniciar o estudo, o que pode reduzir vieses como o HARKing (formulação de hipóteses após o estudo para se “adaptar” aos resultados). O pré-registro fortalece a transparência, a reprodutibilidade e o bem-estar animal.
A iniciativa Animal Study Registry foi desenvolvida pelo Centro Alemão para Proteção de Animais de Laboratório (German Centre for the Protection of Laboratory Animals (Bf3R)) e estimula o registro de um plano de estudo antes do início dos experimentos envolvendo animais. Esta iniciativa oferece uma plataforma para o registro gratuito de estudos exploratórios e confirmatórios na pesquisa pré-clínica de centros de pesquisa de todos os países do mundo.
O pré-registro permite que revisores ou outros cientistas comparem os conteúdos inicialmente registrados com a publicação final, incentivando a transparência, a reprodutibilidade e o bem-estar animal.