Módulo 4 Conceito de Saúde Única
Aula 3
Participação cidadã nas ações de enfrentamento às leishmanioses
As leishmanioses, especialmente nas formas que ocorrem nas áreas urbanas, representam um relevante desafio para a saúde pública no Brasil. Com sua capacidade de provocar surtos e alta letalidade na forma visceral se não tratada, a doença exige estratégias de combate bem articuladas e participativas.
Nos últimos anos, a distribuição dos casos de leishmaniose no Brasil mudou. Até a década de 90, cerca de 90% dos casos notificados ocorriam na região Nordeste Hoje, há um aumento significativo de casos em outras regiões do país, como Norte, Sudeste e Centro-Oeste.
O Programa de Vigilância e Controle das Leishmanioses (PVCL) destaca que a doença se espalha facilmente devido à complexa ecologia e epidemiologia do seu vetor, que é capaz de se adaptar a diferentes ambientes, incluindo áreas urbanas. A presença de cães infectados nas cidades contribui para a continuidade do ciclo de transmissão. Além disso, a ocupação urbana desordenada, a falta de saneamento básico e condições insalubres agravam a situação.
Por que as leishmanioses se espalham
O controle das leishmanioses não depende apenas das ações técnicas dos profissionais de saúde, mas também do engajamento da população. Nesta aula, vamos refletir sobre o papel da participação cidadã na prevenção e no enfrentamento das leishmanioses, destacando atitudes individuais e coletivas que fazem diferença: desde o cuidado com o ambiente até a colaboração com medidas de vigilância e controle. Entender o impacto da mobilização social e da educação em saúde é fundamental para promover respostas sustentáveis e eficazes contra a doença.
Importância da responsabilidade e diálogo
Em vez de culpar os indivíduos, é crucial promover um senso de responsabilidade e estimular o diálogo entre a ciência e o conhecimento popular (Figura 38). Cada comunidade tem seu conjunto de saberes e percepções que pode contribuir para a criação de estratégias eficazes de controle da leishmaniose, considerando seus interesses, necessidades e visões de mundo.
Mobilização social e comunicação eficaz
A mobilização social é essencial para mudar comportamentos e prevenir a doença. Isso requer uma comunicação contínua e eficaz entre a população e os profissionais de saúde. A compreensão e percepção dos cidadãos sobre a prevenção e controle das leishmanioses são tão importantes quanto o conhecimento clínico e epidemiológico da doença.

No relatório da última reunião de peritos sobre LV realizada em 2010, já se destacou a importância da mobilização social no sentido de mudar comportamentos da população destacando o diálogo permanente entre população e profissionais de saúde, utilizando estratégias eficazes de comunicação.
Reconhecendo os problemas locais
Quando a população consegue reconhecer e entender seus problemas de saúde, as ações de controle passam a "fazer sentido" e são mais bem-sucedidas. É importante envolver os cidadãos em formatos participativos e dialógicos, onde eles possam colaborar ativamente com os profissionais de saúde e outros atores relevantes (Figura 39).

Construindo soluções locais
Somente com a combinação de conhecimentos, habilidades e recursos de diversas pessoas e organizações, as comunidades podem entender a natureza dos problemas e desenvolver soluções eficazes que sejam viáveis localmente.
Reconhecendo os problemas locais
Termos como "engajamento comunitário", "parceria" e "colaboração" podem ter significados diferentes para pessoas diferentes. Isso pode criar expectativas variadas e, muitas vezes, mal-entendidas sobre o envolvimento comunitário. Além disso, projetos de curto prazo ou com recursos limitados podem frustrar os participantes e reduzir a motivação.
Termos como "engajamento comunitário", "parceria" e "colaboração" podem ter significados diferentes para pessoas diferentes. Isso pode criar expectativas variadas e, muitas vezes, mal-entendidas sobre o envolvimento comunitário. Além disso, projetos de curto prazo ou com recursos limitados podem frustrar os participantes e reduzir a motivação.
Encerramos este último módulo com a proposta de olhar para a leishmaniose como mais do que uma doença infecciosa: ela é um reflexo das interações entre ambientes degradados, desigualdades sociais e lacunas nas políticas públicas. Neste módulo, avançamos do conhecimento técnico para a articulação entre ciência, saúde coletiva e ética — refletindo sobre o papel de cada um de nós na construção de respostas mais integradas e sustentáveis.
Discutimos estratégias de controle, os desafios no diagnóstico e tratamento, e culminamos com a abordagem de Saúde Única, que nos convida a pensar de forma ampla e colaborativa. Entendemos que a saúde não se faz apenas com medicamentos ou diagnósticos precisos, mas com ações que considerem os territórios, os saberes diversos, a interdependência entre espécies e a justiça social.
Este encerramento marca não apenas o fim de um módulo, mas a consolidação de uma jornada de aprendizagem crítica e transformadora. Esperamos que você leve consigo não só o conhecimento adquirido, mas também o compromisso de aplicá-lo com sensibilidade, rigor científico e consciência social.
As leishmanioses ainda representam um grande desafio — e é por isso que formar profissionais preparados, informados e engajados é uma das estratégias mais poderosas para enfrentá-las.